Não é engano e muito menos
contraditório e ao inverter a frase coloco o ênfase na língua porque Pessoa ao
afirmar “A minha pátria é a língua portuguesa” estava longe de imaginar que a
sua amada língua seria adulterada e ultrajada da forma que hoje assume sob o
nome de “Novo Acordo Ortográfico”. Evolução é crescimento não é humilhação.
Apedrejaram a minha língua, tratam-na com tal propriedade que chega a parecer
que temos de aprender a nossa própria língua. Sempre respeitámos as diferenças
culturais de todos. O respeito que sempre pusemos na forma como a transmitidos
deveria ser o mesmo com que nos deviam retribuir. Ao invés, temos que regredir
na nossa língua enquanto outros aperfeiçoam . Temos de deixar de saber falar e
escrever na nossa própria língua para que outros se sintam melhor no seu parco
conhecimento. Sempre soubemos tolerar os estrangeirismos ainda que, actualmente,
julgue, desnecessários porque a língua portuguesa é tão rica que não necessita
de muitos acrescentos mas ainda assim sempre fomos tolerantes. E entenda-se que
os mesmos entraram na nossa língua por força da modernidade, a descoberta de
novas ideias e conceitos e também fruto da nossa experiência além mar, donde
trouxemos um número muito significativo de novas palavras.
Começámos por aceitar a dupla grafia
(vá-se lá saber porquê) e com isso apenas contribuímos para que o ensino no
exterior fosse dúbio. Consoante a língua for ensinada por um professor português
ou brasileiro assim o aluno aprenderá grafias diferentes. Um aluno timorense passará a escrever “óptimo” se o
professor for português, mas se o professor for brasileiro escreverá “ótimo”...
Agora, para além da dupla grafia preparamo-nos para desaprender a nossa
língua.
Um povo que depende economicamente
de outros não tem que depender também intelectualmente.
Muitas foram as palavras adoptadas
ao longo do tempo na nossa língua por força do que importávamos (ideias
incluídas) mas sempre tivemos a preocupação de as “aportuguesar”. Os neologismos
não deixam de ser interessantes o que, na minha opinião, significa crescimento e
riqueza. Agora adulterarmos as palavras é um caso muito diferente. Porque não
posso escrever facto com "c" se eu o pronuncio. Tenho lá culpa que outros por
força do seu sotaque o suprimam. Suprimam-no na linguagem falada mas nunca na
escrita. Quando aprendi a ler e a escrever ensinaram-me desde logo que havia
diferença entre a forma escrita e a forma falada. Recuso-me por isso a ultrajar
a minha língua só porque outros não a sabem ou não querem escrever.
Reparem nos ingleses e franceses.
Alguma destas línguas já fez um acordo ortográfico? Não creio que tenham tido
alguma vez essa preocupação. No entanto, em Inglaterra fala-se inglês e em
França fala-se francês sem quaisquer alterações à forma original. A forma como
se falam estas línguas no mundo parece não alterar a raíz. E no entanto, tal
como a língua portuguesa, é na origem que tem o menor número de falantes...
O objectivo do novo Acordo Ortográfico, dizem, é criar
um padrão único para fortalecer a língua portuguesa no mundo. Pois bem, acabem
com a dupla grafia (que é um perfeito disparate) e imprimam mais rigor no ensino
da língua além fronteiras e criem-se mecanismos para a divulgação da língua
portuguesa a nível global.
Se se considerava importante que
todos os países lusófonos tivessem uma mesma ortografia então porque não
adoptaram a língua mãe. “És filha de Portugal e Mãe de muitas nações” -
parece-me lógico (pelo menos a mim) que o aluno aprenda com o mestre.
Talvez se tivessem pensado ao contrário teríamos posto
toda a gente a escrever muito melhor. Ou seja, se tivessem ouvido os que
utilizam a língua ao invés dos que se limitam a estudar os seus fenómenos, o
resultado teria sido, inevitavelmente, o oposto.
A supressão de
certos acentos só vem dar razão aqueles que nunca souberam acentuar uma palavra.
Faz lembrar as “Novas Oportunidades” onde se premeia (perdoem-me as tais
excepções) a preguiça e se incentiva a ignorância.
Como vou diferenciar "pára" (verbo)
de "para" (preposição) ? A falar os sons são diferentes mas quando os tiver que
escrever terei que ter o cuidado de explicar cuidadosamente qual das palavras
pretendo dizer. Por exemplo, se estiver a escrever um diálogo e quiser dizer –
Pára! Tenho que escrever – Para! E acrescentar à frente (do verbo parar...).
Ridículo no mínimo.
Como vou homenagear os grandes
homens ? Não poderei dizer homem com H grande e passarei a chamar-lhes omens sem
H ! Ah! Não se assustem! Pelo menos para já, é certo que esta palavra mantém o H
mas com o passar dos tempos e se a moda pega ...
