Tenho acompanhado com alguma curiosidade e até alguma surpresa toda
esta agora desenterrada “história” acerca da Maçonaria e da sua eventual
“miscigenação” com os interesses económicos e políticos.
Devo, ab initio, fazer uma confissão que é, igualmente, um acto de Fé. Não me move uma especial animosidade contra a Maçonaria, enquanto organização que defende muitos dos valores que são para mim imorredouros e adquiridos por uma sociedade que se pretende democrática, onde os que mais valem devem ser recompensados.
Será, do mesmo modo, necessário admitir que, em tempos que já lá vão, fui abordado no sentido de vir a integrar-me no seu seio, ficando de resto horrorizado quando, reagindo negativamente, me foi retorquido que correria o risco de nunca alcançar os lugares de topo, podendo seguir as pisadas de meu Pai… (longe estava eu de imaginar que meu Pai fora contactado nesse sentido, ainda que não tivesse dúvidas de que, numa situação dessas, a sua resposta seria sempre e indiscutivelmente negativa).
A verdade, porém, é que esta minha teimosia em manter uma independência e afastamento de “engajamentos” que vinculam é bem antiga. E agora, indo completar no próximo mês 60 anos de existência, se Deus o permitir, cada dia mais identificado me sinto com esse distanciamento que pretendi manter em relação a certo tipo de organizações.
Talvez seja esse um dos motivos que me levam a manter uma independência partidária, desde que abandonei o Partido que dirigi e ao qual me “vinculei” em 1978.
Assim sendo, caras Amigas e Amigos, assumo esta postura e eventualmente
aceitarei que ela poderá, directa ou indirectamente, estar ligada com a
minha visível “apagada e vil” mediania em que tenho vivido desde que me
tornei “Homem”…
Curiosamente (ou talvez não) tenho vindo a acompanhar muitas das
afirmações que são produzidas acerca da notícia de um envolvimento da
Loja maçónica “Mozart” (bem simpática e apelativa a nomenclatura
escolhida, por referir-se não só a um genial compositor que tanto me
encanta, como pelo facto de ele próprio ter sido um membro da
Maçonaria), com os Serviços Secretos do Estado Português.
E não quero estar aqui a desenvolver o que conheço, há muito, das raízes
e História da Maçonaria, para responder ao sapiente Doutor José Adelino
Maltez, que agora aparece qual Merlin a demonstrar que tudo o que
existiu e existe de bom no caminhar da humanidade está associado a esta
organização secreta, esquecendo (quiçá por atupimento dos “buracos de
Monro”) as ligações dessa mesma organização a assassinatos (maxime de um
Rei e um Príncipe em Portugal) e congeminações políticas e económicas…
Mas o que mais me fez temer pelo meu caminhar a passos largos para uma
demência sem solução clínica, foram afirmações produzidas por
personalidades que há muito respeito. E fico francamente atónito com
esta vergonhosa e agoniante praxis das afirmações do “politicamente
correcto”.
Ouvir certas personagens de velhos republicanos e socialistas a defender
a Maçonaria não me incutem qualquer tipo de surpresa (o que aconteceria
no sentido contrário).
Que essas personagens, algumas já bafientas e visivelmente “cansadas”
pelo passar da idade, somente refiram as eventuais maravilhas produzidas
através dos tempos pelos maçónicos também não me causa surpresa ou
sequer indignação. Não lhes dou qualquer crédito e muito menos perco
tempo a ouvir um papaguear de parvoíces repetidas até à exaustão.
O que já me provoca a intervir são afirmações como as de José Adelino
Maltez, tentando impingir a quem não anda distraído e muito menos faz
parte dessa enorme plêiade de ignorantes desta matéria uma visão
“dourada” e “celestial” da Maçonaria Universal, associando-a a tudo o
que foram movimentos de avanços civilizacionais: a Abolição da
Escravatura, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e toda a
panóplia de legislação onde a defesa dos valores da Democracia esteja
espelhada.
Esquece-se – muito pouco inocentemente refira-se – de dizer que muitas
dessas alterações legislativas e “avanços civilizacionais” se produziram
no tempo de uma Monarquia Constitucional, que ela própria integrava no
seu seio membros activos e ilustres da Maçonaria.
O mais curioso, porém, é relembrar que toda a Monarquia portuguesa dos
séculos XIX e princípios do século XX está marcada pela influência da
Maçonaria aos mais altos níveis, contando mesmo no seu seio um
respeitado e culto Rei Consorte, como foi D. Fernando II (de Saxe Coburg
Gotta), cujo nome se encontra ligado a movimentos e acções culturais de
nomeada.
Poderemos mesmo ponderar até que ponto a recusa do malogrado Rei D.
Carlos em integrar essa organização não teve a ver com o seu trágico e
violento assassinato…
O que podemos, e devemos, concluir é que neste (como em muitos outros
episódios da História) o “feitiço se virou contra o feiticeiro”; pois
foi essa vertente maçónica associada ao Regime que o levou a cavar a sua
própria sepultura!
Amigas e Amigos, quando reitero que não pretendo fazer de Juiz da
História, e muito menos pretendo dar lições de uma sapiência que não
possuo acerca da Maçonaria, nas suas diversas vertentes, afirmo sem
hesitação que possuo na “História de Família” dois nomes que muito
respeito e que pertenceram a esta organização.
