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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

MISSAS DE SÉTIMO DIA PELA ALMA DE S.A.S. A SENHORA DONA MARIA ADELAIDE

LUTO NA CASA REAL PORTUGUESA 

A Real Associação do Porto informa que no próximo dia 2 de Março (Sexta-feira), será celebrada uma missa de sétimo dia, na Cidade do Porto, na Igreja de São José das Taipas, na Cordoaria, pelas 19 horas.

ENCALHADOS NUM BECO DA HISTÓRIA

António Ribeiro Ferreira com o amargurado cepticismo com que nos vem brindando nos seus editoriais do jornal i, hoje retoma en passant um assunto de vital importância para o nosso regime em acelerado estado de corrosão: a reforma do sistema político.

Porque no meu entender o parlamento é o órgão de soberania plural e democrático por excelência, onde salutarmente se deveriam confrontar as diversas facções representativas de interesses e ideias, é trágico concluirmos que a famosa reforma nunca irá para a frente pela simples razão de os aparelhos partidários, velhos, desgastados, corruptos, clientelares, fechados, máquinas de emprego público e de muita cacicagem, não quererem assinar a sua sentença de morte.

De resto desenganem-se os iludidos, que os restantes vértices do regime também são enfermos e não auguram nada de bom. Perante a borrasca que nos ameaça a todos, atente-se como se encontra comprometido o papel basilar da Chefia de Estado, não especialmente por causa da proverbial aselhice do actual inquilino de Belém, mas pela natureza fundacional do cargo. Se a sua legitimidade sufragada eleitoralmente, especialmente nesta conjuntura, impele à intervenção e confusão de narizes com o Executivo, a sua real falta de poderes denuncia a sua patética inutilidade. Compreende-se porquê os mais genuínos republicanos, vacinados pelo regime semipresidencialista que vigorava na monarquia constitucional, sempre dispensaram a figura do presidente, ou a tal “benigna ficção” como lhe chama Miguel Morgado.

Hoje como nunca, a crise brutal que mina transversalmente toda a sociedade civil, apela à autoridade de uma voz (ou silêncio), independente, que seja ao mesmo tempo, representante dele próprio e de todos os que o antecederam e do todo que somos como povo, resiliente realidade transgeracional com 900 anos de História. É trágico, mas o regime não oferece aquilo que nunca como hoje foi tão urgente: uma reserva moral a montante da espuma dos dias, figura independente e aglutinadora de motivação e esperança. Algo impossível a quem emergiu da guerrilha politica e da gestão dos clientelismos e ilusórias negociatas que conduziram o país ao presente abismo. Estamos de facto entregues à deriva e favores europeus, cujos ventos esperamos se nos revelem indulgentes para com a nossa miséria. Que jamais as guerras, regicídios ou revoluções dos últimos duzentos anos conseguiram mitigar.

REAL ASSOCIAÇÃO DE LISBOA ELEGE NOVOS ÓRGÃOS SOCIAIS

Numa das mais participadas Assembleias Gerais dos últimos anos, a Real Associação de Lisboa (RAL) elegeu no passado dia 25 de Fevereiro os seus Órgãos Sociais. Nuno Pombo é o novo presidente desta estrutura regional da Causa Real representativa dos monárquicos da região de Lisboa, tendo a lista que encabeçou obtido esmagadora aprovação dos sócios eleitores. Integrando a direcção anterior, presidida por João Mattos e Silva, assim como vários membros da lista agora eleita, Nuno Pombo irá cumprir um mandato de três anos, tendo como linhas orientadoras do seu programa a aposta na juventude e na formação, na comunicação, na acção política junto da comunidade e no reforço do associativismo. Além da nova direcção, foram igualmente eleitos os membros da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal, órgãos que serão presididos respectivamente por João Mattos e Silva e Nuno de Bragança van Uden.
 
Na Assembleia Geral foram também apresentados o relatório de actividades e as demonstrações financeiras do exercício de 2011, que foram aprovados por unanimidade. João Mattos e Silva aproveitou a oportunidade para fazer o balanço global do seu mandato, devendo destacar-se a reorganização da RAL, com a actualização dos associados e o saneamento financeiro. Desta forma, sabe-se que, hoje, esta associação monárquica conta com cerca de 1600 associados com as quotas em dia, sendo que quase 300 aderiram à RAL nos últimos três anos. No que diz respeito ao saneamento financeiro, sublinhou-se que a RAL não tem hoje quaisquer dívidas ou pagamentos em atraso. A Assembleia Geral aprovou ainda, e por justa aclamação, um voto de louvor aos sócios D. Vasco Teles da Gama e João Mattos e Silva, que deixaram de exercer os cargos para os quais haviam sido eleitos em 2009, pelo exemplo de entrega que sempre puseram na sua militância monárquica, tendo os mesmos desejado, à direcção eleita, os maiores sucessos.
 
Entre os projectos da nova direcção estão a criação de uma “biblioteca digital” com obras fundamentais do ideário monárquico e a organização de acções de formação dirigidas sobretudo a jovens. Serão contactados todos os presidentes de Câmara e das juntas de freguesia mais populosas da área geográfica da RAL, de forma a que os monárquicos possam colaborar na solução dos problemas mais prementes que as respectivas populações enfrentam. Também os deputados, de todos os partidos, eleitos pelos círculos de Lisboa e Setúbal serão contactados com o mesmo objectivo.
 