Segundo pude compreender, tratava-se da uniformização da
grafia e não da língua portuguesa., contudo as alterações introduzidas não são universais,
isto é, alteram-se determinadas grafias no Brasil e outra determinada grafia em
Portugal – não vejo pois unificação de critérios.
Diz-se ainda que um acordo desta
natureza implica a dimensão histórica, política, ideológica e económica dos
países envolvidos. Procura-se, a todo o custo, o respeito pela diferença de
culturas assumindo a igualdade de critérios. Eu pergunto, qual igualdade ? Nós,
portugueses abdicamos de cerca de 1,6% do vocabulário e os brasileiros alteram
apenas 0,5% - onde está a igualdade ? E se se alteram grafias para adequar às
especificidades culturais, quem respeita a origem e berço da língua ?
E quem se preocupou com a
especificidade da cultura africana ? Então e os timorenses vão adoptar a grafia
portuguesa ou a brasileira ? Sim, porque não se lembraram de criar a grafia
cabo-verdiana ou angolana ou moçambicana …E muito menos timorense …
A título de
curiosidade, note-se que no final da redacção do Acordo Ortográfico pode ler-se
registro público. Afinal escrevemos registo ou registro ? Se
o acordo foi redigido e assinado em Lisboa não se deveria ter escrito de acordo
com a ortografia portuguesa ??
Se os símbolos da minha nação são a bandeira, o hino e a
língua, parece-me legítimo questionar se alguém conjurar contra um deles comete
um crime contra a pátria. Que diferença existe entre alguém que espezinha a
bandeira e aquele que ultraja a língua? Se num caso é crime no outro também deve
ser... E o Padre António Vieira, por este andar bem pode continuar à espera do V
Império, passará a constar na história não como o Imperador da Língua Portuguesa
mas como Cônsul da Grafia Portuguesa.
Se consideramos a língua portuguesa como o mais
significativo elo que a todos une, este acordo será por certo o elemento de
desunião entre todos aqueles que por mais de quinhentos anos souberam e honraram
o seu verdadeiro significado.
Onde estão os amantes da língua portuguesa? Escondidos
atrás do Acordo Ortográfico? Por certo acocorados.
Todo este disparate só aconteceu porque três dos oito
membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), ratificaram as
regras gramaticais do documento proposto em 1990. Não deixa de ser curioso esta
modernice de dar às minorias a possibilidade de subjugar a maioria. Estou farta
da ditadura das minorias. Aprovam leis, fazem-se referendos quase sempre em nome
das minorias. Que foi feito da equidade e da tão falada democracia? Sou eu que
estou confusa ou impingiram-nos que num universo de oito, três são a maioria??
Só encontro na história paralelo na Idade Média. E se pensarmos melhor veremos
que hoje não queimamos os livros mas serão igualmente destruídos se se editarem
outros de acordo com novas regras... Já alguém imaginou os Lusíadas revistos à
luz do novo acordo ortográfico? Que faremos nós à nossas bibliotecas ?
Obsoletas, passarão a museus?!
E se "vox populi, vox Dei"* : "quem nasce torto tarde ou
nunca se endireita" – este acordo, espero, ficará para a história como um
nado-morto.
* - Para os defensores do novo acordo ortográfico que
por certo ficarão arrepiados pelo uso do latim (talvez também não saibam o seu
significado) – a voz do povo é a voz de Deus.
Por trinta dinheiros Judas entregou Jesus. Por muitas
moedas de ouro quis o Papa reconhecer Portugal como nação independente e por
muitos milhares de milhões terão alguns estropiado uma das mais antigas línguas,
senão a mais bela. Porém, Jesus cumpriu a sua missão: Portugal tornou-se uma
nação independente e espero que a língua portuguesa se liberte dos escolhos e se
afirme como língua universal., mantendo a sua identidade.
Importamos quase tudo, toleramos tudo, aceitamos todos ,
demos tudo mas não me tiram a língua porque é nela que se escreve SAUDADE e
FADO. Também se escreve PESSOA e CAMÕES e nela já se escreveu o
MUNDO.
Não me peçam que aceite quem pensa de maneira diferente
porque isso seria aceitar a infâmia que contra a minha pátria se abate. Quem
insulta a minha língua, insulta a minha pátria e quem o faz se não puder pela
Lei ser julgado que o seja pela Consciência dos Homens condenado.
A mim ninguém me põe a albarda em cima e por isso
continuarei a escrever na língua que Deus e a Pátria me deram.
"Oh gente da minha terra" "levantem-se que é
hora!".
Dina Lapa de Campos
14 de Novembro de 2011
Sem comentários:
Enviar um comentário