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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sábado, 31 de julho de 2010

"PREPARADA PARA SER RAINHA": ENTREVISTA A S.A.R. DONA ISABEL DE BRAGANÇA EM ABRIL DE 2008

Tem estampada no rosto a serenidade que convém a uma mulher que poderia ser um dia rainha de Portugal. Casada com o herdeiro da coroa portuguesa, D. Isabel de Herédia é, no entanto, uma mulher que faz questão de manter os gostos de sempre. Educada no Brasil, onde estudou Administração de Empresas, D. Isabel é conhecida pela simpatia, afabilidade, mas também pela alegria com que gosta de dançar. "O tempo passa e começamos a preferir outras coisas.

Hoje adoro, por exemplo, dançar valsa com o meu marido", referiu, recentemente, D. Isabel de Herédia, por ocasião de um Baile da Flor, recordando os tempos em que frequentava discotecas, na companhia do irmão e alguns amigos. "Já nessa altura adorava dançar, mas os ritmos eram outros", confidenciou, ainda, reforçando o seu gosto pela dança e pela diversão nocturna.

Outra actividade que D. Isabel não dispensa é montar a cavalo. Gosta de partilhar os passeios a cavalo com os filhos e o marido e nem uma queda, no Verão passado, que lhe valeu a fractura de uma clavícula, a conseguiu dissuadir deste hobby.

Em casa, D. Isabel de Herédia é uma mulher prática e veste a pele de mãe de três crianças pequenas. Apesar de. naturalmente, ter ajudas profissionais nas actividades domésticas, sempre que pode gosta de entrar na cozinha, com o marido e os filhos, para juntos prepararem petiscos deliciosos, sobretudo bolos e sobremesas.

D. Isabel de Herédia é uma admiradora confessa da rainha Santa Isabel e é Grã-Mestra da Ordem Real de Santa Isabel. A ordem honorífica é uma obra exclusivamente feminina, que agracia quatro novas damas na festa da Rainha Santa Isabel, a 4 de Julho dos anos pares, em Coimbra.

É ainda conhecido o gosto de D. Isabel de Herédia pelas viagens e pelo convívio com familiares e amigos. Aliás, a sua ligação à família é bastante forte, tendo quatro irmãos. O irmão mais novo, Afonso, partilha com D. Isabel de Herédia o gosto pela diversão e dança. Por isso não é estranho vê-lo a dançar, como aconteceu há pouco tempo, na tradicional discoteca Stones, em Lisboa.

D. Isabel de Herédia casou com D. Duarte Pio a 13 de Maio de 1995. O casal é feliz e nunca deu importância aos 21 anos de diferença de idades.

(Fonte: Monarquia Portuguesa)

DELÍRIOS DE UM EX-PRESIDENTE QUE JULGA A MONARQUIA INFERIOR À REPÚBLICA

Mário Soares alerta para o perigo da Monarquia

Mário Soares na sua crónica habitual no DN alerta para os desvariós da revisão Constitucional e alerta para o facto de se dever à constituinte de 1976 o período mais longo de paz em Portugal (não foi devido aos fundos comunitários...não!!!!!) .....desde 1820 (parece que antes não existia Monarquia e o Estado Novo não foi "um período de paz").

Os monárquicos (divididos em duas típologias que não existem desde Paiva Couceiro) apenas "querem a Ditadura", de acordo com o ex-Presidente, e são pouquissimos (pelo menos os suficientes para suscitar as preocupações de Mário Soares)...mas não os suficientes para contrariar a População de se revê no 25 de Abril !?

Sobre os 40 anos da morte de Salazar seria demasiado para um republicano,admirador da I República, não misturar Ditadura com Monarquia.
«Desta vez, passou-se exactamente o contrário. A Constituição - e as suas Revisões - tornaram a Lei Fundamental largamente consensual. Direi mesmo emblemática, do regime democrático, pluripartidário, tolerante, respeitador dos Direitos Humanos e do espírito do 25 de Abril, uma vez depurado - atenção - dos desvarios do PREC, após o 25 de Novembro de 1975. A verdade é que devemos à Constituição, em boa parte, os trinta e quatro anos de paz civil, o período mais pacífico de Portugal contemporâneo, desde a Revolução liberal de 1820. Por isso só deve ser alterada com muito cuidado e em tempo oportuno.

É certo que há alguns monárquicos, constitucionais ou integristas - pouquíssimos! - que gostariam de ver o regime republicano substituído por uma monarquia. E há saudosistas da ditadura conservadora, agarrados a privilégios do passado, partidários da ordem do que chamam a "balbúrdia democrática". Apreciam o silêncio imposto pela censura e o aconchego da PIDE desde que não se metesse com eles. Mas são poucos. Mesmo que se tenha querido, sem êxito, mitificar Salazar. A que se juntam alguns reaccionários - e seus descendentes - que apanharam um grande susto com os exageros do PREC. Algumas vezes ainda acordarão a pensar nessa época, que confundem - mal - com o 25 de Abril. Porém, a esmagadora maioria dos portugueses não quer voltar atrás. São livres. Ditadura nunca mais. E hoje revêem-se no 25 de Abril

(Fonte: Diário de Notícias de 27 de Julho de 2010)

Mário Soares engana-se tal como o fizeram antes Salazar, Afonso Costa e demais paladinos da "Liberdade Republicana".

A população quer , desde 1820 (e antes), apenas o bem estar suficiente para deixar aos politicos a Politica e a gestão do Bem Público. Deseja para si e para os descendentes um futuro melhor e uma vida em Liberdade. Mas os políticos (em especial desde 1910) insistem em envolver a totalidade da população portuguesa nas suas querelas e interesses pessoais.Desde 1910 Portugal não conhece outra realidade que não seja a ameaça constante de revolta, guerra cívil e crise económica

A população não se revê no 25 de Abril , não é devido á Constituição que há paz (a maioria nem a conhece) nem sequer o periodo de paz mais longo foi o actual.

A população não se revê no 25 de Abril na mesma proporção que a figura de Salazar , que apenas coorporiza a desilusão nacional com as experiências Democráticas, se torna de dia para dia uma referência do "sistema político adequado a Portugal". Não foi a Constituição que trouxe paz mas sim os fundos estruturais e a sua devida redistribuição pelo território, facto que Soares conhece muito bem por ter inventado os roteiros presidênciais pelo interior (na altura para contestar a politica económica do Governo de cavaco Silva, actual presidente), nacional. As liberdades económica e Política que a República , supostamente traria ou aumentaria, não se tornou uma realidade em qualquer dos últimos 100 anos (nem em termos absolutos nem em termos relactivos). Período de paz efectivamente houve-o durante o Estado Novo em troca da Liberdade Política e torna-se um eufemismo argumentar soluções contra a Ditadura sem reflectir o porquê de esta ter sido amplamente aceite pela generalidade da população.

A devida falta de reflexão sobre as razões da longevidade do Estado Novo face à facilidade que houve em instaurar o regime republicano obriga a uma conclusão evidente e esta é a de que a Liberdade Política, facto tão importante em 1910, se tornou irrelevante em 1926 (em apenas 16 anos o regime republicano destruiria a relevância da Democracia entre a população, incapaz de perceber que a Democracia havia morrido em 1910 com o 5 de Outubro) e que a suposta relevância dada ao 25 de Abril pode muito bem resumir-se à vontade de acabar com a guerra colonial e exigir do Estado as liberdades económicas que o resto da Europa conhecia...afinal foi por essa mesma razão que houve um pós 1820.

A I República não , é hoje, mais do que a devida justificação para as quatro décadas seguintes e corremos hoje o risco de estar a justificar , hoje, uma experiência semelhante no Futuro. À falta de Monarquia muda-se a Constituição, rezando para que seja suficiente. Facto que os últimos 100 anos provam que nunca o foi.

Um bom Estadista olha para outros exemplos concretos e não para soluções utópicas. Se o desenvolvimento de Portugal, facto evidente, se explica com o aumento das Liberdades e com a disponibilização de crédito (ao qual muito se deve os fundos estruturais) já cai por terra o mesmo argumento quando comparamos o histórico do desenvolvimento social e económico de Portugal com Espanha. Espanha de Franco era uma pálida sombra face ás capacidades estruturais de Portugal e no entanto, passados 36 anos, Espanha suplanta a todos os níveis o grau de desenvolvimento de Portugal chegando ao ponto de ser uma ameaça aos interesses estratégicos nacionais (como o recente debate patrocinado pelo IDP, com Horta e Costa, sobre a tentativa de aquisição da VIVO à PT pela Telefónica)...como explicar este colossal hiato entre dois paises qe partiram de posições diferentes com as mesmas oportunidades?

Salazar ao deixar na mão de Marcello Caetano a introdução de medidas de fomento de caris político mais moderno (em vez de restaurar a Monarquia em D. Duarte Nuno) chocou com um bloqueio que originaria a breve prazo a necessidade de uma mudança de regime. De certa forma os interesses instalados e a própria natureza do regime republicano condenam o regime a uma renovação violenta cíclica. Franco , em Espanha, ciente que a sua morte traria o problema que levou à necessidade de uma Ditadura resolveu delegar a legitimidade do Poder na sua fonte original: o Rei

Assim o único factor político relevante que precede à adesão à CEE destes dois vizinhos é o facto de um ser uma República totalmente renovada políticamente (facto que mereceu elogios de republicanos em Espanha) e o outro ser um País com um Rei como Chefe de Estado (Monarquia, portanto), mantendo tudo o resto imútavel .