NUN'ÁLVARES - CHEFE MILITAR

General António Eduardo Queiroz Martins Barrento**
1.  Introdução
Vamos recordar, nesta intervenção, a figura de Nuno Álvares Pereira como chefe militar. Este tema, pela antiguidade dos factos, pela notoriedade da personagem e pela importância que teve para a independência de Portugal, foi com maior ou menor profundidade muitas vezes escrito e rescrito, de Fernão Lopes a Oliveira Martins, de Belisário Pimenta a D. António Reis Rodrigues, de Nuno da Ponte a Alcide de Oliveira no seu excelente pequeno livro que se chama Aljubarrota Dissecada. Por isso, irei apenas sublinhar aquilo que me parece mais notável na sua acção de chefia, mas julgo importante lembrar, previamente, alguns elementos do quadro temporal, sociológico e psicológico em que os acontecimentos ocorreram.
Portugal está a passar por uma transformação social profunda, devido ao aparecimento de uma população urbana que deseja influenciar os “negócios” do Reino e cuja palavra ganhará peso e provocará uma maior relevância (como de forma tão viva Fernão Lopes nos narra), quando parte significativa da nobreza se coloca a favor do Rei de Castela. É discutível se os primeiros traços da Nação Portuguesa já existiam quando da ocupação romana na Península, porque estes podem ter desenhado as fronteiras da Lusitânia, delimitando uma área e um povo em que se notava já uma certa individualidade1; se a Nação surge com o pendor guerreiro do nosso primeiro rei e com a ruptura então conseguida em relação a Leão e a Castela; ou, até, se não vai surgir mais tarde, quando da Restauração, época em que de forma inequívoca se manifestou a nossa vontade autonómica. Mas no final do século XIV, como nos diz Hernâni Cidade há “uma visão comovida da Nação una, como pessoa viva, no sacrifício e na glória… Até Fernão Lopes… a crónica contava as efemérides que nobilitam as famílias e os feitos dos reis e suas hostes. A figura do poboo meúdo, a entidade abstracta de uma Nação… É a genial concepção e realização de Fernão Lopes”.2
Isto é, para Fernão Lopes a personagem da crónica passou a ser Nação, sendo neste sentimento de união das pessoas e de convergência dos propósitos, nesta “comunidade de sonhos”, como a designou Malraux, que se desenvolve a acção no nosso Galaaz.
Ao mencionar Galaaz, falando de D. Nuno (e este é o segundo ponto prévio), queremos dizer que ele não deve ser visto com as cores de outras épocas, como sucedeu no retrato que Oliveira Martins fez dele e que mereceu fundadamente de Eça o seguinte reparo: “Enquanto ao Condestável, que era o teu objecto, haveria de discutir se não lhe meteste na alma muita coisa que é só do nosso século” 3Nuno Álvares é, de facto, um homem do seu tempo. Tendo passado os primeiros anos de vida junto do seu pai, D. Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Hospital, foi certamente sensibilizado pelas narrações deste e dos seus companheiros sobre a Batalha do Salado, a luta contra os turcos em Rodes e outras aventuras guerreiras. Educado nesse meio, foi também influenciado, como muitos jovens nobres do seu tempo, pelos princípios da Cavalaria, pela fé e despojamento que lhes era inerente, pelas suas novelas e pelos seus heróis, pela defesa dos fracos, dos pobres, dos humildes. Armado cavaleiro aos 13 anos, foi ao longo da vida “muito avisado nos feitos da cavalaria”.4 Além disto, decorrendo há longos anos a guerra que depois se denominou dos Cem Anos, e tendo no tempo de D. Fernando chegado a Lisboa uma força de arqueiros britânicos, certamente ouviu os ecos dessa guerra, a superioridade que a peonagem e o arco longo dos ingleses estavam a demonstrar face a “pesenteur” física e intelectual da cavalaria francesa. Assim, ao olharmos hoje para Nuno Álvares, pela reverência que ele nos merece não devemos trazê‑lo para os nossos dias, mas vê‑lo como foi naquele tempo e sublinhar aquilo que marca a sua intemporalidade: os fundamentos ainda hoje sólidos da acção militar que desenvolveu, o seu perfil de chefe, a sua beatitude.
O terceiro ponto é que naquela época estiveram presentes em Portugal os quatro cavaleiros do apocalipse de São João. A peste que acontecia com frequência, como sucedeu no cerco de Lisboa de 1384, tendo todavia sido mais sentida nas hostes castelhanas; a guerra, em que D. Fernando e depois os acontecimentos da sua sucessão nos lançaram contra Castela; a fome, resultante deste ambiente e que foi particularmente sentida em Lisboa; e a ocupação que os castelhanos quiseram fazer em Portugal, tal como, para S. João, os romanos haviam feito na Palestina. Para salvar Portugal deste apocalipse, ter‑se‑ia que, pela guerra, conseguir a paz e começar uma nova era, “a sétima idade” como lhe chamou Fernão Lopes: Adam… Noé… Abraão… David… des o trespassamento da Babilónia atta vimda do Sallvador… (a) que ora andamos que ha mill e quatro çentos e quarenta e tres que dura… mas nos… fazemos aqui a septima idade… que se começou nos feitos do Meestre…5
O quarto ponto prévio refere‑se à escolha que Nuno Álvares fez, a do caminho mais difícil: escolheu o “poço”. Quando, em 1383, se deu a revolução em Lisboa, D. Nuno, que ali acorreu, foi “dormir esse dia a huua aldea que chamom a Ereira; e alli chamou adeparte seus escudeiros e disse “amigos eu vos quero contar huu segredo… assi he que eu vejo…no meu emtemdimento huu poço cheo de gramde escoridão e… eu todavia quero saltar em elle…Ho poço mui alto e escuro que vejo ante meus olhos, he a gramde demamda que o meestre dizem que quer começar por deffemsom destes rregnos, contra el‑Rei de Castella.” 6 Esta decisão era a opção pelo Mestre de Aviz, pela“arraia meuda” que o aclamava, pela sobrevivência do Reino que estava em perigo, pelo“amor à terra e afeição natural”, tal como Domingos das Eiras, em nome da população do Porto, respondeu a Rui Pereira, ali enviado pelo Mestre: “… tudo quanto temos poremos à disposição para tal negócio, que não se podiam despender em causa mais conveniente que a defesa da nossa Terra e o nunca ficarmos em poder dos castelhanos” 7. Para Nuno Álvares, “pôr à disposição” era a doação da sua vida, do seu saber, da sua aptidão para o comando e chefia em operações militares. Um “poço”? Certamente “um poço” antes de se conhecer o desfecho, pois era um salto para o desconhecido, a grande aventura, mas tinha também como conforto o de se julgar apoiado pelos bons portugueses e pela razão.
2.  Acção do Condestável
Nuno Álvares Pereira, como atrás sugerimos, pelo convívio com os Hospitalários foi muito cedo sendo informado sobre os condicionamentos, problemas e agruras da guerra. Este conhecimento, certamente apurado pelas leituras que fez e pelos contactos estabelecidos com quem tinha experiência de combate, nomeadamente no moderno teatro de operações europeu, como era o caso dos arqueiros ingleses do Duque de Cambridge. Tudo isto, somado às tensões que se agudizavam no Reino, ao difícil exercício da autoridade e às divisões que ia observando na sociedade portuguesa, deve ter despertado nele uma aptidão especial para apreender como era importante o comando e a chefia, a utilização das potencialidades inerentes a uma força militar e a exploração das vulnerabilidades das forças inimigas. E isto conseguia‑se elevando o moral dos combatentes, escolhendo e utilizando judiciosamente o terreno e usando de forma adequada as armas disponíveis. Com efeito, a “arma de fogo” (isto é, de lançamento de projécteis), ao tempo o arco e a besta, conseguia já alcances consideráveis, da ordem dos trezentos metros e, com a possibilidade de disparar uma dezena de flechas ou virotões por minuto, tornava‑se bastante letal.
