Drº
Fernando de Sá Monteiro, antigo presidente do PPM e convidado de honra no
"Jantar de Reis" em Braga
MEDITAÇÃO
DE UM MONÁRQUICO ASSUMIDO
Caro Manuel
Beninger,
Caros
Companheiros:
Até há
poucos dias, estava convicto de que iria poder estar presente neste Jantar de
Reis, maxime pelo simpático e inesperado convite do nosso Companheiro Manuel
Beninger. Uma gripe ia deitando por terra a imensa vontade de estar aqui
convosco. E foi a insistência do Amigo e o enorme desejo do reencontro que me
fez correr o risco, ainda que podendo transportar, sem o querer, o vírus que vos
poderá contagiar.
Mas,
afinal, habituados a lidar diariamente com vírus políticos bem mais mortais e
desastrosos, atrevo-me a pedir-vos a vossa compreensão.
Conforme há
dias desabafei ao Manuel Beninger, mentiria se não dissesse que tenho
atravessado um período de grande revolta, frustração e desânimo. É provavelmente
uma conjugação de sentimentos nos quais, por nossa fraqueza, sentimos que
estamos "velhos".
Por isso um
misto de Esperança e Emotividade atravessou o meu coração ao receber o convite.
Por isso não pude recusar e não irei furtar-me a ele; porque foi também um
desafio à minha força interior e à minha inquebrantável Fé na superioridade de
uma Monarquia em Portugal, hoje talvez mais do que nunca.
Confesso-vos,
caros Companheiros, que há vários anos que abandonei totalmente qualquer
actividade política, se bem que nunca tenha deixado de tecer os meus
comentários, as minhas azorragadas, os meus receios, as minhas convicções. Mas
meramente a título particular ou em artigos escritos, com uma "independência"
que sempre foi, provavelmente - para o bem e para o mal - uma das minhas
características.
É que, no
meu pensar, nem o Rei está acima de crítica. Apenas somos compelidos a tecer
essas mesmas críticas em local próprio e sem tentar com isso incendiar ou
desunir.
Tudo isto,
meus Amigos, para vos endereçar igualmente um desafio. Sempre recusei uma
posição de “mero observador”. Quando entro ou aceito qualquer desafio, faço-o de
corpo inteiro. Por isso nunca consigo manter-me calado. Igualmente porque o
desafio me provoca para dar mais de mim, rebuscar toda a força que ainda se
mantém viva no meu ideário monárquico.
E
diariamente sou provocado, podendo mesmo dizer que, em qualquer local, em
qualquer situação, com qualquer individualidade, não consigo esconder o que
sempre fui e serei: monárquico!
Também por
esse motivo eu aceitei o convite com imenso gosto. Porque ele surgiu quando não
o esperava, porque me sensibilizou e me obrigou a sair desta apatia que me vem
consumindo o espírito, porque me provoca a “colaborar”.
Neste
sentido, queria que aceitassem que neste Jantar de Reis me fosse permitido
partilhar a minha voz e sentimentos com todos os companheiros que estão
presentes, sejam eles antigos e saudosos companheiros do “meu” PPM, sejam de
quaisquer outras organizações monárquicas e, até, independentes.
Só assim
sei estar na Política: FALANDO, ESCREVENDO, LUTANDO POR
IDEAIS.
Aceitem,
Amigos e Companheiros, o meu abraço sentido e solidário, neste dia que tanta
Esperança nos deve manter. É que, também na vida, certas datas podem ser o mote
para um DESTINO!
É esse
DESTINO que nós buscamos. Um DESTINO que não sendo saudosista é antes o
reencontro com um passado que fez de Portugal uma Nação
respeitada.
Somos
monárquicos porque acreditamos que através da Monarquia seremos mais conscientes
de quem somos e do nosso lugar na História. Somos monárquicos porque temos a
consciência que só com a Instituição Real o nosso país sairá desta situação de
miserabilismo e descrença no futuro.
Ninguém
terá dúvidas acerca do que nos legou a República. Se ela começou com um
assassinato traiçoeiro, continuou com os desmandos e a destruição dos valores
mais nobres e honrosos que a Monarquia mantinha, mesmo nos erros praticados.
Porque
sermos monárquicos não impede – ao contrário da maioria dos defensores da
República de 1910 – de termos consciência de que muitas práticas políticas
durante a Monarquia foram erradas e de consequências
nefastas.
Mas,
pergunto: afinal haveria porventura menos liberdade e democracia durante a
Monarquia Constitucional? Não foi através dessa liberdade que os republicanos
puderam erguer a sua voz, inclusive no Parlamento, até afrontando - em termos
muitas vezes insultuosos - a Família Real?
