Oliveira Salazar
A citação encerra uma profunda e
antiga sabedoria, mas depara-se com um problema sério derivado da
natureza humana: é que toda a gente – à parte uns quantos “franciscanos”
– o que pretende, é ser rica. E, quanto aos povos, aplica-se aquele
trecho do Antigo Testamento que reza assim: “nenhuma cidade cercada resiste a uma mula carregada de ouro”…
Este último libelo explica, em
parte, o facto da Nobreza e do Alto Clero terem cedido tão facilmente às
teses de Filipe I, e é contumaz aos actuais iberistas e fascinados
pelas teses de Bruxelas!
No fundo, a sempre presente
dualidade entre os bens e os valores espirituais e os materiais; ou se
quisermos, a eterna luta entre o Bem e o Mal. É a adoração do “Deus
Mamon” (o dinheiro), em detrimento do Deus dos crentes, da Justiça e do
Amor, o qual não se cinge à Troposfera mas está, sobretudo, para além
dela.
O Deus Mamon apoderou-se da
sociedade portuguesa, do mesmo modo que, do anterior, se tinha apoderado
de todo o Ocidente, e com muito poucas peias.
A
actuação dos políticos, ignorantes ou comprometidos, ávidos de votos, e a
acção da propaganda e dos “média” atearam os eventos a um ritmo
alucinante.
Hoje o sonho do crescimento
económico constante e imparável acabou e o mito do crédito fácil e
barato, para sempre, terminou da pior forma. Como é da natureza das
coisas.
As pessoas estão a acordar de um
pesadelo súbito (embora mais do que anunciado), e não abriram bem os
olhos de estremunhadas que estão. Esta é a primeira razão porque não se revoltam.
A segunda razão
tem a ver com a ignorância, a falta de informação e a desorientação dos
espíritos. Numa primeira fase, os cidadãos, estão a ver se percebem o
que se passa e como vão ser afectados e sobreviver. Enquanto o mal for
só, ou maioritariamente, dos outros e, ou, não atingir proporções
calamitosas, a prioridade irá para a acomodação e para a limitação de
estragos. Quem tem algo a perder, quer perder o menos possível e isso
inibe-os de actuar. É uma atitude egoísta, certamente mas, sem embargo,
muito típica do género humano.
Em terceiro lugar
existem ainda muitas “almofadas” que, apesar de estarem a ser exauridas
rapidamente, ainda dão aconchego e esperança a muitos. Quero referir-me
a reservas existentes (apesar da poupança interna ter descido a mínimos
históricos); aos subsídios de desemprego e do rendimento mínimo
garantido; à “casa dos pais”; à diminuição do fluxo imigratório e ao
abandono de muitos imigrantes do território nacional; ao aumento da
emigração (os portugueses voltaram a emigrar às dezenas de milhar), etc.
A perda de hábitos de trabalho,
organização e disciplina, bem como a falta de qualificações e a falta de
interesse por muitos mesteres essenciais vai, também, levar o seu tempo
a resolver.
Finalmente,
e mais importante, as pessoas estão, aparentemente, “mansas” e pouco
activas na indignação, por uma questão psicológica ponderosa: estão de
consciência pesada!
Isto apesar da grande fatia da responsabilidade não lhes caber.
Porquê aquele sentir?
Porque, simplesmente, durante
mais de 30 anos (não são 30 dias), viram este “filme” correr frente aos
seus olhos e fingiram que não viram. Levaram demasiado tempo a perceber
que os políticos actuavam demagogicamente, mentiam e não cumpriam as
promessas que faziam. Isso era, porém, adequado às suas ilusões. Que
diabo, quem é que gosta que o confrontem com a dureza da verdade? E, a
partir de certa altura, em quem votar?
Por isso enquanto se verificou o
“venha a nós o vosso reino”, quase todos se acomodaram e muitos bateram
palmas: havia que usufruir dos subsídios a esmo; dos fundos de coesão,
aproveitados para tudo menos para o que deviam; do cartão de plástico. O
futuro que se danasse!
Ora se “todos” faziam assim, era
agora “eu” que me ia opor, ou não seguir o exemplo? Maria vai com as
outras, eis o ditado popular no seu esplendor; se os outros têm, eu
também quero ter…Deixar andar, etc.
Um “etc.”que até fez com que se
fechasse os olhos ao aumento exponencial da roubalheira, da corrupção,
do crime organizado, da bandalheira. Andar para trás nisto não vai ser
fácil, mas vai ser essencial.
Daí
que, os poucos que alertaram para o desvario e o descalabro, fossem
ignorados, ofendidos e apelidados de “profetas da desgraça”.
“Tremendista” era outro dos termos usados.
Por tudo isto as pessoas que, no
fundo, não são burras e têm consciência, estão de monco caído e muitas à
beira de um ataque de nervos.
Lembram-se da desgraça da “Descolonização”?
Pois ela deu-se e quase todos nós ficámos, outrossim, de má
consciência. A libertação de Timor do domínio indonésio e a reacção do
País, funcionou como uma espécie de catarse colectiva de expiação de
culpas, a essa má consciência. Lembram-se?
Assim nos desgraçámos e nos
deixámos desgraçar, agravado pelo facto de sermos relapsos a aprender,
de que não temos de nos queixar a não ser de nós próprios.
As pessoas, de um modo geral,
não gostam de ouvir estas coisas – razão primeira pela qual ninguém as
diz na televisão – mas são verdades cristalinas e incontornáveis.
A próxima catarse colectiva vem a caminho, só não se sabe é como nem quando.
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