Não podendo tratar aqui tudo o que foi a acção militar de Nuno Álvares, irei apenas respigar das crónicas algumas referências que julgo permitirem avaliar das suas elevadas qualidades para o comando de forças militares.
Ainda muito jovem, no tempo em que estava na corte “morador em casa de El‑Rei”, estando D. Fernando em Santarém e com ele o Prior do Hospital, D. Álvaro Gonçalves Pereira e mais cavaleiros da sua ordem “… e porque as gentes del rey de Castela passavam pera acerca… pera Lixboa… o priol por ensayr dom Nun’Alvarez, seu filho, … lhe mãdou que cavalgasse… pera verem as gentes del rey de Castela… que gentes eram e a maneyra que levavã…”  Quando Nuno Álvares regressou do reconhecimento“respondeo q lhe parecia muyta gente mal acaudellada: e que pouca gente cõ boõ capitam bem acaudellada os poderia desbaratar”.8
Ao ouvi‑lo, a Rainha entusiasmada tomou‑o para seu escudeiro, mas esta resposta, de um jovem de treze anos, dá‑nos a ideia de como ele já entendia que um bom comando poderia ter mais valor do que a superioridade numérica em combatentes.
A sua capacidade de comando e chefia, aqui desperta, vai ser amplamente demonstrada ao longo da sua vida e, graças à opção que tomou pela causa do Mestre de Aviz e ao amor à sua terra, vai contribuir decisivamente para a independência do Reino e para o sucesso da nova dinastia. Ainda tentaram conseguir os seus serviços para a causa de Castela, tendo‑lhe seu irmão, Pedro Álvares Pereira, que sucedeu a seu pai como Prior do Hospital (do Crato como se passou a chamar) prometido em nome do Rei de Castela o condado de Viana e outras terras e rendas. Mas a opção de Nuno Álvares, como disse sua mãe, era clara: “Nunca pôde mudar Nun’Alvares, seu filho… dizendo que Deus num quixesse… ele fosse contra a terra que o criara mas que antes despenderia seus dias e asparegeria seu sangue por amparo dela…” 9
Depois da revolução em Lisboa, porque muitos dos que tomaram partido por Castela causavam danos no Alentejo, foi necessário nomear um “fronteiro” para esta região, para defesa do reino e das suas gentes e por a charneca alentejana ser um caminho fácil para os castelhanos marcharem sobre Lisboa. Apesar de Nuno Álvares ter pouco mais de vinte anos, “o Meestre veo a dizer (que o cargo de fronteiro) que pera ello mais perteemcemte, nem que o com melhor desejo fezesse, que NunAllvarez Pereira… Joham da Regras era muito contra esto, dizemdo que pêra tamanho emcarrego cumpria huu homem de madura autoridade, muito avisado e sabedor da guerra… (mas)o Mestre num curou dos que o contradeziam… NunAllvarez avia dhir por fronteiro aa comarca d’antre Tejo e Odiana.10
Esta decisão do Mestre de Aviz mostra o apreço que o futuro rei tinha pelo futuro Condestável e, apesar de ainda não estarem muito diferenciados os níveis político e militar, o valor que a confiança entre as personagens destes dois níveis tem para o desenvolvimento das acções de defesa (ensinamento ainda hoje muito válido).
Consciente da importância da sua missão D. Nuno conseguiu chamar e concentrar em Estremoz uma força que “… nom seriam mais de cavallo que huus trezentos… e pouco mais de mill homees de pee, e ataa cem besteiros.”11 Mas tendo sabido que uma hoste castelhana marchava sobre Fronteira, reuniu o seu pessoal no Rossio de São Braz e disse‑lhe “amigos, creo que já sabees todos como o Meestre, meu Senhor e vosso, me mandou a esta terra com a aajuda de Deos e vossa a defemdermos…” e referindo‑se à força invasora inimiga, acrescentou: “minha voomtade he pellejar com elles…”12. Os vários responsáveis dos “logares” por terem conhecimento que a força invasora era muito superior à deles, com “gramdes senhores por capitaães… mill lanças e mais, mui bem corregidos e muitos genetes e besteiros e gram soma dhomees de pee…”disseram “que nossa teençom he nom hirmos convosco a tal obra.” 13 Depois de os ter ouvido D. Nuno reiterou as suas razões e acabou por dizer que aqueles que quisessem ir para suas casas se fossem embora “ca eu com esses poucos de boõs portugueeses que comigo vêem lhe entemdo de poer a  praça.” 14 E pretendendo ali no Rossio separar os que iam com ele e os que não iam, acabaram todos por passar para o lado daqueles que o acompanhariam. Neste diálogo está bem patente o ânimo e a determinação de Nuno Álvares, pois apesar do risco que consistia enfrentar uma força castelhana muito superior, conseguiu que aqueles homens acabassem por aderir ao seu projecto, que é a mais simples e eloquente definição de chefia.
Os castelhanos e o Prior do Hospital, seu irmão, ao saberem que D. Nuno vinha dar‑lhes batalha, marcharam sobre ele. Mas “Nuno Allvarez com suas gemtes era já em huu logar bem convinhavell… omde chamom os Atolleiros… fez logo descer pee terra todollos homees darmas; e dessa pouca gemte que tiinha, comçertou suas batalhas da vamguarda, e rreguarda, e allas dereita e ezquerda; e fez comçertar os besteiros e homees de pee pellas allas, onde emtemdeo que melhor estariam pera bem pellejar.” 15
Depois de dizer as suas orações, armado de lança, tomou o seu lugar na vanguarda, como prometera, e disse: “amigos, nenhuu nom duvide de mim, e todos aquelles que me ajudardes, Deos seja aquele que Vos ajude; e sse eu aqui morrer per vossas culpas e mingua, Deos seja aquelle que vos demande minha morte.16
Desta descrição do nosso cronista faz‑se notar a necessidade da “ajuda de Deus e vossa para a defemdermos”; a escolha de um terreno “bem comvinhavell”, o dispositivo em quadrado, o combate apeado e o incitamento que fez aos seus homens.
A ajuda de Deus e dos seus homens era resultado da fé que sentia e da consciência que tinha de necessitar do concurso deles, segundo o conselho evangélico de não poder esperar tudo de Deus, mas haver que “por a sua mão” para obter o apoio divino. E neste “pôr a sua mão” estava a utilização do seu saber, mas também o concurso dos homens sob o seu comando.
A escolha de um terreno que lhe desse vantagem, o dispositivo em quadrado que lhe garantisse a segurança, e o pessoal combatendo a pé, de arma em riste, com os besteiros a fustigar o avanço inimigo, pois “foi ho primeiro que… ataa este tempo pos batalha pee terra em Portugall e a vemçeo” 17, era a manifestação do seu saber e da sua habilidade táctica, pois impediu desta forma que a superioridade numérica e a maior mobilidade do inimigo fossem exploradas.
O exemplo que deu ao colocar‑se na vanguarda e os incitamentos que fez aos seus homens, deu‑lhes o moral necessário para enfrentarem um inimigo superior e saírem vencedores. Segundo a crónica os castelhanos tiveram 72 mortos, entre eles o Mestre de Alcântara, e os portugueses nenhum.
Nuno Álvares venceu esta primeira grande prova, como comandante e chefe, aumentando por esta forma a sua autoridade, condição fundamental para um eficaz exercício do comando. Se esta autoridade lhe fora institucionalmente atribuída pelo Mestre de Aviz ao nomeá‑lo “fronteiro”, Nuno Álvares sentiu bem, nas convulsões pelas quais Portugal passava, na forma como os portugueses estavam divididos, nas razoáveis dúvidas que João das Regras apresentou para a sua nomeação, que era necessário “conquistar” essa autoridade. E conseguiu‑a, exemplarmente, em Atoleiros.
