Maria Adelaide de Bragança van Uden, 100 anos, neta do rei D.
Miguel, morreu hoje na Caparica, disse à Lusa um dos seus filhos, que
adiantou que as cerimónias fúnebres decorrerão "em ambiente familiar".
"Haverá, no entanto, missa de sétimo dia no Mosteiro dos Jerónimos,
na próxima quinta-feira às 20:00", disse à Lusa Francisco de Bragança
van Uden.
A infanta Maria Adelaide no passado dia 31 de Janeiro, quando completou 100 anos, foi condecorada com o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito Civil pelo Presidente da República, num jantar realizado em Lisboa em sua homenagem.
Maria Adelaide integrou a resistência austríaca aos nazis, esteve
presa e veio viver para Portugal, onde criou a Fundação Nun’Álvares
Pereira para apoio aos carenciados.
"É um exemplo de vida pela estatura moral", disse à agência Lusa
Raquel Ochoa, autora de uma biografia da infanta editada em maio do ano
passado.
Maria Adelaide de Bragança é tia do actual duque de Bragança, Duarte
Pio de Bragança, filha do exilado D. Miguel, da linha dinástica banida
de Portugal pela Convenção de Évora Monte, de 1834, após a derrota do
rei D. Miguel, o absoluto, pelas tropas liberais que apoiavam o irmão,
D. Pedro IV, que proclamou a independência do Brasil, e sua filha, D.
Maria II.
Referindo-se à actividade de Maria Adelaide como resistente aos
nazis, na Áustria, Raquel Ochoa considerou que é “um ato heróico, mas
quando questionada sobre a questão, D.Maria Adelaide apenas afirma que
foi uma reacção natural com algo com que não concordava. Era-lhe
impossível viver num mundo assim”.
“A resistência era como respirar, perante a educação que tinha tido e
os ideais que tinha. Não resistir é que era uma violência contra ela
mesma. Resistir era um ato natural”, explicou a biógrafa.
Maria Adelaide foi detida pelas tropas nazis, tendo sido salva de
fuzilamento “in extremis” após várias diligências de António Oliveira
Salazar, então presidente do Conselho de Ministros, que se indignou por
terem prendido uma infanta portuguesa.
A autora sublinhou que Maria Adelaide de Bragança van Uden “teve
outros actos heróicos”, referindo o seu trabalho “como assistente social
em prol das populações desfavorecidas” na margem sul do Tejo,
desenvolvido de “forma discreta”.
“Ela [Maria Adelaide] percebeu que através da discrição não era
notada nem perseguida, além de, por educação, não gostar de fazer alarde
do que faz. Há zero de gabarolice nesta família, o que é a antítese da
sociedade em que vivemos”, disse.
Esta acção social foi feita no âmbito da Fundação Nun'Álvares Pereira que se diluiu após o 25 de Abril de 1974.
Referindo-se à posição da infanta ao regime que antecedeu a
revolução de 1974, Raquel Ochoa afirmou que “reconheceu Salazar como
quem pôs em ordem as contas do Estado, mas insurgiu-se sempre contra os
métodos usados”.
Na obra, intitulada “D. Maria Adelaide de Bragança. A Infanta
Rebelde”, com chancela da Oficina do Livro, Duarte Pio de Bragança diz
no prefácio que a tia é “um exemplo”.
Maria Adelaide nasceu em Saint Jean de Luz, França, a 31 de Janeiro
de 1912, tendo sido padrinhos a rainha D. Amélia e o rei D. Manuel II,
já no exílio.
Em 1949, com 37 anos, Maria Adelaide de Bragança fixou residência na Costa de Caparica.
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