Faz 149
anos que nasceu uma das figuras maiores da nossa História
Contemporânea, o comandante Paiva Couceiro, que entregou a alma ao
criador a 11 de Fevereiro de 1944.
Resumir a vida deste militar e
governador ultramarino é quase impossível, dada a dimensão da sua vida e
o brilho e luminosidade da sua obra modelar. Um exemplo de heroísmo,
tenacidade e virtudes cívicas.
Henrique Mitchell de Paiva Cabral
Couceiro nasceu em S. Mamede, freguesia da cidade de Lisboa, a 30 de
Dezembro de 1861, filho do general José Joaquim de Paiva Cabral Couceiro
e de D. Helena Isabel Teresa Armstrong Mitchell.
Casou a 21 de Novembro de 1896, em
Lisboa, com D. Júlia Maria do Carmo de Noronha (1873+1941), filha
primogénita e herdeira do dr. D. Miguel Aleixo António do Carmo de
Noronha (1850+1932), 3.º Conde de Paraty, e de sua mulher D. Isabel de
Sousa Mourão e Vasconcelos (1849+1936).
Como militar assentou praça no
Regimento de Cavalaria Lanceiros d’El-Rei (1879) e cobriu-se de glória,
pela acção notável em Humpata, Angola (1889), na campanha militar de
Angola (1889-1891), na campanha de Melilla, no Marrocos espanhol (1893) e
nos combates de Marracuene e Magul, Moçambique (1895), em coragem
enaltecida.
Foi formado com o Curso de Artilharia
da Escola do Exército (1881-1884); alferes (1881); segundo-tenente de
Artilharia (1884); primeiro-tenente (1889); comandante de Cavalaria da
Humpata, Angola (1889-1891); cavaleiro da Ordem de Torre e Espada
(1890); oficial da Ordem de Torre e Espada (1891); Medalha de Prata para
distinção ao mérito, filantropia e generosidade (1892); condecorado com
a Cruz de 1.ª Classe do Mérito Militar de Espanha (1893); ajudante do
comando do Grupo de Baterias de Artilharia a Cavalo (1894);
ajudante-de-campo do Comissário Régio de Moçambique (1894-1895);
cavaleiro da Real Ordem Militar de S. Bento de Avis (1895); capitão de
Artilharia (1895); ajudante-de-campo honorário do Rei Dom Carlos (1895);
proclamado «benemérito da Pátria» (1896); comendador da Ordem de Torre e
Espada (1896); conselheiro do Conselho de Sua Majestade; condecorado
com a Medalha Militar de Ouro do Valor Militar (1896); condecorado com a
Medalha Militar de Prata de Comportamento Exemplar; condecorado com a
Medalha de Prata da Rainha D. Amélia (1896); deputado da Nação
(1906-1907); vogal da Comissão Parlamentar do Ultramar (1906); vogal da
Comissão Parlamentar de Administração Pública (1906-1907); vogal da
Comissão Parlamentar da Guerra (1906-1907); Governador-Geral de Angola
(1907-1909); demitido do Exército (1911); comandante das Incursões
Monárquicas de 1911 e 1912; Presidente da Junta Governativa do Reino, na
Monarquia do Norte (1919); escritor.
Monárquico convicto, foi
anti-republicano de gema e anti-salazarista, sendo perseguido pelo
Estado Novo, em atropelo das garantias das liberdades cívicas, tratado
como um reles vigarista, esquecida a sua imensa folha de serviços
prestados à Pátria.
Ousou afrontar o tirânico Salazar,
que, de forma iníqua e arbitrária, o mandou expulsar do País em 1935 e
prendê-lo e deportá-lo novamente em 1937, por discordar da política
ultramarina do Presidente do Conselho e do Estado Novo.
Numa altura em que Paiva Couceiro
tinha já 76 anos de idade foi posto na fronteira sem quaisquer
documentos, a sofrer as agruras do exílio! Incomodava sempre porque era
um homem de brio, dignidade, de raro carácter, um idealista romântico,
audaz e tenaz, em cujas veias latejava um elevado conceito de Honra.
Um homem sincero e
notável, acima de tudo um Homem de acção e um Homem da Nação. Não
curvava a cabeça alva e digna perante o tirano “Botas”, como paladino da
Pátria, eivado de predicados indispensáveis.
Deixou uma impressão indelével nas páginas da nossa História, uma luz que cintilava uma coragem sublimada.
(fonte: Blogue Escavar em ruínas - http://escavar-em-ruinas.blogs.sapo.pt/)
PAIVA COUCEIRO E A CONTRA-REVOLUÇÃO MONÁRQUICA (1910-1919)
A
contra-revolução monárquica sucedeu quase de imediato à proclamação da
República, em 5 de Outubro de 1910 e teve como objectivo primordial
organizar um movimento politico-militar capaz de derrubar as
instituições do novo regime e restaurar a situação vigente até àquela
data. A história da I República é pontuada, desde os seus alvores, por
um esforço contra-revolucionário levado a cabo por sectores descontentes
com as medidas decretadas pelos governos republicanos e que, incluindo o
clero e forças politicas conservadoras e radicais, tinham nos
monárquicos de diversas tendências (dos integralistas aos
monárquico-constitucionais...) os seus mentores mais salientes e
inconformados. O chefe carismático da contra-revolução monárquica foi
sem dúvida Henrique de Paiva Couceiro, um dos poucos realistas que
resistiu em armas à revolução republicana e que, refugiado político na
Galiza, comandou duas frustradas incursões no norte do País, em 1911 e
1912. No início de 1919, conseguiu subverter as instituições da parte do
território continental que ia do Minho à linha do Vouga, restaurando a
monarquia durante 25 dias. Em nome do Rei e estrategicamente, restaurou a
Carta Constitucional de 1826. Contudo, o seu objectivo maior era o
regresso à Monarquia Integral, medieval, católica e corporativa. Foi
fugaz a experiência da Monarquia do Norte, durante a qual uma Junta
Governativa presidida por Couceiro revogou toda a legislação republicana
promulgada desde 5 de Outubro de 1910, restaurou a bandeira e o hino
monárquicos e legislou intensa e infrutiferamente. A sublevação
monárquica de 1919 haveria de abortar, ao não lograr obter apoios
fundamentais que poderiam garantir a sua sobrevivência. O malogro da
breve experiência monárquica era inevitável. Porém a ideia e a
expectativa da restauração realista mantiveram-se até à emergência do
Estado Novo, acabando o “monárquico de coração”, Oliveira Salazar, por
ser o carrasco de quantos ainda sonhavam no regresso ao 4 de Outubro de
1910...
ARTUR FERREIRA COIMBRA
BRAGA, 2000
(fonte: Blogue A Monarquia do Norte)
SUGESTÃO DE LEITURA
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