Em Março e Abril de 1385, com base na inteligente argumentação de João das Regras e“porq todo o povoo miudo do Reyno dizia e bradava q o fezessem Rey” 18, D. João, Mestre de Aviz, foi eleito Rei de Portugal. E logo no dia 9 de Abril, aniversário da Batalha de Atoleiros, Nuno Álvares foi nomeado Condestável – Comandante do Exército Português.
Quando o Rei de Castela invadiu nesse ano o País, o Condestável com os seus homens foi juntar‑se a D. João I, em Abrantes. No conselho que o Rei ali promoveu, o parecer avisado, o sentido estratégico e a determinação de Nuno Álvares (que pelos ensinamentos que contem, tenho citado numerosas vezes) são dignos de realce. Ouçamos a saborosa descrição do nosso cronista sobre o debate realizado nesse conselho.
“Estando el‑rei em Abrantes, onde o deixamos entrou em conselho, com o Condestável e os outros com quem habitualmente falava seus segredos sobre se daria batalha a seus inimigos ou se usaria da “guerra guerreada” por ser a batalha cousa arriscada…
Os mais deles concordavam em que não devia haver batalha, dizendo o seguinte. Que pois el‑rei de Castella entrava no reino, fosse el‑rei de Portugal ao Alentejo e entrasse pela Andaluzia; e quando el‑rei de Castela isto soubesse iria procurá‑lo para socorrer sua terra, sendo desta guisa desviado de atacar Lisboa; e ao voltar entraria por outra fronteira. Que desta forma se evitaria a batalha que era cousa muito perigosa e duvidosa, porque el‑rei de Castela vinha muito orgulhoso com poderio de muitas tropas; enquanto que el‑rei de Portugal se encontrava em situação desfavorável. E que fazendo‑se a guerra por esta forma passaria tempo, e poderiam entretanto vir tropas inglesas em sua ajuda (pois era certo que viriam, e cada dia as esperavam); ou então chegariam a algum acordo com el‑rei de Castela, a que se poderia seguir paz e tranquilidade…
Para demover os da maioria do Conselho, o Condestável disse muitas e boas razões tendentes a mostrar quanto era proveito do Reino e honra de el‑rei oferecer batalha a el‑rei de Castela, pois que o tinham consigo dentro do Reino. Não o fazendo mostrariam grande míngua e cobardia o que quebraria os corações dos Portugueses, que esperavam ser defendidos, e daria grande ânimo a seus inimigos. E deixando que estes chegassem a Lisboa podia ser que a cidade se entregaria vendo‑se posta em aperto. E perdida Lisboa era perdido todo o Reino…
Parece que no meio do trigo limpo daquela cidade está alguma má semente, em que el‑rei de Castela põe a sua esperança. E esta seria muito maior nele e mais poderosa nos corações dos que têm alguma traição preparada, se vissem que el‑rei nosso senhor não se atrevia a pôr‑lhe campo, e em vez disso ia passear a Sevilha para cortar duas oliveiras podres. Depois das aflições e atribulações que Lisboa padeceu e padece para levar este feito por diante por honra do Reino e serviço de el‑rei nosso senhor, dizeis a este que como prémio de tão grande serviço vá a Sevilha, gastar gente e tempo, sem qualquer proveito, e que deixe Lisboa à mercê de seus inimigos sem capitão e tropas que a defendam, morrendo de fome como cães…
Ficando este conselho indeterminado naquele dia, no seguinte bem cedo pela manhã, ouvidas primeiro as suas missas como costumava, mandou o Conde dar às trombetas, e com o coração bem agastado, mas cheio de virtuosa ousadia, sem mais falar a el‑rei nem a ninguém, partiu com a sua gente a caminho de Tomar, para onde el‑rei de Castela vinha…” 19
Deste curioso debate, em que se confrontam duas atitudes totalmente opostas quanto ao que fazer face à invasão castelhana – furtar‑se à batalha e invadir a Andaluzia, ou ir à batalha, com os riscos que isso comportava – deve salientar‑se da posição defendida pelo Condestável, o seguinte:
– A noção de que Lisboa é o objectivo decisivo – perdida Lisboa é perdido todo o Reino (ideia que tem sido comprovada ao longo da nossa História); por essa razão dever‑se‑ia barrar o passo ao invasor antes que a atingisse;
– A determinação em travar a batalha com o Rei de Castela, nem que para isso tivesse que ir apenas com os seus homens;
– A coragem em enfrentar uma força inimiga muito superior e a confiança em que a autoridade que já possuía como chefe militar lhe garantiria a obediência daqueles que com ele iam partilhar essa aventura.
Como sabemos D. João I foi‑se‑lhe juntar em Tomar, tendo ambos seguido para Aljubarrota. Por tão conhecida não vamos lembrar essa batalha decisiva para a independência de Portugal, mas dela sublinharemos apenas alguns pontos que são importantes quando tentamos esboçar a figura do Condestável:
– Depois do reconhecimento feito em 13 de Agosto, D. Nuno teve oportunidade de escolher o “terreno mais comvinhavel” para travar a batalha, sem que a superioridade numérica do inimigo pudesse ser livremente utilizada;
– Mais uma vez criou um dispositivo lógico, aqui sobre o itinerário que o exército castelhano deveria percorrer, num esporão sobre o rio Lena, numa posição por tal forma forte que o inimigo não ousou atacá‑la;
– Começando o exército castelhano a tornear a posição, com grande oportunidade, flexibilidade e num prazo de apenas duas horas, foi ocupada nova posição com o dispositivo invertido, dois quilómetros mais a sul;
– Novamente foi posta à prova a sua lealdade ao Rei e a Portugal, quando o seu irmão, antes da batalha, cerca das 16 horas, tentou dissuadi‑lo de servir o “Rei de Aviz”, como em Castela, depreciativamente, chamavam a D. João I;
– Mais uma vez usou o conhecimento da personalidade dos chefes inimigos, que com elevada probabilidade iriam (como sucedeu e ao que parece muito pela influência de Afonso Telo, irmão de D. Leonor, junto do Rei) atacar a hoste portuguesa em vez de prosseguir sobre Santarém e Lisboa;
– A clareza, certamente, das instruções transmitidas (que não conhecemos) mas que foram essenciais para o sucesso da batalha, já que depois de iniciado o combate era muito difícil fazer alterações de fundo, pela dificuldade de comunicação;
– O exemplo que deu combatendo na vanguarda, a esforçada acção quando da rotura da frente e quando acudiu à ameaça sobre a retaguarda, o que somado às suas qualidades de comando, foram decerto importantes para o moral, para a disciplina dos combatentes, para a vitória alcançada.
Tanto em Atoleiros como em Aljubarrota a exploração do sucesso, que se deveria seguir a cada uma das vitórias, foi muito limitada. Em Atoleiros, “… NunAlvarez a cavallo com mui poucos dos seus, porque tam a pressa nom poderam todos aver bestas, e seguir o encalço huua grande legoa ataa que per noite foi forçado a se tornar, dizemdolhe alguus dos seus, que aquello era temtar Deos, nom sse comtentar da mercee que lhe Deos fezera…” 20. Em Aljubarrota, porque também a noite impediu essa manobra, tanto mais que esta foi particularmente escura, como nos diz Froissart.
Apesar das duas vitórias, em Atoleiros e Aljubarrota, as condições de luz impediram a manobra táctica de consolidação dos êxitos alcançados, que é a exploração do sucesso. Mas o Condestável com a sua intuição guerreira iria fazê‑la, a nível estratégico, invadindo por sua vez Castela. “…o Comde como hera home sages e percebido e muy avisado nos feitos da guerra, que vendo o desbarato e grão trovação em que el Rey de Castela e a gemtes do seu reino por estomce herão postos, a huus per semtido a outros per ouvida… Podia fazer hua emtrada com muito sua homrra e serviço do Reino…” 21
