Durante décadas a direita tradicional liberal fez a apologia dos
mercados como motor da humanidade. Do outro lado a esquerda socialista
agarrava-se ao estado tutor centralizador, mais tarde convertido em
“estado social”. Hoje temos um mundo em crise, motivada por esta
dicotomia de sistemas que esqueceu uma terceira via: as pessoas e a sua
organização comunitária natural.
Vivemos numa sociedade de informação e comunicação que promove a
participação e possibilita o regresso à vida comunitária. Podem existir
fórmulas de democracia que sejam diferentes da representação partidária
que temos. A democracia directa e participativa, é nos dias de hoje, com
os meios de comunicação existentes, cada vez mais uma possibilidade
real. Pelo menos ao nível da organização comunal. Os municípios
portugueses, com toda a sua identidade histórica, podiam ser entidades
comunais, com poderes administrativos substancialmente maiores e que
poderiam ser governados por um sistema de democracia directa (assente
nas assembleias comunais). Depois, basta coroar essas repúblicas de
homens livres, com um Rei que una a nação. Bastaria um rei para unir a
nação e alguns ministros (eleitos por uma assembleia de representantes
comunais e corporativos) para questões de administração central e
relações exteriores. Um governo com substancialmente menos poderes. Um
Rei que representa a nação para a chefia do estado, das forças armadas e
dos negócios estrangeiros. É apenas uma ideia diferente de sociedade.
Mas merece pelo menos o respeito de alternativa perante a falência do
modelo actual.
Se continuarmos na velha dicotomia entre a apologia dos mercados e do
estado social, apenas continuamos a criar seres egoístas, que lutam nas
ruas, não pela liberdade ou por outra qualquer causa comunitária, mas
por um LCD, um plasma ou um computador, que possam levar para a sua casa
depois da montra partida. Apenas continuamos a alimentar predadores dos
solos férteis e dos recursos naturais, que não se importam com o que
poderá acontecer nas gerações seguintes, desde que consigam obter o
lucro fácil numa qualquer operação especulativa.
Devolvamos pois o poder às pessoas e às suas comunidades.
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