Num país que perdeu a memória, tudo é considerado histórico, desde três
golos marcados fora de portas, até a uma subida de divisão, a chegada de
Mourinho para banhos no Algarve, uma Páscoa sem mortes na estrada, ou
um pepino do Entroncamento. Hoje foi a vez do Parlamento, completamente
derretido e em delíquios pela eleição da "primeira mulher a desempenhar
um cargo máximo do Estado".
Como se fosse verdade!
Sabemos
que a Senhora Assunção Esteves não terá a tarefa facilitada, dada a
actual conjuntura que o país vive, mas daí a saltar-se sobre a memória
da verdadeira História, vai um tanto. Tivemos duas mulheres Chefes do
Estado e outras que estiveram para sê-lo, embora os acasos da vida o
tivessem impedido pelo seu desaparecimento antes do tempo ou pela sua
passagem para segundo plano. Tivemos uma
Catarina de Áustria, conscienciosa e infatigável trabalhadora que com abnegação foi Regente. A espanhola
Luísa de Gusmão,
foi naquelas horas de desastre esperado do regresso da opressão
estrangeira, o baluarte de firmeza que ao comando da Regência,
administrou um país falido e atacado na Europa e no Ultramar. Regentes
foram outras mulheres, como
Catarina de Bragança,
Isabel Maria de Bragança e as Rainhas
Maria Pia de Sabóia e
Amélia de Orleães,
entre outras. Em qualquer um dos mencionados casos, com
responsabilidades infinitamente superiores àquelas que Assunção Esteves
enfrenta e no entanto, todas desempenharam a sua obrigação com o sucesso
que a História reconheceu.
Assunção
Esteves não enfrenta qualquer invasão militar estrangeira e não tem de
se preocupar com o império que nos tempos de Catarina de Áustria, ia de
Caminha a Macau. É claro que a Presidente do parlamento terá umas tantas
dores de cabeça com a lida das tricas inter-partidárias - e uns tantos
namoricos entre deputados(as) e deputadas (os) -, mas enfim, há que não
exagerar. Pelos vistos, os nossos representantes não medem as proporções
e dedicam-se à auto-complacência, cumprindo a sua tradição.
Não tendo a noção do ridículo, o Parlamento está desvanecido porque é dirigido por uma "das suas", seja lá isso o que for.
Nuno Castelo-Branco
Sem comentários:
Enviar um comentário