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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

REAL PALÁCIO DAS NECESSIDADES


Consta que o Palácio das Necessidades é da autoria do famoso arquitecto italiano Giovanni Servandoni. Com efeito, desses mestres, o mais conhecido foi Caetano Tomás de Sousa, por ter acompanhado de forma continuada a construção deste monumento, considerando-se, portanto, ser ele o verdadeiro arquitecto das Necessidades.

Palácio das Necessidades - Residência Real de D. Maria II, D. Pedro V, D. Carlos I e D. Manuel II

A arquitectura do Palácio das Necessidades é fiel à estrutura característica do século XVIII. Com efeito, a fachada interior dá para um pátio de honra que servia para as entradas espectaculares das carruagens aquando das grandes festas de gala no Palácio. Ao procurar adaptar à sumptuária própria de uma Residência real a decoração dos interiores das salas e dos quartos das Necessidades, D. Pedro IV, ou melhor, D. Pedro, Duque de Bragança, assim designado como regente durante a menoridade de sua filha, D. Maria II, mandou, para o efeito, retirar todos os azulejos das paredes, colocar soalho com madeiras exóticas, envidraçar as janelas, em suma, fazer desaparecer, como por encanto, a anterior aparência conventual.

Uma jovem Soberana de quinze anos, D. Maria II, nascida no Rio de Janeiro e tendo frequentado a corte em Londres, sido recebida por Jorge IV em Windsor, bem como conhecido a corte em Viena, como neta materna do Imperador Francisco II de Áustria, e concluído a sua educação em Paris, ao chegar a Lisboa, em 23 de Setembro de 1833, era solenemente aguardada nas Necessidades, naquela que, pela sua harmonia e requinte, viria a ser uma das suas residências favoritas. Aqui viveu com o seu primeiro marido, o príncipe Augusto de Beauharnais, Duque de Leuchtenberg, apenas quatro meses, dado ter enviuvado muito cedo.

A Rainha D. Maria II, já casada, em segundas núpcias, com o Príncipe D.Fernando de Saxe-Coburg-Gotha, primo de Alberto de Saxe-Coburg-Gotha, marido da Rainha Vitória de Inglaterra, decide em 1844, empreender outras remodelações no Palácio das Necessidades. Para o efeito, foi incumbido o arquitecto da Casa Real, Joaquim Narciso Possidónio da Silva, de traçar os novos planos e de os executar. Este, por sua vez, solicitou a colaboração do cenógrafo do Teatro de São Carlos, Cinatti, para a direcção artística dos trabalhos em estuque e talha da decoração de interiores. Em relação às pinturas, D. Maria II e D. Fernando II recorreram ao maior mestre da época, António Manuel da Fonseca, que estudara em Roma.

Com efeito, são da autoria de Mestre Fonseca, entre outras, a Sala Etrusca ou das Damas, ao estilo de Pompeia, a primitiva Sala de Jantar, com motivos de caça e pesca, e a Sala Vermelha ou do Trono. As pinturas mais belas encontram-se na harmoniosa Sala Renascença, executadas pelo próprio Cinatti, que em medalhões no tecto e nas bandeiras das portas, nos apresenta os diferentes tipos arquitectónicos de casas europeias, enquadradas em paisagens graciosas. É de salientar que Cinatti reproduziu numa almofada do tecto, situada em frente à entrada, uma das fachadas do então novo Palácio da Pena. Acresce que D. Fernando II concluíu, inclusivamente, algumas dessas pinturas da Sala Renascença, tendo nelas introduzido figuras humanas impregnadas da sua sensibilidade artística.

Com a morte prematura de D. Maria II, D. Fernando, enquanto regente, continuou a residir no Palácio com os filhos, o futuro D. Pedro V, o futuro D. Luís I, D. João, D. Maria Ana que veio a casar com o príncipe Frederico Augusto Jorge de Saxe, D. Antónia que veio a casar com o príncipe herdeiro Leopoldo de Hohenzollern-Sigmaringen, D. Fernando e D. Augusto.

Quando em 1858, D. Pedro V começou a ultimar os preparativos para o seu casamento com a Princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, solicitou ao pai e aos irmãos que se transferissem para o antigo Convento das Necessidades, que estava desabitado e fora adaptado a residência, com o intuito de não se quebrarem, com essa proximidade, os laços estreitos de convivência próprios de uma família unida.

O jovem rei D. Pedro V, ao querer impressionar a sua consorte, não se poupou a despesas com os trabalhos de decoração dos aposentos da futura rainha. Com efeito, móveis, candeeiros, tecidos para estofos e cortinados, carpetes etc., foram adquiridos, principalmente, em Paris e, também, em Lisboa.

Para a rainha D. Estefânia foi preparado um novo quarto de dormir, em tons de marfim, usufruindo de vista para o pequeno jardim interior do buxo ou jardim do Imperador D. Pedro. No tecto, o rei mandou executar, em estuque, as iniciais entrelaçadas dos nomes Pedro e Stephanie com a coroa real sobreposta, como ainda hoje se pode observar. Na sala contígua, situava-se o toucador de D. Estefânia, com as portas pintadas com graciosas grinaldas de flores coloridas, ostentando ao centro a data do casamento, 1858.

Concluída a nova decoração, o conjunto deve ter resultado de tal forma encantador que as primeiras impressões de D. Estefânia são do mais sincero agrado. Com efeito, para quem visitar o Palácio de Jagerhof, em Dusseldorf, onde como Princesa de Hohenzollern-Sigmaringen, a jovem Rainha de Portugal tinha vivido até então, melhor se compreende a sua empatia pela Necessidades, dado que a semelhança entre os dois palácios é notória. Ambos foram construídos no século XVIII, relativamente pequenos, de cor rósea e situados à beira de um parque.

