A média do crescimento económico é, em Portugal, a pior dos últimos
90 anos. A dívida pública é a maior dos últimos 160 anos. A dívida
externa é, no mínimo, a maior dos últimos 120 anos (desde que o país
declarou uma bancarrota parcial em 1892). O desemprego é o maior dos
últimos 80 anos. Voltámos à divergência económica com a Europa, após
décadas de convergência. Vivemos a segunda maior vaga de emigração dos
últimos 160 anos. E temos a taxa de poupança mais baixa dos últimos 50
anos.
Pois é. As verdades são duras como pedras. E antes de passarmos a um
novo capítulo nas nossas vidas, por mais piedosos que sejam as
recomendações para não procurar culpados, a verdade é que há
responsáveis por termos chegado até aqui e políticas erradas que não
devem – não podem – ser repetidas. É por isso que é muito útil ler o
mais recente livro de Álvaro Santos Pereira, Portugal na Hora da Verdade.
Economista “exilado” na Universidade de Vancouver, no Canadá, português
optimista quanto baste – como demonstram as suas obras anteriores, O Medo do Insucesso Nacional e Os Mitos da Economia Portuguesa
– arriscou-se a traçar um panorama global da nossa situação actual. As
frases com que iniciámos este texto são dele. Os gráficos que o ilustram
foram por ele construídos. A evidência que reuniu ao longo de quase 600
páginas é esmagadora.
Pode-se não concordar com todas as soluções que Álvaro Santos Pereira
propõe para “vencer a crise nacional” – mas se este livro tem, neste
exacto momento, uma virtude, é que ninguém poderá dizer que não sabia.
Não teremos todos a mesma culpa, mas somos todos eleitores e há
realidades que não podemos ignorar.
Público, 6 de Maio de 2011
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