D. José
Maria de Almeida Correia de Sá Portugal, 6º marquês de Lavradio e Secretário
Particular de S.M. o Rei D.Manuel II . O livro " Memórias do Sexto Marquês do
Lavradio", retrata alguns episódios familiares, revela-se principalmente na sua
vida ao serviço de S. M. o Rei D. Carlos, no enorme respeito pela Rainha D.
Amélia e a grande simpatia pelos Príncipes.
Recorrendo de algum modo
ao prefácio de seu filho José Luís (7º marquês), diria que a figura do 6º
Marquês de Lavradio era por demais forte e inconfundível para que o túmulo a
pudesse apagar da mente e do coração de quem o conheceu. Espírito de rara
cultura e de finíssima sensibilidade, coração generoso e ardente, cristão
sincero, monárquico convicto, lealíssimo servidor dos seus Reis, homem de um só
rosto e de um só parecer, o Marquês de Lavradio foi, sem dúvida, um grande
senhor, em quem à nobreza do sangue se juntaram a de alma e a de carácter,
tríade indispensável e única para produzir um Fidalgo de Raça, daquela Raça que
escreveu as mais belas páginas da nossa História, que infelizmente vai rareando
e de que o Marquês de Lavradio foi um dos últimos e mais brilhantes
representantes.
Os que o conheceram reconheciam-lhe a fineza do seu
trato, a delicadeza das suas maneiras, o encanto da sua conversa, aquela
irradiante e irresistível simpatia que a si atraía imediatamente quem dele se
abeirasse. Esses não poderão ler sem saudades estas Memórias, em que a cada
passo se sente viver e palpitar o coração do seu autor.
Não pretendeu este
fazer literatura, mas apenas contar, no seu estilo simples que, porém, não
exclui a riqueza e a precisão dos termos, as recordações da sua vida.
E como esta esteve ligada a factos da nossa História contemporânea,
sobre os quais não foi ainda feita inteiramente luz, é inegável o interesse da
obra.
A vida íntima da última Corte, a viagem do Príncipe Real a África, os
acontecimentos que, no Paço, precederam e acompanharam a revolução de 5 de
Outubro, tudo quanto respeita às incursões, à acção de S. M. El-Rei D. Manuel no
exílio, constitui documentação inédita de incontestável valor e interesse e sem
o estudo da qual, de futuro, se não poderá escrever sobre aquela época.
Mas,
no entanto, não foi essa a preocupação do marquês de Lavradio ao deixar-nos
estas Memórias. O que ele quis foi que consigo não morressem as recordações e as
saudades que tinha dos Príncipes que tão dedicadamente serviu, a quem consagrou
a sua vida, por quem tudo sacrificou. É comovedora a ternura com que ele se
refere a El-Rei D. Carlos, ao Príncipe, a El-Rei D. Manuel, e as mais belas
páginas da obra são sem duvida as que dedicou a S. M. a Rainha
D.Amélia.
É que, na verdade o centro da sua vida foi sempre o seu Rei.
Por ele largou a sua farda de marinheiro - o maior sacrifício que podia fazer -
; para O não abandonar, em 5 de Outubro, não hesitou em separar-se da sua
própria família, numa hora em que se não sabia o que seria, em Portugal, o dia
seguinte; por Ele sofreu e fez sofrer aos seus as amarguras de um duro exílio,
que o levou à ruína; e na véspera de El Rei morrer, estava disposto a tudo
abandonar para de novo voltar para esse exílio, para junto de seu Rei que uma
vez mais o chamava. Por isso, não admira que ao perder o seu Príncipe,
considerasse que a sua própria vida acabara.
Foi então que, talvez para ter a
ilusão de que tudo não morrera, ele escreveu estas Memórias a cuja publicação já
não pode infelizmente assistir, recomendando a seu filho, insistentemente, à
hora da sua morte que a ela procedesse.
Pode bem dizer-se que o seu coração
palpitou até ao último momento, pelos Príncipes que tão lealmente servira.
Na véspera de morrer, S.M. a Rainha D. Amélia quis visitá-lo. O que foi
esse encontro de S. M. com o seu velho e leal servidor, companheiro e amigo dos
Seus filhos tão tragicamente desaparecidos, num ambiente em que tudo –
fotografias, bibelots, móveis – Os recordava e ao tempo de Sua realeza, não pode
descrever-se, nem quem a ele assistiu o poderá esquecer. Ao despedir-se porém,
já em estado de enorme fraqueza, apenas e com dificuldade articulava alguns
monossílabos, tendo de exprimir-se quase sempre por sinais conseguiu reafirmar a
sua fidelidade à Rainha que com aquele seu sempre tão doce sorriso,
confirmava.
Nas páginas deste livro, o que se lê do princípio ao fim
é uma homenagem a essa permanente Fidelidade.
FONTES: Blog
Ex-Libris.
Sem comentários:
Enviar um comentário