Associar a
Democracia ao regime republicano é uma mentira e uma falta de pudor. De resto,
recordemos que após 1910 e até ao 25 de Abril, pelo menos três ditaduras
marcaram o seu percurso sinuoso e destruidor: com Pimenta de Castro, com Sidónio
Pais e finalmente com o Prof. Oliveira Salazar.
É, pois,
curioso e desconcertante, verificar como se comportam os republicanos ao
celebrarem, com pompa e circunstância, à custa do erário público e numa altura
de crise profunda, social, política e económica, um Centenário da
República.
Afinal, a
República é compatível com as ditaduras, pois de que outra forma se poderão
comemorar 100 anos de República senão adicionando-lhe cerca de 50 de
ditaduras?
Depois,
falar-se de ética republicana é algo que me deixa particularmente agastado. A
Ética, meus Amigos, existe ou não independentemente dos regimes políticos. A
Ética é algo que somente o Ser Humano poderá construir.
Eugénio Bucci, no seu livro Sobre
Ética e Imprensa, descreve a ética como um saber escolher entre "o bem" e "o
bem" (ou entre "o mal" e o mal"), levando em conta o interesse da maioria da
sociedade. Ao contrário da moral, que delimita o que é bom e o que é mau no
comportamento dos indivíduos para uma convivência civilizada, a ética é o
indicativo do que é mais justo ou menos injusto diante de possíveis escolhas que
afectam terceiros.
Ninguém
retém a Verdade absoluta. E ser capaz de reter a Verdade que se contem na
opinião de outros faz de nós cidadãos mais conscientes.
Deus me
conserve a capacidade para, a todo o momento, ser capaz de admitir os meus erros
de julgamento. E me permita ter a abertura de espírito necessária para
"assimilar" que nada está "a priori" e "em definitivo" assente em Verdades
insofismáveis e imutáveis.
Assim, o
meu contributo terá sido maior ou menor, consoante o que dele possa ter sido
aproveitado, ou venha a ser, numa "luta" por
"ideais".
É
intencionalmente que uso o plural, pois que, na minha percepção do mundo e da
sociedade que desejo, absorvo uma sensibilidade que vai muito além de uma
simples mudança de "regime".
Há que
construir - temos que construir - todos nós, sem excepção, uma sociedade onde a
componente humanista abra caminhos de esperança a tantos que nos
"gritam", diariamente, por justiça social, por valores intemporais que
parecem adormecidos, quando não mesmo destruídos...
Todos nós
somos chamados a essa “mudança”, independentemente das nossas opções
políticas e “partidárias”.
A
consciência que tenho do que dei é a de que foi muito pouco. A consciência do
que desejaria dar, é que me “desgasta” o espírito, sentindo-me muito
“insignificante”, nesta “globalização” tão propagandeada, tão defendida até, que
tantas preocupações de vária índole me acodem ao espírito.
Gostaria de
ver mais, muito mais. Tenho sede de uma fraternidade efectiva entre os seres
humanos, sentindo uma enorme impotência perante um Mundo onde a miséria humana e
social são a vergonha de todos nós.
Entender
tudo isto como a incapacidade total para construir algo de mais “colorido” e
“musical”, onde nos possamos rever como cidadãos mais livres e felizes, é
certamente um pessimismo indesejável.
A sociedade
tem dado passos importantes, há que reconhecer. Mas ficarmos sensibilizados para
essa consciência, não nos deve inibir de querer mais, muito
mais.
O caminhar
do Homem deve ser, tem de ser, constantemente acompanhado de novas aspirações
sociais, reconstruindo diariamente essa divina capacidade que nos foi dada para
uma visão de um Infinito para o qual caminhamos, ao qual aspiramos, sem contudo
sabermos, perfeitamente, em que moldes.
Resumiria
toda esta longa meditação, com uma modesta (mas sentida) expressão de cidadão:
dei tão pouco ao mundo e aos homens que admitir o contrário seria ridículo e
inconsciente da minha parte.
Uma pequena
gota, uma brisa que de algum modo possa ter sido “sentida” e “absorvida” por
outros será certamente o bastante para me sentir recompensado no esforço que
dei.
Essa
magnífica qualidade que acompanha intrinsecamente o espírito dos mais jovens,
sempre insaciáveis na busca duma “perfeição”, secularmente acompanhada da
aguerrida capacidade para o inconformismo e para uma “rebeldia” tão necessária a
um Mundo em constante sobressalto, dá-me força, esperança, desejo de lutar,
“fome” de construir mais e melhor, razão para viver.
Aqui estou
e estarei, dando pouco porque pouco valho, mas intransigentemente insatisfeito e
solidário com essa vontade de construir mais e melhor.
Aceitem o
abraço do Vosso Companheiro
Fernando de
Sá Monteiro
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