36 anos depois as diferenças são evidentes, a Republica portuguesa esgotar-se-ia em debates políticos sem alterar o essêncial da estrutura económica ,ficando efectivamente parada a partir de 2003. Espanha tomaria o caminho lento da Democracia pulvilhando a País de PME's e beneficiando a concentração de capital em sectores estratégicos e hoje , apesar da crise, o País aguenta estóicamente uma taxa de desemprego de dois dígitos sem que a questão do regime seja posta em causa (por motivos económicos) e sem que as políticas de fomento deixem de ser aplicadas

Em Portugal, basta metade da taxa de desemprego espanhola para observar dignos políticos como o Presidente da Madeira a instigar a revolta popular os economistas (maioria ex-ministros com responsabilidades no resultado que critícam) a profetizar a queda da Nação sob um banho de sangue um ex- Presidente a alertar para os Monárquicos e saudozistas do Estado Novo.

Urge perguntar se a República é assim tão frágil que não se sustenta sem fluxos de dinheiro constantes, face à constante ameaça de revolta.

Entre Portugal e Espanha a diferença é a existência de um Rei...e talvez seja isso e apenas isso que motiva a intervenção de Mário Soares.

O medo que Portugal volte a ser aquilo que era antes de 1820. Um grande país que não precisava de grandes políticos estadistas e ideólogos, mas apenas de um Rei práctico e do mesmo povo que hoje existe, para se tornar uma potência militar e económica.

Um País que não precisa de políticos ideologias e discursos, ai está o grande terror que assola as mentes republicanas.

RFGS
(Fonte: monarquiaportuguesa.com)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

ENTREVISTA A S.A.R. O SENHOR DOM DUARTE DE BRAGANÇA POR TERESA CASTRO D'AIRE

Senhor Dom Duarte, diga-me por favor o seu nome completo, de quem é filho, onde nas­ceu, e quando?

Chamo-me Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança. Nasci em Berna, na Suíça, nas instalações da Legação Portuguesa, no dia 15 de Maio de 1945. O meu pai chamava-se Duarte Nuno Fernando Maria Miguel Gabriel Rafael Fran­cisco Xavier Raimundo Antônio de Bragança, e a minha mãe chamava-se Maria Francisca de Orleães e Bragança. Para além de vários outros títulos, sou também o actual Duque de Bragança e o represen­tante da Casa Real portuguesa.

Senhor Dom Duarte, quem foi o primeiro duque de Bragança?

O primeiro duque de Bragança foi Dom Afonso, oitavo conde de Barcelos, filho do rei Dom João I e de uma senhora de nome Inês Pires Es-teves. Dom João I casou-o com Dona Beatriz Perei­ra Alvim, filha do condestável Dom Nuno Álvares Pereira, e fê-lo primeiro duque de Bragança. Foi essa mesma linha sucessória que subiu ao trono em 1640, com Dom João IV.

O Senhor Dom Duarte é simultaneamente descendente de Dom Pedro IV e de Dom Miguel. Para qual dos dois vai a sua simpatia pessoal?

Descendo, com efeito, quer de Dom Pedro IV quer de Dom Miguel I. A minha mãe era uma princesa brasileira, descendente de Dom Pedro I imperador do Brasil (IV de Portugal), e o meu pai era neto do rei Dom Miguel I de Portugal. Admiro a coragem com que ambos os monarcas enfrenta­ ram momentos particularmente difíceis, tanto da vida da Nação como da cena internacional. O pri­meiro encarnou a legitimidade revolucionária e o segundo a legitimidade tradicional.

Senhor Dom Duarte, que estudos é que fez, e quais são as suas principais actividades?

Os meus estudos estiveram ligados a uma vocação que senti desde muito novo, para o estudo da agricultura. Penso que é um sector muito im­portante, porque uma nação mal alimentada está automaticamente condenada ao fracasso em todas as áreas. Foi este interesse pela agricultura, um inte­resse por um lado científico e por outro lado social, que me levou a freqüentar vários cursos, entre os quais o curso do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa, o curso do Instituto para o Desenvolvimento, na Universidade de Genève, e vários outros dentro das mesmas áreas. Foram experiências muito enriquecedoras para mim.

O Senhor Dom Duarte trabalha, como toda a gente. É assim?

Não sei o que significa «trabalhar como toda a gente». Trabalho com empenhamento nas causas que abraço e, ao contrário de muita gente, sou gestor do meu próprio tempo. Tenho, como sabe, para além das minhas iniciativas de caracter político, centradas na defesa dos valores perma­nentes de Portugal, actividades culturais várias.

Presido em Portugal à Fundação Dom Manuel II, e nos Estados Unidos à Portuguese Heritage Foundation, que dá apoio aos nossos emigrantes. Presido a inúmeras associações portuguesas de índole cultural, para além das minhas actividades sociais, nomeadamente em defesa dos direitos humanos.

Senhor Dom Duarte, quais são as suas principais áreas de interesse cultural?

Interessa-me muito a defesa e a valorização do patrimônio cultural nas suas várias vertentes, in­cluindo a ambiental, e o pensamento português não só na área estritamente cultural como também na social, que também faz parte do nosso patri­mônio.

E os seus hobbies ?

É-me difícil responder. Bem… a leitura é tal­vez o meu hobby preferido.

O Senhor Dom Duarte serviu Portugal na qualidade de oficial do Exército Português duran­te a Guerra Colonial. Os Portugueses sabem que o Senhor Dom Duarte é um pacifista por convicção, que acredita em soluções diplomáticas de prefe­ rência às soluções bélicas. Como é que se sentiu enquanto militar?

É verdade, fui piloto aviador, ainda hoje sou capitão na reserva. Mas respondendo à sua pergun­ta, eu não sou pacifista nem belicista. Sou pacífico e acredito que a paz é de tal maneira importante para todos os povos que, para a manter ou para a conquistar, é necessário fazer uso de todos os meios legítimos ao nosso alcance, diplomáticos e outros. Reconheço que em determinadas situações, quando se esgotam as vias pacíficas para a resolução dos conflitos, pode ser necessário usar da força, mas isto apenas como último recurso. Como militar acom­panharam-me dois sentimentos: por um lado sentia o dever de bem cumprir as minhas obrigações para com a Pátria, e por outro lado sentia-me frustrado, diria mesmo desanimado, com a política que, em meu entender, não satisfazia nem os interesses das populações locais nem os de Portugal como um todo.

Sendo quem é, como é que se sentiu como militar ao serviço de uma República?

Eu e os meus companheiros de armas não nos sentíamos minimamente ao serviço da Repúbli­ca, mas sim ao serviço de Portugal. Os interesses de Portugal são sobejamente mais importantes do que os da República. Penso que todos os que se bateram em África, arriscando a vida, e perdendo-a muitos deles, não o fizeram senão a pensar na Pátria.

O Senhor Dom Duarte considera-se um conservador austero, por exemplo em relação a questões ligadas à moral tradicional, ou a sua ten­dência natural é mais para o humanismo e para a tolerância?

Sou efectivamente humanista, e defendo a tolerância. Acredito, por outro lado, que não se deve fazer tábua rasa dos ensinamentos do passado, onde encontramos altos exemplos de humanismo e de tolerância, e que devemos aproveitar esses ensi­namentos que nos são trazidos pela tradição que, como sabe, significa transmissão. Não estou muito de acordo com a maneira como formulou a per­gunta. Embora eu não seja um conservador, porque entendo que tudo aquilo que não se prende com os valores fundamentais é mutável, de preferência, como já disse, tendo presentes os ensinamentos da experiência passada, mas verifico que há conserva­dores que são humanistas e praticam a tolerância, e há não conservadores que pelas suas idéias revolu­cionárias ou por um progressivo abandono de valo­res essenciais não são humanistas e praticam a intolerância.

Se o Senhor Dom Duarte, por hipótese, fosse aclamado rei por vontade popular, aceitaria o trono?

Tenho repetidas vezes afirmado a minha dis­posição para servir Portugal, o que aliás tenho feito ao longo de toda a minha vida, e de continuar a servir Portugal se necessário como rei. Mas também tenho sempre insistido noutro ponto: É que só aceitarei a chefia do Estado se ela resultar da vonta­de popular livremente expressa. Como sabe, de acordo com a tradição e as leis da Monarquia portuguesa, um príncipe só passa a ser rei depois de aclamado pelas Cortes, isto é, o Parlamento, ou seja, pelos representantes do povo português.

Senhor Dom Duarte, há quem diga que a aristocracia morreu com Luís XVI no cadafalso. Acha que é verdade?

Bom… há muitas vezes uma confusão entre aristocracia e nobreza. A primeira, como sabe, é etimologicamente o governo dos melhores. Mas o tempo e os homens estabeleceram a confusão. No tempo de Luís XVI não se vivia em aristocracia mas em Monarquia. Era uma Monarquia típica do sécu­lo XVIII, em que a nobreza tinha um papel mais importante no campo social do que no campo polí­tico. É certo que a intolerância e o fanatismo dos revolucionários franceses de 1789 e dos anos seguintes levou ao cadafalso não só o rei Luís XVI como também muitos nobres, membros do Clero e mesmo do Povo que, ou se tinham oposto à Revo­lução, ou simplesmente a ela não tinham aderido como «adesivos». Lembro-lhe, a propósito, que em 1989, em res­posta aos vários inquéritos que em Franca se fizeram, por ocasião do bicentenário da Revolução, a maior parte dos inquiridos considerou Luís XVI, e os muitos que com ele morreram na guilhotina, inocentes dos crimes que a demagogia revolucionária lhes atribuiu.

O nobre é aquele que foi reconhecido como notável pela Coroa, ou seja, numa Monarquia, o pró­prio Estado, isto em razão dos serviços prestados ao país. Nobre é também aquele que dele descende. Mas independentemente do reconhecimento por parte do Estado com a atribuição de um título, a verdadeira nobreza reside na atitude moral de serviço à comuni­dade. Por esta razão, penso que a nobreza não morreu com Luís XVI.

O Senhor Dom Duarte acredita que Portugal teria vantagens em regressar a uma monarquia?

