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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

PARA QUEM AINDA NÃO VIU, A NÃO PERDER!

UM PEQUENO ALMOÇO DE PRIMOS NA YORK HOUSE, EM LISBOA

 
Encontra-se de passagem por Lisboa, S.A.I.R., Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil. É o terceiro dos doze filhos do Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança.
 
A Família Imperial do Brasil descende da filha mais velha do último Imperador do Brasil, Dom Pedro II (filho de Dom Pedro IV de Portugal e I do Brasil. Foi casada com Dom Gastão d'Orleans, neto de Luís Filipe, Rei dos franceses. Era avó de S.A.R., Dona Maria Francisca, mãe de S.A.R., Dom Duarte Pio de Bragança.
 
Facebook - 27-02-2012

ANTÓNIO BARRETO, O CONVERTIDO

Fonte: Jornal "O Diabo"

SONHOS E REALIDADES NA REVOLTA ÁRABE

A situação política nos países árabes da margem sul do mediterrâneo é explosiva: para os seus governos, quase todos ditaduras, para os seus povos, que sofrem uma nova onda de violência da repressão, para o equilíbrio geo-estratégico da região, já anteriormente periclitante, para Israel que se vê cada vez mais isolado e ameaçado, para a Europa e os EUA, uns vizinhos, outros aliados de regimes que agora se desmoronam como baralho de cartas, desde sempre viciadas.
Na Europa, e também nisso somos muito europeus, alguns políticos e a comunicação social praticamente toda, embandeiraram em arco com a revolta dos povos contra os seus governos, dizendo que clamam pela democracia e pela liberdade e que se revêem no modelo ocidental, que lhes vai chegando pela internet, pelas redes sociais e pelos mais modernos meios de comunicação, como os telefones portáteis, que usaram para convocar as manifestações pacíficas que, depois, degeneraram em violentas, depois da violência dos poderes ameaçados no seu combate. Apressada asserção, julgo eu. Esquecem-se ou ignoram ou querem fazer valer os seus ideais e valores sobre a realidade, que o fundamentalismo islâmico está em muitos casos visível por detrás da justa revolta dos povos oprimidos e que sem essa opressão – quer seja de chiitas sobre sunitas, quer seja laica - têm o campo aberto para impor regimes teocráticos. Não aprenderam nada com o derrube da monarquia persa, que não sendo um regime democrático de modelo ocidental era bem mais democrático e ocidental do que o dos ayatollhas que se lhe seguiu, com o aplauso geral e o apoio, mais ou menos disfarçado, de França e EUA.
É evidente que as ditaduras nesses países é, aos meus olhos de democrata ocidental, intolerável. É evidente, também, que o apoio dos países europeus e dos EUA a esses regimes por razões estratégicas e a sua condenação, agora, pelas mesmíssimas razões e na esperança de que o que se lhe seguir não se volte contra eles, é igualmente intolerável. Como também é intolerável que se não procure ver e compreender que, neste caso concreto, como noutros de outras latitudes, o modelo de democracia ocidental não é exportável para aplicação imediata, que há que contar com a cultura dos seus povos, com o percurso histórico que, devido a vários factores, entre os quais os religiosos, têm vindo a percorrer e que querer impor um modelo político – por mais desejável que aos nossos olhos seja – é um erro crasso que custará ao Ocidente mais do que muitos, porque irrealistas, poderão supor.
É curioso, nesta revolta que grassa nos países árabes, constatar que todas essas abomináveis ditaduras substituíram monarquias com o beneplácito ocidental, em nome da liberdade que nunca veio a existir depois e que, nas monarquias árabes, com excepção do Barhein e da Arábia Saudita (onde ainda não se registaram movimentos de revolta) e que são monarquias absolutas, as reivindicações não tiveram como objecto os regimes, mas os governos e as suas políticas, salvaguardando a figura dos seus reis. Se o Ocidente não quiser meter a cabeça na areia, especialmente os EUA que sempre apoiaram o derrube das monarquias com a única excepção do Japão e que é na Ásia a única democracia moderna, e não conseguir perceber o seu significado, esperemos que em nome da utopia não assistamos ao fim das monarquias jordana e marroquina e ao início de regimes teocráticos islâmicos, sem liberdade e uma terrível ameaça para o Ocidente e sobretudo para a Europa aqui tão perto.
Confundir os desejos e as ideologias – por mais belos e justos que possam parecer – com as realidades, é um erro que se paga caro.

João Mattos e Silva in Diário Digital (23-Fev-2011)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A REPÚBLICA EXPLICADA ÀS CRIANÇAS

A monarquia é uma forma de regime em que o chefe de Estado é um rei ou uma rainha. Ao contrário do regime republicano, o rei não é eleito, e a representação do país está numa pessoa cujos antepassados participaram na construção e na História do país. Por isso não são estranhos ao povo e como os príncipes criados para reinar não precisam de ter uma carreira política, conhecemo-los desde a infância, até à idade adulta, quando assumem o cargo de Chefe de Estado.

Já viste o que seria se tivesses de escolher os teus pais, ou os teus pais dissessem: eu tenho o direito a escolher o filho que quero? Passa-se o mesmo em República. O nosso Chefe de Estado, em vez de ser alguém que conhecemos e gostamos desde pequenino, é apenas um político que quer um emprego. Representa o país durante 5 ou 10 anos e depois vai-se embora...

A nossa monarquia durou 771 anos como sabes, pois em 1910 um golpe de estado expulsou o rei D. Manuel II, a sua mãe e a sua avó para fora do país. Isso foi bom ou foi mau? Deve caber a ti estudares para compreenderes as alterações dessa época, mas gostava de te explicar que a República instaurada em 5 de Outubro de 1910 não veio trazer a democracia a Portugal. Nessa altura o nosso país já tinha liberdade. As pessoas podiam votar e a Imprensa publicava todas as críticas que queria.

Ao contrário do que a propaganda republicana tem dito, a democracia foi introduzida em Portugal em 1834, suspensa algumas vezes até 1926  e neste ano definitivamente implantada o que deu origem a uma das mais longas ditaduras de sempre, em todo o mundo! Foi o Estado Novo ou Segunda República, que durou de 1933 até 1974! Neste ano a Democracia voltou a Portugal, pela Revolução de 25 de Abril, como decerto já ouviste falar.

Em 771 anos tivemos 33 monarcas, o que perfaz uma média de cerca de 22 anos por reinado. Compreendes a importância desta estabilidade? Em 100 anos de República, de 1910 a 2010 tivemos 19 presidentes, o que se traduz numa média de 5 anos por mandato...  alguns deles conflituosos, pois o presidente procura fazer os possíveis para agradar aos eleitores e ao partido ou partidos que o apoiam. Não está ali simplesmente para representar o país, mas para se representar a si mesmo e a quem vota nele...

Também tivemos algumas rainhas e regentes, mais ainda não tivemos nenhuma mulher presidente da República!

Mas, então, perguntarás, se a monarquia tinha vantagens, porque terminou? Bem, como tens visto na televisão, em relação às revoluções no estrangeiro, nem sempre estas revoluções são populares. Muitas vezes, um grupo pequeno, bem relacionado e que recorra à violência pode derrubar regimes. Foi o que aconteceu em Portugal. Os republicanos estavam em menor número, mas:

- aproveitaram-se do desgaste partidário, ocasionado pela alternância constante entre 2 partidos no poder;

- aproveitaram-se das ideias nacionalistas de pátria e de herói para fazer passar a sua mensagem;

- fizeram ataques ferozes ao Rei D. Carlos e à sua família, espalhando boatos e criando uma imagem negativa da monarquia que diziam despesista e ostensiva;

- recorreram à violência através de uma organização terrorista e chamada Carbonária que assassinou o Rei e o seu filho, de 21 anos, D. Luís Filipe, em 1908 (foi o Regicídio) e através de uma organização secreta que ainda hoje existe, a Maçonaria, conseguiram controlar o exército e alguns políticos;

-e, finalmente, como o país, infelizmente, ainda era constituído essencialmente por pessoas iletradas, culturalmente pouco informadas, facilmente o Partido Republicano pode controlar os cidadãos, com mensagens demagógicas e inflamadas. (É por isso que deves estudar e questionar tudo para seres um adulto com consciência cívica!)

Depois de instaurada a República, sucederam-se imensos atropelos à liberdade que o novo regime tinha prometido. Pessoas foram perseguidas por serem católicas, monárquicas ou simplesmente por não colaborarem com o novo regime. E os próprios republicanos lutaram entre si para conquistar e aguentar o poder. Em 1914 a república levou milhares de jovens a entrar na I Grande Guerra. Muitos morreram e o país desmoralizava perante uma crise económica, social e política. Todos os dias havia atentados em Lisboa, o governo caía, os presidentes demitiam-se ou eram demitidos por golpes de estado. Entre 1911 e 1926 houve quase 50 governos!

