No excelente blog que é o Bic Laranja,
corre uma enorme polémica acerca do pedido da nacionalidade timorense,
atempadamente enviado pelo Senhor D. Duarte às autoridades de Dili.
Passando sobre umas tantas habituais e inócuas grosserias, a maioria dos
comentadores – mais de 80! -, manifesta uma certa estupefacção pelo
pedido real, dada a total incompreensão daquilo que é o direito
sucessório à Coroa e a manifestação de um visionário projecto de uma
portugalidade renovada.
Jamais qualquer londrino ou edimburguês
questionou o facto de Isabel II ter a nacionalidade britânica e
simultaneamente, ser canadiana, australiana, jamaicana, ou
neo-zelandesa. O conceito da Commonwealth que tão bem tem
servido uma imensa comunidade de povos e de interesses, normalizou este
aspecto marginal da “nacionalidade”. Antes de tudo, Isabel II é a
soberana em título, como tal reconhecida representante da dita
comunidade de valores e dos interesses que até hoje ditam a ainda forte
presença britânica no mundo. Mais, Isabel II é o chefe da Commonwealth,
onde pacificamente coexistem monarquias – entre as quais as acima
citadas e outras que como Tonga, o Lesoto e a Suazilândia, têm soberanos
próprios – e repúblicas como a África do Sul, a Índia, o Ceilão ou a
Tanzânia.
Arrepelam-se os cabelos, atira-se cinza
do tabaco para a chávena de café e roem-se unhas em estupor pela “perda
do Rei”. Mas que perda? Onde está ela, que ninguém no seu perfeito juízo
a vislumbra?
D. Duarte vê um Portugal maior e mais
extenso que jamais, composto por uma miríade de povos livres e
soberanos, mas voluntariamente unidos num interesse comum ditado não
apenas pelo passado, mas pela necessidade do gizar de um futuro que
hoje, nesta fase de acelerado desaparecimento de um mundo que durante
tanto tempo conhecemos, urge erguer e garantir. O espaço atlântico,
alargado ao Índico e às longínquas paragens do Pacífico ocidental, são a
meta tentadora que é imperioso atingir. Incluir na CPLP a Guiné
Equatorial, o Senegal, a Indonésia e quem pretenda revigorar ancestrais
laços com a velha e quase desaparecida potência do alvorecer da
globalização, consiste em primeiro lugar, numa enorme honra e distinção
para os portugueses. Torna-se ainda mais importante, por dar total
consistência ao nosso secular projecto nacional, por si só capaz de
atrair a simpatia e o sentido de pertença de gentes de características
tão díspares e separadas por oceanos e continentes.
Existe um discreto sentimento de temor
pela incerteza destes dias e a procura da segurança, induz à acção.
Estando Portugal incluído em alianças colectivas de inegável poder no
mundo, tal servirá para a aproximação de muitos países com difíceis
problemas de afirmação e de progresso. Foi isso que o Duque de Bragança
entendeu, ao viajar ininterruptamente por paragens onde Portugal deixou
marca indelével. Preocupada com a sua irreversível decadência
que ameaça a própria existência do Estado, a república deveria
estar-lhe sumamente agradecida e entusiasticamente aderir ao projecto.
Melhor contributo, não seria possível
deixar à posteridade. Estamos possivelmente no começo de um novo tempo e
o caminho parece tão evidente quão infalível.
* Há precisamente 35 anos e aproveitando a loucura que grassava em Lisboa, o regime de Suharto invadiu Timor-Leste. Quem não se recordará daquilo que D. Duarte representou para a Libertação daquele povo, hoje dono do seu território?
Fonte: Nuno Castelo Branco, Blogue Estado Sentido
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