Como dissemos numa postagem anterior,
em 16 de Maio de 1828 começou em Aveiro uma revolução liberal, com
fortes ligações ao Porto, que pretendia pôr fim ao golpe absolutista de
D. Miguel. A tomada de posição do Porto estava prevista para o dia 17,
mas, acontecimentos imprevistos, levaram à antecipação para o dia 16.
Na preparação desta revolução destacaram-se os membros da maçonaria local, nomeadamente os elementos da loja maçónica que funcionou em Aveiro, nas instalações da Quinta dos Santos Mártires (junto à capela homónima, na actual Baixa de Santo António), bem como a maior parte dos oficiais do Batalhão de Caçadores 10.
Neste breve apontamento, destacamos: o desembargador Joaquim José de
Queirós (avô de Eça de Queirós); o desembargador Francisco José Gravito
da Veiga e Lima; o corregedor da comarca Francisco António de Abreu e
Lima; Luís Cipriano Coelho de Magalhães, médico e pai de José Estêvão;
João dos Santos Resende, negociante e vice-cônsul da Suécia e Noruega,
cuja mercearia (na Praça do Comércio, actual Praça Joaquim de Melo
Freitas) era um dos pontos de encontro dos constitucionalistas locais;
Manuel da Cruz Maia, sacerdote e farmacêutico, com farmácia na Rua Larga
(actual Rua de José Estêvão), outro ponto de encontro dos
constitucionalistas aveirenses mais radicais; Custódio José Duarte e
Silva, quartel-mestre das milícias de Aveiro; Francisco Silvério de
Carvalho Magalhães Serrão, fiscal do contrato do tabaco; Manuel Coelho
de Moura, capitão reformado; Vicente José de Almeida, capitão de
veteranos; os irmãos José e João Henriques Ferreira; o coronel José
Júlio de Carvalho, comandante de Caçadores 10; Manuel Maria da Rocha
Colmieiro, tenente-coronel de milícias; os irmãos Morais Sarmento
(Clemente, Evaristo, João António, António Joaquim e Jerónimo); João de
Sousa Pizarro, capitão de Caçadores 10; e dezenas de outros nomes
identificados pelo historiador e aveirólogo Marques Gomes (1928,
passim).
Entretanto, em Coimbra, alguns filhos de Aveiro alistaram-se no Batalhão
Académico, como foi o caso de Manuel José Mendes Leite (3º ano de
Leis), Francisco António Resende (4º ano de Medicina), Francisco José de
Oliveira Queirós (2º ano de Matemática e Filosofia), Manuel Ribeiro
Dias Guimarães (Filosofia Racional e Moral) e José Estêvão Coelho de
Magalhães (1º ano de Leis).
A direcção dos trabalhos que levaram a esta revolução
coube ao desembargador Joaquim José de Queirós, que viria a integrar a
Junta do Porto. A grande maioria dos chefes políticos e militares das
forças liberais não se mostraram à altura das suas responsabilidades,
condenando este movimento ao fracasso. Restou a fuga, cobarde nuns
casos, corajosa noutros, o homizio e o exílio. Fuga cobarde dos
elementos da Junta que abandonaram tudo e todos para embarcarem no navio
Belfast, em direcção a Inglaterra; fuga corajosa dos chefes militares e
de alguns políticos, como o Conselheiro Queirós, que optaram por
acompanhar as tropas desmoralizadas, sob péssimas condições
meteorológicas, atravessando toda a Galiza, para embarcarem nas costas
do Cantábrico, em direcção aos miseráveis barracões que os aguardavam em
Plymouth. O exílio ou o homizio duraria até 1832, quando as forças
liberais, comandadas por Pedro IV (o imperador Pedro I do Brasil)
desembarcaram na Praia de Arnosa do Pampelido, perto do Mindelo, para,
passados dois anos de feroz guerra civil, controlarem o País e
reinstaurarem o Liberalismo.
Toponímia urbana aveirense:
Foi grande o impacto destes acontecimentos na vida social e
política da cidade de Aveiro, o que claramente transparece na respectiva
toponímia urbana, se considerarmos o elevado número de arruamentos cujo
nome está ligado ao período histórico que vai da Revolução de 1820 à
Regeneração. Deixamos aqui o registo desses topónimos:
Rua do Batalhão de Caçadores 10 (antiga Rua da Corredoura), na freguesia da Glória, começa na Praça do General Humberto Delgado e termina na Praça do Milenário. O Batalhão de Caçadores 10, que esteve aquartelado no Convento de São Domingos (de que só resta a actual Sé), foi a primeira unidade militar a manifestar-se pela causa liberal, aquando dos acontecimentos de 1828.