Porém, a monarquia sempre foi uma alternativa democrática em Portugal, tanto durante a Primeira República, como durante o Estado Novo e mesmo hoje.

A Europa, como deves saber é praticamente constituída por Monarquias Constitucionais, como Portugal o era antes de 1910. Monarquias Constitucionais e (ou) Parlamentares são aquelas em que o rei não governa (para isso existe o Primeiro-Ministro e o seu Conselho de Ministros que nós elegemos), cabendo-lhe apenas a representação e a regulação das instituições do seu país. Por isso países desenvolvidos como a Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, e aqui ao lado Espanha são monarquias. E fora da Europa encontramos muitas mais: Japão, Marrocos, Jordânia, etc. o Reino Unido, por exemplo, e a Comonwealth que estende pelo Canadá e pela Austrália, entre outros países, cuja chefe de Estado é a rainha Isabel II.

Não há regimes perfeitos. Nem pessoas. Acima de tudo deves procurar saber o que melhor serve a tua nação e pensar por ti. Não grites Viva a República! sem perguntares a quem to manda fazer, se existe uma alternativa e se essa alternativa é melhor ou pior. Acima de tudo sê um cidadão informado pois só assim podes construir um país melhor e contribuir para um futuro mais sorridente a quem viver em Portugal nos próximos anos. E que estes anos sejam mais pacíficos e prósperos do que foram os últimos 100. 

Nuno Resende
Fonte: Obliviário

DOM DUARTE PIO, DUKE OF BRAGANZA, SPONSORS FUNDRAISING TO SUPPORT FLOOD VICTIMS IN BRAZIL


DOM DUARTE PIO, DUKE OF BRAGANZA,
SPONSORS FUNDRAISING TO SUPPORT
FLOOD VICTIMS IN BRAZIL

February 16, 2011  

HRH Dom Duarte Pio II, Duke of Braganza, as President of the King Manuel II Foundation, is sponsoring a fundraising campaign to support the flood victims in Brazil. The purpose is to show the solidarity of the Portuguese people with the flood victims in the State of Rio de Janeiro.

Approximately a month ago, torrents of mud and water set off by heavy rains left a trail of destruction through the mountainous Serrana region near the city of Rio de Janeiro, toppling houses, buckling roads and burying entire families as they slept. The mudslides swept away the homes of rich and poor alike in and around Teresopolis and other towns, likely causing billions of dollars in damage. But the brunt of the disaster was borne by poorer rural residents in houses built in risky areas without formal planning permission. The death toll from Brazil's devastating flooding has topped 800, with hundreds more missing, in the country's deadliest natural disaster on record.  

The King Manuel II Foundation has opened an account (via Caritas Brazil) in order to transfer funds directly to the people in the affected areas in Brazil.

HRH Dom Duarte Pio has in fact stated that "500 years of friendship between Portugal and Brazil cannot leave us indifferent to this tragedy that has stricken our Brazilian brothers and sisters."

DONATION INFORMATION  

Account Information:

Crédito Agrícola - Terras de Viriato
Swift Number: 0045 3080 40241550962 70
Account Number: 40 241550962
Name of account: Apoio às vítimas inundações do Brasil

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"UMA QUESTÃO FALSEADA" POR MÁRIO SARAIVA (*)


A temática política do século XIX, muito nefasta em vários aspectos, inventou o antagonismo, Monarquia-República, tão infundamentado como pernicioso, e que a incompreensão contemporânea ainda vem a sustentar. Ilusório antagonismo que talvez só por si tenha sido o causador de dramáticos acontecimentos na vida nacional.
Em rigor, Monarquia e República não têm significados opostos e nem sequer são inconciliáveis. De acordo com os conceitos tradicionais, precisamente a República existia dentro da Monarquia; fazia parte dela.
República (Res publica - a Coisa pública - a Coisa do Povo) tem um sentido definido que a etimologia própria e o seu uso histórico não permitem confundir. Apenas que a República tinha então por regedor e defensor um Monarca. Lembremo-lo no caso de algumas demonstrativas citações.
Na Crónica del-Rei D. Fernando diz Duarte Nunes de Leão: «... em cortes q para isso ajuntou fez algüas leis mui utiles aa republica, & naquelles tempos mui necessárias.»
Damião de Góis põe na voz de D. Afonso V, ao armar cavaleiro seu filho D. João após a conquista de Arzila, as seguintes palavras: «... he bem q saibais q cavallaria há virtude misturada cõ poder hõrroso, segundo natureza mui necessário pera cõ elle poer paz na terra, quãdo cobiça ou tyrania, com desejo de regnar, inquietã hos Regnos, respublicas & pessoas particulares.»
O próprio D. João II, numa notável carta ao rei de França, abria-a com estas judiciosas considerações: «obrigação é do bom Príncipe e prudente, não somente galardoar seus vassalos com honras, cargos e dignidades merecidas, mas castigar com rigor, severidade e justiça aos que são prejudiciais em sua república, para que os bons com o exemplo do prémio sejam melhores e os maus ou com castigo se emendem, ou com as maldades pereçam.»
Nos Apontamentos dos Prelados tomados um ano depois das Cortes de 1582, expunha-se: «Porque he em tão grande damno deste Reyno, e prejuizo da Republica fazerem-se tantas uniões, annexações, desmembrações perpetuas como se fazem,. ..»
D. Sebastião escreveu numa das Máximas que traçou para orientação do seu reinado: «Gavar os homens, e cavalleiros que tiveram bons procedimentos, diante de gente, e os que tiverem préstimo para a República e mostrar aborrecimento às cousas a ella prejudicaes.»
Em Junho de 1580 a Faculdade de Teologia de Alcalá, consultada por Filipe II sobre a sucessão ao trono de Portugal, pronunciava-se nos seguintes termos: «si alguno opusiesse que la republica de Portugal és perfecta. ..»
Na Justa Aclamação exarou o Doutor Vaz de Gouveia: «O poder dos reis está originariamente nos povos e nas repúblicas, que delas o recebem por forma imediata.»
Depois da Restauração é, por exemplo, D. Luísa de Gusmão, regente, a usar a costumada forma: «Hei por serviço ,de Deus e meu, e beneficio da Republica.»
Julgamos desnecessário alongar, através dos tempos, as citações comprovativas.
A quem tenha lido alguns textos da história a palavra República não choca os sentimentos realistas que possua, antes surpreende que esta se tenha arvorado em contraposição ao de Monarquia, e que não houvesse protesto contra tal equívoco antes de ele começar a fazer carreira.
Aí pelos anos vinte António Sardinha ainda achou oportunidade de afirmar: «o adjectivo republicano pode caber-nos, na verdade, desde que lhe precisemos o sentido.» Igual ,pensamento exprimira Maurras: «a palavra República tem um sentido razoável, mesmo depois do restabelecimento da Monarquia ela poderá continuar a usar-se na interpretação que indicava o âmbito dos negócios públicos.»
Mais nos nossos dias depõe o mestre integralista há pouco falecido - Pequito Rebello: «Chame a República o Rei e com isso não se suicide! Porque - e por Deus atentai que isto é uma verdade profunda - a Monarquia é também uma República. Quero eu dizer que na Monarquia, além do seu automatismo que naturalmente assegura o interesse nacional pelo órgão dinástico - e no que é propriamente Monarquia - pode nela também haver o livre esforço cívico de cada um dos portugueses para aperfeiçoar ao máximo a vida social no sentido do bem comum.»
Pequito Rebello termina assim o seu apelo: «Essa Monarquia nova seria o verdadeiro Portugal. E continuaria sempre a presidir-lhe o lema antigo: Glória de Deus! Serviço do Rei! Bem da República!»
Concluindo podemos assentar em que a diferença entre um soi-disant republicano e um de nós é fundamentalmente esta: ele quer para a República um Presidente periodicamente eleito; nós queremos que a República remate pela chefatura dinástica de um Rei.
Não cabem aqui os argumentos de uma e de outra opção, e talvez até sejam dispensáveis ante a desastrosa experiência de mais esta desordenada e conturbada República de Presidentes, que arruina o país, depois de ter desfeito a Nação.
Do Governo da República pelo Rei é o título feliz e sugestivo de um livro escrito em 1496, dedicado ao futuro D. Manuel I. Pensemos no que este título diz e fiquemos nisto: à República Portuguesa todos pertencemos hoje, como pertenceram os nossos antepassados no antigo reino de Portugal. Simplesmente uns são presidentistas, enquanto que nós outros somos realistas.
Mas precisemos um pouco as ideias.
Se o ofício real é, sobretudo, o de reger e coordenar a administração da República em vista ao bem comum em harmonia social, tal função pressupõe uma república ordenada e orientada nesse mesmo sentido do interesse da comunidade nacional. República não corresponde obrigatoriamente a democratismo.
É de excluir, portanto, a hipótese de um género de regime republicano desordenado, conflituoso e desastroso como o de 1910-26, ou como o actual, legítimo sucessor e cópia fiel daquele.
Tendo estas duas Repúblicas como fundamento o exclusivismo partidocrático originário de uma luta constante, inspirada pode dizer-se que apenas pela ambição do Poder, e resultante numa instabilidade governativa impeditiva de um bom governo, não se coadunariam com a função da Realeza.
Há-de ver-se também que o exercício da Realeza se não conforma com um regime autocrático como o foi o da 2ª República.
O Rei é por dever e por conveniência própria - isto é muito importante - o garante das liberdades do seu Povo. Daí que não possa tolerar autocracias sempre negadoras dessas liberdades populares. E dizemos liberdades populares, mas não arruaceiras, criminosas, ilegais. Mas sim liberdades do Povo organizado através das suas associações representativas, que são os organismos vitais da sociedade, isto é numa representação autêntica do país que trabalha, que pensa, que quer a tranquilidade justa e necessária ao progresso e ao bem-estar de todos. É aí que se encontra o lugar dos «Corpos Intermédios» que são o meio de defesa das pessoas perante os órgãos superiores do Estado.
Como a República, para merecer o adjectivo de nacional, não pode limitar-se a olhar só ao presente, mas tem de prover ao futuro, só pode encontrar no Rei dinástico, dada a vitaliciedade de funções e a sucessão hereditária, a chefatura coerente.
Diremos que para uma má República, qualquer Presidente de facção está conforme; que para uma boa República é o Rei o magistrado indicado, porque alia à chefia do Estado a representação da Nação na sucessão do tempo.
(In Mário Saraiva, Sob o Nevoeiro, Lisboa, 1987)

