A ideia monárquica em Portugal ou, talvez ainda melhor, “realista”,
como se diz noutros países europeus, está condicionada por “cem anos
sem rei”, facto que fez desaparecer a vivência directa do que significa
ter um chefe de Estado cuja legitimidade assenta na cultura e na
história nacionais, e não em processos eleitorais. Por outro lado, a
memória desse facto tem vindo a crescer mercê do esforço da convicção
dos que nunca desistiram, do que tem revelado a investigação histórica e
das novas formas de comunicação das redes sociais digitais.
Entretanto o “feitiço virou-se contra o feiticeiro” porque as
criticas à Casa Real portuguesa de há cem anos atrás, viraram-se contra o
regime republicano. A crise da dívida externa portuguesa que explodiu
com a crise internacional de 2008 parece-se demasiado com a crise de
financeira de 1892. A falta de soluções convincentes dos partidos do
Bloco Central da 3ª República recorda o empastelamento dos partidos
rotativos da Monarquia. E mesmo os gastos da Presidência República
Portuguesa são tão superiores em bruto e em termos relativos aos da
Coroa espanhola, por exemplo, que todos se interrogam se, em tempo de
crise, também daqui não poderá vir alguma solução.
Falta ainda definir claramente na opinião pública como, em Portugal,
monarquia e democracia precisam uma da outra. Houve uma manipulação
evidente dos ideais monárquicos pelas forças salazaristas desde o Estado
Novo e nunca houve uma alternativa muito clara a este “roubo do
realismo” . D Duarte de Bragança, representante da Casa Real
Portuguesa, tem dado os passos decisivos ao responder quando lhe
perguntam se “foi educado para ser rei”, que “foi educado para servir
Portugal”. Esse sentido de serviço, que é o melhor da cidadania, ajuda a
explicar a popularidade crescente da ideia monárquica entre uma
população farta de ver os políticos “servirem-se a si próprios” em vez
de servir o país.
Quanto ao casamento do príncipe Harry (?) Windsor com Kate Midleton, ele
significa, a meu ver, mais uma aliança das Casas Reais com os
respectivos povos. Embora os tradicionais casamentos dinásticos
entre monarcas e seus sucessores ainda sejam por vezes apresentados na
“imaginação mediática” como de “sangue azul”, sempre corresponderam a
alianças no quadro europeu. Começaram a desaparecer nas monarquias
nórdicas desde a década de 80, devido ao sólido posicionamento dos
respectivos países dentro da realidade comum europeia, o que dispensa
casamentos entre príncipes de nações estrangeiras e reforça os
sentimentos de coesão nacional.
Mendo Henriques
Presidente do Instituto da Democracia Portuguesa
Publicado pelo movimentounidademonarquica
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