Festa de São Gonçalinho
Primeiro, é a concentração na Capela. Ali, o ambiente é de alegria e as canções que todos cantamos, provam isso mesmo. Depois, chegam os mordomos e o destino é a rua. Ou melhor, as ruas da Beira-Mar. O mais engraçado é que tudo é espontâneo. O povo segue uma pequena banda de músicos, mas tudo canta, tudo dança. Velhos e novos. A tradição está garantida. A «arruada» percorre as ruas e pára nas casas das dos mordomos, num circuíto que demora mais de duas horas e que termina sempre na própria capela.A festa de S. Gonçalinho é essencialmente conhecida pelas cavacas, mas para muitos como eu, o seu melhor dia é a segunda-feira. Canta-se vezes sem conta o hino do Beira-Mar, numa demonstração bairrista que é pena não ser seguida noutras ocasiões, nem pela população aveirense em geral.
Manda a tradição de S. Gonçalinho, que sejam distribuídas cavacas (um pão doce e muito rijo) pelos mais necessitados como forma de pagamento das promessas feitas ao santo.
Manda essa mesma tradição que as cavacas sejam atiradas do cimo da igreja de S. Gonçalinho, o que provoca uma enorme confusão no átrio, onde os populares usam de tudo para as apanhar (desde cestos improvisados com redes de pesca, até aos mais caricatos camaroeiros e guarda-chuvas invertidos).
Por entre encontrões e até mesmo algumas cabeças rachadas (sim, as cavacas são mesmo rijas), a euforia é enorme e as pessoas quase deliram no ritual magico da chuva das cavacas.
Uma das festas mais queridas das
gentes do bairro da Beira-Mar realiza-se no Domingo mais próximo do dia 10 de Janeiro.
A festa faz-se em
honra de São Gonçalo, conhecido naquele bairro por S. Gonçalinho. Este terá nascido em
1190 em Arriconha, perto de Guimarães, ganhando fama de santo casamenteiro quando pregava
na freguesia da Aboadela do Marão onde, como bom pároco que era, queria sacramentar os
casais que viviam em situação imoral.
S. Gonçalo terá morrido em meados do
século XIII. O seu culto expandiu-se, tendo chegado rapidamente a Aveiro, mais
precisamente ao bairro da Beira-Mar.
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Neste bairro é-lhe
atribuído poder curandeiro em doenças ósseas e na resolução de problemas conjugais.
O afecto da população local ao seu Santo
padroeiro é de tal forma que o seu tratamento toma aspectos particulares. São
utilizadas, por exemplo, expressões como, "o nosso santinho", "o nosso
menino", bem como, o uso da segunda pessoa do singular ("tu") para se
dirigir ao Santo.
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Durante os dias de
festa pagam-se promessas ao São Gonçalinho, atirando quilos de cavacas doces do cimo da
capela, enquanto na rua uma multidão de pessoas as tenta apanhar. As cavacas são doces
cobertos de açúcar, podendo ser de dois tipos: redondas e relativamente moles (para
serem comidas), ou alongadas e muito duras (para serem lançadas da platibamba da
capela).
A prática de atirar cavacas é uma
característica desta peculiar festa, transformando-a numa original manifestação de
tributo, culto e veneração prestada ao Santo pelos romeiros.
Outro ritual da festa, realizado
ao fim da tarde no interior da capela, é a entrega do ramo. Trata-se de um ramo de
flores artificiais, conservado há muitos anos com religioso cuidado. A festa de S.
Gonçalinho inclui ainda a Dança dos Mancos, ritual realizado também dentro da
pequena capela. Esta dança é executada por um grupo de homens que, fingindo de mancos e
deficientes físicos, movem-se circularmente, mancando e dançando ao som dos cantares que
ecoam na capela.
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