(*) Mário António Caldas de Mello Saraiva (Guimarães, 12.5.1910- Vilar, Cadaval, 28.5.1998) foi uma personalidade plurifacetada - médico, desportista (tiro), pintor, etc. - vindo a notabilizar-se através de estudos nos domínios sebástico e pessoano, e de uma obra política e doutrinária onde verdadeiramente se iniciou o Neo-Integralismo. 

Mário Saraiva - filho do Major José Augusto Saraiva, um dos oficiais do Exército compulsivamente afastado de serviço por ter proclamado a «Monarquia do Norte» (1919) - foi destacado membro da terceira geração do Integralismo Lusitano

Estudante em Coimbra, fundou o jornal académico Paracelso, filiando-se, em 1932, no Movimento Nacional-Sindicalista liderado pelos integralistas Alberto de Monsaraz e Francisco Rolão Preto. Depois daquele movimento ter sido infiltrado, desmantelado e, por fim, proibido por Salazar, Mário Saraiva continuou a sua intervenção pública nos inícios dos anos 40, ao lado de Mário Cardia que, no Jornal do Médico, fez, pela primeira vez em Portugal, a defesa de um Serviço Nacional de Saúde. 

A estreia de Mário Saraiva como doutrinador monárquico deu-se em 1944 ao publicar Claro Dilema – Monarquia ou República? . De pronto saudado pelos Mestres integralistas Hipólito Raposo e Alberto de Monsaraz, será no final da década de 50 que se revelará como um dos máximos expoentes entre as novas gerações daquela escola de pensamento, ao lado de, entre outros, Afonso Botelho, Rivera Martins de Carvalho, António Jacinto Ferreira, Henrique Barrilaro Ruas

Sem nunca deixar de exercer a profissão médica – pertenceu ao quadro de médicos civis da Força Aérea Portuguesa – Mário Saraiva participou activamente na campanha restauracionista de 1951, em torno do jornal O Debate (Lisboa, 1951-1974), vindo a ter destacado desempenho na defesa do ideário integralista lusitano em polémica com alguns monárquicos apoiantes do salazarismo (A Voz, 1954-55).

Foi no início dos anos 60 que Mário Saraiva começou a desbravar os caminhos do Neo-Integralismo. Retirando do mestrado integralista a lição de que a Monarquia da Carta fora deposta em 1910 porque se tinha transformado num corpo estranho à Nação, dominada pelos políticos das oligarquias partidárias, Mário Saraiva  pugnava por uma reinstauração do Trono a ser realizada no quadro de uma República restaurada, isto é, devolvida às matrizes municipalistas e orgânicas da tradição democrática portuguesa. Entendendo a República (Res publica) como vivência de direitos cívicos, de liberdade da Grei nos negócios da sua governação, de autonomia político-administrativa do País, Mário Saraiva considerou que para esta ter um carácter verdadeiramente nacional, se exige uma suprema magistratura também nacional - independente na origem, como requisito da imparcialidade e da justiça, e representativa da totalidade da Grei e da sua continuidade histórica. Apenas no Rei, personificação da Pátria, via Mário Saraiva o Chefe em condições de exercer com independência e isenção a Suprema Magistratura da República, nos domínios Judicial, Diplomático e Militar. Adversário de todas as formas cesaristas de poder, fossem presidencialistas, parlamentares, referendárias ou mistas, para Mário Saraiva a Restauração de Portugal ter-se-ia de fazer através de uma Nova Democracia.

A Comissão Doutrinária da Causa Monárquica acolheu as suas teses, em 1970, ao adoptar oficialmente a obra Razões Reais. Naquela época, Mário Saraiva ocupava já um lugar de destaque como organizador das actividades em que velhos e novos integralistas se achavam envolvidos. Fora um dos fundadores da Renovação Portuguesa, e um dos mais destacados impulsionadores da Convergência Monárquica, encontrando-se então na primeira linha da reactivação do movimento editorial monárquico integralista através da “Biblioteca do Pensamento Político”, onde Luís de Almeida Braga publicou aquela que ficaria como a sua última obra – Espada ao Sol (1969). 

Em 1978, recebeu de D. Duarte Pio João de Bragança a missão de constituir e secretariar o seu Conselho Privado, cargo que manteve até à sua morte.  

Nos seus últimos anos de intervenção pública, Mário Saraiva veio a revelar-se um prolixo escritor na defesa do ideário monárquico. Apresentando à consideração pública as vantagens da suprema magistratura régia, denunciou o actual preceito constitucional que impõe o modelo presidentista à Suprema Magistratura da República, e reivindicou o fim do monopólio da representação política por intermédio dos partidos político-ideológicos, tanto nos municípios, como na câmara legislativa. A par dos seus estudos histórico-literários, fosse nas páginas da Consciência Nacional (que dirigiu), ou em jornais como O Dia, Correio da Manhã, etc.,  ou ainda em livros, veio a produzir vasta bibliografia monárquica, parte dela traduzida em francês, espanhol e mesmo em cirílico. A Sociedade Histórica da Independência atribuiu o prémio “Livro 1997” à sua obra Apontamentos – História, Literatura, Política


Obras mais importantes: Claro Dilema, 1944; Os Pilares da Democracia, 1949; Coordenadas do Poder Real, 1961; Razões Reais, 1970; A Verdade e a Mentira, 1970; Às Portas da Cidade - Crítica e Doutrina, 1976; Outra Democracia, 1983; O Caso Clínico de Fernando Pessoa, 1990; Em Tempo de Mudança, 1992; Pessoa, Ele Próprio - Novos Estudos Nosológicos e Patográficos, 1992; Dom Sebastião na História e na Lenda, 1994;Frontalidade - Ideias, Figuras e Factos, 1995; Apontamentos - História, Literatura, Política, 1997; Impressões e Memória, 1998; Ideário, 2000.

José Manuel Quintas in "Unica Semper Avis"

sábado, 26 de fevereiro de 2011

HOJE ÀS 17 HORAS: ENCONTRO NO PORTO DO GRUPO DO FACEBOOK: "MONÁRQUICOS PORTUGUESES UNIDOS"


Hora
Sábado, 26 de Fevereiro · 17:00 - 19:00

Local
Porto

Criado por

Mais informação
Praça da Liberdade, Avenida dos Aliados, Junto à estátua de D. Pedro IV

Este encontro não é para arruada!

Podem levar uma bandeira para tirar fotos !

Quem não puder aparecer agradecemos que avise com 24 horas de ante-cedência o Rui Almeida D"Eça Sá
http://www.facebook.com/profile.php?id=100000049286170

ENTREVISTA AO ARQUITETO GONÇALO RIBEIRO TELLES PELO JORNAL DE NEGÓCIOS EM 2009

PhotobucketÉ um monárquico que viveu sob o signo da República.

"Eu não me importo nada de servir a República. Tenho bilhete de identidade, servi, fui deputado". Porém, diz ainda, "quando nos impingem a cidadania, a coisa complica-se... O que é o cidadão?", pergunta. "É ter que servir", responde. Diz que a cidade é a sua vida interior, mas é de assinar a Rede Ecológica Nacional que mais se "vangloria"

(17 de Abril de 2009)




A minha vida interior é a cidade, tudo à volta é a paisagem

É um monárquico que viveu sob o signo da República "Eu não me importo nada de servir a República. Tenho bilhete de identidade, servi, fui deputado".