Rua do Capitão João de Sousa Pizarro, na freguesia da Glória, começa
na Rua de 31 de Janeiro e termina na Avenida de Artur Ravara. Capitão de
Caçadores 10, morreu em 1828, nos combates da Cruz de Morouços.
Praça 14 de Julho, na freguesia da Vera Cruz, começa no Largo da
Apresentação e termina na confluência da Rua dos Mercadores e da Rua de
Domingos Carrancho. Data alusiva à Tomada da Bastilha, é dia nacional da
França.
Rua de Clemente Melo Soares de Freitas, na freguesia da Glória,
começa no Cais dos Moliceiros e termina na Rua da Liberdade. Clemente da
Silva Melo Soares de Freitas era advogado em Aveiro; na sequência da
revolução, a Junta do Porto nomeou-o juiz de fora na Vila da Feira; foi
um dos justiçados na forca, em 7 de Maio de 1829.
Largo do Conselheiro Queirós, na freguesia da Glória, Bairro do
Alboi, na confluência da Rua Dezasseis de Maio com a Rua Clemente de
Melo Soares de Freitas. Joaquim José de Queirós e Almeida foi chefe do
movimento liberal de 16 de Maio de 1828, conselheiro do Supremo Tribunal
de Justiça, ministro da Justiça.
Rua do Conselheiro Queirós, na freguesia de Aradas, em Verdemilho.
Arruamento onde fica a antiga casa (Quinta da Torre), hoje em ruínas, do
Conselheiro Queirós. Daqui saía todas as tardes, montado numa
jumentinha, em direcção ao estabelecimento de João dos Santos Resende,
ponto de encontro e de cavaqueira política dos liberais
constitucionalistas.
Rua de 16 de Maio, na freguesia da Glória, começa no Cais do Alboi e
termina na Rua de Magalhães Serrão. Lembra a data do início da revolução
de 1828, em Aveiro e no Porto.
Rua de Domingos Carrancho, na freguesia da Vera Cruz, começa na Praça
de Joaquim de Melo Freitas e termina na Praça de Catorze de Julho.
Domingos dos Santos Barbosa Maia, “O Carrancho” (alcunha que lhe veio
por ser proprietário de umas terras de cultivo denominadas as
“Carranchas”, em Verdemilho. Domingos Maia esteve envolvido nos
acontecimentos de 16 de Maio e teve de exilar-se para fugir à
perseguição miguelista. Foi tesoureiro da Alfândega de Aveiro, chefe
cartista local e presidente da Câmara de 1842 a 1845, período em que
trouxe para a cidade a iluminação pública e muitos outros melhoramentos.
Rua do Gravito (antiga Rua de São Paulo), na freguesia da Vera Cruz,
começa na Rua de Manuel Firmino e termina na Rua do Carmo. Francisco
Manuel Gravito foi fidalgo da casa real, cavaleiro professo da ordem de
Cristo, desembargador dos agravos da Casa da Suplicação, corregedor do
cível da corte, deputado e conselheiro de Estado por nomeação de D.
Pedro IV, datada de 1827.
Rua de João Henriques Ferreira, na freguesia da Vera Cruz, começa na
Rua de D. Jorge de Lencastre e termina na Rua do Dr. António Cristo.
João Henriques Ferreira Júnior era um jovem liberal residente em
Albergaria-a-Velha, que se alistou no Batalhão de Voluntários D. Pedro
IV, formado em Aveiro aquando dos acontecimentos de 1828. Entrou em
combate contra os miguelistas entre A-dos-Ferreiros e Talhadas. Tendo
fugido para a Galiza, regressou a Aveiro onde acabou por ser preso. Foi
enforcado no Porto em 9 de Outubro de 1829.
Rua de José Estêvão (antiga Rua Larga, no troço superior; Largo das
Tripas, no troço central; Viela do Açougue ou Rua de Trás dos
Mercadores, no troço inicial), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua
Viana do Castelo e termina na confluência da Rua António Cristo com a
Rua de Manuel Firmino. José Estêvão Coelho de Magalhães participou nos
acontecimentos de 16 de Maio, integrando o Batalhão Académico, exilou-se
em Inglaterra e dali seguiu para os Açores. Acompanhou depois as tropas
de D. Pedro IV, que desembarcaram no Mindelo, destacando-se nos
combates do cerco do Porto (1832-1833). Até à sua morte, em 1862, teve
uma agitada vida política, sempre na primeira linha da luta pelos ideais
da Liberdade.