Sem dúvida. Bem vê, só numa Monarquia é que a chefia do Estado é verdadeiramente independente. Como sabe, as primeiras chefias eram electivas. Os povos escolhiam entre si aquele que entendiam que melhor poderia governá-los e re­presentá-los. A este modelo político primitivo seguiu–se o da chefia hereditária. Concluíra-se que através da hereditariedade da chefia se evitavam divisões e disputas muito desgastantes que enfraqueciam o Poder e a comunidade política. Assim, os países mais antigos tiveram tempo para evoluir para a Monarquia, para uma chefia de Estado hereditária. A Monarquia, como instituição antiga (mas nunca velha!), foi-se adaptando aos tempos, realçando-se com os séculos a independência do rei face aos gru­pos, às facções e aos interesses particulares. Na Monarquia moderna o rei reina mas não governa. O governo é exercido por aqueles que ganham as eleições. O rei, como instituição independente, isto é, não resultante da disputa entre grupos, não resul­tante da vitória de uma parte da nação contra outras, mas aclamado por todas as partes, represen­tadas no Parlamento, está obviamente em melhores condições do que um presidente para arbitrar con­flitos, exercer a moderação e representar toda a nação. Mas sendo a Monarquia um modelo aperfei­çoado da chefia do Estado, ao qual se chegou depois de muita experiência, não está evidentemen­te ao alcance próximo dos novos Estados, que cons­tituem a maioria. A Monarquia é o trunfo das nações antigas. Os novos Estados não conseguem ter senão a República e todos nós sabemos que por muito íntegro que seja um presidente da República, nunca se livra da suspeita, o que é muito mau em termos institucionais, de favorecer o grupo político que o elegeu, ou as empresas que, por razões incon-fessadas, financiaram a sua campanha eleitoral. Também por esta razão, e por ser o representante do grupo vencedor, dificilmente é aceite o seu papel de árbitro.

Portugal é um país antigo, com uma larga expe­riência das instituições políticas. Sucumbiu, em 1910, como algumas outras nações antigas, à tenta­ção de imitar modelos ultrapassados que vestiam roupagens novas, deixando por inércia que um Partido Republicano, que não representava mais de sete por cento do eleitorado nacional, se impusesse através de um golpe revolucionário.

A actual Constituição da República impõe-lhe uma vexatória cláusula, a alínea b) do artigo 288°, que impede o povo soberano de mudar para a Monarquia, ainda que o queira. Mas penso que para bem do país, do nosso futuro colectivo, o povo português deverá ponderar tudo isso e fazer as opções que mais lhe convierem.

A Monarquia, não sendo uma forma perfeita de chefia do Estado, nem, como vimos, uma receita universal, é, a meu ver, pelas razões expostas, a ins­tituição política mais aperfeiçoada e que melhor pode servir os interesses de Portugal.

Se assim acontecesse, quais seriam as prin­cipais directivas do seu reinado?

Como já expliquei, o rei reina mas não governa. Assim sendo, na hipótese de vir a ser aclamado rei pelos representantes do povo, procuraria usar de toda a minha influência para assegurar a defesa dos valores permanentes de Portugal.

Quais são, para si, os problemas mais ur­gentes a resolver em Portugal?

É difícil de responder. Em todo o caso, julgo que a agricultura é certamente um dos sectores mais carenciados e desorientados. Há que apoiá-la com urgência. Também a formação escolar e profissional e a orientação em termos de colocação no mercado de trabalho me parece de abordagem urgente.

Os media noticiaram que estaria para breve o nascimento do herdeiro da Casa de Bragança, e os monárquicos portugueses rejubilam. O Senhor Dom Duarte pensa educar essa criança de forma a que um dia, se as circunstâncias o aconselharem, possa assumir a Coroa portuguesa?

Penso educar o meu filho para ser bom por­tuguês. Foi este, aliás, o melhor ensinamento que recebi dos meus pais. Procurarei familiarizá-lo com as realidades do país e prepará-lo para a defesa dos nossos valores permanentes.

Senhor Dom Duarte, o senhor pensa que um nobre que não tenha meios de fortuna para fazer brilhar o seu título, deve prescindir dele?

Como já deixei dito, a verdadeira nobreza reside na atitude moral de serviço perante a comu­nidade e perante o país. Assim, aquele que descen­de de um notável, seja titular ou não, deve manter uma atitude de serviço que honre a dignidade que foi conferida aos seus avós. O brilho financeiro pouca importância tem afinal.

Existe algum rei na nossa História que seja para si um modelo a seguir?

A época e as circunstâncias em que reinaram os reis de Portugal eram muito diferentes das nos­sas. Penso, todavia, que todos deram exemplos de patriotismo e continuam a dar-nos um modelo de actuação: o de servir empenhadamente Portugal.

(Fonte: Blogue "Causa Monárquica")

ASSEMBLEIA NACIONAL - CRISE MONÁRQUICA DE 1951, SALAZAR/CAETANO

Em Maio de 1951, segundo Caetano, crescia na Assembléia Nacional um ciúme estúpido em relação à Câmara Corporativa; e nesta generalizava-se o sentido de inutilidade, com muitos procuradores a querem sair. Pelo que lhe era permitido observar e ouvir, aproximava-se uma crise do regime, que poderia ser mortal.2 Era mais uma das diversas crises mortais do regime que diagnosticou a Salazar. Caetano abandonou entretanto o seu cargo na administração do Banco Nacional Ultramarino e foi nomeado comissário do Governo junto do Banco de Angola, com a prévia interferência de Salazar.3 Um gesto solidário.

Craveiro Lopes tomou posse em 9 de Agosto de 1951 e pouco depois soube-se que o «partido monárquico» armava uma cilada. No Congresso da União Nacional, marcado para 22 de Novembro, em Coimbra, vários oradores defenderiam a restauração da Monarquia e haveria uma manifestação com a presença de D. Duarte de Bragança. Caetano e Albino dos Reis procuraram Salazar e combinaram com ele a estratégia de contra-ataque: o próprio Salazar desautorizaria os monárquicos, no discurso de abertura, e depois Caetano tornaria inequívoca a doutrina da UN sobre o problema do regime. A rainha D. Amélia morreu em 25 de Outubro, no Castelo de Bel-levue, em Versalhes, e Salazar decretou em 6 de Novembro funerais nacionais. Depois, em Coimbra, coerente com a conduta de não hostilizar os monárquicos, Salazar vagueou por noções gerais, reconhecendo a superioridade real da Monarquia de conter em si própria a questão da estabilidade da che-fatura do Estado. Mas a Monarquia, não sendo um regime mas apenas uma instituição, podia coexistir com os regimes mais diversos, não constituindo por si só garantia de estabilidade de um regime determinado, senão quando se apresentava como «uma solução tão natural e apta» que não precisa de ser discutida na «consciência geral».4 Esta linguagem elíptica não foi entendida por todos.

Caetano fez as despesas do Congresso com um discurso marcante da sua vida pública, o «Discurso de Coimbra», que lhe valeu a duradoura ira do «partido monárquico». Antes, porém, o monárquico Soares da Fonseca, Ministro das Corporações e Previdência Social, queria impedi-lo de falar, o que provocou entre ambos um «atrito sério».5 A forma republicana do Estado Novo, com a eleição do chefe do Estado por sufrágio universal, lembrou Caetano, era tida por alguns como uma fraqueza das instituições. Meditara muito nisso, a partir do monarquismo da sua juventude e da tradição nacional, mas afastava-se agora da solução monárquica com base na «razão» e num «certo instinto político».6 E passou a explicar-se com exemplos. A Inglaterra tinha a realeza, mas na verdade era uma república, onde quem governava era o Primeiro-Ministro, a partir de uma maioria na Câmara dos Comuns, e não o rei. Na Espanha, como se viu, não era Afonso XIII que sustentava Primo de Rivera, mas Primo de Rivera que sustentava Afonso XIII. Na Itália, como se percebeu, não era Vítor Manuel que agüentava Mussolini, era Mussolini que agüentava Vítor Manuel. E em Portugal, depois de 80 anos de «república coroada» (o constitucionalismo), a tradição monárquica tinha sido de tal maneira quebrada que só era «sentida e compreendida por uma minoria».1 Os congressistas da «minoria», claro, não aplaudiram.

Além desta caracterização da precariedade da monarquia, o «Discurso de Coimbra» foi uma peça surpreendente e de leituras múltiplas, onde Caetano se exprimiu com uma frontalidade invulgar no Estado Novo. Fez uma evocação da história do regime, do trajecto de Salazar e da sua obra, e projectou o que sucederia se ele abandonasse o poder: «Por muito que ela nos desagrade, a hipótese é inevitável: Salazar não é imortal... A continuação do Estado Novo para além de Salazar não constitui problema justamente porque existe a sua doutrina e a sua obra.»2 A par do desejo de tranqüilizar os partidários do regime sobre a sucessão, Caetano explicou que se batera, desde 1947, pela eleição de Salazar para a Presidência da República. A Constituição de 1933 criara um sábio sistema de governo, a que ele chamava «presidencialismo bicéfalo», que permitia que a obra do chefe do Estado fosse continuada pelo seu chefe do Governo e vice-versa, isto é, que o chefe do Estado assegurasse a continuidade da política escolhendo um novo chefe do Governo. Ora a eleição de Salazar para chefe de Estado, prosseguiu Caetano, permitiria que ele mesmo garantisse a sua substituição, e assim habituasse o País a ver na Presidência do Conselho «um homem comum, ainda que experiente, sabedor e devotado ao bem público».3 Quanto ao mais, Caetano lembrou o perigo do Partido Comunista e o milhão de mortos na Guerra Civil de Espanha, elogiou Craveiro Lopes, citou Antônio Sardinha, seu herói de juventude, disse que o Estado Novo mantinha o equilíbrio entre a autoridade e a liberdade individual e que, se aqueles que pretendiam derrubá-lo tomassem o poder, «não nos deixariam por muito tempo em paz... por mero delito de opinião».4 A linguagem de Caetano era inesperada, o estilo directo, e o súbito protagonismo interpretável como uma promoção consentida. Quem seria o «homem comum» que Salazar escolheria se decidisse candidatar-se à Presidência da República?