É um arquitecto que fala de jardins como se falasse do paraíso. "Na Bíblia, quando se fala do jardim, é um lugar concreto, circunscrito. Os hebreus não andavam à procura do jardim, andavam à procura do Éden, o vale fértil onde estava o jardim. Depois vem a casa do Homem. A certa altura a casa do Homem é tão grande que começa a ser necessário o jardim público, o parque, a ligação de parques e de jardins, os espaços verdes. Não chega, porque 84% da população mundial vai viver para as cidades, que ficam desmesuradas, ou então são todas torres, o que é desumano. Temos de criar um Éden para esta cidade, e temos que criar dentro do Éden o paraíso, quê é o jardim". Um idealista? Um realista. Empenhou-me em fazer um mundo mais próximo daquele onde gostaria de viver.

É um homem de outro tempo. Do tempo em que se brincava na Avenida da Liberdade.A cidade era outra "Eu tinha uma tia que morava numa casa que hoje é um hotel de luxo, na Rua de Santa Marta Essa tia não tinha filhos e tinha um sobrinho, que era o meu avô; vendeu o palácio e fez uma casa na Avenida da Liberdade (que já foi abaixo). A minha avó, por sua vez, vinha de uma casa de São Paulo, ao Cais do Sodré; depois de casar, ocupou a casa na Avenida da Liberdade. Trouxe com ela o irmão coxo, que [se instalou] nas águas-furtadas. Vivia sozinho com uma criada, o marido da criada, que era carteiro, e os livros. O resto da família vivia por andares, no prédio; eu vivia no 3°". Visitava-o muito.

Gonçalo Ribeiro Telles é um contador de histórias. Passei uma tarde com ele a ouvir histórias. É esta a sua história

Para o entender, devemos começar por falar do seu tio-avô, Joaquim Cardoso Gonçalves?

Como é que você sabe do meu tio Joaquim? E uma pessoa fundamental na minha vida. Era irmão da minha avó. Uma particularidade: tinha tido uma paralisia infantil e ficou aleijado de um braço e de uma perna. Era uma pessoa com muitas preocupações, e a preocupação menor era ser aleijado. Dedicou uma parte importante da vida aos deficientes. O grande amigo dele era o António Sérgio. Tinha o curso correspondente à Economia actual, o curso superior de Comércio; trabalhou na Junta de Comércio Público, a antiga Caixa Geral dos Depósitos. Mas tinha outra vida, que interessava mais do que esta: era intelectual e dedicou-se a escrever sobre iluminuras. Fez trabalhos muito interessantes sobre os Livros de Horas.

O que são Livros de Horas?

São os calendários do Renascimento e da Idade Média, onde cada folha do mês representa uma cena: a cena que mais marca esse mês. Os das casas reais eram iluminados por grandes artistas. Para um miúdo como eu, era fascinante ver essas gravuras.

Cervantes também era maneta, e escreveu o Quixote. A vida do seu tio-avô foi menos marcada pela deficiência do que poderia ter sido. O que quer dizer muito da têmpera deste homem... Um homem é muito mais do que o corpo que o transporta.

Ah, com certeza [Levanta-se e vai buscar um livro] Talvez isto lhe dê uma visão [do trabalho que desenvolveu]. É o principal estudo que ele fez. Mostro-lhe para que perceba qual era a atmosfera

Porque é que se interessava pelas iluminuras?

Porque tinham bonecos [risos]. E porque o meu tio me explicava o que é que representavam. O meu tio fez uma descoberta sobre o Apocalipse de Lorvão, e comparou os cavaleiros (do Apocalipse do Lorvão) com os cavaleiros da gravura do Dúrer.A Peste vem com a foice da morte,a Guerra vem com um espadalhão, a Fome vem com um tipo muito esquelético; o quarto vem com uma balança

A Justiça? Como pode ser?

Toda a gente julgou que era a Justiça; o meu tio disse que era a lnjustiça Como é que a Justiça vinha como um cavaleiro da maldade,a cavalgar ao lado da Fome,da Peste e da Guerra ?
O que vem é a injustiça social. Porque era comum a balança que se pagava o salário dos trabalhadores; as moedas não se contavam, pesavam-se.A balança desequilibrada é a injustiça social, é o dinheiro mal pago ou roubado ao trabalhador.

O que é que há em comum entre todas as gravuras?

A cidade ao fundo.


Photobucket


Ou seja, uma relação entre o campo e a cidade, a natureza e o espaço construído.

Há uma identidade, uma coisa não vive sem a outra. A cidade extravasou por todo o lado. Onde é que está agora como estava nas iluminuras - a actividade agrícola? Isso é uma das causas desta crise.

O desequilíbrio?

Sim. Destruiu-se uma unidade que havia Nas iluminuras, a cidade está sempre presente na actividade agrícola Na Catedral de Siena nos frescos que estão à entrada, há uma representação de uma cidade: dentro de umas muralhas, as portas estão abertas e há uma comunicação permanente entre o campo e a cidade, com gente a entrar, a sair, e o campo organizado; do outro lado, está a mesma cidade com as portas fechadas e cá fora não há nada Na primeira está o título "O Bom Governo", na segunda está "O Mau Governo".

Tudo o que teve peso na sua vida estava enunciado aí. A sua vida fez-se nessa oposição, nesse diálogo.

Eu tinha duas possibilidades: ou ia para Arquitectura ou para Agronomia Eu desenhava bem, e ainda desenho - dizem. Mas para entrar em Arquitectura, tinha de desenhar a cabeça de um romano, o Vitélio. O Vitélio era muito gordo..., não tinha graça nenhuma. "Então vou para Agronomia". Aí dá-se um golpe de sorte: no dia em que entrei para Agronomia vinha da Alemanha montar o curso de Arquitectura Paisagística o [Francisco] Caldeira Cabral. Juntei as duas coisas.

Tem à sua volta, nesta sala, os Livros de Horas onde aprendeu com o seu tio-avô, os soldadinhos com que brincou, os frescos nas paredes. São amostras do passado. Conte mais deste mundo que era o seu.

As pessoas do campo que eu tinha, como o meu pai e os meus tios, eram juristas que depois abandonavam a profissão e ficavam nas terras como proprietários. Ou então eram oficiais do exército. O meu pai era oficial do exército e era veterinário; foi quem comprou os garranos em Trás-os-Montes para servirem na tropa, como depois serviram as mulas. Este lado marcou-me muito. A visão que eu tinha da cidade era a Avenida da Liberdade, onde brincava à tarde com outros meninos e meninas, principalmente no Verão. Os táxis estavam parados no meio da faixa de rodagem, todos enfileirados por ali fora Uma figura principal, que gostava muito de ver, era o polícia sinaleiro. Por outro lado, tinha uma influência muito grande, da parte da minha mãe e do meu tio-avô, do mar. Isto é uma confusão tremenda...

PARA PROPRIETÁRIO, NINGUÉM ME EDUCOU!, FELIZMENTE.


 
Entre a terra e o mar.

Está aqui o barómetro [enorme, preso na parede] .Herdei-o de um tio, o chamado Capitão Menino. Foi um fulano que saiu de casa com 16 ou 17 anos para ir navegar. O barómetro é do Brigue Florinda

Florinda era quem?

Era uma das minhas tias. O barco tinha de ter o mesmo nome.

Como é que se chamava a sua mãe?

Gertrudes Guilhermina, um nome horrível, não se pode arranjar pior! É uma figura importantíssima Era filha única, e como filha única vivia bem.

Provinha do mesmo estrato social do seu pai?

A mesma coisa Era inteligente, gostava de ir ao São Carlos. Não lia muito, mas ouvia o meu tio, e estava naquele ambiente. Não se abria com facilidade. Era capaz de gostar muito de uma criança porque tinha uns olhos bonitos ou porque era magrinha.

Parece, a partir dessa descrição, uma personagem de um romance de Agustina. Espirituosa e com um carácter caprichoso.

Sim, sim. Quando as cozinheiras tinham umas grandes cabeleiras elas pedia-lhes para lhes cortar o cabelo, só porque achava graça. E aqui na rua havia uma loja de hortaliças, onde viviam uns miúdos, coitados, que tinham pouco; ela adorava vê-los na cama Achava aquilo um quadro espantoso. E depois auxiliava-os.

Auxiliava-os, a esses e outros, por via do catolicismo?

Ela não se organizava com ninguém, era independente. Essas da Agustina também devem ser... Com um mundo próprio, e pouca gente lá entrava. Não tinha grandes amigas. A minha mãe gostava das pessoas humildes. Talvez fosse para ela um drama ainda viver numa sociedade em que uns eram humildes e outros não.

Era afectuosa?