Rua de Luís Cipriano, na freguesia da Glória, começa na Rua do
Batalhão dos Caçadores 10 e termina na Rua de Gustavo Ferreira de Pinto
Basto. Luís Cipriano Coelho de Magalhães era médico e pai de José
Estêvão; foi membro da loja maçónica dos Santos Mártires e liberal
constitucionalista. Teve de homiziar-se na sequência dos acontecimentos
do 16 de Maio de 1828.
Rua de Luís Gomes de Carvalho, na freguesia da Vera Cruz, começa na
Avenida do Dr. Lourenço Peixinho e termina na Rua do Almirante Cândido
dos Reis. Coronel de engenharia e encarregado das obras da barra de
Aveiro; foi membro da loja maçónica dos Santos Mártires, em Aveiro, e
teve aqui um papel de destaque aquando da revolução de 1820, sendo um
dos principais chefes do liberalismo local. Morreu em 1826.
Rua de Magalhães Serrão, freguesia da Glória, começa na Rua dos
Santos Mártires e termina na Rua da Arrochela. Francisco Silvério de
Carvalho Magalhães Serrão, nasceu em 1774 em Figueiró dos Vinhos.
Residia em Aveiro onde desempenhava as funções de fiscal real do
contrato do tabaco. Foi um dos principais dirigentes da revolução, tendo
sido preso quando se deslocava de barco na Ria de Aveiro, levando
consigo muitos documentos que o incriminavam e vinte e cinco armas
carregadas, que pertenciam ao batalhão de voluntários que comandava.
Rua de Manuel Luís Nogueira, (antiga Rua do Norte), na freguesia da
Vera Cruz, começa na Rua de São Bartolomeu e termina no Cais de São
Roque. Nasceu em 14 de Março de 1774 na freguesia de Baltar. Era
bacharel em Direito e exercia a profissão de advogado no Porto, quando o
governo liberal revolucionário (Junta do Porto) o nomeou juiz de fora
em Aveiro, lugar de que tomou posse em 4 de Junho de 1828.
Travessa da Maria da Fonte, na freguesia de Esgueira, começa na
Travessa da Patuleia e termina na Rua Vicente de Almeida d’Eça. Lembra a
Revolução da Maria da Fonte, em Abril de 1846, contra a política dos
Cabrais.
Rua de Mendes Leite, na freguesia da Vera Cruz, começa na Praça de 14
de Julho e termina na Praça de Jaime de Magalhães Lima. Manuel José
Mendes Leite integrou o Batalhão Académico em 1826 e 1828. Foi um dos
exilados em Inglaterra, tendo acompanhado sempre o seu grande amigo José
Estêvão. Foi jornalista, parlamentar e governador civil de Aveiro em
três períodos distintos, desempenhando ainda outros cargos de natureza
política. Em 10 de Março de 1852 apresentou uma proposta de adenda ao
parágrafo 18 do artigo 145 da Carta Constitucional, em que se acabava
com a pena de morte por crimes políticos; a proposta foi aprovada e
entrou em vigor no dia 5 de Junho do mesmo ano, aquando da promulgação
do Acto Adicional à Carta Constitucional de 1826.
Travessa da Patuleia, na freguesia de Esgueira, começa na Rua Adriano
Serra e termina na Rua de Dias Cainarim. Lembra as sublevações
populares, que tiveram lugar um pouco por todo o País, na continuação
dos acontecimentos ligados à rebelião da Maria da Fonte.
Rua do Sargento Clemente Morais (antiga Rua do Sol), na freguesia da
Vera Cruz, começa no Largo da Apresentação e termina na Rua de Antónia
Rodrigues. Foi um dos justiçados na forca, em 9 de Outubro de 1829, pela
sua participação nos acontecimentos do 16 de Maio de 1828.
bibliografia:
GOMES, Marques — Aveiro berço da Liberdade: A revolução de 16 de Maio de 1828. Aveiro: [Câmara Municipal], 1928. 88 p.
GOMES, Marques — Aveiro berço da Liberdade: A revolução de 16 de Maio de 1828. Aveiro: [Câmara Municipal], 1928. 88 p.
Publicado por Rui Paiva Monteiro em "Causa Monárquica"
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