A
promessa de um país mais tolerante e onde uma nova era começava levou
Rodrigo Lopes, médico judeu português, a Inglaterra. Naqueles primeiros
dias, quando assistiu à coroação da soberana, esperava uma vida mais
promissora que a que levava em Portugal, mas estava longe de imaginar
que viria a ser o médico pessoal de Isabel I. Mas, num reino em mudança e
onde o percurso da própria Isabel até ao trono viria a ditar muitos dos
valores do seu reinado, cedo o sonho se transformaria em ambição. E,
com a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir, Rodrigo passaria a
desempenhar também outras funções. Funções que acabariam por ditar o seu
destino...
Há
muito de interessante para descobrir na época histórica relativa à
dinastia Tudor e o reinado de Isabel I é, por si só, um percurso
fascinante. Assim, há, à partida, bastante de cativante na época
histórica que serve de base para esta narrativa. E é precisamente a
linha temporal deste romance um dos pontos que, desde cedo, o tornam
envolvente: ao começar num período relativamente avançado (mas
determinante tanto para as acções de Inglaterra como para a própria
interacção entre o médico e a soberana), recuando depois para a história
de Isabel, desde os últimos anos do reinado de Henrique VIII, seguindo
para a sua caminhada até ao trono e, depois, o seu reinado, revela-se,
desde logo, a ligação entre os dois protagonistas, que se irá
evidenciando à medida que a narrativa evolui, mas que é conhecida desde o
leitor desde bastante cedo.
A
decorrer num longo período de tempo e com uma multiplicidade das
personagens, tanto na história da rainha, como na de Rodrigo, é natural
que o ritmo da narrativa seja relativamente pausado. Ainda assim, e à
medida que tanto a hierarquia como a própria personalidade das
personagens se tornam mais familiares, o enredo cresce em intensidade,
também devido aos vários momentos emotivos que vão surgindo ao longo da
narrativa.
A
nível de caracterização de personagens, destaca-se, naturalmente, a
personalidade de Isabel I. Nota-se um cuidado em mostrar a soberana
tanto no seu papel de monarca (com todas as difíceis decisões
associadas), como de mulher - sensível, amada e capaz de amar,
vulnerável à perda e capaz de lealdades para toda uma vida. Humana, em
suma, com todas as forças e fragilidades associadas a essa condição.
Importa
referir, por último, e no que toca à escrita, algumas falhas de
revisão. Não sendo nada de muito grave, são, ainda assim, evidentes
algumas gralhas, palavras repetidas e vírgulas fora do sítio. E é pena,
porque acaba por quebrar um pouco o ritmo de uma leitura que é, no
geral, bastante cativante.
Com
um contexto histórico muito interessante, uma bem conseguida
caracterização de personagens e um bom desenvolvimento a nível de
enredo, este é um livro que, apesar do ritmo algo pausado (e das tais
gralhas), nunca deixa de ser uma leitura envolvente e agradável. Gostei,
portanto.
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