Para mim era muito afectuosa. Gostava mais de rapazes, dos sobrinhos, do que das raparigas. Achava-as impertinentes. Coisa espantosa: na família do meu pai, a primeira menina que nasceu, ao fim de 70 anos, foi uma filha minha.

Uma casa de varões.

Só havia uma tia Vivíamos na Rua das Pretas e o meu pai, volta e meia, saía a cavalo e subia a Avenida [da Liberdade] com um impedido atrás, também a cavalo,

O seu pai era uma encarnação destes soldadinhos com que brincava e que agora tem em exposição?

Não. Era um militar'sul generis'. Dedicava-se mais à veterinária e aos cavalos do que à tropa Acabou por sair tenente, nem a capitão chegou.

Era suposto que fosse jurista, veterinário, proprietário?

Para proprietário, ninguém me educou!, felizmente. Em relação ao que queria fazer, sempre tinha um objectivo: polícia sinaleiro, oficial de marinha por causa do barómetro, depois agrónomo por causa de Coruche, depois intelectual e arqueólogo como o meu tio-avô. Quis ser tudo ao mesmo tempo, ou antes, numa catapulta sucessiva Até que caí, já com 22 ou 23 anos na arquitectura da paisagem.

A arquitectura paisagística é um dos eixos essenciais da sua vida. O outro é a causa cívica, seja no Centro Nacional de Cultura, seja, já em democracia, como ministro- para citar apenas dois exemplos. A política também estava em sua casa?

O meu tio-avô era um "liberalão" de todo o tamanho, a minha mãe não era uma "liberalona", mas não podia com o Salazar. Quando as primas todas assinavam aqueles papéis a favor do Salazar, recusava-se a assinar. Quando chegaram lá com o papel das Mães Agradecidas, não assinou.

E o seu pai?

O meu pai acabou muito cedo em termos de poder físico e intelectual, com aquilo que é hoje conhecido como Alzheimer, (ou coisa parecida). Fechou-se muito cedo. Mas era monárquico, como toda a família. Não era salazarista, e não era tão acintoso como a minha mãe. A minha avó, quando já não estava assim muito bem do miolo [risos], ainda esperava que chegasse o Paiva Couceiro com os monárquicos do Norte no dia tantos, às tantas horas; se não chegavam, ficava muito triste.

Eles falavam, por exemplo, da morte de D. Carlos?

A minha família de Coruche, do lado do meu pai, era toda D. Carlos. A família da minha mãe tinha uma costela miguelista. Os miguelistas tinham duas facções, os absolutistas e os realistas. Não podiam uns com os outros. A família da minha mãe era realista e a do meu pai era monárquica, mas liberal. Isto hoje não tem interesse nenhum...

Na altura, entusiasmava-os muito essas discussões, essas disputas?

Sim. Em casa discutia-se muito.

Se Portugal tivesse entrado na Segunda Guerra, uma vez que nasceu em 1922, podia ter sido mobilizado. Era um mancebo entre 39 e 45.

Ah, lá ia eu.

O que queria perguntar é se esse fantasma pairou sobre a sua família e sobre a sua vida?

Não. Você, agora, é que está a levantá-lo. O meu pai é que esteve mobilizado, em 1918, para ir para a Primeira Guerra. Não foi porque a guerra acabou. Eu nasci em 22. Eles já tinham tido uma criança que morreu, depois vim eu e depois o meu irmão.

A coragem, a tenacidade e a frontalidade são coisas que se notam em toda a sua intervenção pública. Gostava de perceber de onde vêm.

Eu tive medos terríveis.

Em que situações teve medos terríveis?

Por exemplo, vou comemorar, com todos os que ainda são vivos e que assinaram aquele papel da Igreja do Rato, a ida à Assembleia da República Entrámos dois, eu e outro, não me lembro quem foi o outro. Queríamos entregar aquilo à pessoa mais importante da Assembleia. Percorremos os corredores todos, um empregado mandava-nos para o outro, e para o outro. Até que estávamos outra vez na rua e tínhamos ainda a carta na mão... Então, resolvemos deixá-la ficar na recepção.

Era medo de quê? Ir preso?

Bem, ir preso não era muito brilhante, naquela altura..

Mas esse não é um gesto de medo, e esse gesto é de afrontamento.

É medo, medinhos, de fugir. Às vezes também fujo. Todos temos uma costela de cobarde - terrível. Quem é que faz de juiz das situações? Eu estava metido no barulho. Tinha medo de ir preso por aquilo que se contava dos presos. Também tinha medo do que pensava a família

O que pensaria a família aristocrática de um filho revolucionário...

Não era fácil, não tendo uma estirpe de revolucionário. Tinha receio da família numerosa, onde havia todos os leques possíveis e imaginários; não era da minha mãe. Portanto, não era medo, era a chatice. Houve uma época em que, para os comunistas, era um furioso tipo contrário a eles, e para os contrários a eles eu era um furioso comunista! [riso]

Como é que tresmalhou, se posso dizer assim, e se meteu com os revolucionários?

Desde pequenino, desde muito pequeno, o meu tio tinha um espírito muito liberal. Quando fui para a universidade, apanhei logo o grupo que deu origem ao Centro Nacional de Cultura.

Com quem é que se dava, quem eram os seus amigos e os seus interlocutores?

O [Francisco] Sousa Tavares, o mentor daquela gente, o Fernando Amado, do teatro, o Afonso Botelho, também muito amigo e que escreveu umas coisas, o Gastão Cunha Ferreira, o Henrique Ruas, o João Camossa, que deu em anarquista (Conhece a história? Morreu há relativamente pouco tempo. Vivia andrajosamente na rua).

O que havia em comum nesse grupo?

Foi um grupo de monárquicos extraviados da causa monárquica, que tinham apanhado uma lambuzadela do António Sardinha e daquela gente do liberalismo lusitano. Não aceitavam a causa monárquica porque era muito conservadora, porque estava feita com o Salazar. Isso é que deu origem ao CNC e às primeiras listas de monárquicos independentes, que foram escondidas pela imprensa porque não convinha ao Salazar aparecer gente com esse cariz na oposição. E deu origem a que o Congresso Democrático de Aveiro fosse Democrático. Era para ser Congresso Republicano, mas para esta gente poder entrar, mudou.


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Foi ao Congresso?

Não consegui lá chegar por cobardia minha. Podia ter ido a correr mais depressa para Aveiro e não fui. Não fui por causa da família Mas não tive medo porque mandei a papelada toda Podia ter sido preso na mesma

É uma geração. Foi um tempo. De transição.

A oposição era republicana, jacobina, e alguma parte ainda é. Vivia ainda toda a problemática da Primeira República. Aqueles que eram monárquicos, mas que não queriam nada como Estado Novo, consideravam a Segunda República uma Primeira República Ou se confundiam com esse jacobinismo, o que não queriam nem podiam, ou eram atirados para a zona de apoio ao Estado Novo. Assim nasceu todo este grupo de que estou a falar, que mete católicos, contra a situação. Daí a entrega dessa carta dos monárquicos e da Igreja do Rato.

Quando vai entregar essa carta, teme a reacção da família?

Não, a carta não, nem o conteúdo da carta O que havia era as ausências perigosas que eu fazia..

O que é isso das "ausência perigosas'?

Ir para onde não devia ir! Estivemos metidos em muitas revoluções anteriores ao 25 de Abril. Mas isso é uma coisa que não se conta

Porque é que não se pode contar?

Tem que ser com mais gente. Tenho medo de já ter transformado a realidade a que assisti, e em que estive, num imaginário meu. Coisas em que pensei na época e que nunca realizei, hoje aparecem como se tivessem existido. Não quero isso de maneira nenhuma! Já vi dois ou três casos em que isso sucedeu e não quero que suceda comigo. Não quero morrer a dizer: "Afinal,não foi bem aquilo que disse". E afinal, disse porque o que era da memória estava transformado em imaginário.

Quando é que percebeu isso? Que é um modo de perguntar quando é que começou a envelhecer.

Exactamente. Lá para os 78,79.

Aconteceu alguma coisa de especial?

Não. Mas sente-se perfeitamente. Começamos a não saber "Mas isso teria sido assim mesmo ou fui eu que imaginei?, como é que isto surge?". Há coisas que perdem a racionalidade, e a gente começa a duvidar se existiram.

Receou que se abatesse sobre si a doença que se abateu sobre o seu pai, e ficar com períodos de ausência?

Tenho medo. E preciso muito cuidado com a memória não esteja eu já a viver noutra [dimensão]. Acho que todas as pessoas passam por isso.

Isso aconteceu há quase 10 anos, tem agora 87. Está óptimo.

Ainda estou bom, ainda posso dizer-lhe isto! A primeira condição para não estar bem era dizer-lhe tudo com imagens.

