10
de Junho é o Dia de Camões? Sim, sem dúvida. É praticamente a única
data completa de que há certeza relativamente ao nosso grande poeta.
10
de Junho é o Dia das Comunidades Portuguesas? Sim, talvez, porque não? O
autor de «Os Lusíadas» percorreu grande parte do Mundo em vida, pelo
que pode constituir como que uma figura tutelar de todos os portugueses
que depois dele se instalaram em todos os pontos do Mundo.
10
de Junho é o Dia de Portugal? Não, de maneira nenhuma. O dia nacional
de um país deve ser, logicamente, uma data em que o mesmo afirmou,
iniciou e/ou reforçou a sua identidade, a sua independência, a sua
natureza. E para nós o décimo dia do sexto mês representa precisamente o
oposto. 10 de Junho de 1580 não foi só a data da morte de Luís de
Camões. Foi também, de certo modo, a data da morte - de uma certa forma
de morte – da nossa pátria: aquele foi também o ano em que Filipe de
Espanha foi entronizado Rei de Portugal, na sequência das mortes de D.
Sebastião e do Cardeal D. Henrique (sem deixarem sucessores) e da
derrota de D. António, Prior do Crato.
Por
outras palavras: o actual «Dia de Portugal» é aquele que evoca a sua
maior derrota; é o dia da morte do homem que viria a tornar-se não só o
seu artista mais celebrado mas também um do seus maiores símbolos, se
não mesmo o maior; num certo sentido, esta nação deixou de existir
depois de Camões deixar de existir.
É
absurdo, patético, ridículo? Sim, sem dúvida. Mas não para os
republicanos, que foram quem preconizaram e instituíram o 10 de Junho
como Dia de Portugal. Há que lembrar que eles - em especial os de
«esquerda» - sempre foram tendencialmente iberistas, pelo que não os
incomoda que o «Dia de Portugal» seja, na prática, o «Dia da União com
Espanha».
E
qual deveria ser o – verdadeiro – Dia de Portugal? Existem várias
hipóteses, diferentes alternativas. 24 de Junho (de 1128), dia da
Batalha de São Mamede; ou 25 de Julho (de 1139), dia da Batalha de
Ourique - momentos decisivos da ascensão e aclamação de D. Afonso
Henriques enquanto Rei, e, por arrastamento, da formação e da
consolidação de Portugal. 5 de Outubro (de 1143!), dia da assinatura do
Tratado de Zamora, que reconheceu - pela primeira vez - a independência
do nosso país. 1 de Dezembro (de 1640), quando se restaurou a
independência.
Porém,
o dia que mais atributos reúne para merecer a designação de –
verdadeiro – Dia de Portugal é 14 de Agosto. Nesta data, em 1385, a
Batalha de Aljubarrota – culminar de uma crise que proporcionou (por uma
vez) uma notável coesão entre os diferentes estratos da população –
assegurou, mais do que a sobrevivência da nação, a sua futura expansão:
confirmou como Rei D. João I, que fundou a dinastia de Avis e gerou a
Ínclita Geração, primeira responsável pelos Descobrimentos. O recontro
do Campo de São Jorge constituiu igualmente a primeira grande
manifestação efectiva da aliança luso-inglesa e ainda ofereceu às lendas
heróis mais ou menos míticos – Nuno Álvares Pereira, a Ala dos
Namorados, Brites de Almeida.
Só
mesmo os ignorantes, os indiferentes e os interesseiros é que podem
continuar a defender o 10 de Junho como o Dia de Portugal.
Artigo publicado com o título «Hoje não é Dia de Portugal» no jornal Público Nº 6645, 2008/6/10
--------------------------------------
Hoje,
14 de Agosto, passa mais um aniversário da Batalha de Aljubarrota de
1385, e esta é a data que eu considero que deveria ser o nosso dia
nacional. O que eu defendi no meu artigo «Hoje não é Dia de Portugal»,
publicado no jornal Público a 10 de Junho último, e que pode agora ser
lido no Esquinas e no Nova Águia.- OCTANAS
Sem comentários:
Enviar um comentário