Este estranho fenómeno que constitui a Nação Portuguesa, um
irredutível povo num pobre território sitiado no extremo ocidental da
Europa, teve a sua génese, expandiu-se e desenvolveu-se, da Idade Média à
diáspora dos Descobrimentos, até ao regime parlamentar constitucional,
alicerçado em duas fundamentais e resilientes instituições que
organicamente se equiponderavam: a Instituição Real e os Municípios.
A
primeira, uma fórmula politicamente isenta e unificadora dum Estado
disputado pelos eternos partidos (nas suas diversas fórmulas de “partes”
na corrida pela governança) foi barbaramente derrubada entre 1908 e
1910, tendo sido substituída por uma tosca ficção de isenção e desapego,
conhecida por “presidente”.
A segunda Instituição, os Municípios, o
último reduto da autonomia local, contra a macrocefalia do Estado,
prepara-se para ser violentamente atacado pela tecnocracia dos gabinetes
da Praça do Comércio.
Pela minha parte, não me parece que a
desregulação, o caciquismo ou o despesismo municipal se possam resolver
com um novo mapa autárquico desenhado e régua e esquadro: acontece que,
no caso de se fundirem duas autarquias de dez mil habitantes que
empreguem cada uma metade dos seus eleitores, a despesa camarária em
assistencialismo ou emprego artificial simplesmente duplicará. Na mesma
proporção das rotundas, fontanários ou ruas desertificadas. A matriz que
proporcionou a nossa Nação, essa continuará a ser metodicamente
desmantelada pelo prato de lentilhas que hoje é o mito duma federação
europeia. Esta não é uma causa para o Sr. Fernando Ruas nem do Bloco de
Esquerda ou de Direita: esta deverá ser, no meu entender, uma Causa
Real.
publicado por João Távora em Real Associação de Lisboa
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