Vamos voltar aos anos da oposição, nomeadamente a 1958. Decide apoiar a candidatura de Humberto Delgado. Nessa altura, o CNC funcionava como uma plataforma de liberdade, uma congregação de gente desigual que não se encaixava em nenhuma das suas casas de origem.

Era um espaço de liberdade, de encontro. Havia gente católica da Igreja do Rato, o Tareco [Francisco Sousa Tavares], o Nuno Vaz Pinto, a Sophia de Mello Breyner, o Alçada Baptista

O Alçada, quando dirigia a Seara Nova, publicou-lhe um artigo que ficou famoso: "O homem perante a paisagem".

O artigo é muito bera! Já escrevi muito melhor sobre a paisagem. O Delgado: lembro-me de ir com um grupo a casa dele e convidá-lo para ir connosco. E ele disse-nos que não, porque já estava comprometido com uma gente do Porto! Isto antes de se ter candidatado. Mas tinha muito respeito por nós, e para o mostrar tinha lá um quadro a óleo comprado em Londres, na Feira da Ladra: o da Dona Catarina de Bragança!

Essa veia monárquica, era uma coisa inflamada e central na sua vida, ou era só um dos seus aspectos?

Era central. Por duas coisas: a minha família, o meu pai, o meu avô, sofreram bastante. A República chateou muita gente. Não lhes roubaram nada mas tratavam-nos mal e com pouca consideração. Aquilo foi um sarilho de liberdade, só visto e percebido. Portanto, venho com essa leitura: de horror. Conhece a Ilustração Portuguesa?, sabe o que fizeram aos padres jesuítas?

Não. Mas a sua cara transfigurou-se ao falar disso.

Raparam-lhes a cabeça! Mediram-nos de alto abaixo, os homens de bata, do Hospital Júlio de Matos, para saber porque é que eles eram jesuítas! Consideravam uma anormalidade ser jesuíta. Está a ver a lata que hoje era precisa para chegar ao pé de um padre, meté-lo num hospital e medi-lo para ver por que é padre... A irracionalidade tinha chegado a este ponto. Eu vivia muito isso e contra isso.

Deu-se com jesuítas?

Sim, o padre Eugénio Jalhay, que era arqueólogo. O meu tio, como tinha interesse pela arqueologia, tratava muito com o padre Jalhay.

Ou seja, foi educado num mundo em que se odiavam os excessos da Primeira República.

Eu vivia muito contra esse pecado da Primeira República Não a aceitava porque tinha conhecido familiarmente tudo o que tinha sucedido.

Que relação tem, e foi tendo, com a religião e com o catolicismo? É convicto?

Pretendo ser, porque ninguém é o que é. Tive uma grande influência familiar e do padre Jalhay. Talvez a pessoa menos religiosa fosse o meu tio. Fui apoiante do bispo do Porto. Escrevi um livrinho sobre a reforma agrária que lhe é dedicado, [a propósito da] pastoral sobre "A Miséria Imerecida do Nosso Mundo Rural". Ele depois foi corrido pelo Salazar.

Estava a dizer que pretendia ser profundamente católico.

E por isso fui presidente da Juventude Agrária Católica antes do 25 de Abril. Tive lá umas coisas engraçadas e outras em que nos estendemos ao comprido. Havia a Juventude Agrária, para os tipos do campo, e havia a Juventude Universitária, [de onde saiu] o Nuno Portas, o Teotónio Pereira e parte do grupo da Capela do Rato. Há outra coisa: andei a ter lições e a procurar saber filosofia. Achei que era necessário.

Que questões é que o inquietavam?

Tudo.

Quem somos, o que fazemos, o problema do Homem?

Porque é que somos, porque estamos aqui.

Apoiava-se na religião para responder a isso, ou, pelo menos, para se sentir mais amparado?

Não há ninguém com quem isto não dê na religião. Tem de dar. A pessoa não tem é certezas. Agora, procuras, tem de as fazer. Todos fazem.

E dúvidas, teve muitas? E crises?

Toda a gente tem crises, toda a gente tem dúvidas, todos os dias. O conhecimento absorve sempre a dúvida. Como é que há certeza sem haver dúvida? Claro, quando uma pessoa se sente completamente esclarecida, o melhor é ir-se embora, é a altura de partir...

Foi um homem sempre muito gregário; a partir de que momento é que se sentiu autónomo, até em relação ao seu tio e aquela forma de tutoria?

Foi na universidade. Mas não é uma coisa que diga: "Amanhã vou ser diferente". Uma pessoa, a certa altura, descobre-se de outra maneira.

Quais foram as grandes questões políticas que discutiu? Que filosoficamente e na prática o ocuparam.

Liberdade, igualdade, fraternidade, mutualismo, solidariedade: tudo isso é uma coisa linda Mas quando nos impingem a cidadania, a coisa complica-se... O que é o cidadão? Para mim, não é só ter direitos e deveres: é ter que servir. Foi aí que compreendi melhor o problema da monarquia. Porque o cidadão fica-se na Revolução Francesa, não vai ao serviço. Os ingleses têm a ideia do serviço, que nós perdemos. Têm o serviço do rei, da rainha - é indiscutível. É uma condição. Não é para estar, é para ser. Através de uma simbologia e de um veículo humano.

O veículo humano é o rei e a rainha?

É. Inventou-se agora uma palavra para substituir o serviço, mas falta-lhe a humanização: é solidariedade. O Cavaco todos os dias a atira para o ar! [riso]

Quando é que despertou para as questões ecológicas?

Houve um período em que fui muito a África, porque fiz grande parte da urbanização de Nova Lisboa Tinha lá um amigo que me integrou nas visões ecológicas, para além da arquitectura paisagística- o Eduardo Cruz de Carvalho. Ele teve de sair do país e foi parar a Los Angeles. O seu conhecimento de África era espantoso; tudo o resto que se tinha, era um conhecimento cinematográfico, do Tarzan, dos escravos e dos pretos com um caldeirão. Ele foi caçado pela universidade de LA onde foi dar a disciplina de África, e de onde trouxe, para Portugal, a Ecologia.

Quando teve poder na política, além de ser Ministro de Estado, foi ministro de uma coisa chamada Qualidade de vida. É uma designação bonita. Deu-se bem, gostou de ter poder?

Dei, dei. Porque achei que estava lá para servir qualquer
coisa. Ainda bem que lá estive.

Foi Francisco Pinto Balsemão que o convidou?

Não, foi o Sá Carneiro. Mas não foi para ministro.

Como é que se conheceram?

Foi antes do 25 de Abril. Uma vez, quando eu funcionava neste grupo do Fernando Amaro e do Sousa Tavares, lembrei-me de conquistar o Sá Carneiro! Ele já estava na Assembleia Nacional e resolvi ter uma conversa muito séria no Grémio Literário. Fiquei amigo dele. Ele sabia perfeitamente como eu pensava. Foi por isso que o PPM entrou, mais tarde, na AD.

Por causa dessa relação entre os dois?

Mas não entrei eu para ministro! Fiquei de fora. Inteligentemente. O Sá Carneiro tinha toda a razão de só me deixar ir como deputado... Eu não era muito maleável em termos políticos, para além de certos limites. Fez bem porque tinha que avançar num sentido e eu era um trambolho ao lado. Eu já tinha sido secretário de Estado e sub-secretário de Estado.

Foi logo no primeiro governo provisório que foi sub-secretário de Estado.

Foi o Nuno Portas, o Teotónio Pereira e essa gente que me chamou. Eu era considerado mais à esquerda do que eles! Por isso é que alguns Capitães do 25 de Abril me chamaram para o governo provisório. E quando vieram os governos constitucionais, não fiquei no governo com a AD, fiquei como deputado.

No rescaldo da revolução, foram os Capitães de Abril que o chamaram. Já não era um monárquico perigoso cujo campo não estava bem definido... Como é que era olhado?

Era olhado como uma pessoa que conhecia muito bem os problemas da Ecologia

Mais tarde, Balsemão vai buscá-lo.

E eu fui. Fui porque naquela altura era jogar tudo por tudo - sentia-se isso perfeitamente. Foi quando joguei a RAN [Reserva Agrícola Nacional], a REN [Reserva Ecológica Nacional] e os Planos Regionais de Ordenamento do Território, o Ordenamento do Território. Antes, não se tinha jogado [nada disto], nem se tinha jogado a conservação da natureza, os parques naturais, a defesa do solo vivo, etc. Em força, [a criação da] reserva agrícola e da reserva ecológica [avançaram] com o Balsemão.

Tudo isso que criou e implementou aprendeu com quem?

Como Caldeira Cabral, com o Cruz de Carvalho. Outras áreas, mais específicas, aprendi com pessoas específicas. E com o café.

Com as conversas de café?

Exactamente, com os meus colegas do café.

Que cafés é que frequentavam?

