A data nunca foi para grandes festejos: a 6 de Fevereiro de 1962, a
princesa Isabel passeava com o seu marido Filipe num parque natural do
Quénia quando lhe foi comunicada a inesperada morte do seu pai, Jorge
VI. Aos 25 anos, Isabel era chamada a uma função que, ao contrário de
muitos familiares antepassados, não lhe estava destinada desde o
nascimento.
Aquele
que é hoje o segundo maior reinado da história do Reino Unido não
aconteceria se o rei Eduardo VIII, seu tio, não tivesse abdicado do
trono para casar com Wallis Simpson – uma norte-americana cujos dois
casamentos passados chocavam com os valores da Igreja de Inglaterra e
dos costumes da família real britânica. Aos 10 anos, a pequena 'Lilibet'
passava de sobrinha a filha herdeira do Rei britânico.
A
passagem pelo Quénia, que seria apenas a primeira paragem de uma viagem
que levaria o novo casal da monarquia britânica até à Austrália e Nova
Zelândia, foi bruscamente interrompida para um regresso de emergência a
Londres. E já foi como Isabel II que aterrou na capital do império, onde
foi recebida pelo então primeiro-ministro Winston Churchill.
O
título atribuía-lhe o estatuto de Chefe de Estado em locais como o
Paquistão, África do Sul e Ceilão – hoje Sri Lanka –, além da Austrália,
Canadá ou Nova Zelândia – que ainda hoje fazem parte dos Estados dos
quais Isabel II é a primeira figura institucional. Na Austrália, o
estatuto foi referendado em 1999 mas 6,5 milhões de australianos
escolheram continuar com Isabel II como Chefe de Estado em vez de
inaugurar uma república.
Em
1955, ano em que a pasta de dentes Gibbs SR estreia os anúncios
televisivos em Inglaterra, a jovem Rainha estreia-se a empossar um
primeiro-ministro devido à demissão de Churchill na sequência de
constantes problemas cardíacos. Anthony Eden tornava-se o segundo chefe
de Governo do seu reinado, numa lista onde já se contam 13 inquilinos do
n.º 10 de Downing Street. Um deles, John Major, lembrou esta semana que
«a maioria dos actuais ministros ainda não tinha nascido quando a
Rainha chegou ao trono», o que prova que «há pouco que ela não tenha
visto, pouco que ela não perceba».
Mas
mesmo na altura em que os ministros eram ainda mais velhos do que ela,
já Isabel II se mostrava difícil de influenciar: quando Eden pediu a
demissão, o Partido Conservador não conseguiu chegar a um consenso sobre
o seu sucessor, cabendo à Rainha a decisão de convocar eleições ou
nomear um membro do partido para a chefia do Governo. O Guardian lembrou
na segunda-feira que a monarca «escolheu Harold Macmillan em vez do
favorito da comunicação social, Red Butler». Seis anos depois, ao mesmo
tempo que os Estados Unidos choravam a morte de John F. Kennedy, a
Rainha era chamada a tomar decisão idêntica devido às divisões no
partido do poder.
A nova Vitória
Ao
completar agora 60 anos de trono, o Jubileu de Diamante, Isabel II
igualou um feito só alcançado pela sua trisavó Vitória, que prolongaria o
seu reinado por mais três anos. Mas as comparações de Isabel com a
trisavó já têm mais de 50 anos: em 1960 dava pela terceira vez à luz, a
primeira Rainha a fazê-lo desde Vitória, com o nascimento do filho
André, hoje Duque de Iorque. A descendência, que então já contava com a
Ana, princesa Real, e Carlos, príncipe de Gales, viria a aumentar quatro
anos depois com o nascimento de Eduardo, conde de Essex.
Seriam
os filhos os principais responsáveis por aquele a que chamou o ‘annus
horribilis’ de 1992. Ao divórcio de Ana e Mark Phillips juntou-se a
notícia da separação entre Carlos e Diana de Gales e de André e Sarah
Fergunson. Abalos familiares a que se juntou um incêndio que destruiu
parte do Castelo de Windsor. O acontecimento voltaria a aproximar Isabel
do seu povo: perante as críticas da opinião pública ao anúncio do
primeiro-ministro de que o castelo seria reconstruído com dinheiro
público, a Rainha decretou a abertura do Palácio de Buckingham para
visitas gratuitas durante os meses de Agosto e Setembro. O sucesso da
iniciativa foi tal que ainda hoje se repete anualmente.
Inspirada por uma década revolucionária que levara o homem à Lua, dera a conhecer os Beatles e culminara no Maio de 68, a Rainha britânica autorizou, em 1969, a
realização de um documentário que retratava o dia-a-dia dos membros da
família real. O filme é transmitido na BBC e na ITV mas a Rainha decreta
a proibição da sua repetição, até hoje. Noutra demonstração de
arrependimento, considerando que o povo já a vira o suficiente,
substituiu a tradicional mensagem televisiva de Natal por um documento
escrito.
No
ano seguinte troca de estratégia: em visita à Austrália e Nova
Zelândia, onde já foi 15 vezes como Chefe de Estado, quebra o protocolo e
abandona o carro real para se dirigir ao povo que a saúda. Uma tradição
que mantém até hoje mas que não fez parte da visita oficial a Portugal,
realizada no longínquo mês de Fevereiro de 1957.
Até
ao momento, o seu reinado conheceu cinco Papas e 12 Presidentes dos
Estados Unidos. Em 1980 Isabel II_tornou-se o primeiro monarca britânico
a realizar uma vista oficial ao Vaticano. Já com os Presidentes dos EUA
privou com todos – à excepção de Lyndon Johnson. E nesse mundo
diplomático recebeu em 1975 um raro reforço monárquico numa Europa cada
vez menos dada a histórias de reis e rainhas: Juan Carlos, seu primo por
também ter a Rainha Vitória como trisavó, ascende ao trono espanhol
após a queda da ditadura de Franco.
Quando
assumiu o trono era difícil imaginar que Isabel II algum dia visitasse a
Rússia, mas fê-lo em 1994, um ano antes de voltar a comemorar o fim da
II Guerra Mundial no Palácio de Buckingham – desta vez ficando-se pela
varanda, ao invés de se misturar no meio do povo como fizera em 1945,
com 18 anos.
Isabel
II não celebrou o seu Jubileu de Diamante no dia da morte do pai. Irá,
como sempre, festejá-lo ao longo do ano, com o ponto alto marcado para
Junho, quando uma frota de mil barcos, encabeçada pelo navio da Rainha,
encher o rio Tamisa. Até lá, a Soberana dará a volta a todo o país e os
seus familiares visitarão os 16 Estados que respondem à coroa. Foi assim
também há dez anos, apesar de naquela altura a monarca ter perdido a
mãe e a irmã, num curto espaço de tempo. E será assim daqui a outros
dez, se Isabel II mantiver a saúde.
Fonte: SOL
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