Sem surpresa, a campanha monárquica contra Caetano atingiu uma ferocidade que só a intervenção da Censura conteve. O jornal da Causa Monárquica, O Debate, multiplicou os ataques, e publicaram-se dois livros contra o orador de Coimbra. Salazar não leu previamente o texto do discurso, Caetano indicou-lhe apenas os tópicos principais, mas perante os clamores contra o seu subordinado que se atirou à cabeça do touro sentiu necessidade de protegê-lo com uma carta afectuosa: tinha gostado muito.5 Entretanto, durante uma cerimônia no Porto, Craveiro Lopes irritou os monárquicos ao lembrar que tomara posse jurando fidelidade à Constituição da República e que nunca se afastaria desse compromisso.6 Em 16 de Abril de 1952, perante a grande agitação monárquica, Caetano punha três hipóteses: a restauração, um novo Monsanto (alusão à tentativa restauracionista de 1919) ou o afastamento do Estado Novo das pessoas e grupos que alimentavam a causa monárquica, o que redundaria numa indesejável viragem à esquerda.1 Em Junho de 1952, aceitou bem o convite de Salazar para vogai da Comissão Central da União Nacional, reiterando a disposição de servi-lo.2 Em Julho, como um óbvio desagravo da campanha monárquica, foi nomeado membro vitalício do Conselho de Estado, de que já era membro inerente como presidente da Câmara Corporativa. O convite coube formalmente a Craveiro Lopes; mas foi Salazar quem naturalmente decidiu.3 Ascendia à cúpula das cúpulas. Mas continuava sem poder. Tornara-se também, dentro do regime, o inimigo número um dos monárquicos.

Enquanto isto, através do I Plano de Fomento (1953-1958), o Estado Novo pretendeu ajustar as disponibilidades de investimento público às instantes necessidades de desenvolvimento. Previam-se investimentos nos sec-tores da agricultura, electricidade, indústria, comunicações, transportes, ensino técnico. A Câmara Corporativa estudou o projecto do Governo.4 Salazar quis também que a Câmara Corporativa discutisse a reforma agrária, uma aspiração da Junta de Colonização Interna.5 Mas Caetano não conseguiu nada perante a opinião conservadora dos procuradores.6 Em Julho de 1954, na seqüência de discursos sobre Goa, Damão e Diu, e movimentações que prepararam o terreno, grupos de «voluntários» da União Indiana ocuparam o enclave de Dadrá. Foi o primeiro passo de um processo que levou em 18 de Dezembro de 1961 à invasão de Goa pela União Indiana.7 Reuniu-se em 30 de Julho o Conselho de Estado. Coube a Caetano, o vogai mais novo, redigir a acta.8 Perante a estratégia de defesa intransigente da índia portuguesa, delineada por Salazar com o apoio do Conselho de Estado, Caetano preconizou a maximização dos contactos diplomáticos com Nova Deli, a íim de evitar surpresas e obter dilações.9 Caetano organizou as celebrações do 20.° aniversário da Câmara Corporativa, em 10 de Janeiro de 1955. Foi inaugurado um retrato do primeiro presidente, o general Eduardo Marques, pintado por Henrique Medina. A propósito da celebração, disse a Salazar que não percebia porque estava o corporativismo estagnado e defendeu um novo impulso à política portuguesa. Voluntariava-se para redigir um plano de revitalização do sistema corporativo.10 Salazar aceitou a oferta, mas foi--Ihe dizendo que a Câmara Corporativa tinha amplos motivos de satisfação pela qualidade do trabalho desenvolvido.11 O destaque protocolar de Cerejeira em cerimônias oficiais, relegando o Presidente da República para segundo plano, foi um motivo de protesto de Caetano.12 Nem em Canossa, dizia ele a Salazar, o poder civil andara tão de rastos.

(Fonte : "Cartas Secretas Salazar Caetano 1932-1968 de José Freire Antunes")

A LENDA DE ALMOUROL E CARDIGA


“ Sussurrava-se em Sagres que, há séculos quando os moiros foram senhores da península, era alcaide de um Castelo roqueiro, erguido a meio do Tejo, o sarraceno Almourol, que ali vivia com a sua mulher Cardiga e a filha Miraguarda, de olhos sonhadores e negros e de tanta beleza, que era capaz de cativar a alma de um cristão.E assim sucedeu.

Nas pelejas entre moiros e cristãos nas vizinhanças do Castelo, intrépido e romântico cavaleiro cristão, das hostes de Afonso Henriques, divisou nas ameias da fortaleza o moreno e encantador rosto da adepta do Islão de nome Miraguarda, filha de Almourol e Cardiga. E tão enfeitiçado ficou de suas raras graças e belezas, que se esqueceu que profanava a religião professada, ousando olhar cobiçosamente para a filha dos infiéis.

Mas o amor não consentiu estorvo , chegado à fala com Miraguarda cosido com as cortinas das barbacãs, planearam a fuga. E o amoroso cavaleiro raptou a moira encantada, levando-a para longes terras, cingida a si, em fogoso corcel. No momento da fuga, as hostes cristãs aproveitaram o ensejo para penetrar no Castelo, tomando-o aos Sarracenos.

Foi então que Almourol e Cardiga, não podendo suportar a afronta da dupla traição e o degradante cativeiro que lhes imporiam os assaltantes inimigos, decidiram subir à torre de menagem e precipitaram-se no Tejo. E assim puseram termo à cruciante dor que lhes avassalara as almas.

Os cadáveres dos 2 sarracenos, sobre nadando as águas do rio, foram Tejo abaixo impelidos pela corrente e internaram-se no oceano, perdendo-se entre as brumas e neblinas do além mar, onde, petrificadas, se transformaram, diz a lenda, em 2 ilhas de maravilha.

Quando os Portugueses, séculos depois, descobriram a ilha de Sta Maria, e 12 anos após a de S. Miguel, o povo tomou como verídica a lenda de antanho, dizendo que Sta Maria era o corpo da Cardiga e S. Miguel o do Almourol, transformados nas 2 ilhas encantadas.”

Curioso é que o descobridor dos Açores foi frei Gonçalo Velho Cabral, senhor de Pias, de Beselga e de Cardiga, comendador do Castelo de Almourol que em 1432 foi designado 1.º capitão donatário de Sta Maria, e em 1444 1.º capitão donatário de S. Miguel.

(Fontes: Atalaia - V.N.Barquinha e Real Associação do Médio Tejo)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

125 MINUTOS COM S.A.R. D. DUARTE PIO DE BRAGANÇA NO CASINO DA FIGUEIRA DA FOZ

GRAVADO AO VIVO NO CASINO DA FIGUEIRA DA FOZ EM 15 DE ABRIL DE 2010
EXIBIÇÃO EXPRESSAMENTE AUTORIZADA PELO CASINO DA FIGUEIRA (A QUEM AGRADECEMOS) E POR S.A.R. O SENHOR DUQUE DE BRAGANÇA

A NÃO PERDER EM TERRAS DE SANTA MARIA A PARTIR DE HOJE


A Viagem Medieval (VM) é o maior evento de recriação histórica medieval do país. Realiza-se, anualmente, durante dez dias consecutivos, no centro histórico da cidade de Santa Maria da Feira, atraindo diariamente 50 mil visitantes. Com características únicas no país, este projecto diferencia-se pelo rigor histórico, dimensão (espacial e temporal) e envolvimento da população e associativismo local, reforçando uma vasta equipa de mais de mil pessoas de diversas áreas, das quais 250 em regime de voluntariado. Centrada na recriação de episódios e acontecimentos que marcaram a história local e nacional da Idade Média, a VM começou por realizar-se no Castelo, mas rapidamente, se expandiu para todo o centro histórico e zona envolvente, ocupando actualmente uma área de 40 hectares. Recentemente, a VM foi distinguida com uma menção honrosa na terceira edição dos Prémios Turismo de Portugal, na categoria de "Animação".

                                          http://www.viagemmedieval.com/

CARTA A UM JOVEM AMIGO SOBRE A LIBERDADE E O REI

Caro Amigo

Não nasci numa família tradicionalmente monárquica, não tive uma formação política monárquica, li na biblioteca da casa dos meus pais tanto as biografias dos Reis D.Carlos e D. Manuel II, de Rocha Martins, como a História da República, de Lopes de Oliveira, sabia que o meu pai era um republicano que fora monárquico na sua juventude e que a minha mãe era simpatizante monárquica, apesar do meu avô ter sido um republicano idealista que se desiludiu cedo com o regime. A verdadeira formação política que tive foi para a liberdade e foi usando dessa liberdade que me foi inculcada desde criança que, cinquenta anos após a implantação da república, me fiz monárquico e aderi à Causa Monárquica como afirmação dessa liberdade.

Fiz um percurso de militância, prossegui um percurso de reforço da formação política com os doutrinadores integralistas, mas fui sempre questionando as suas proposições quanto à liberdade: apesar de ter sido com eles que aprendi que Nos liberi sumus, Rex noster liber est, manus nostrae nos liberverunt (Nós somos livres, nosso Rei é livre, nossas mãos nos libertaram).

O contacto com monárquicos que não se reviam na doutrina integralista, com a leitura de autores, portugueses e estrangeiros, que defendiam o liberalismo monárquico, a aprendizagem da História do século XIX, levou-me a outras conclusões e a outras escolhas. Mas sempre me marcou esse “grito de Almacave”: Nós somos livres e o nosso Rei é livre.