É de recordar que D. Estefânia estava habituada a dar longos passeios no Hofgarten, prazer que continuou a desfrutar na Tapada das Necessidades, a maioria das vezes, acompanhada do marido. Quando estava só, D. Estefânia preferia passear no terraço que comunicava com os seus aposentos e deitava para o Largo das Necessidades, ou então, no Pátio do Imperador, modificado por D. Fernando II em jardim interior do buxo, com uma taça ao centro, proveniente do Parque de Queluz.

A vida idílica do casal real no Palácio cor-de-rosa estava sentenciada a uma curta duração, ao contrário do final feliz de um conto de fadas. Quis o destino que a morte prematura cedo levasse D. Estefânia, acometida por uma angina diftérica que em nove dias a vitimou. Chegada, triunfalmente, a Lisboa em 17 de Maio de 1858, veio a falecer nas Necessidades a 17 de Julho de 1859, apenas com 22 anos.

O Rei D. Pedro V, destroçado, perdera a vontade de viver. A alegria e a graciosidade da jovem rainha desapareceram para sempre dos salões do Palácio das Necessidades. As janelas foram fechadas em sinal de luto, tão viva fora a dor sentida que a própria luz do dia tanto feria. Com o tempo, o rei dedicou-se, somente, com paixão aos deveres inerentes ao seu cargo, colocando, acima de tudo, a vontade de o bem desempenhar.

Após uma caçada em Vila Viçosa, em que o rei se fizera acompanhar pelos irmãos, os infantes D. Fernando e D. Augusto, todos regressaram com os primeiros sintomas da febre tifóide que os iria vitimar. Com efeito, o infante D. Fernando faleceu, em 4 de Novembro, e o rei D. Pedro V, em 11 de Novembro desse mesmo ano de 1861, com 24 anos. Mais uma vez, a morte passara por este Palácio em circunstâncias trágicas. A juventude, subitamente, interrompida do rei D. Pedro V, aliada ao seu temperamento romântico, grave e sério, à sua profunda inteligência, ao seu escrúpulo profissional e à sua curta felicidade com D. Estefânia, tudo se conjugara para o tornar muito estimado do povo português.

Por ocasião das exéquias de D. Pedro V, as salas do Palácio das Necessidades foram, como nunca mais se registou, invadidas por uma multidão compacta que esperava sem arredar do Largo das Necessidades, para prestar a sua derradeira homenagem. Portugal chorava, então, o desaparecimento de um dos seus mais queridos reis.

D. Luís I, ao suceder nestas circunstâncias trágicas ao irmão abandonou, para sempre, o Palácio das Necessidades, ficando este fechado. O monarca instalou-se, provisoriamente, no Paço de Caxias e, já casado com D. Maria Pia de Sabóia, filha do rei Vitor Manuel I de Itália, passou a habitar o Palácio da Ajuda, tornando-se este, definitivamente, a sua residência oficial.

Decorridos alguns anos, em 1886, aquando do casamento do príncipe real D. Carlos com a princesa Amélia de Orleans, o Palácio das Necessidades foi, então, utilizado para hospedar os convidados reais. Os jovens Duques de Bragança fixaram-se, inicialmente, no Palácio de Belém, aí tendo nascido os seus filhos, D. Luís Filipe e D. Manuel.

Com a morte do Rei D. Luís I, em 1889, D. Carlos não quis desalojar a mãe, a Rainha D.Maria Pia, do Palácio da Ajuda. Deste modo, a escolha do Rei D. Carlos I e da Rainha D. Amélia incidiu nas Necessidades para residência oficial.

É de salientar que, durante o reinado de D. Carlos, Lisboa foi por diversas vezes visitada por Chefes de Estado estrangeiros. Em geral, costumavam ficar instalados no Palácio de Belém, como sucedeu com o Imperador Guilherme II da Alemanha, com o Rei Afonso XIII de Espanha e o Presidente Loubet de França. Todavia, a importância do Palácio das Necessidades vai assumir-se, com pompa e circunstância, enquanto local de recepções oficiais em honra desses Chefes de Estado, nomeadamente, aquando da visita régia de Eduardo VII e Alexandra de Inglaterra, em Abril de 1903.

Data da época da referida visita dos reis de Inglaterra, mais uma remodelação do Palácio das Necessidades, a fim de melhor o adaptar ao cerimonial exigido pela Corte. Para o efeito, foi construída uma Galeria de acesso aos Salões, bem como uma nova Sala de Banquetes, cujos trabalhos se processaram sob a tutela do arquitecto Francisco Vilaça que utilizou duas tapeçarias Gobellins, pertença das colecções reais, como ornamento fundamental.

Durante o reinado de D. Manuel II não se alterou em nada a fisionomia do Palácio. O jovem rei continuou, inclusivamente, a ocupar os seus aposentos de Infante no rés-do-chão, à direita da porta principal da entrada. Em Outubro de 1910, o Palácio foi bombardeado pelo cruzador Adamastor que, do rio Tejo, o alvejou, repetidamente, provocando estragos tanto no exterior como no interior, como prova, ainda hoje, o espelho que ornamenta uma das paredes da Sala Renascença.

Foram estes os últimos momentos da Casa Real de Bragança de que o Palácio das Necessidades foi palco antes da instauração da República.

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