Novo livro de deputado socialista publicado esta semana vem deitar achas na fogueira do presidente francês candidato à reeleição
Em época de presidenciais, os candidatos dão tudo por tudo para
angariar votos. E mesmo para os que só se candidatam à reeleição, a
vitória nunca está garantida à partida. Que o diga Nicolas Sarkozy, que
ao ver a sua popularidade em queda, prometeu ao eleitorado que ia cortar
nas despesas do Palácio do Eliseu, para uma semana depois ver os seus
gastos “astronómicos” serem denunciados num livro explosivo que, esta
semana, chegou às bancas francesas.
“L’Argent d’État’ (“O dinheiro do Estado”) é assinado por René Dosière –
deputado do Partido Socialista, o grande partido da oposição a
governamental União por um Movimento Popular (UMP, conservador) do
presidente de França – e nele nenhum pormenor é deixado de fora. O
deputado garante que teve acesso a vários registos das despesas do
gabinete presidencial, no que classifica de “números que nos põem
tontos”.
Tonturas é o que o líder francês deve estar a sentir, ele que até agora
não reagiu à publicação de Dosière. No livro, o socialista denuncia que
o presidente gasta, por dia, 12 mil euros em alimentação, tem 121
carros estacionados no Eliseu (o dobro da frota do ex-presidente,
Jacques Chirác) e usou quase 260 milhões de euros de dinheiro público
para comprar e manter o seu Airbus A330 (baptizado de Air Sarko One).
“[Sarkozy] ignora o mais elementar dos princípios que é a separação das
contas privadas das contas públicas”, diz Dosière.
No orçamento do Eliseu contam-se gastos como 120 mil euros por ano para
os seguros da frota automóvel, mais 327 mil euros por ano em
combustível. E só na semana passada, os cofres públicos terão perdido 26
mil euros para cobrir o envio de uma equipa de médicos à Ucrânia a
bordo do avião presidencial para dar apoio a um dos filhos do
presidente, Piérre, e trazê-lo de volta a Paris.
E a austeridade, não chega ao presidente?, perguntarão os franceses. Há
uns tempos, Sarkozy cancelou a festa anual nos jardins do Eliseu, num
passo aplaudido pela opinião pública por poupar quase 600 mil euros dos
cofres estatais. Mas desengane-se o eleitorado, diz Dosière, que a
poupança fica por aí.
O presidente de França gasta tanto, diz o socialista, que o Orçamento
do Eliseu ultrapassa as despesas anuais da Rainha Isabel II de
Inglaterra. Afirmação suficiente para engasgar o menos republicano da
República por excelência.
Nas 300 páginas dedicadas aos gastos do Eliseu, onde Dosière põe cada
despesa sob a lupa da nova legislação quanto a gastos públicos do país,
os números mais estrondosos surgem quando o deputado pelo círculo
eleitoral de Aisne chega às excursões de Sarkozy no A330. Nas viagens
mais recentes do presidente, que “é sempre acompanhado de uma comitiva
de 300 pessoas” e que “já fez mais viagens do que qualquer dos
ex-presidentes de França”, conta-se uma viagem de Paris a Saint-Quentin,
que custou 417 mil euros, uma visita às caves de Lascaux com Carla
Bruni, que custou 130 mil euros, e uma viagem de duas horas e meia até
Ain, que custou 835 euros por minuto. Contas feitas, a despesa total por
ano do presidente desde que assumiu o cargo: 113 milhões de euros.
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