Olhando estes cem anos o que continuo a ver, a par de outros erros, é a falta de liberdade que tem perpassado pela sua história: a repressão contra os monárquicos e os católicos, a repressão da imprensa adversa do poder constituído em cada momento, o assassínio político, as revoluções como forma de alternância política na I República, a censura, a prisão, a tortura de oposicionistas ao regime na II República, as tentativas de controlar a imprensa e as vozes públicas discordantes e incomodativas para o Poder nesta III República onde, apesar disso, a liberdade existe e muitos dos excessos das anteriores foram banidos, vivendo-se numa Democracia, embora imperfeita e a necessitar de ser reformada em nome das liberdades dos cidadãos, asfixiados pela partidocracia e pela plutocracia. Comum a todas as as repúblicas, vejo também a falta de liberdade dos Presidentes, eleitos por sufrágio directo com o apoio de um ou mais partidos ou escolhidos pelos directórios partidários e eleitos por maioria por colégios eleitorais, mas todos reféns de uma ideologia e de formações políticas a que estão ligados, representantes de uma facção e não todos os cidadãos do país, parte da luta pelo Poder de uns contra os outros, presos a compromissos políticos e económicos assumidos no apoio às suas candidaturas.

Estou certo, caro amigo, que porque nasceste já num regime Democrático, nunca pensaste que no topo edifício político do Estado, que há trinta e cinco anos foi erguido sob a bandeira da liberdade, está alguém que o representa e chefia que não é livre. E o Chefe do Estado tem de ser livre, como gerador e garantia da nossa liberdade.

Por isso, e em nome dela, te convido a fazer a escolha da liberdade ao querer e lutar pelo regresso do Rei, livre de todas as pressões políticas e económicas, de todas as ideologias, acima das facções, comprometido apenas com nação que fomos, somos e seremos. Para que também tu possas dizer como eu, “Nós somos livres, o nosso Rei é livre, nossas mãos nos libertaram”.

Um abraço amigo

João Mattos e Silva

Diário Digital (19-Jul-2010)

JORNAL “ECHO DO TEJO” (30 de Junho de 1907) CORRESPONDÊNCIA DO SARDOAL: A VISITA DE EL-REI AO SARDOAL


Sardoal, 22 de Junho de 1907

É impossível poder descrever-se a recepção que hoje nesta Vila foi feita a Sua Majestade El-Rei na visita que aqui se dignou fazer, acompanhado dos seus Ajudantes de Campo, Governador Civil do Distrito, Conde e Condessa de Alferrarede. Só houve conhecimento da visita de El-Rei a esta Vila hoje de manhã, não havendo tempo das ruas por onde passava Sua Majestade serem melhor ornamentadas, o que não influiu para que El-Rei tivesse nesta pitoresca Vila uma manifestação imponentíssima, sendo muito aclamado pelo povo deste Concelho, não nos lembrando que aqui se tenha feito tão extraordinária recepção. Se tivesse havido conhecimento desta visita régia dias antes, com certeza que a esta Vila atrairia não só povo do Concelho, como o das povoações circunvizinhas.

El-Rei e a sua comitiva chegaram aqui pelas 11 horas da manhã e foi recebido à entrada da Vila pela Câmara Municipal, Autoridades Eclesiásticas, diversos funcionários públicos e muito povo. Logo que se avistou o seu automóvel, rompe a velha Filarmónica ( a dos Ciganos) com o Hino da Carta, subindo ao ar muitas girândolas de foguetes e El-Rei então desceu do seu automóvel e recebeu diversos cumprimentos. Segue depois para a Praça desta Vila, aonde foi esperado pela nova Filarmónica (a do Carapau).

Em todo o percurso Sua Majestade foi muito aclamado com vivas a El-Rei, à Família Real e à Carta Constitucional. Algumas crianças entre as quais Maria Carlota Matos Silva e Jacinto Neto Milheiriço, ofereceram a El-Rei lindos ramos de flores naturais e um pombo enfeitado com fitas de seda azul e branca, achando El-Rei muito simpáticas estas ofertas, agradecendo afectuosamente e beijando as crianças. Sua Majestade é depois convidado a visitar os Paços do Concelho onde lhe é feita nova recepção, pelo que se lavrou no livro das actas da Câmara deste Município uma acta extraordinária, concluída nos seguintes termos: SARDOAL, 22 DE JUNHO DE 1907 Recepção de Sua Majestade El-Rei D. Carlos, que hoje pelas 11 horas da manhã se dignou fazer uma rápida visita a esta Vila e Concelho de Sardoal. O povo deste Concelho representado pelos vereadores do Município, pelos elementos civis e eclesiásticos, saúda o seu Rei que se dignou como prova de deferência e estima pelo seu povo, visitar-nos. Em memória deste notável acontecimento se lavrou esta acta de recepção que Sua Majestade assinou e mais pessoas presentes.

Esta acta é lida pelo digno Presidente da Câmara Municipal, Sr. Padre António Joaquim da Silva Martins, que proferiu em seguida um pequeno discurso, cujo resumo é, mais ou menos, o seguinte:

Senhor! O povo deste Concelho surpreendido pela inesperada visita de Vossa Majestade, ufana-se deste acto memorável que não se acha registado em documento algum deste Concelho.Por ter sido inesperada esta visita, não pode Vossa Majestade ser recebida mais condignamente, mas por esta expressiva e franca manifestação se mostra que o recebemos do fundo do coração com franca sinceridade.Deus conserve Vossa Majestade por muitos anos para bem da Pátria e Povo Português, que se orgulha de empresas arriscadíssimas e gloriosas a que se tem abalançado para bem da Constituição.

Este discurso conciso e brilhante foi por vezes interrompido com muitos aplausos e o seu final foi coroado com palmas e repetidos vivas a Sua Majestade, Família Real e Carta Constitucional. Em seguida retirou-se El-Rei da Sala dos Paços do Concelho, depois de ter assinado a acta e subiu para o seu automóvel, estando nesta ocasião as duas Filarmónicas, tocando o Hino Nacional. El-Rei fez então as suas despedidas no meio de um entusiasmo delirante que este povo lhe manifestava, repetindo-se numerosos vivas, por milhares de pessoas. Na manifestação a El-Rei na Praça do Comércio e na Sala das Sessões da Câmara estiveram representadas as escolas oficiais dos dois sexos com os seus alunos e pelos seus dignos Professores Srs. António Rodrigues e Maria Antónia Cardigos e Professora particular D. Maria Fortunata, assim como a Mesa da Santa Casa da Misericórdia e Irmandade do Santíssimo. A ornamentação das ruas por onde passou El-Rei estava simples, visto não ter havido tempo para mais. No entanto viam-se muitas e lindas colchas pelas paredes e Paços do Concelho e bandeiras espalhadas pela Praça onde se viam pintadas num grande quadro as seguintes palavras: “O POVO DO SARDOAL SAÚDA EL-REI” Em todo o trajecto foi lançada das janelas grande quantidade de flores.

A Câmara Municipal de Sardoal, à data da visita do Rei D. Carlos, tinha a seguinte constituição: Presidente: António Joaquim Silva Martins (Padre)

Vice-Presidente: António Carvalho Tramela (Comerciante)

Vogais: Jacinto Dias Milheiriço (Farmacêutico) Francisco da Silva (Comerciante) Francisco Alves Ferreira (Padre)

(Fonte: Real Associação do Médio Tejo )

terça-feira, 27 de julho de 2010

VAMOS COMEÇAR A TREINAR A LETRA...

UM REI, UM EXEMPLO

Um dos maiores ‘pecados’ que uma pessoa pode cometer é viver conscientemente no erro! Pior ainda é permanecer nesse mesmo erro.

Há muitos anos que sou monárquico e foi com gosto que aprendi a ouvir o Senhor D.Duarte (e mais tarde, com o Casamento Real, a Senhora D.Isabel) com muita atenção. Os seus discursos contrastavam, pela sua coerência, sensatez e sentido de oportunidade, com os habituais discursos republicanos que, normalmente, eram muito fraquinhos (isto para ser educado). Na verdade este contraste é cada vez mais evidente e só não o vê quem não quer. Vê-se claramente que o Chefe da Casa Real sabe qual o caminho que Portugal deve seguir para que se fortaleça e recupere o vigor e prestígio de outrora! É claro como água que SAR se preocupa verdadeiramente com o futuro de Portugal, enquanto nação independente e soberana. Se as pessoas deixarem de lado o preconceito, que ainda existe relativamente à monarquia e à Família Real, verão com facilidade que temos um Rei à altura, pronto a servir o País.

Desde há uns tempos para cá, no entanto, tenho ouvido vozes críticas à Família Real, nomeadamente a SAR D.Duarte (enquanto Chefe da Casa Real Portuguesa).

Convém esclarecer, antes de prosseguir, que a critica é um elemento saudável em qualquer democracia. É bom e positivo que a critica (construtiva, entenda-se) exista pois ela promove o desenvolvimento e, consequentemente, o crescimento. Existem, contudo, limites para o ridículo.

A crítica desgovernada à Família Real, por tudo e por nada, parece, contudo, não pesar na consciência daqueles que a proferem. De facto, frequentemente esses ‘críticos’ permanecem no mesmo erro ‘ad eternum’ sem que estejam minimamente preocupados se a sua critica faz sentido e/ou é oportuna ou não. Perante qualquer chamada de atenção, por mais educada e bem intencionada que seja, reagem violentamente quais cães enraivecidos. Chegam inclusivamente a tentar inverter a situação. Tentam desesperadamente transformar a sua mentira em verdade universal. Querem ter razão a todo o custo.

É isto que vejo ultimamente nas críticas à Família Real. As vozes criticas que se levantam (que tendem a ser mais ou menos as mesmas e num número infimamente ridículo) não se importam com o que criticam e/ou se a critica que fazem tem alguma razão de ser. O importante, para essas ‘pessoas’ é criticar. Tudo o resto não interessa. Pobres pequenos de espírito! Apetece ter pena mas deles nem pena se pode ter! Se, num gesto de boa vontade, se lhes tenta dar a mão para os ajudar a sair do buraco que eles próprios cavaram, puxam-nos para esse buraco para que também nós nos afundemos. Essas ‘pessoas’, ao contrário dos monárquicos verdadeiros não procuram elevação (moral, intelectual, ética). Antes pelo contrário: ambicionam somente destruir!

