Recentemente, vi na Internet um vídeo,
excerto do programa da Sic Radical “Curto Circuito”, transmitido nos
princípios de Maio. Era uma entrevista feita ao Presidente da Juventude
Monárquica de Lisboa, Duarte Seabra. Gostaria de escrever alguns
comentários acerca do que vi e do que fiquei a pensar:
O ponto que mais me chamou a atenção é o facto de o formato do
programa em si não ser o mais adequado para transmitir mensagens
políticas muito elaboradas. Além de serem dois apresentadores, estes
cortam muitas vezes a palavra ao entrevistado e criam um ambiente que é
mais de conversa que de entrevista. Para programas deste tipo, o ideal é
transmitir ideias da forma mais curta e perceptível possível. Uma frase
não deve durar mais de 15 a 20 segundos a ser dita e o discurso não
deve ser muito apressado à custa disso. Visto isso, parece-me que o
nosso jovem monárquico não soube jogar com o formato do programa.
Notou-se a sua falta de à-vontade e algum nervosismo, quer no tom rápido
e algo atrapalhado do discurso, quer na facilidade com que se perdia no
que estava a dizer ao ser interrompido, ou entrar por exemplos. Tentou
falar como se estivesse num debate ou entrevista, na qual o
entrevistador ou moderador tenta não cortar a palavra a quem convidou,
por isso demorava demais, queria dizer tudo tintim por tintim e falava
muito rapidamente para não ser interrompido. O resultado foi um discurso
pouco claro, pouco esclarecedor e com várias gafes.
Quando ao nosso colega Duarte Seabra foi perguntado qual a grande
diferença entre monárquicos e republicanos, a resposta que deu foi
desapontante. Começou bem, quando resumiu ao dizer “eu sou monárquico, sou igual a ti em tudo, a única diferença é uma opinião em que eu sou monárquico e tu és republicano”.
De facto assim é. Os monárquicos não são «avis raras», não vivem num
passado quimérico, num qualquer quinto império. Vivem o seu dia-a-dia,
trabalham, vão à escola, ficam presos no trânsito, chateiam-se com as
namoradas, aturam o chefe etc. Assim, o nosso colega monárquico começou
por falar bem, mas depois perdeu-se. Quis explicar porque é monárquico e
não o soube fazer. Fiquei sem perceber porque se preocupou mais em
clarificar que não é monárquico por influência familiar do que em dizer
porque o é.
Por outro lado, fez bem em colocar Isabel II da Grã-Bretanha como um
caso de excepção, por governar várias monarquias e não uma só. Com
efeito, o passado imperial britânico (ainda muito recente) assim como o
prestígio e poder que tem como rainha de vários tronos importantes
(recorde-se só o peso mundial da economia do Reino Unido, Canadá e
Austrália juntas) dá à monarca britânica um estatuto separado nas
monarquias europeias.
De resto, parece-me que muito do que é a monarquia e o papel do rei
numa monarquia europeia ficou por explicar bem, ou pelo menos de forma
que se entendesse. Abordou bastante o papel do rei como representante da
nação, o seu papel de moderador isento na vida política nacional e
soube salientar a melhor preparação política que os reis levam para as
suas funções, e que falta aos presidentes (cuja eleição abre portas a
muitos indivíduos bem falantes mas totalmente incompetentes). Mas ter um
rei em vez de um presidente tem muito mais que se lhe diga! Não era
necessário explicar tintim por tintim cada uma destas ideias, bastava
ter dito mais ideias de um modo mais breve, sem divagar em explicações
detalhadas que o formato do programa não favorecia.
Por último, refere que o Centenário da República foi excelente porque
se debateu a Monarquia e caíram por terra muitas ideias pré-concebidas
sobre ela. Eu pessoalmente não concordo totalmente com isso. É verdade
que houve imensos debates, e que muitas ideias que existiam foram postas
de lado. Mas por outro lado, não deixa de ser verdade que foi também
oportunidade para uma massiva campanha de branqueamento da História, por
parte das instituições do Estado, que procuraram de algum modo
reabilitar a Primeira República e o ideário republicano junto da massa
mais popular. Houve programas de televisão em televisão pública onde a
ideia passada da Monarquia era tão má que se tornava anedótica e risível
para mim, mas que pessoas mais ingénuas engolem facilmente! Balanço da
intervenção televisiva do nosso correligionário?
Honestamente não me pareceu negativo. Mas também não foi positivo. A
desadequação entre o formato do programa e o que ele queria dizer e
fazer deram azo a muita ideia mal explicada, a muita interrupção e a uma
intervenção que, em suma, não deixou a monarquia mal vista mas também
não convence ninguém acerca dela. Também não ajudou estar tão nervoso,
ou parecer tão nervoso, e falar de modo tão rápido.
Filipe Manuel Dias Neto
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