Havia muita conversa de café onde essas coisas se debatiam muito. Eram conversas muito importantes que daí alargavam para o CNC, O Martinho do Rossio era mais virado para as agronomias e para os solos e a Brasileira do Chiado era mais para as Artes, para as Agronomias. Eu andava de um lado para o outro.

E tinha tempo para tudo.

Às cinco horas fechava a loja e abriam os cafés!

Ao mesmo tempo tinha a sua vida pessoal. Casou com que idade?

Casei tarde. Em 1952, com 29 anos. Porque é que casei tarde?
Não sei, tinha muito que fazer.

Olhando para o seu percurso, temos a ideia de que é um homem do espaço exterior, e não é só por causa da ligação à Ecologia ou aos jardins; é também por causa da intervenção cívica. Como se tudo se passasse no espaço social. Por isso queria saber que importância teve a construção de um espaço interior e da família.

Teve muita importância E como nas iluminuras: a actividade agrícola está à volta da cidade. Aminha vida interior é a cidade, tudo à volta é a paisagem.

O espaço interior é o da cidade, que é o espaço das ideias?

Das ideias, da família, até de coisas de que estou a fazer um esforço enorme para me libertar, que é dos objectos. Às vezes, o espaço interior também é um espaço de objectos. Os soldadinhos, o barómetro, muitos livros. Isso é o espaço interior em que as pessoas vivem. Por vezes, é terrível.

Porquê?

Porque é uma obsessão. Quando tiver a minha idade percebe que os objectos vão perdendo valor. Ou antes, vão adquirindo um valor imaginário. Suponha que um objecto me foi roubado: o objecto continua a existir nesse imaginário. É um penduricalho, é muito chato. Passam a ser fantasmas.

O que é que resiste? E o que é que na sua vida tem valor?

Os objectos só têm valor se tiverem uma história. O que não é objecto só tem valor se serviu para alguma coisa. Preciso de mandar a história passear! Só que ainda não fui capaz de mandar a história passear... O que é um objecto com história? Responder a isso já é uma coisa mais complicada. O que é a essência de um objecto com história?

E da sua intervenção pública?

Importam as que serviram. A REN, por exemplo. Vanglorio-me muito com isso, mas não quero andar a apregoar que fui eu: foi o Café Martinho e uma data de gente que meti a fazer estas coisas.

Profissionalmente, entre as coisas que fez e de que mais se orgulha, estão também os jardins da Gulbenkian? É uma obra em que se pensa imediatamente quando se pensa no seu trabalho enquanto arquitecto paisagista.

É uma obra minha e do António Viana Barreto. Aparte de terraços e plataformas, que é muito importante, é mais dele do que minha Depois há aparte exterior, que é pensada pelos dois e por quem fez a classificação do que lá estava antes de se construir a Fundação. Acho bem. Mas há outra de que gosto muito e que pouca gente conhece: a Capela de São Jerónimo, em Belém.

Tem alguma planta de que goste especialmente, com que sinta uma especial identificação?

Há uma planta que caracteriza o país em termos científicos; são os carvalhos; e nas zonas húmidas, os salgueiros. Mas planta emblemática, para mim, é a laranja Se for a uma quinta no Norte verifica que tem a mata com carvalho, tem a horta e o pomar de caroço. Se for a uma quinta no Sul tem a horta, tem a mata, e uma coisa que não varia: as laranjas.

Mas isso é a planta do país. Queria perguntar se há alguma de que o senhor goste especialmente.

Não. Mas num texto que fiz para os Caminhos de Ferro, descrevo uma viagem que fazia com nove, dez anos a partir da estação do Rossio para a terra do meu pai, Coru-che. Era uma viagem de quatro horas, actualmente são meia dúzia de quilómetros. Passava pelo vale do Tejo, parava num intercâmbio para o Sul, aí apanhava outro comboio, atravessava o Tejo e entrava num montado de sobro. Faço a descrição do que é que me d izia esse montado de sobro. Primeiro, os braços dos sobreiros, depois, aprofundidade e escuridão que se adivinhava quando se vinha de comboio. Ao mesmo tempo aparecia umaluzinha ao longe; era uma casa que existia e de que só se via a luz. Fiquei sempre com uma admiração ao montado de sobro.


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ANABELA MOTA RIBEIRO
MIGUEL BALTAZAR
Fotografia 

DOM DUARTE E AINDA A ELEIÇÃO DE DILMA ROUSSEF



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O Portal “Os Vermelhos”, Portal de informação das esquerdas portuguesas, publicou a notícia sobre a mensagem de D.Duarte de Bragança a felicitar a eleição de Dilma Roussef como se pode ver AQUI


MÁRIO SOARES - MONARQUIA E REPÚBLICA


Assim, Monarquia e República são hoje regimes que pouco se diferenciam, quer no piano nacional quer internacional. Aproximou-as a democracia que ambos os regimes se orgulham de praticar. Quanto a isso, não e possível voltar atrás, espero…

Os Estados organizam-se de diferentes formas, desde a mais remota antiguidade: impérios; monarquias, absolutas e constitucionais; repúblicas, oligárquicas e democráticas, de acordo com o modo como são organizados – e, depois, eleitos -os seus órgãos do poder; as ditaduras, militares e civis, que podem ser autoritárias e totalitárias, conforme o controlo do poder sobre os indivíduos e menos ou mais absoluto.

O século xix, na sequência da Independência Ameri­cana e da Revolução Francesa, ambas no fim do século xvm, foi um tempo de liberalismo politico (não confundir com o liberalismo económico, cujo sentido é diferente). O século xx, bem mais violento e perturbado do que o anterior, foi o Século das Ditaduras, militares e civis, autoritárias e totalitárias, como Hannah Arendt definiu os regimes fascista, nazi e comunista. Foi ainda o tempo das grandes guerras, das guerras civis, das guerras e dos conflitos regionais e das revoluções. Finalmente, no final do século xx (1988-91) deu-se a implosão do comunismo soviético e o triunfo – parcial da democracia.

As ditaduras comunistas implodiram, sem efusão de sangue, ao contrario das ditaduras nazi-fascistas, que foram destruídas pelo exterior e em função da guerra que desencadearam. De facto, em virtude da derrota, sem condições, da Alemanha, na Segunda Guerra Mundial, e do colapso da Itália de Mussolini que a antecedeu, os Aliados, a Inglaterra, a América, a França Livre e a Rússia ganharam a guerra e estabeleceram a paz, em nome da democracia. For pouco tempo. Veio, pouco tempo depois, a divisão do Mundo em dois blocos ideológicos rivais, a seguir a Guerra Fria e as independências dos países libertos do colonialismo.

Dilucidemos todos estes conceitos e eventos, que são com efeito muito variáveis e complexas, para os tornar, tanto quanto possível, transparentes.

Na antiguidade, tivemos impérios, grandes impérios, em que toda a construção do Estado girava em torno da pessoa do imperador: o poder militar, religiosa e politico, por ordem de importância. O imperador concentrava na sua pessoa, divinizada, como se fosse um Deus, todo o poder que exercia, através de um conjunto de colaboradores-funcionários que Ihe obedeciam cegamente. Foi o que aconteceu com os antigos impérios chinês, persa, egípcio, japonês e outros, como o Império Romano. A Primeira Guerra Mundial pos fim, como disse, a quatro impérios: o russo, o alemão, o austro-hungaro e o turco ou otomano.

As monarquias europeias foram, inicialmente, de caracter absolute, nacional e de direito divino indiscutíveis, como no tempo de Luis XIV de Franca, o «Rei Sol», exemplo máximo de rei absolute – L’Etat c’est moi – mas que, apesar disso, esteve longe de ser um imperador déspota ao estilo oriental. Os seus antecessores e sucessores tiveram primeiros-ministros e ministros que detinham de facto os principais poderes do Estado, ao serviço do rei. Foi o período do chamado despotismo iluminado, com figuras como Richelieu e Mazarin, em Franc.a, Caspar de Guzman, duque de Olivares, no tempo de Filipe IV de Espanha, ou o Marques de Pombal, em Portugal, no reinado do rei D. Jose, no século xvm. Eles mandavam em nome do rei, que concen­trava na sua figura todo o poder simbólico, exercido de facto pelos seus validos. Curiosamente, Salazar, um ditador civil do século xx, quando Ihe perguntaram como gostaria mais de exercer o poder, respondeu (cito de cor): «como o primeiro-ministro de um monarca absoluto», isto e, um déspota esclarecido…

Como disse, no capitulo anterior, o parlamentarismo nasceu no século xvn – ou mesmo antes – em Inglaterra. Surgiu para regular as disputas entre os senhores feudais e o rei e, depois, com o fortalecimento da Câmara dos Comuns (House of Commons), dos representantes da burguesia, que sucessivamente foi ganhando poderes para escolher o primeiro-ministro – e o governo – e para os derrubar se per-dessem a sua confiança. Dai que o parlamentarismo inglês tivesse sido sempre, ate hoje, bicamaral com a Câmara dos Lordes e a dos Comuns, também designadas por Câmara Alta e Câmara Baixa. Com o evoluir dos anos, a Câmara dos Comuns tornou-se o centre do poder politico inglês. Porque, segundo a máxima ainda hoje em use: «o rei [ou a rainha, como e hoje] reina mas não governa».