Com esta acção, parece que Nuno Álvares decidiu fazer a manobra que ele condenara no conselho que acontecera em Abrantes, antes de Aljubarrota; de poder não estar agora a respeitar o princípio do objectivo, que o levou a barrar o passo ao exército castelhano que marchava sobre Lisboa. Só que as condições agora eram diferentes das de Agosto: Aljubarrota fora uma derrota tão pesada para Castela que o rei decretara dois anos de luto nacional; o exército castelhano tinha retirado de Portugal; Nuno Álvares como chefe militar e os portugueses como combatentes tinham ganho fama; a independência de Portugal e a Dinastia de Aviz estavam agora mais afirmadas e tinha‑se criado as condições para a consolidação desses dois objectivos. Por estas razões o Condestável invade Castela, onde permanece 18 dias, desloca‑se sem oposição até à região de Mérida e tem um recontro importante em Valverde, no qual a morte do Mestre de Santiago foi factor de desmoralização das forças inimigas que ali sofreram mais uma derrota.
Uma vez mais D. Nuno Álvares Pereira demonstrou as suas qualidades de chefe militar, o sentido de oportunidade, o conhecimento do inimigo.
3.  Conclusões
Em conclusão e para terminar, julgo dever sublinhar alguns pontos.
– Durante a sua vida D. Nuno Álvares Pereira, idealista místico e arrebatadotanto se recolhe em oração durante o combate de Valverde como, nos esponsais do Rei de Castela e D. Beatriz, …. Derruba irreverentemente a mesa, por não lhe terem assegurado o lugar que ali lhe competia22. Íntegro e modesto, muito exigente consigo e com os outros, sóbrio, valente, leal e muito determinado, D. Nuno, o Homem merece bem ser objecto da nossa curiosidade e admiração.
– Da Ordem da Cavalaria, D. Nuno Álvares Pereira absorveu os ideais, seguiu as virtudes, cultivou os valores e partiu em demanda do Santo Graal. Na época cruzava‑se ainda a memória da terceira era, a do Espírito Santo, da convicção de Joaquim de Flora, toda ela cheia de espiritualidade, com a iniciada sétima idade do mundo, que se começou nos feitos do Mestre e que alimentava a esperança de um Portugal renascido em Aviz. Para D. Nuno, o Graal que demandou, cálice de veneração, símbolo de sacrifícios, era a salvação do Reino. Aliás, a crermos na Crónica de Sant’Ana ele teria dito ao embaixador de Castela que só despiria o hábito se El‑Rei de Castela outra vez movesse guerra contra Portugal (se non è vero è ben trovato…). Para D. Nuno, o Homem do seu tempo, o Graal que procurou foi a grande demanda que o Mestre… quer começar por deffemsom destes rregnos…. O seu graal foi Portugal.
– Clausewitz, o militar e pensador que tratou a guerra com maior profundidade, naquela que se chamou a definição ternária ou trinitária de guerra, diz que a guerra é constituída por três elementos fundamentais: o racional, o emocional e o aleatório. O racional sustenta a lógica das decisões e do conhecimento; o emocional resulta das paixões e dos estímulos produzidos; o aleatório traz para a guerra a manifestação do acaso. D. Nuno, o Guerreiro, com racionalidade conseguiu encontrar as melhores soluções para os difíceis problemas com que foi confrontado; usou a emoção para despertar nos seus a vontade de defesa, para lhes aumentar o moral, para lhes dar ânimo para vencer; e o acaso rendeu‑se‑lhe, colaborando com a “fortuna” (como lhe chamava Maquiavel) que acompanhou a sua acção guerreira.
– Como um cavaleiro templário que se lançava no combate invocando Deus e dizendo “… para glória do Teu nome”, D. Nuno ofereceu‑se a Deus e a Portugal para glória de ambos. D. Nuno, o Militar, empenhou‑se no Portugal independente, a terra que o criara, com aquela bela forma de juramento que sua mãe lhe ouviu: antes despenderia seus dias e asparegeria seu sangue por amparo dela…
– Comando é a autoridade conferida a um indivíduo para a condução das forças militares. O Mestre de Aviz atribuiu a Nuno Álvares o comando da região antre Tejo e Odiana e, já rei aclamado de Portugal, o comando do exército – nomeou‑o Condestável. Porque comando é autoridade, D. Nuno, o Comandante, foi buscá‑la ao seu saber das coisas militares, à reflexão e depois à sua própria experiência. Usando essa autoridade, que lhe permitiu ser obedecido, conduziu com sucesso as Forças e aumentou o seu prestígio e autoridade.
– Se a eficácia do exército é a resultante da conjugação da força material com a força moral dos seus elementos, as forças portuguesas do fim do século XIV, sempre mais fracas do que as castelhanas, tinham que ir buscar às forças morais o complemento de poder que necessitavam para enfrentar o adversário. Mas as forças morais variam com a motivação e com a qualidade da chefia. D. Nuno, o Chefe, conseguiu que as suas ideias, planos e acções para defender o país passassem a ser os projectos dos homens que comandava, conseguindo dessa forma o diferencial de moral, logo de força, que os conduziu à vitória.
– Naquele tempo, como ainda hoje, debatiam‑se no combate dois dos seus principais protagonistas: o fogo e a manobra. Naquela época o fogo manifestava‑se através do arco e da besta, e a manobra no deslocamento montado e apeado. D. Nuno, o Táctico, utilizou judiciosamente o fogo e o terreno para dificultar a manobra do inimigo e para o vencer.
– Quando se debate ir à batalha, com todos os riscos que isso comporta, ou fazer uma guerra guerreada, e se está numa situação de manifesta inferioridade, o senso parece indicar que não se vá à batalha. Mas a defesa daquilo que é fundamental pode exigir os sacrifícios da batalha. Como perdida Lisboa era perdido todo o ReinoD. Nuno, o Estratega, escolheu o modo de agir que a defesa do Reino exigia – foi à batalha, e venceu‑a.
– Pátria, ou Mátria, se quisermos, é a terra dos seus pais, do seu sangue, do lar, dos sonhos comuns. Nos actos de posse de cargos de direcção importantes jura‑sedesempenhar com lealdade as funções… Não conhecemos o que o Condestável disse ao ser empossado, mas pelo que se passou posteriormente, ele desprezou bem‑estar, mordomias e a própria vida, pela sua lealdade aquele povoo miúdo do Reyno (que) dizia e bradava que o fizessem Rey (ao Mestre de Aviz). D. Nuno, o Patriota, leu Torga antes de Torga e disse – Pátria é um palmo de terra defendida.23
* Conferência proferida na Universidade Católica, em 20 de Abril de 2009, na semana anterior à canonização de Nuno Álvares.
**     Presidente da Assembleia Geral da Revista Militar.
 1     Como a legenda da ponte de Alcântara sugere.
 2 CIDADE, Hernâni: Portugal Histórico Cultural, Círculo de Leitores, Lisboa, 1973, p. 54.
 3 Da “Correspondência”, in “Nun’Álvares Condestável e Santo”, de António Reis Rodrigues, Serviço Histórico‑Militar, Lisboa, 1985, p. 32.
 4 SARAIVA, A.J., As Crónicas de Fernão Lopes, Portugal Editora, Lisboa, p. 332.
 5 FERNÃO LOPES, Crónica de D. João I, Vol I, Livraria Civilização, Barcelos, 1983, Cap CLXIII, p. 349 e 350.
 6 Id., Cap XXXVII, p. 74.
 7 SARAIVA, A.J., op. cit., p. 250.
 8 Crónica de Condestabre de Portugal, M.E.N., Lisboa, 1969, Cap II, p. 3.
 9 Id., Cap XIX, p. 54.
10 FERNÃO LOPES, op.cit., Cap LXXXVII, p. 166 e 167.
11 FERNÃO LOPES, op.cit., Cap XCII, p. 174.
12 Ibid.
13 Id., Cap XCIII, p. 175 e 176.
14 Ibid.
15 Id., Cap XCV, p. 180.
16 Id., Cap XVC, p. 181.
17 Id., p. 183.
18 Cronica do Condestabre de Portugal”, Cap. 42, p. 32.
19 SARAIVA, A.J., op.cit., p. 345 a 349.
20 FERNÃO LOPES, op. cit., p. 182.
21 Id., Vol V, p. 139 e 140.
22 OLIVEIRA, Alcide, Aljubarrota Dissecada, Lisboa, 1988, D.S.H.M., p. 51.
23 [Poema Nun’Alvares], TORGA, Miguel, Poesias Completas, Lisboa: Edições D. Quixote, 2000, p. 710.
Causa Monárquica 