E não posso, nem quero, deixar de os citar, pois eles poderão ser
óptimos exemplos de como certas personalidades, reconhecidamente
portadoras de qualidades humanas e culturais inegáveis, poderão ter sido
“beneficiadas” socialmente ao integrarem as fileiras da Maçonaria.
O primeiro, Francisco Joaquim Moreira de Sá, Fidalgo da Casa Real,
Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, administrador do Morgadio de Sá,
em Vizela, etc., parente por sua 1ª mulher do futuro 1º Conde da Barca
(curiosamente, ou talvez não, também ele membro da Maçonaria) que a seu
parente muito auxiliou para certos empreendimentos onde a proximidade e
influência junto da Corte muito contribuiu.
E se essas personalidades não deixam de ser uma referência, para todos,
mesmo para os que sempre combateram esta organização, como portadoras de
uma enorme craveira intelectual e humana não deixa de ser notória a
“influência” que na sua vida e nos seus notáveis trajectos sociais ela
estará associada.
Lembro que da segunda destas personalidades familiares, meu bisavô
Bernardo Moreira de Sá, escreveu Oliveira Martins: “Bernardo V. Moreira
de Sá é de uma altura moral incompreensível”. E José Relvas, ilustre
personalidade republicana da Cultura e da Política portuguesa que
comentou: “Nunca conheci maior político do que Moreira de Sá; mas
infelizmente político da Música”.
Não deixa, porém, de ser notória a mais do que provável influência que a
filiação maçónica (neste último caso pela mão de seu grande Amigo Viana
da Motta, ele também maçon) serviu para a sua aproximação e amizade com
vultos enormes da Cultura e da Música Universal, como Claude Debussy,
Maurice Ravel, Charles Vidor, Leon Sachs, etc., alguns destes nomes
igualmente (e não por mero acaso) também membros de lojas maçónicas…
Mas igualmente, e curiosamente (ou talvez não…), com uma personalidade
de excêntrica carreira política, um precursor dos ideais e técnicas do
fascismo italiano: Gabrielle d’Annunzio.
O que me causa espanto, pelo lado negativo, são afirmações algo
nebulosas como as do actual Cardeal Patriarca D. José Policarpo,
personalidade que muito respeito, ao comparar a filiação na Maçonaria a
equipas de futebol como o Benfica ou outras!… Talvez uma afirmação que,
dita desse modo, queira “politicamente” dissociar – de uma discussão
mais profunda acerca de sociedades secretas – a “Opus Dei”, e mantê-la
assim longe de uma possível “similitude” nas práticas…
Mais corajosas e “politicamente incorrectas” (e o futuro confirmará se
haverá ou não consequências para essa postura tão frontal…) foram as
proferidas por personalidades como a Drª Paula Teixeira da Cruz (actual
Ministra da Justiça), do Dr. Morais Sarmento, do Dr. Rui Rio ou do Dr.
Miguel de Sousa Tavares.
A estes quero deixar uma palavra de enorme Respeito e Admiração pela coragem e verticalidade!
Terminarei, de momento, toda esta Reflexão acerca de uma matéria que
tantos “rios de tinta” tem feito correr, com um reafirmar de que, embora
afastado de organizações como a Maçonaria, não serei um apoiante de uma
“caça às bruxas”.
O que entendo, isso sim, e afirmo-o peremptoriamente, é não vislumbrar
qualquer razão válida para a existência de organizações secretas em
sistemas democráticos – excepto a já existente, controlada pelo Estado, e
que tem por finalidade a defesa e prevenção de Portugal, nomeadamente
contra atentados ao País e aos Cidadãos.
Pelo que, assim entendo, deveriam ser extintas ou, pelo menos,
controladas no sentido de as impedir de “manipularem” uma sociedade onde
os valores que a norteiam são antagónicos com organizações deste tipo.
Afinal, em que matérias terá algum interesse a sua identificação com um
“secretismo” e a obrigatoriedade de fidelidade a “ritos”? O que é que
pode estar subjacente à existência destas organizações se não for uma
tentativa (pelos vistos muitas vezes conseguida) de “manipulação” e
“influência” em decisões do Estado e no controle dos principais
“lobbies” economico-financeiros?
Pela minha parte, regressando a esta minha já referida “pobre e vil”
mediocridade social e económica, nada mais quero deixar escrito.
Somente a confirmação de que cada dia que passa mais nojo e repugnância
sinto em matérias onde a Ética, a Justiça, a Honestidade e a Honra são
valores diariamente vilipendiados e sujeitos a “manipulações” de uma
corja de arruaceiros, saídos de uma qualquer e desconhecida porta
“secreta” de acesso aos lugares cimeiros da sociedade, sem que se
consiga entender onde e quando nasceram tais sumidades, e como e quem os
elevou à Excelência!
Serei certamente eu um dos “estúpidos” que, como “alarvou” o angelical
Dr. Almeida Santos, pretende fazer regressar Portugal a “um Salazarismo
mais repelente e ultrajante”? Ou serão personalidades de passado algo
“conturbado” e “cinzento” que transformam Portugal diariamente num País
cada vez mais obscuro, medíocre e triste?
Será talvez chegada a hora de todos pararmos para Reflectir.
Afinal, poderá estar próximo o dia em que todos nós estaremos a assinar
inconscientemente a Morte de um País, e consequentemente a comprometer,
de forma irremediável, o futuro dos nossos Filhos e Netos.
Reflecte, Portugal!
Reflecte, Portugal!
Fernando de Sá Monteiro
Sem comentários:
Enviar um comentário