Na América, com a independência, a Constituição optou por um Estado republicano e deu ao Presidente – eleito directamente pelo povo – o poder executivo. Por isso, a América não é uma democracia parlamentar, mas antes uma Republica presidencialista. Apesar de o poder do Congresso (Senado e Câmara dos Representantes) ser hoje bastante grande.

O parlamentarismo difundiu-se por toda a Europa, sob a influencia da Revolução Francesa e do expansionismo napoleónico, durante o seculo xix, que vindo a ser um império, completamente autocrático, difundiu por toda a Europa, incluindo Portugal, as ideias da Revoluçãoo Francesa. Curiosamente, depois de Waterloo (derrota de Napoleão), o movimento constitucionalista (dito liberal) e o parlamentarismo progrediram a par. As teorias de que a soberania reside no Povo – ou na Nação – e não no rei, do «contrato social» de Rousseau e da separação dos poderes do Estado expressa por Montesquieu – legislativo, executivo e judicial – impregnaram o movimento constitucionalista, procurando dotar cada Estado nacional de uma Constituição escrita, onde os poderes do Estado fossem bem definidos e partilhados, para dar espaço aos direitos individuais dos cidadãos, retirando sucessivamente os poderes ao rei, que passou a ser um mero símbolo, representando, de algum modo, a unidade da Nação, mas com poderes cada vez mais reduzidos.

A Constituição americana de 1787 proclamou a Republica, entregando os poderes, respectivamente: o legislativo) ao Congresso (composto por duas Câmaras, a dos Representantes e o Senado), dado a Constituição americana ter definido a América como um estado bicamaral e federal – o Senado, cujos senadores, em numero igual por cada estado, isto e, dois; e os deputados eleitos representando dois parti-dos (sistema bipartidario), Republicanos e Democratas, que perdura ate hoje, segundo a dimensão da população de cada estado; o poder executivo pertence ao Presidente da República, eleito directamente pelo povo americano, que detém todo o poder executivo, exercendo-o através dos seus secre­taries que, em conjunto, constituem o Governo; finalmente o poder judicial e totalmente independente e ter um poder enorme, nos termos da Constituição. E o que se chama um regime republicano, federal e presidencialista – modelo que se mantém ate hoje e que inspirou quase todas as Repúblicas latino-americanas.

As Constitutivos portuguesas foram, historicamente, muito diferentes umas das outras: a primeira, de 1822, tendo como fonte a Constituição de Cádis de 1812, e uma Constituição liberal típica, obrigando o rei, que era D. João VI, e estava no Brasil, a regressar ao reino e a jurar a Constituição. O que ele fez, embora perdesse muito do seu poder, teoricamente, visto que era ate então absoluto e deixou de o ser. Veio, depois da sua morte, a Carta Constitucional, outorgada por D. Pedro IV (então D. Pedro I, imperador do Brasil e seu sucessor, como filho primogénito), em 1836, portanto, sem depender de nenhuma Assembleia Constituinte e em que os poderes reais eram limitados, mas alguns ainda importantes.

A Carta Constitucional provocou uma divisão na família liberal entre vintistas (partidários da Constituição de 1822) e cartistas (mais moderadores e partidários da Carta). Essa divisão foi abafada pelo interregno absolutista de D. Miguel (1828-1834), visto que a guerra civil passou a ser entre migue-listas (absolutistas) e liberais (vintistas e cartistas). A chamada Revolução de Setembro de 1836 repos a Constituição de 1822, ate que a Assembleia Constituinte fizesse uma nova Constituição em 1838 (mais próxima da Carta Constitucio­nal), visto que conferia ao rei o chamado poder moderador (segundo a teoria de Benjamin Constant). Mas só durou ate 1842, voltando a vigorar a Carta Constitucional, que alias foi muito duradoura, dadas as emendas que sofreu em três actos adicionais a Carta, de 1852,1885 e 1896. Durou, assim, ate a proclamação da Republica, em 5 de Outubro de 191O. A Republica organizou eleições constituintes e elaborou uma nova Constituição: a de 1911. Uma Constituição progressista, para o tempo, totalmente parlamentarista e bicamaral. O Presidente da Republica passa a ser eleito pelas duas Câmaras (deputados e Senado), reunidas em conjunto (Congresso) e, uma vez que era eleito por ambas, fica dependente do Parlamento, com poderes meramente representativos e simbólicos. O executivo – o governo – era também exclusivamente dependente do voto do Parlamento, onde residia de facto o centre do poder politico.

Com a Revolução de 28 de Maio de 1826, que derrubou a I Republica (1910-26), foi suspensa a Constituição e passou-se a governar em ditadura, chamada militar, na primeira fase, e national, na segunda. Foi o regime do arbítrio, escolhido o Presidente da Republica pelos militares, que governavam e detinham todos os poderes do Estado.

Quando Salazar, ditador das Finanças, desde 1928, foi designado primeiro-ministro pelo general Óscar Carmona, tentou mascarar o regime ditatorial. Para tanto, mandou fazer a Constituição de 1933, que foi aprovada por um ple­biscite singular, em que as abstenc.6es contavam como votos a favor. Essa pseudo-Constituição durou ate a Revoluc.ao dos Cravos de 25 de Abril de 1974. Em Abril de 1975 – exacta-mente um ano apos a Revoluc.ao – foram realizadas as pri-meiras elei<joes livres, apos 48 anos de ditadura. A camara eleita, com poderes constituintes, elaborou, legitimamente, uma nova Constituic.ao, em 2 de Abril de 1976, que iniciou a II Repiiblica. E uma Constituic.ao pluralista e pluripartida-ria, avangada no piano social, que garante aos Portugueses o exercicio dos direitos humanos e, aos trabalhadores, impor-tantes direitos sociais, de tipo semipresidencialista e laica. E uma Constituigao que teveja emendas (revisoes constitu-cionais, alias previstas no texto constitucional) e que vigora ate hoje, a meu ver, muito satisfatoriamente.
Semipresidencialista e laica, porque? Porque o Presidente e eleito directamente pelo povo, mas o primeiro–ministro, indicado pelo partido com maior representa§ao no Parlamento (unicamaral, isto e, a Assembleia da Republica), depende, para se manter no poder, do voto maioritário par-lamentar. No entanto, a maioria pode ser dissolvida, excepcionalmente, pelo Presidente da Republica – e o governo cair – se o Presidente entender que «esta em causa o regular funcionamento das instituições democráticas», seguindo–se a dissolução da Assembleia da Republica e a marcação de novas eleições. Como disse uma vez, «o Presidente ter a bomba atómica mas não dispõe das armas convencionais». Ter, contudo, o chamado «poder moderador», a que tenho também chamado, desde que exerci essas funções, «a Magistratura de Influencia».

Laico? Porque a separação do Estado e das Igrejas, insita na Constituição, e clara – apesar da Concordata, revista -, porque assegura a liberdade de todas as religiões, nas condições de igualdade possível, respeita e não discrimina as minorias religiosas, assegurando a todas uma total liberdade religiosa, na base da lei do mesmo nome.

Com meio século de distancia, a I e a II Repúblicas estão numa certa linha de continuidade histórica, apesar de diferenças profundas e de um muito distinto contexto internacional. No principio do século XX, o republicanismo tornou-se, em Portugal, uma corrente avassaladora, que viria a destruir a monarquia, que – diga-se – apesar do assim chamado «dita-dor» João Franco, em parte responsável pelo regicídio, era uma Monarquia Constitucional. O fosso politico-ideológico entre republicanos e monárquicos era profundo. Hoje, não e assim. Reconheço-o como republicano confesso, filho de uma família profundamente republicana. Porque as monarquias existentes na Europa, hoje, são todas tão, ou mais, democráticas do que algumas republicas. São monarquias constitucionais em que o rei só tem poderes simbólicos e as aristocracias desapareceram ou estão em vias disso, em função da igualdade de todos os cidadãos perante a lei.

Apesar disso, por convicção e por experiência, sou republicano e não vejo que haja condições para que Portu­gal deixe de ser uma Republica, e gostaria que aprofundasse a sua jovem democracia e que reforçasse nela a sua componente social e ambiental.

Mas isso e outra historia.

Assim, Monarquia e Republica são hoje regimes que pouco se diferenciam, quer no piano nacional quer internacional. Aproximou-as a democracia que ambos os regimes se orgulham de praticar. Quanto a isso, não é possível voltar atrás, espero…

Fonte : Livro Mário Soares – Elogio da Política, Sextante Editora
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