Estas situações fazem-me admirar cada vez mais a paciência e a hombridade da Família Real e principalmente (por ser o mais visado) de D.Duarte. Outros haveria que, caso estivessem na situação do Duque de Bragança, logo ameaçariam com processos. Logo as vozes maledicentes (sempre prontas a deturpar palavras alheias) dirão que, se SAR não actua, é porque teme alguma coisa. Sabem que mais? Quem é grande (em termos de moral, dignidade, ética, honra e intelecto) de facto não se deixa atingir por golpes tão mesquinhos, tão pequeninos. Este facto mostra claramente a grandeza (nos termos já referidos) da Família Real. E não se confunda grandeza com arrogância. Os ‘pequenos’ (os tais dos golpes mesquinhos) é que dão ares de arrogantes. Aqueles que realmente são grandes, são de uma simplicidade absolutamente desconcertante e é isto que acontece com a Família Real. Este é o comportamento de um Rei. Este é o comportamento de uma Família Real. E é este exemplo que se deve seguir. Um exemplo de elevação sem arrogância.

Não se pretende aqui fazer uma tese a defender a Família Real. Ela não precisa e caso disso necessitasse, certamente teria pessoas muito mais habilitadas dispostas a o fazer.

Simplesmente não é possível que os verdadeiros monárquicos permaneçam calados enquanto a Casa Real é criticada por tudo e por nada. Estou certo que as críticas serão bem vindas e até apreciadas pela Família Real desde que sejam sérias, coerentes e intelectualmente honestas.

Por isso, quem quiser voltar a criticar desonestamente, por ventura com o intuito de iludir as mentes mais desprevenidas, fique a saber que há monárquicos esclarecidos e honestos dispostos a repor a verdade. Esses esforços para denegrir a imagem da Família Real serão, portanto, vãos.


Viva D.Duarte!
Viva a Família Real Portuguesa!
Viva Portugal!

(Este artigo foi publicado originalmente no blogue Portugal Futuro)
(Fonte: Projecto Democracia Real)

RETRATO DE S.A.R., A SENHORA DONA ISABEL DE BRAGANÇA

Exposição de pintura integrada no projecto "À Memoria das Mulheres da Casa de Bragança” - Guimarães e inserido nas comemorações oficiais das Jornadas Europeias do Património, para as quais foi executado o retrato solene de S.A.R., Dona Isabel de Herédia de Bragança, Duquesa de Bragança, assim como, reinterpretações de Dona Catarina, Dona Maria II e Dona Amélia. Realizado pelo pintor Oscar Casares em 2001.

VAMOS À CONQUISTA DE COIMBRA!

ENTREVISTA A RAMALHO EANES, ONDE AS VANTAGENS DA MONARQUIA SÃO EVIDENCIADAS (07-01-2008)

«Na nova Monarquia espanhola, personificada pelo Rei D.Juan Carlos, três tempos se podem considerar.

Num primeiro tempo (de 1975 ao referendo constitucional de 1978), decisivos foram o papel e a acção do Rei. Foi o tempo da transição democrática, sabiamente liderada por Adolfo Suarez.

Num segundo tempo-que vai da aprovação referendária da Constituição de 1978 até á chegada de Aznar ao governo- a consolidação é apenas perturbada pelo golpe militar de 1981 (que aliás serviu para mais prestigiar o Rei) e pelo endémico terrorismo da ETA.

Um terceiro tempo teve inicio com a subida de Aznar ao poder.Ele representa as novas gerações, que não guardam memória presencial do Franquismo, que pouca memória conservam da transição e, portanto, do papel do Rei, da instituição monárquica nesse difícil processo.

Mais grave, no entanto, é que parte do povo espanhol, empenhado na virulenta luta PSOE-PP, pareça não compreender bem o papel da monarquia, ao querer arrastar para esse combate o Rei, situação a que este tem, com prudencial inteligência, respondido sublinhando o papel que a Constituição lhe atribui.

Significa esta posição que nem toda a Espanha politica e civil tenha interiorizado, como se esperaria e desejaria, que ,como disse Herrero de Miñón, "o monarca vitalício e hereditário está melhor colocado que qualquer magistrado electivo para ser absolutamente neutral e independente", para estar acima de todas as segmentarizações politicas e ser garante da continuidade e unidade nacional, indispensável, esta até para manter os militares democraticamente nos quartéis.»

(Fonte: Somos Portugueses)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

PALAVRAS DE S.A.R. O SENHOR DOM DUARTE NAS COMEMORAÇÕES DOS 100 ANOS DA CAIXA DE CRÉDITO AGRÍCOLA MÚTUO DE ELVAS

A Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Elvas, a mais antiga do País, comemorou no dia 18 de Julho, o seu centenário com uma cerimónia comemorativa. Do programa constou uma missa na Igreja do Senhor Jesus da Piedade, uma visita ao Museu da Fotografia, uma sessão solene no Auditório São Mateus e um almoço de confraternização na Quinta da Araúja. Do painel de oradores fizeram parte: S.A.R., Dom Duarte de Bragança, João Costa Pinto, Paulo Macedo, Francisco Bagulho, Nuno Mocinha, Carlos Courelas e Fernando Lopes. A crise, a persistência do Crédito Agrícola durante o século e o papel desenvolvido junto dos agricultores foram alguns dos temas discutidos no Auditório São Mateus.

Ouçamos as palavras de S.A.R. O Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança

(Fonte: Linhas de Elvas - Semanário)

CONVERSAS COM O DUQUE DE BRAGANÇA

É possível a Restauração de uma Monarquia em Portugal?

- Penso que é possível. Que seria desejável para o país. Digo-o em termos plenamente objectivos. Também sobre esta matéria gostaria de fazer algumas observações. Em primeiro lugar, acreditando, como acredito, nas vantagens para uma comunidade nacional para a estrutura do Estado (no que respeita, designadamente, à sua simplificação e transparência) que resultariam da restauração da Monarquia, não tenho dúvida nenhuma que ela seria um bem para o país. Mas também, de tudo quanto já disse resulta com clareza que me é completamente estranha a ideia de qualquer restauração que não fosse pela via democrática. Só uma restauração desejada pelo povo e consagrada constitucionalmente pela deliberação dos seus representantes é concebível.»

Mas a minha pergunta visava muito concrectamente a possibilidade de a Monarquia ser restaurada.

- Acho que muitos portugueses são vísceralmente monárquicos. Muitíssimos. Mesmo sem o terem formulado! Gostam da continuidade e gostam de ver no presidente da república aquilo que no fundo gostariam de ver num Rei. Foram mais amados os Presidentes do “tipo régio”, que conseguiram encarnar de alguma forma uma figura nacionalmente simbólica, do que “os presidentes burocratas” que passaram apenas cortando fitas e assinando promulgações... Atrevo-me a pensar que se não houvesse um impedimento constitucional, os doiS últimos presidentes (pessoas completamente diferentes aliás!), poderiam ter sido reeleitos quase indefinidamente! Talvez até ao fim das suas vidas! Quer um quer outro conseguiram uma ligação ao povo que teve muito de monárquico, que muito se relaciona com a resposta à necessidade do homem da rua de ver, na chefia do estado, um símbolo que não é apenas (o que também é perfeitamente indispensável, como é evidente, mas noutro plano!), - o “Chefe da Administração Pública”.

Os portugueses sentem a diferença entre um chefe de estado e um chefe de governo. E de um chefe de estado eleito esperam que se eleve, tanto quanto lhe seja possível, acima de facções e de partidos! Posição que um Rei tem por natureza! Considero sintomático que os dois presidentes referidos tenham conhecido as suas menores “quotas” de popularidade e de “aprovação pública”, justamente nas épocas em que os cidadãos pensaram que se estavam a aproximar de posições politico-partidárias e a afastar de uma rigorosa posição supra-partidária! Acho que tiveram menos apoio... quando se afastaram de uma posição “régia”...

Mas mesmo admitindo uma tendência monárquica do povo português acha que o mesmo se pode dizer dos partidos?

- Há monárquicos nos partidos. Mas também neles há muitas pessoas para as quais a questão “monarquia-república” está ultrapassada e que não se apercebem claramente das grandes vantagens da Monarquia. E há ainda outro factor anti-monárquico: a circunstância de em todos os grandes partidos haver sempre alguns ”barões” que aspiram a chefia do estado como topo de uma carreira. E esses não gostariam de ver o lugar ocupado por um Rei... e colocado fora das batalhas eleitorais!

Excertos do livro “ O Passado de Portugal no seu Futuro”, de Manuela Gonzaga.
(Fonte: Blogue "Família Real Portuguesa")

ENTREVISTA COM O MARQUÊS DE FRONTEIRA EM 1996

— Senhor Marquês de Fronteira, diga-me por favor o seu nome completo, e de quem é filho.

— O meu nome completo é Fernando José Fernandes Costa Mascarenhas. O meu pai chamava-se Fernando Penalva Mascarenhas e a minha mãe chama-se Maria Margarida Canavarro Menezes Fernandes Costa. Sou o representante das Casas de Fronteira, Alorna, Torre e Távora entre várias outras.

— Onde nasceu, e quando?

— Nasci em Lisboa, numa casa de saúde que havia na Avenida da República, no dia 17 de Abril de 1945.

— Quem foi o primeiro marquês de Fronteira, e como é que se notabilizou?

- O primeiro marquês de Fronteira foi Dom João de Mascarenhas, o edificador desta casa. Recebeu o título em 1670, dado por Dom Pedro II, ainda regente. O pai era o conde da Torre, que foi um título dado por Filipe III, e o filho acumulou os dois títulos.

— Sente alguma relação especial com ele, ou com outros dos seus antepassados?

