Os portugueses têm um estranho vício de olhar para a monarquia como uma utopia,
ou se preferirmos uma fé. Não a rejeitam com frontalidade, mas
desconfiam sempre de que não é viável. Por isso digo, no nosso país não
há verdadeiros republicanos, tirando aqueles que foram presidentes da
república, o próprio presidente e alguns políticos que ainda o
ambicionam ser. Ser ou não republicano não é sequer um tema sério –
principalmente quando analisamos os 100 anos de herança deste regime em
Portugal, quem é capaz dos defender?
Podem dizer-me que há vários
historiadores que sempre que o tema se levanta correm de imediato às
televisões a desenrolar uma série de feitos da república, nomeadamente
no ensino, nos direitos das mulheres, na separação da igreja do estado e
por aí adiante. Será que estes feitos são realmente da república? Ou
será que são feitos de um povo e da força da modernidade? Também não
aconteceram noutros países monárquicos? Parece-me que sim.
Mas voltemos ao tema. Ser monárquico
hoje em dia não é nada fácil. Somos herdeiros de um passado histórico de
vários bravos resistentes anti-república que em muitos casos se
aprisionaram (e muitas vezes apregoaram) a um estereótipo do monárquico
que ainda hoje permanece na cabeça da maioria dos portugueses. Para a
maioria do povo, somos todos aristocratas ou com pretensões a tal,
betinhos, católicos radicais, antiquados, estudámos em colégios e temos
como grandes hobbys a tourada e o hipismo. A verdade é que ser
monárquico já não é nada disso e a única coisa que nos une enquanto
monárquicos é apenas uma: achar que a chefia de estado devia estar
entregue a um rei. De resto, somos todos diferentes. Muito, acreditem.
Ser monárquico no século XXI mais não
é do que uma questão de pragmatismo, puro e duro. Trata-se de fazer um
simples exercício de análise política e constatar que a chefia de estado
deveria funcionar como uma força moderadora do regime e da sociedade,
ou como o próprio presidente da república o chamou: “um provedor do
povo”. Fazendo esta análise e recordando a nossa história recente,
verificamos facilmente que a chefia de estado republicana por e
simplesmente não cumpre essa função. E porquê? É simples, porque nenhum
presidente pode ser verdadeiramente independente quando dependeu não só
de votos, mas também de apoios, financeiros e políticos, para chegar ao
seu cargo – esses apoios, ou se preferirmos favores, mais cedo ou mais
tarde são pagos e é aí que a independência do cargo se esvai no jogo
político.
O Rei, pelo contrário, ao nascer Rei,
tem sobre ele a responsabilidade, a educação e a independência
necessária para poder ouvir verdadeiramente o povo do seu país e
funcionar como um verdadeiro árbitro do sistema político democrático,
sem depender de nada nem de ninguém – apenas do povo, que tem sempre o
ónus do poder destituir, como já fez na história de vários países. Isto é
pragmatismo político e não uma utopia. Prova disso mesmo é que
funciona, principalmente nas mais antigas democracias europeias, muito
mais estáveis politicamente do que a maioria das repúblicas.
Há ainda aqueles que em desespero de
causa afirmam que Portugal não tem um verdadeiro Rei. Novamente estão
enganados. Os monárquicos portugueses há muito que se uniram na figura
do legítimo e único pretendente ao trono português, D. Duarte de
Bragança. Homem de reconhecida seriedade e de grande apego ao seu país,
que como todos os seus pares (o povo português) estudou, serviu no
exército, opôs-se ao fascismo e foi para a guerra. Português reconhecido
pela sociedade por ter abraçado várias causas, como por exemplo a de
Timor e por ser uma pessoa ponderada nas suas opiniões e ainda mais nas
suas acções. Um grande português, que conhece Portugal e o mundo
lusófono, que está pronto a servir o seu país e que há muito é
reconhecido pelo próprio estado republicano como o legítimo pretende ao
nosso trono.
Como ficou provado, a monarquia é um
tema pragmático e actual, que nada tem de utópico. Utopia é pensarmos
que se ficar tudo na mesma o nosso Portugal consegue voltar a ser um
grande país.
Autor: João Gomes de Almeida
Fonte: Blogue Forte Apache
Publicado por David Garcia em Real Portugal
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