Chegaram e já se instalaram os que de
fora vêm impor a receita que nos garantiam não ser necessária. Como é
sabido e tem sido repetido até à exaustão, iremos viver tempos de grande
dificuldade. Claro que quem nos pôs nesta miserenta situação, uma trupe
de sucessivos irresponsáveis habituados a gerir à tripa forra recursos
que não são seus, ao sabor dos ciclos eleitorais e das conjunturas,
muito provavelmente, não sentirá remorsos nem um pingo de vergonha. Que
não têm vergonha já se sabe. Que não nos respeitam também não se duvida.
Mas não reside nisto o nosso problema. O grave é não nos darmos nós ao
respeito.
Se estivermos minimamente atentos ao que
se vai publicando lá fora sobre Portugal e sobre a sua triste situação,
percebemos não ser muito abonatória a ideia que têm de nós e da
capacidade de nos regermos. E, na verdade, percebe-se. Chauvinismos à
parte, não é muito difícil de compreender o desconforto de quem, não
tendo qualquer responsabilidades no nosso despautério, nem sequer uma
vaga culpa in eligendo, vai pagar as pantominices desta caduca república.
O cenário em que hoje nos vemos é fruto
de uma laboriosa prodigalidade de aventureiros e mentirosos que não se
limitam a pôr em causa os nossos já magros cabedais. Com manifesta e
recalcitrante ineptidão, ferem de morte a nossa credibilidade externa, a
nossa compostura internacional e a honra com que nos apresentávamos no
teatro das nações.
O medo que devotamos às chamadas
ditaduras nacionais não é suficiente para que rechacemos aquelas que nos
vêm do exterior. Claro que agora é tarde. Não pode corrigir-se o tiro
que foi já desferido, mas deve a experiência do erro anterior ajudar a
preparar o próximo disparo.
Não será tarde porém para nos
convencermos de que todas as crises em que constantemente tropeçamos,
umas mais económicas, outras mais financeiras, mas todas, sempre,
políticas, são afinal emanação de valores pífios, transitórios e, as
mais das vezes, contraditórios. Não será tarde, como digo. Mas não temos
mais tempo. Se não tomarmos colectivamente uma atitude, se continuarmos
ronceiramente a adiar a restauração dos nossos valores tradicionais,
acontecerá connosco o que sucede com o nosso serviço de saúde. Ou vêm
médicos estrangeiros salvar-nos ou morremos sentados numa cadeira de pau
à espera de uma consulta.
Nuno Pombo in Correio Real nº 5 Maio 2011
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