- Diz-me muito o facto de ele ter construído esta casa, que eu conheço muito bem, não só ao nível óbvio, porque qualquer pessoa conhece bem a sua casa, mas a um nível mais profundo, porque ela tem sido para mim um tema de estudo e de investigação de alguns anos a esta parte. É uma casa que me fascina, e pela qual eu sinto uma afinidade especial, como sinto pelo primeiro marquês de Fronteira, que a edificou. Uma antepassada minha, de outro ramo da família, por quem eu também sinto uma simpatia e um interesse especial é a marquesa de Alorna, minha quinta avó, que foi uma mulher com um temperamento certamente muito difícil, o meu trisavô nas suas memórias queixa-se um boca-dinho das suas relações com a avó, mas ao mesmo tempo foi também uma mulher interessantíssima. Patrocinou vários salões literários como toda a gente sabe, inclusivamente aqui no palácio. Foi exilada por «sugestão» do Pina Manique, enfim, foram as chamadas «desintendências com o Intendente», que tiveram a ver com a criação da «Sociedade da Rosa». Não há assim muitas mulheres que tenham sido exiladas «por direito próprio», e até lhe posso contar um episódio engraçado: ela estava exilada em Londres, quando correu por lá o boato de que o rei, que era já Dom João VI, a perdoaria, e a autorizaria a regressar a Portugal, e ela antes de ter a confirmação dessa notícia meteu-se num navio, veio para Lisboa, e foi recambiada no dia seguinte no mesmo navio, porque de facto era só um boato, mas está a ver, era uma pessoa muito impulsiva, e eu acho-lhe muita graça.

— O Senhor Marquês ficou famoso pela vida boêmia que levou na sua juventude. E verdade?

— Não, esse foi o meu pai. Ele e o meu tio Antônio é que na sua juventude freqüentaram muito a noite lisboeta.

— E que estudos é que fez, Senhor Marquês de Fronteira?

— Sou licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa, e depois dei aulas na Universidade de Évora durante oito anos.

— Senhor Marquês, quais são os seus interesses culturais?

— Olhe, evoluíram um pouco com o decorrer dos anos. Comecei por me interessar pela pintura e depois pela música; a arquitectura é uma coisa que ainda hoje me interessa muitíssimo, e a poesia, desde muito novo e ao longo da vida me tem vindo a interessar e a fascinar.

— Algum poeta em especial?

— Bom, eu acho que Portugal é um país de poetas, não me parece que exista nenhuma outra área em que tenhamos um patrimônio tão rico, embora haja muito boa arquitectura, alguma boa pintura, alguma boa música, mas nada que se compare com a poesia. Há nomes que são de facto um pouco incontornáveis: Camões, Fernando Pessoa, mas também gosto do Mário de Sá Carneiro, do Manuel Bandeira, descobri há pouco tempo um poeta brasileiro, o Ivan Junqueira, que é também um poeta extraordinário da língua portuguesa. Fui um grande leitor de ficção científica, e ainda hoje gosto. Não sou um grande apreciador do romance português, nem sequer do Eça, para dizer a verdade, embora lhe reconheça o mérito. O Eça deixou–nos descrições magníficas da sociedade lisboeta, mas eu não sou de facto um apaixonado dos seus romances. No que diz respeito aos nossos romancistas contemporâneos, creio que ultimamente se tornaram de tal forma intelectuais que francamente, a maioria das vezes não tenho paciência para os ler. Prefiro a poesia, que é uma forma de expressão extremamente contida e onde o jogo das palavras faz todo o sentido para mim. Eu entendo que um romance tem de ter uma trama, uma história, e tem de ser empolgante. Caso contrário leio vinte ou trinta páginas e ponho de lado. Não leio romances por obrigação, e portanto não leio romances chatos.

— Senhor Marquês, quer explicar um bocadinho o que é a Fundação das Casas de Fronteira e Alorna? Eu sei que foi o senhor que a criou, sei que doou uma grande parte da sua fortuna…

— Sim, doei a grande maioria dos meus bens à Fundação, fiquei com muito pouco, embora continue a ter fama de ser uma pessoa rica, e ainda apareça às vezes na revista Fortuna como o detentor de uma das maiores fortunas de Portugal, que é uma coisa que eu devo dizer que me irrita um bocado, porque eu nem sequer era assim tão rico, mesmo antes de ter doado os meus bens à Fundação, pelo menos comparado com outras pessoas. Não quer dizer que fosse pobre, herdei uma fortuna sólida, esta casa e o Condado da Torre, de que aliás cheguei a ser expropriado; nessa altura fiquei só com esta casa que não é propriamente uma fonte de rendimento mas uma fonte de despesas. Mas enfim, recuperou-se o Condado da Torre, que é hoje uma sociedade, e eu doei 80 por cento das acções à Fundação. Portanto a minha mãe tem algumas acções, e eu fiquei com cerca de 12 por cento, enfim, dá para viver mas não dá para grandes extravagâncias. Fiz esta doação porque entendi que era a melhor maneira de preservar a Casa, entendi que tinha beneficiado de circunstâncias invulgares, porque o sétimo Marquês de Fronteira, que nasceu em 1802 e cujo pai morreu quando ele tinha cinco anos, por volta de 1807, ainda beneficiou da Lei do Morgadio. Depois teve uma filha única que não teve filhos, e que deixou os seus bens a uma prima, prima essa que foi marquesa de Fronteira, e pelo casamento marquesa de Ávila e de Bolama, a qual me deixou esta Casa e o Condado da Torre directa-mente a mim, embora eu não tivesse ainda nascido. Ela deixou ao filho mais velho do filho mais velho do meu avô. O meu pai já era vivo mas eu ainda não, isto foi, salvo erro em 1927, e eu nasci em 1945. Claro que havia outros bens, que foram divididos e distribuídos por outros membros da família, como é natural, portanto este palácio e o Condado da Torre foram-me deixados por uma tia-bisavó. Resolvi criar a Fundação, que me pareceu a melhor forma de manter a unidade e a ligação entre estes dois pólos e a família, e ao mesmo tempo fazê-la de urna forma não egoísta, torná-la uma coisa útil social e culturalmente. Temos dois ou três tipos de actividades. Temos colóquios, ou encontros, que têm um caracter, digamos, mais científico, concentrados normalmente em dois, três, ou até mais dias, durante os quais são apresentadas várias comunicações. Temos também ciclos com temas variados, este ano por exemplo tivemos um ciclo sobre a leitura do romance, estes ciclos são feitos em várias sessões, já tivemos sessões de poesia, já tivemos sessões de «contar histórias», tivemos outro dedicado ao memorialismo, a minha mulher deu aulas de pintura aqui no palácio para os alunos da ULTI, fizemos também ciclos sobre azulejaria, sobre História de Arte e História da Literatura e sobre temas ligados à família. Os colóquios antigamente eram gratuitos. Agora as pessoas pagam uma pequena taxa de incrição, e eu acho que é melhor assim, porque as pessoas quando pagam levam as coisas mais a sério. Os ciclos são de entrada livre, e costumam vir noticiados no JL, mas sobretudo no Expresso. Tivemos agora um ciclo de mesas redondas sobre «Ciências da Vida e Ética». Temos também um protocolo com a Câmara Municipal de Ponte de Sôr, que é onde se situa a herdade, e desenvolvemos lá um outro tipo de actividades, principalmente exposições de pintura, precedidas, no dia da inauguração, por uma conferência. A Fundação Gulbenkian também teve aí um papel muito importante, não directamente relacionado connosco, mas porque financiou o restauro da antiga Câmara Municipal, onde está agora a Biblioteca Municipal Calouste Gulbenkian.

— E os seus hobbies ?

— Bom, eu não tenho propriamente hobbies, a menos que queira considerar um hobby o meu interesse pelas artes e pelas letras. Gosto muito de música. Mozart, Beethoven, Haydn, Bach, Schu-bert. Talvez o meu favorito seja Beethoven, o grande apaixonado, o grande romântico, se calhar porque a época em que eu ouvia mais música foi a minha juventude, e a juventude é quase sempre apaixonada e romântica. Nos últimos anos tive a sorte de as minhas actividades profissionais serem justamente aquelas que eu me sentia capaz de desempenhar com verdadeiro prazer. As actividades da Fundação preenchem-me completamente, de forma que não sinto uma grande necessidade de ter um hobby.

— Senhor Marquês, há quem diga que a aristocracia morreu com Luís XVI no cadaf also. Acha que é verdade?

— Bom, depende daquilo que se entende por aristocracia. Se por aristocracia estamos a falar de uma série de privilégios, alguns dos quais francamente inaceitáveis e abusivos, nesse aspecto sim, com certeza, realmente a Revolução Francesa representou, e felizmente, o fim de situações e de «direitos» que efectivamente não faziam sentido no século XVIII, e muito menos hoje, se é que alguma vez o fizeram. Noutro sentido, em que a aristocracia representa a manutenção de uma tradição, uma consciência histórica que normalmente não está tão presente nas outras classes sociais, uma certa responsabilidade perante o nome, embora isso também exista, sem dúvida, nalgumas famílias burguesas que criaram também uma certa tradição, e fazem gosto em honrar o seu nome, e eu acho isso muito bem, mas de qualquer forma penso que esse sentido histórico de se ser o elo de uma cadeia, de se fazer parte de um todo, talvez seja a característica mais importante da aristocracia, e nesse aspecto eu penso que a aristocracia é uma classe que não morreu, e que continua a existir. É evidente que existem pessoas com mais consciência de classe do que outras, mas eu não acho que se possa dizer que a aristocracia morreu. Por outro lado a aristocracia é também um facto social. Há coisas que uma pessoa comum não conseguiria, e que a pessoa que declina um título acaba por conseguir. Não quer dizer que isso aconteça sempre, nem quer dizer que isso esteja certo, mas que é verdade e que acontece, isso é.

— O Senhor Marquês acredita que o actual duque de Bragança ainda tem uma chance de se vir a sentar no trono português?

