Jornal “Diário do Minho” de 8 de Setembro, pág. 17
CRISES ou CRESCIMENTO?
Quando
abordamos as memórias históricas surgem as crises, como as invasões
francesas, entre 1808 e 1819, o domínio inglês que se lhe seguiu, a
revolução liberal de 1820, que marcou o início de um novo ciclo da
monarquia, a guerra civil de 1832, a revolta da Maria da Fonte em 1846, o
ultimato inglês e a depressão económica da década de 90 do séc. XIX, o
regicídio de 1908, implantação da República em 1910, o tumulto dos
vários governos republicanos, a participação na Primeira Guerra Mundial,
com soldados mortos e famílias debeladas, a falta de mantimentos na
Segunda Guerra Mundial, o golpe de 28 de Maio de 1926 e o Estado Novo, a
guerra nas colónias com mais soldados mortos e famílias destroçadas.
Crises e mais crises!
Presenciando
o crescimento do homem, verificamos que, nos vários ciclos da vida,
infância, adolescência, maturidade e velhice, despontam crises que
surgem pelas mais variadas razões: problemas familiares, insucesso
escolar, conflitos com o grupo de pares ou com o(a) parceiro(a), doença,
acidente, sexualidade, entre outros. Nestas crises, vive-se confuso.
Escolher é o grande dilema. Gera-se, assim, um conflito interior em que a
pessoa se sente incapaz de ultrapassar barreiras, perde interesse por
tudo, família, amigos, trabalho. Prefere ficar isolada, alterando com
isso a forma como age e pensa, procurando só encontrar culpados para
justificar a “tempestade emocional” que se apossou dela e a tornou vazia
e vítima. A sua incapacidade de obedecer, de se submeter a si próprio e
de se movimentar em direcção à mudança torna-se a forma mais fácil de
se manter num mundo de pura fantasia, onde é mais fácil ser egoísta e
irresponsável do que mudar e crescer. Crises!
Quando
observamos o mundo, surgem repetidamente expressões da(s) crise(s),
crise económica, social e dos valores, muitas vezes sem chegarmos a
perceber e alcançar o seu verdadeiro significado. Os jornais, por
exemplo, em letras bem gordas, fazem o retrato do país e do mundo, sem
matizes e contrastes, em que tudo parece urgente, mesmo sem o ser! Temas
como a guerra e a violência, os desencontros da política e as
oscilações da economia, a globalização e a preocupação ambiental estão
na ordem do dia.
Neste
quadro, também a nossa congénita perturbação de lidar com a
temporalidade e a nossa atávica resistência à mudança, volta e meia,
evocam sucessivas crises com o mesmo tom apocalíptico com que outros
invocam o devir. E tudo isto porque se insiste em recusar a perda de um
qualquer valor, situando, por isso, o discurso entre a retórica e a
poética, entre o saudosismo nostálgico e a crença de se ter vivido um
momento de segurança e bem-estar que, chegado ao fim, se compadece com o
prazer da crítica, como forma de vida moribunda. O que nos leva a um
disfarçado “mal-dizer” que mais não é do que uma tendência narcísica,
onde nos julgamos poderosos, únicos, sem qualquer definição de culpa e
como uma espécie de desistência. Tudo se aceita passivamente, de forma
preguiçosa e dogmática. Nem falta a indiferença e o derrotismo. A ordem
parece apontar para uma desordem continuada. Amamos com a cabeça,
pensamos com o coração, agimos electronicamente e vivemos num tempo e
espaço global. Estamos em crise!
Resta-nos
apenas o tempo para que cada um de nós aprenda a ler as situações e a
avançar na bruma confusa dos acontecimentos que a História nos vai
reservando.
Sílvia Oliveira
Deputada Municipal pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga
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