Pugnar pela sua extinção mais não é do que uma forma encapotada e ardilosa de atacar a existência da instituição militar
Em defesa do Colégio Militar
O Colégio
Militar tem mais de dois séculos de existência e, embora haja
avaliadores com créditos bem mais firmados e independentes do que os
meus, considero que pelos exames por que passou ao longo da sua vida
é-lhe devida uma nota de média elevada. Não é pouco, para 208 anos e
para largos milhares de jovens que nele aprenderam bem mais do que os
conteúdos programáticos das disciplinas curriculares.
À época em que o Colégio Militar foi criado, os tempos eram conturbados,
mas isso não impediu que já nessa altura se revelassem homens de visão,
criativos e inovadores, enérgicos e determinados, como foi o caso de
António Teixeira Rebelo, então coronel do Exército e futuro marechal.
Curiosamente em 1803 era regente do
Reino de Portugal o príncipe D. João (futuro rei D. João VI), trisavô de
Duarte Pio de Bragança, que foi aluno do Colégio – o n.º 97 entrado em
1960 e que é hoje um referencial de valores que é justo realçar no meio
da desestruturação que campeia.
Quando, nos primórdios do século XIX, António Teixeira Rebelo começou a
conceber e depois a materializar a criação de um estabelecimento de
ensino, nos moldes em que o pensou, estava seguramente muito longe de
pensar que, na sequência dessa ideia, ele se viesse a transformar no que
foi e é o Colégio Militar, no que ele representou e representa, nas
vicissitudes por que passou e no significado que teve e tem não só para
os que o frequentaram e as respectivas famílias, mas também, podemos
dizê-lo, para o país no seu conjunto.
Estava certamente distante de admitir que o Colégio fosse alcandorado à
fama e à influência de que veio a desfrutar, pelas provas prestadas de
forma pública, quanto à excelência da educação proporcionada aos seus
alunos, nas suas múltiplas componentes, de que não devem ser descuradas,
pela sua relevância, a educação física, mas também a cívica, a
instrução militar e desportos mais completos, como a equitação, a
esgrima e o pára-quedismo.
Porque, apesar de na sua matriz fundadora o Colégio se destinar
fundamentalmente a fornecer a aprendizagem de matérias escolares, o
certo é que a formação global não se restringiu às disciplinas
curriculares, antes foi completada por uma sólida educação moral
dispensada aos seus alunos.
Os últimos anos foram, que me lembre, dos que mais fustigaram o
prestígio do Colégio, e dos outros estabelecimentos militares de ensino,
no âmbito de um quadro que caracterizo como de revolução silenciosa,
com maior ou menor ruído, que vai fazendo o seu percurso para atacar o
que são alguns dos principais pilares estruturantes da nação: as Forças
Armadas e a família. Contexto no qual se inserem artigos como o que o
professor Vital Moreira assinou no PÚBLICO de dia 2 de Agosto.
Vale a pena relembrar que compete ao Estado, nos termos da Constituição
Portuguesa em vigor, entre demasiadas e certamente excessivas funções,
as de promover o ensino, assegurar a formação, nas suas múltiplas
vertentes, dos jovens, e dignificar os valores que se podem considerar
integrantes da identidade nacional, incutindo-os desde cedo nos
adolescentes; pelo menos é assim que eu também leio a principal lei da
nação.
Ora, alguém tem dúvidas de que o Colégio Militar continua a constituir
um importante instrumento para o cumprimento de tais desideratos? Que
fornece, de forma ímpar, uma educação que pode ser qualificada como
integral? Que os seus alunos, durante a permanência no Colégio, aprendem
e solidificam todo um conjunto de princípios que, por mais que a
desordem mundial evolua, e também por isso, se revelam da maior
importância para defrontar os desafios com que diariamente todos somos
confrontados? Que a preparação global dispensada aos alunos do Colégio
Militar se tem afirmado nos mais variados sectores de actividade da vida
nacional? Que, em momentos cruciais da vida do nosso país, a aprendizagem e a vivência que tiveram os torna especialmente
aptos para as mais difíceis missões e as mais delicadas situações?
Que o Colégio Militar é elitista, mas à saída, não à entrada? Alguém tem
dúvidas da importância, para um país, da formação de escóis? E do bom
exemplo que o Colégio Militar pode constituir para outras escolas do
nosso país? Existem dúvidas sobre a indispensabilidade da instituição
militar?
Pugnar pela extinção do Instituto de Odivelas, do Instituto dos Pupilos
do Exército e do Colégio Militar mais não é do que uma forma encapotada e
ardilosa de atacar a existência da instituição militar.
Miguel Félix António
Ex-aluno do Colégio Militar (curso de entrada de 1972), jurista/gestor
Fonte: NRP CACINE
Entrevista a SAR D. Duarte Pio, no Colégio Militar
Sem comentários:
Enviar um comentário