Revista Militar – 159 anos de História



A Empresa da Revista Militar foi fundada no dia 1 de Dezembro de 1848 por um grupo de 26 Oficiais do Exército e da Armada, dirigido pelo então Tenente do Real Corpo de Engenheiros Fontes Pereira de Mello.
A Revista Militar – com o primeiro número publicado em Janeiro de 1849 – foi um dos primeiros títulos da imprensa militar portuguesa, sendo actualmente o mais antigo Órgão da Imprensa Militar Mundial com publicação ininterrupta.

Os estudiosos do seu acervo confrontam-se com a influência exercida pelos Fundadores e por grande parte dos colaboradores da Revista na dinamização das Forças Armadas, e do próprio País, desde 1 de Dezembro de 1848, quando se assinou o Contrato.

 “O século em que vivemos tende, sem dúvida,
a consomar o grande pensamento humanitário,
que tem por base o predomínio da inteligência
sobre a força”.

(Tenente Fontes Pereira de Mello, Introdução, do Primeiro Número, Janeiro 1849)

 Fonte Revista Militar
 Causa Monárquica

ISABEL I DE INGLATERRA E O SEU MÉDICO PORTUGUÊS

A promessa de um país mais tolerante e onde uma nova era começava levou Rodrigo Lopes, médico judeu português, a Inglaterra. Naqueles primeiros dias, quando assistiu à coroação da soberana, esperava uma vida mais promissora que a que levava em Portugal, mas estava longe de imaginar que viria a ser o médico pessoal de Isabel I. Mas, num reino em mudança e onde o percurso da própria Isabel até ao trono viria a ditar muitos dos valores do seu reinado, cedo o sonho se transformaria em ambição. E, com a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir, Rodrigo passaria a desempenhar também outras funções. Funções que acabariam por ditar o seu destino...
Há muito de interessante para descobrir na época histórica relativa à dinastia Tudor e o reinado de Isabel I é, por si só, um percurso fascinante. Assim, há, à partida, bastante de cativante na época histórica que serve de base para esta narrativa. E é precisamente a linha temporal deste romance um dos pontos que, desde cedo, o tornam envolvente: ao começar num período relativamente avançado (mas determinante tanto para as acções de Inglaterra como para a própria interacção entre o médico e a soberana), recuando depois para a história de Isabel, desde os últimos anos do reinado de Henrique VIII, seguindo para a sua caminhada até ao trono e, depois, o seu reinado, revela-se, desde logo, a ligação entre os dois protagonistas, que se irá evidenciando à medida que a narrativa evolui, mas que é conhecida desde o leitor desde bastante cedo.
A decorrer num longo período de tempo e com uma multiplicidade das personagens, tanto na história da rainha, como na de Rodrigo, é natural que o ritmo da narrativa seja relativamente pausado. Ainda assim, e à medida que tanto a hierarquia como a própria personalidade das personagens se tornam mais familiares, o enredo cresce em intensidade, também devido aos vários momentos emotivos que vão surgindo ao longo da narrativa.
A nível de caracterização de personagens, destaca-se, naturalmente, a personalidade de Isabel I. Nota-se um cuidado em mostrar a soberana tanto no seu papel de monarca (com todas as difíceis decisões associadas), como de mulher - sensível, amada e capaz de amar, vulnerável à perda e capaz de lealdades para toda uma vida. Humana, em suma, com todas as forças e fragilidades associadas a essa condição.
Importa referir, por último, e no que toca à escrita, algumas falhas de revisão. Não sendo nada de muito grave, são, ainda assim, evidentes algumas gralhas, palavras repetidas e vírgulas fora do sítio. E é pena, porque acaba por quebrar um pouco o ritmo de uma leitura que é, no geral, bastante cativante.
Com um contexto histórico muito interessante, uma bem conseguida caracterização de personagens e um bom desenvolvimento a nível de enredo, este é um livro que, apesar do ritmo algo pausado (e das tais gralhas), nunca deixa de ser uma leitura envolvente e agradável. Gostei, portanto.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CENTRO MONÁRQUICO DO PORTO/CMPORTOTV - COMUNICADO

O Centro Monárquico do Porto e a CMPortoTV, estão à procura de realizações cinematográficas, trabalhos diversos em vídeo, filmes ou fotos antigos para inclusão na futura grelha de programação que irá em breve ser lançada na nossa TV Online em www.cmporto.net.

Caso tenha alguns dos referidos conteúdos e que julguem ser úteis e válidos, por favor co
ntacte-nos.

Teremos imenso prazer em inclui-los, caso assim seja possível.

Contamos com a vossa ajuda e colaboração.
www.cmporto.net

 Cesar Braia (Facebook)

ENTRONIZAÇÃO DE S.A.R. A SENHORA DONA ISABEL COMO CONFRADE DE HONRA DA CONFRARIA GASTRONÓMICA DO PÃO-DE-LÓ TRADICIONAL


Caros(as) Confrades e amigos(as)
A Confraria Gastronómica do Pão de ló vai realizar no seu 2º Capítulo e Entronização no próximo dia 17 de Março de 2012 na cidade de Guimarães.
Este ano vamos entronizar como Confrade de Honra S.A.R. a Senhora Dona Isabel de Bragança.
É com imenso prazer que vos convido a estarem presentes neste momento alto da nossa Confraria. Junto envio programa do evento.
Solicitamos confirmação de comparência, assim como a indicação do número de representardes de cada Confraria presentes até dia 15 de Março.
Para tal deverão proceder ao pagamento de 30,00 euros por pessoa através de deposito ou transferência bancária para o numero de conta em anexo ao programa.
Sugiro que o façam antecipadamente no sentido de reservarmos os vossos lugares e evitar demoras na credenciação.
Para além disso, como devem calcular, temos que informar o restaurante do número certo de comensais, que é limitado.
Convicta da vossa presença, subscrevo-me com os melhores cumprimentos e saudações confrádicas,

Fátima Salgado
Presidente da Confraria Gastronómica do Pão-de-ló Tradicional

 Confraria Gastronómica do Pão-de-ló Tradicional marcou presença no Jantar de Reis 2012.
Fátima Salgado , da Confraria Gastronómica do Pão-de-ló Tradicional, em Oliveira S. Pedro.



Entronização de S.A.R. a Senhora Dona Isabel como Confrade de Honra da Confraria Gastronómica do Pão-de-ló Tradicional.

2º CAPITULO E ENTRONIZAÇÃO

Guimarães
Sábado, 17 de Março de 2012

Programa
LER
LER

É MESMO O DEPOIS DE VÓS!

 
Sempre dentro de seguras portas, o homem não pára, desdobra-se em visitas entre amigos.
 
Decerto não terá sido um acidente, um "imponderável" como agora eles dizem. Podiam ter arranjado outra gracinha, mas encontraram a mais oportuna, dado o momento que o país vive e sente. Talvez por obra e graça de um acólito mais afoito, a cabeça da República protagonizou mais um numerozinho de circo, quando deu de si o oportunamente afrouxado prego que segurava a moldura enquadrando a Bandeira Nacional da Monarquia Constitucional. Na galeria de bandeiras que um dia foram os símbolos de Portugal, escolheu-se precisamente a mais conhecida.
 