— Eu acho que se têm visto coisas muito mais extraordinárias. Não é que ache muito provável, mas se há dez ou quinze anos nos dissessem que o regime soviético iria cair, que a União Soviética se iria dissolver e que o Muro de Berlim iria ser demolido num prazo tão curto, eu tenho a impressão que 99 por cento das pessoas não teriam acreditado, e portanto não sei. Hoje em dia dificilmente ponho limites àquilo que pode ou não pode acontecer. Não acho que seja uma coisa muito provável, mas pode haver um conjunto de circunstâncias que tornem possível essa solução ou que a tornem uma boa alternativa. De certa forma acho que seria mau sinal, porque acho que se isso acontecer é porque a nossa democracia funcionou mal, e não foi feliz, e eu espero bem que isso não aconteça. Mas penso que há circunstâncias em que tudo é possível, e acho que é importante, como «reserva», em alternativa à República, que exista a figura do herdeiro da Casa Real, é bom que exista, e pode acontecer que um dia o país necessite de recorrer ao regime monárquico.

— Senhor Marquês, se o Senhor Dom Duarte, por hipótese, fosse aclamado rei, o senhor dava–Ihe o seu apoio?

— Sim, com certeza. Aclamado ou não, a partir do momento em que eu pedi ao Senhor Dom Duarte e ao Conselho de Nobreza o reconhecimento dos títulos da minha Casa, e da representação genealógica das famílias que represento, assumi naturalmente um compromisso de lealdade e apoio em relação ao Senhor Dom Duarte, e portanto, desde que não vá contra a minha consciência, o Senhor Dom Duarte pode contar sempre com a minha lealdade. Sendo ou não aclamado, nesse aspecto não me faz muita diferença.

— O Senhor Marquês costuma freqüentar o Beija-Mão Real no Castelo de S. Jorge, no 1° de Dezembro?

— Não. Não costumo lá ir.

— Como é que o Senhor Marquês equaciona o nascimento anunciado do herdeiro do trono português com o futuro político de Portugal?

— Bom, nós não sabemos quem vai ser essa criança, portanto é difícil dizer, pode ser uma pessoa extraordinária que pelas suas qualidades, pela sua maneira de estar, pelo seu relacionamento com as pessoas e com o país venha a conquistar mais adeptos para a Monarquia em Portugal. Aliás eu acho que o Senhor Dom Duarte já começou a fazer isso. Ele conseguiu criar um movimento de simpatia importante e penso que tudo isso é mais viável agora do que há quinze ou vinte anos, e portanto pode acontecer que a personalidade do futuro representante da Casa de Bragança possa ajudar, mas é claro que tudo isso são coisas imprevisíveis.

— Como é que o Senhor Marquês se relaciona com os outros membros da aristocracia portuguesa? Há um espírito de classe, de união, a ligar as pessoas?

- De um modo geral não há muito esse espírito de união. Um espírito de classe talvez haja, no sentido em que todos nós temos talvez alguma experiência em comum, e pelo menos uma responsabilidade em comum perante as nossas próprias Casas. Nesse sentido sim. Mas eu também sou um caso um pouco particular. Eu sou um marginal dentro da minha classe, devido ao posicionamento político que assumi desde a minha juventude e ao longo dos tempos. Sou um marginal dentro da aristocracia portuguesa, e não tenho muitos contactos. É claro que conheço as pessoas, algumas até são pessoas com posições políticas de esquerda, de quem me sinto ideologicamente mais próximo, mas a tendência maioritária da aristocracia é conservadora, e aliás até seria esquisito se fosse de outra forma. Embora o sejam por vezes mais na aparência do que na essência; tenho por exemplo um primo direito que é o meu herdeiro, que parece muito mais conservador do que é na realidade, porque nas atitudes que tem perante a vida e na maneira como se comporta, no fundo é muito menos conservador do que parece e talvez até do que ele próprio julga.

— Senhor Marquês, depois de o conhecer um bocadinho esta pergunta não faz muito sentido, mas enfim… o senhor vota no PPM? Sente de alguma forma o peso de uma obrigação moral, ancestral, no sentido de votar no Partido Popular Monárquico?

- Não. Nem por sombras. Já votei no PPM em circunstâncias especiais, nomeadamente por causa da figura do arquitecto Ribeiro Telles, que é uma pessoa que eu considero muito. É, sem dúvida, um homem de grande inteligência, um sonhador, mas às vezes um bocadinho exagerado; talvez prejudique as causas que defende por as defender tanto, mas se calhar se não o fizesse tanto também não era tão ouvido. Há radicalismos que são necessários à sobrevivência. Já votei uma vez no PPM, mas normalmente o meu voto é no Partido Socialista, embora não seja filiado em partido nenhum.

— Senhor Marquês, o senhor pensa que um nobre que não tenha meios de fortuna para fazer brilhar o seu título, deve prescindir dele?

— Esse é um ponto sobre o qual nunca reflecti maduramente, mas parece-me que é uma pergunta que faz todo o sentido e é difícil de responder… Olhe… acho muito digna e correcta a posição de alguns nobres, como a pessoa que me referiu, que tomaram essa atitude, o que não quer dizer que ache o contrário incorrecto. Por um lado deve haver uma certa ligação entre um título e um certo estatuto, digamos assim, embora o título só por si já confira algum estatuto, mas por outro, não acho que seja óbvio, de maneira nenhuma, que o facto de uma pessoa viver em condições financeiras menos brilhantes seja para essa pessoa impeditivo de usar títulos de nobreza. É claro que, ao longo da História, os títulos de nobreza estiveram geralmente ligados a um certo estatuto financeiro, embora as grandes Casas tenham passado alguns períodos históricos em situações econômicas mais difíceis, embora essas dificuldades fossem geralmente relativas. Quem tem muitas dívidas é porque tem algum dinheiro, porque se uma pessoa deve um milhão de contos automaticamente é considerada uma pessoa rica, mesmo que não tenha um tostão, o que é uma situação um bocado absurda. Há casos de famílias com títulos, e títulos importantes e antigos, que ao fim de um certo tempo a viverem em condições extremamente modestas acabaram por perder um bocado a consciência das Casas que representam, mas o que também é verdade é que a realidade não é uma coisa estática, e numa família com poucos recursos econômicos pode voltar a aparecer gente capaz de recuperar um certo à-vontade financeiro. Eu sei que existem algumas famílias cujos representantes foram pessoas modestíssimas, mas que com a evolução das condições sociais puderam fazer por exemplo uma licenciatura, exercer uma profissão liberal, e ascenderam a uma posição social mais elevada.

— Para acabar, Senhor Marquês de Fronteira, como é um dia normal da sua vida?

— Olhe, a minha mulher e eu nesta altura achámos que a Fundação se estava a «intrometer» um bocadinho na nossa vida privada, a «pesar» um pouco no nosso casamento, e decidimos alugar um apartamento e não viver aqui, pelo menos durante um tempo. Chego ao escritório por volta das onze da manhã, almoço cá, e estou muitas vezes até às seis, até às sete horas e, nos dias em que tenho acti-vidades da Fundação, fico até à meia-noite ou coisa parecida. A maior parte dos dias passo o serão com a minha mulher. Vou para casa, janto, não vejo muita televisão, até porque os programas interessantes começam todos tardíssimo, e eu preciso de dormir oito horas, para no dia seguinte me sentir em condições para trabalhar. Sobretudo no Canal l e na SIC, os programas que apresentam até às onze horas, meia-noite, são perfeitamente «intragáveis», são de um mau gosto confrangedor, enfim, deve haver pessoas que gostam, não é… mas é pena. A RTP 2 já tem outro nível, e a TVI tem uma programação mais ecléctica que é mais parecida com aquilo que foi a certa altura a RTP l, que era um canal «generalista» com um bom nível qualitativo. O que acontece com o Canal l e com a SIC é que eles não respeitam os horários, quando se consegue gravar um programa é mera coincidência, quase não fazem intervalos entre os programas, e depois no meio dos programas fazem intervalos enormes, devem ser tudo técnicas publicitárias, com certeza, e se em relação à SIC é mais compreensível porque é um canal privado, cujo objectivo é obviamente o lucro, já a RTP l é um canal público, que é pago em grande parte pelos nossos impostos, e acho que esse estado de coisas não se justifica.

Esta entrevista não ficaria completa sem a transcrição de algumas palavras dirigidas pelo actual marquês de Fronteira ao seu herdeiro num «sermão» lido no Palácio Fronteira no dia 16 de Março de 1994.

«Pela ordem natural das coisas, caber-te-á, Antônio, mais tarde ou mais cedo, presidir aos destinos desta Fundação. É um fardo pesado que te deixo e que tu saberás conduzir, espero que com mão segura, até à próxima geração. Como tudo, tem os seus encantos, mas tem sobretudo muitos espinhos. Não é uma situação fácil aquela que te lego.

Viverás numa casa que é tua mas que não é só tua: é propriedade duma Instituição que nela funciona e de que tu serás a menor pane. Presidirás a um Conselho Directivo que, se tudo correr bem, de vez em quando se virará contra ti. Votarás numa Assembléia Geral em que deténs a maioria absoluta dos Títulos de Participação mas em que não podes decidir nada sozinho. Dirigirás uma Fundação a que todos chamarão tua, mas que, tu, saberás que, na verdade, não é tua. E pouco mais te posso dizer porque, por um lado, a minha experiência nesta área apenas tem alguns anos e porque, por outro, a minha situação como fundador é diferente, para melhor e para pior, do que será a tua.

Ao teu pai coube o mais duro, que foi recuperar o Condado da Torre, a mim coube-me o mais aliciante, que foi criar a Fundação, a ti caber-te-á o mais difícil, que é saber conservar tudo isso.

Antônio, sé digno da Fundação e faz com que a Fundação seja digna de ti. Aprende a ajustar-te à sua realidade, procura conservar os equilíbrios já conseguidos e luta por aprofundá-los. Mas, acima de tudo, sé tu mesmo.»

(Fonte : “A Nobreza Portuguesa, Teresa Castro d’Aire” 1996)