Duarte Pio Nuno João Henrique Pedro Miguel Gabriel Rafael de
Bragança é o nome completo de um novo cidadão timorense, por resolução
tomada pelo Parlamento Nacional, revelou hoje à Lusa fonte parlamentar.
Trata-se do pretendente da coroa portuguesa, a quem o Parlamento de
Timor-Leste decidiu atribuir a cidadania, numa resolução subscrita por deputados
de todas as bancadas, exceto do Partido de Unidade Nacional
(PUN), por entender que a nacionalidade deveria ser concedida pelo Ministério da
Justiça.
A votação registou duas abstenções e nenhum voto contra, sendo concedida ao
herdeiro do trono de Portugal a cidadania de Timor-Leste a
título excecional, “por altos e relevantes serviços prestados a Timor-Leste e ao
seu povo”.
“Desde 1975 e nos momentos mais difíceis em que a luta pela independência não
era falada, nem comentada pelos meios de comunicação internacionais, S.A.R.
Dom Duarte de Bragança, foi um dos maiores ativistas em prol da
causa timorense, advogando desde cedo o direito à auto-determinação do Povo
timorense. Foram inúmeras as campanhas em que se envolveu, de onde se destacam a
campanha “Timor 87 Vamos Ajudar” e em 1992 a campanha que envolveu o navio
“Lusitânia Expresso”.
O “Lusitânia Expresso”, que transportava um grande grupo de personalidades
timorenses, tinha como missão atracar o navio em Díli, o que não aconteceu, por
ter sido impedido pela marinha de guerra indonésia, mas o objetivo de alertar o
mundo para a causa timorense foi alcançado”, justifica a resolução
parlamentar.
S.A.R. O Senhor Dom Duarte não embarcou no "Lusitânia" a pedido dos Senhores Bispos de Timor. Estes receavam que a presença a bordo de S.A.R. pudesse levar a uma insurreição popular, cujas consequências seriam dramáticas.
Em contactos com o atual Presidente da República, José Ramos
Horta, e com o então administrador apostólico de Díli, Ximenes Belo,
procurou, com o conhecimento do ministro dos Negócios Estrangeiros da época,
Jaime Gama, estabelecer um plano de paz e convidou Kartika Sukarno, filha do
Presidente Sukarno e irmã da depois Presidente Megawati, a visitar Portugal.
Em 1997 Duarte Pio deslocou-se a Jacarta, onde foi recebido
pelo ministro indonésio dos Negócios Estrangeiros Ali Alatas, e pelo
vice-Presidente Jusuf Habibi, a quem expôs a proposta da realização de um
referendo em Timor, recusada pelo Presidente Suharto.
Não lhe tendo sido autorizada a visita a Xanana Gusmão na
prisão, Duarte Pio conseguiu deslocar-se a Timor-Leste, a convite de Ximenes
Belo, onde contactou com elementos da resistência.
Com a ascensão de Jusuf Habibi à Presidência Indonésia e a
democratização do regime, este recuperou a ideia do referendo, que veio a ser
realizado sob os auspícios das Nações Unidas e resultou na independência de
Timor-Leste.
A resolução destaca ainda “o papel fundamental que S.A.R. Dom Duarte
de Bragança teve no apoio às comunidades timorenses que foram acolhidas
em Portugal”.
Além da resolução relativa ao representante da família real portuguesa, o
Parlamento Nacional aprovou uma outra resolução que concede a nacionalidade a um
conjunto de religiosos por altos serviços prestados ao país, entre os quais
vários sacerdotes portugueses como os padres Felgueiras, Martins e João de Deus,
que se mantiveram em Timor durante a ocupação, para onde haviam vindo como
missionários, nalguns casos desde 1954.
(In i 08-Jun-2011)
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