Estava o timorato cavalheiro a babar-se de subserviência por umas trivialidades financeiras proferidas pelo imperator Sr. Obama, quando foi interrompido por um grande estrondo. O mencionado quadro acabava de cair ao solo. Oportuno, não? Sabemos como esta gente "assessória" funciona e qual é o seu nível mental, especialmente nestes momentos em que teme pelos seus "parcos haveres".
 
Agora é de manhã à noite, não param, estão mesmo apertados. Tudo truques, tudo fogo de vista. Não contam é com o claro sinal enviado, tão certo como um mais um serem dois.
 
Este episódio pode até ser visto de outra forma, precisamente aquela que não lhes passou pela cachimónia. O estrondo e a imagem do azul e branco a lembrar-lhes uma persistente e teimosa presença, apenas podem significar uma coisa: estamos aqui, Depois de Vós, Nós!

Nuno Castelo-Branco
 

"MAFALDA" A INTENSA VIDA DE UMA INFANTA DE BRAGANÇA


Livrou-se da morte por Salazar lhe ter concedido passaporte diplomático. Foi salva da deportação para a Sibéria por ter ajudado comunistas austríacos. Quando regressou a Portugal, deparou com o despovoamento intelectual da classe dirigente. Um exemplo da convivência difícil de monárquicos e católicos com o regime nos anos 50.
 
Dona Maria Adelaide de Bragança van Uden, neta do rei Dom Miguel, morreu na sexta-feira, na Caparica. Tinha feito 100 anos a 31 de Janeiro.
 
Foi condecorada como Grande Oficial da Ordem de Mérito pelo P.R.. Neta do rei Dom Miguel, tem uma história impar. Viveu e sofreu as duas guerras mundiais do século passado. Participou na resistência ao nazismo. Lançou inovadoras obras sociais em Porto Brandão, no início da industrialização da margem sul. "Mafalda" – nome de código na Resistência –, Infanta de Bragança, foi protagonista de uma intensa vida.
 
"Ela nunca nos falou disso abertamente, só com a idade e com alguma pressão começou a falar, lá de vez em quando vai contando", diz Nuno van Uden, filho de Dona Maria Adelaide de Bragança. "Disso" é o resumo de anos de risco. Correu-os seguindo o princípio de ultrapassar o temor: "Ter medo de ter medo." Na Áustria enfrentou a ocupação nazi. Com todas as consequências. Em 1944, com a sua irmã Maria Benedita foi presa e condenada à morte por ouvir a BBC. As pressões de Oliveira Salazar junto do Reich e a concessão de passaporte diplomático português salvaram-lhes a vida.
 
"Esteve detida durante mais de cinco meses", calcula o filho. Terão sido nove os meses de cativeiro. Então, na cela ao lado da prisão de Viena estava o conde Claus Schenk von Stauffenberg, que liderara o atentado falhado contra Hitler. "Tudo o que vi obrigou-me a empenhar-me a sério na Resistência", confirmou a Raquel Ochoa, autora da biografia A Infanta Rebelde (Oficina do Livro, 2011).
Nas mãos da Gestapo
 
Foi assim que passou a integrar a rede da organização 05. Se a entrada dos nazis em Viena e a anexação da Áustria, em 1938, impediram que concluísse o curso de Enfermagem no hospital de Rudolfinerhaus, a resistência ganhou um elemento determinado e corajoso. Uma activista católica formada em assistência social. "Cheguei a saber onde iam ser lançadas as armas para a nossa e outras organizações a que estava ligada", recordou no livro. Entre elas, entidades austríacas de apoio a judeus, britânicos e comunistas.
 
Dava apoio a clandestinos, organizava transportes de armas e alimentos que os ingleses lançavam. Tinha o nome de código "Mafalda", em homenagem a uma sua irmã já falecida. Perto do final da guerra é novamente detida pela Gestapo. No bolso de um militante comunista foi encontrado o seu número de telefone e, apesar de ter fugido da sua casa na localidade de Seebenstein, acaba por ser capturada em Viena. A repressão nazi encheu a prisão de resistentes, alguns dos quais passaram a estar detidos num hotel ocupado para este efeito pelos alemães. Foi aqui que viveu quatro meses de cárcere com inquietação e perplexidade. Não muito longe do quarto onde a encerraram estavam armazenados os registos dos militantes a eliminar pelas tropas alemãs.
 
"Estava muito interessada em que esta lista desaparecesse", refere no livro de Raquel Ochoa. "Por isso dei a indicação onde deveria cair a bomba." O bombardeamento foi certeiro. E a actividade de "Mafalda" ganha, assim, outros contornos, para além de resistente. A sua colaboração com os ingleses era estreita. "Há uma série de coisas que quem está na resistência tem de esquecer, porque nos interrogatórios pode ceder e pôr em causa a organização", explica Nuno van Uden. Aqui encontra a razão para que a sua mãe só de "vez em quando" se recorde deste passado. São fragmentos. Episódios. Longe de um relato.
 
A entrada das tropas do Exército Vermelho em Viena não lhe devolveu a liberdade. Por ser resistente não comunista e aristocrata, tinha a rota marcada: a deportação para a Sibéria. A tão desejada destruição dos arquivos nazis por uma bomba teleguiada pelas suas informações impedia, agora, a confirmação do motivo da sua prisão. No entanto, a explosão não destruíra todos os documentos. Por acaso e muita sorte, um oficial russo encontrou a ordem de prisão da Gestapo. Na ficha constavam as razões da detenção de "Mafalda": o seu relacionamento com um comunista. Dois dias antes de ser deportada, foi libertada. "Foi assim que me safei", relatou na sua biografia. Com a entrada das tropas aliadas em Viena, em liberdade numa cidade destruída, integrou as equipas da Cruz Vermelha Internacional que auxiliavam feridos e doentes. Nessa missão de enfermeira com curso inacabado, faltava-lhe a última cadeira, conheceu Nicolaas van Uden, um jovem estudante de Medicina holandês. Com ele se casou sem luxos de Infanta.
A descoberta de Portugal
 
A África era o destino sonhado pelo casal. A Etiópia seria a primeira paragem de um percurso desejado para assistir as populações locais. Contudo, em 1948, pela primeira vez na sua vida, pisou solo português. Aterrou no aeroporto de Lisboa com o marido e dois filhos. Foi o fim do exílio. Acabam por instalar-se numa quinta em Murfacém, na Trafaria, que pertencera a Nuno Álvares Pereira.
 
Dona Maria Adelaide de Bragança descobre o seu país. Um país pobre, de múltiplas carências. Visita as barracas de Porto Brandão, os galinheiros onde vivia a mão-de-obra nos primórdios da industrialização da margem sul. Cenários de muitas necessidades. De profunda miséria. Uma revelação que a incomoda. Lança uma obra social, à margem dos usos e costumes do regime. Com sentido prático e sem pose. Chamou-lhe Fundação D. Nuno Álvares Pereira. E descobre também o despovoamento intelectual do regime. Uma confrangedora falta de ideias e iniciativas para quem, nascida em 31 de Janeiro de 1912 em Saint-Jean-de-Luz, junto à fronteira hispano-francesa, sempre vivera na activa Europa central da primeira metade do século passado.
 
Agradecida a Salazar por a ter salvo das garras da Gestapo em 1944, vivia uma contradição pessoal. "Caiu-me muito mal saber que ele trouxe um oficial da Gestapo para ensinar a PIDE a reprimir os comunistas e todos os seus opositores", admite a Raquel Ochoa.
 
A sua perplexidade não é caso único entre monárquicos e católicos. "Nos anos 50, a frente política criada por Salazar começa a desfazer-se", refere o historiador Fernando Rosas. "Dessa frente faziam parte monárquicos, católicos e militares." Com o fim da II Guerra Mundial e o início das transformações económico-sociais do regime aparecem as contradições. Dona Adelaide de Bragança anota-as na sua observação do quotidiano de dificuldades de quem ajuda em Porto Brandão. Afinal, a sua experiência na Europa central era de outras práticas sociais e de um desenvolvimento diferente.
 
"Como o país está a industrializar-se, tornou-se mais patente a injustiça da distribuição, à sensibilidade católica choca a pobreza", anota Fernando Rosas. A infanta não está apenas chocada. Nem reserva só para si as imagens que vê. Filma-as para despertar a consciência da gente da sociedade. São os tempos de outros "despertares" e do consumar de dissidências. "É o caso de Humberto Delgado, Norton de Matos e do padre Abel Varzim", exemplifica Rosas.
A aspiração de Dom Duarte Nuno
 
O incómodo de Maria Adelaide tinha ainda outros motivos. Sendo neta de Dom Miguel, portanto monárquica, via que o papel dos seus no regime de Oliveira Salazar não estava definido. "A política de Salazar jogou com monárquicos e republicanos, tentando reter o apoio dos monárquicos sem alienar os republicanos", refere o historiador Rui Ramos. Até porque, acrescenta, o ditador "não é monárquico nem republicano". Para ele, é indiferente a questão do regime que marcara o fim do século XIX e as primeiras duas décadas do século XX. A Infanta também não desconhecia que uma hipotética restauração da Monarquia não estava na agenda política do regime. Afinal, que o seu irmão Dom Duarte Nuno nunca reinaria. "Salazar utilizou a divisão da Família Real entre miguelistas e constitucionalistas para conseguir o máximo consenso com o mínimo custo", alerta Ramos. E recorreu a um expediente tradicional, uma forma de controlo primária, mesmo grosseira mas eficaz. "Salazar teve sempre muito cuidado para que a Família Real não tivesse meios, de que nunca conseguisse ter autonomia financeira, pelo que não deixou que herdassem os bens de Dom Manuel", acentua. Em síntese: queria a realeza "dependente e vulnerável".
 
Não era única a contradição pessoal de Dona Maria Adelaide de Bragança com o regime salazarista: no seu agradecimento, enquanto "Mafalda", pela concessão do passaporte diplomático que a salvara do fuzilamento; na limitação das suas aspirações como Infanta; no seu olhar crítico como cidadã. De algum modo, expressava a dúvida maiúscula de alguns sectores monárquicos. "Perguntavam-se se a melhor situação era estar ao abrigo do Estado Novo", explicita o historiador Rui Ramos. É quando no seio dos que apoiaram o regime aparecem as primeiras dúvidas.

Perfil publicado originalmente a 8 de Fevereiro
 
O texto foi actualizado para incluir informação sobre a morte de Dona Maria Adelaide de Bragança
Nuno Ribeiro
 
Público, 25 de Fevereiro de 2012
 

EVITEMOS CONFUSÕES

O Senhor Salvador Costa, administra no Facebook, entre outras páginas, uma a que deu o nome de “Monárquicos de Portugal” e, uma outra, a que chamou “Jornal O DEBATE”.

Pelas designações era suposto e crível que estivéssemos perante duas páginas que tivessem como principal propósito a defesa da Monarquia, enquanto regime, a doutrinação monárquica, tão necessária e, mais importante ainda, dar a conhecer, porque é preciso, a Família Real.

Na verdade, pese embora a decepção dos verdadeiros monárquicos, não é isso que se passa.

O Senhor Salvador Costa é um acérrimo defensor das políticas desenvolvidas pelo Dr. Oliveira Salazar e, duma forma que não achamos correcta, cola a figura de Oliveira Salazar ao movimento monárquico.

Não está certo e nós, Monárquicos que nada devemos ao homem de Santa Comba, temos que nos insurgir contra isso e, como tal, apelar ao Senhor Salvador Costa que, como Salazarista convicto que parece ser, mude o nome destas páginas e não crie, nos menos avisados, a ideia de que a Monarquia, SAR o Senhor Dom Duarte e a Sua Augusta Família têm alguma coisa a ver, ou tiveram, com tal personagem!

Nem poderiam ter, como é óbvio.

A Família Real nunca poderá esquecer que Salazar, à boa maneira comunista, nacionalizou os seus bens. Nacionalizou o Morgadio da Casa de Bragança que, Mouzinho da Silveira deixou de fora, passe o termo, aquando da célebre Lei da Abolição dos Morgadios e em que, pasme-se, mas é a verdade, a I República nunca tocou!

Nunca tocou porque, na verdade, não o deveria fazer. Eram bens duma Família, não eram bens do Estado.

O mesmo homem que nacionalizou os bens da Casa de Bragança foi o mesmo que, em 1932, após a morte do Senhor Dom Manuel II faz-Lhe Funerais Nacionais e enterra, com “pá” de Mestre a Monarquia.

O mesmo Homem que ao fazer promulgar a Lei do Banimento e ao trazer para Portugal a Família Real fá-lo com o único propósito de ter, aqui, a Família Real controlada.

Não há quem não saiba, (talvez aqueles que negam as evidências), que o Senhor Dom Duarte Nuno (q.D.g), na casa de São Marcos, para onde O desterraram, estava rodeado de PIDES. Até por um dos Seus Lugar-Tenente foi atraiçoado!

Não há quem não saiba que, até correspondência particular enviada para São Marcos ficou “arquivada” na Rua António Maria Cardoso !!!!

António de Oliveira Salazar nunca deu um passo para ajudar à Restauração da Monarquia.

Salazar, se quisesse, com o poder que efectivamente tinha, poderia tê-lo feito. Mas não o fez pelo simples motivo de que não era monárquico e não tinha simpatia pelos monárquicos portugueses.

Todos sabemos, e o Senhor Salvador Costa também deve saber, que houve monárquicos perseguidos pelo regime de Salazar e que, alguns, e de entre eles Heróis Nacionais, tiveram que conhecer as agruras do exílio.

Houve pessoas, é certo, algumas oriundas da antiga nobreza e, a grande parte, pessoas que descendiam das famílias que se evidenciaram durante a monarquia burguesa, grande parte descendentes de confessos Maçons que, rapidamente, viraram a casaca e, num ápice, deitaram fora o avental e vestiram a farda da Legião, que se vergaram ao homem de Santa Comba.

Mas, Senhor Salvador Costa, esses, os adesivos que se colaram a Salazar e ao regime e que as pessoas apontavam como monárquicos, não eram monárquicos. Eram Oportunistas. Nessa altura, como hoje, como num passado mais remoto, sempre houve dessa gente com fartura.

Mais, Senhor Salvador Costa, tenho a certeza que a grande maioria dos Monárquicos portugueses repudia a ideia de misturarmos MONARQUIA com ESTADO NOVO!

Mais, tenho a certeza, também, que os Portugueses fartos desta República podre, com mais de 100 anos (dos quais quase 50 são de Estado Novo), que nos levou ao buraco onde nos encontramos, mesmo os que ainda não são monárquicos mas que poderão vir a sê-lo, nunca quereriam uma monarquia que pudesse ter, mesmo muito ao de leve, alguma inspiração nas políticas do Estado Novo e do seu mentor, Oliveira Salazar.

João de Mariz Sarmento Macieira