Detesto o politicamente correcto que até se diz contra o
politicamente correcto, para ver se acerta na corrente do pensamento
único que diz não o ser. É por isso que sou contra o situacionismo
politiqueiro que, da esquerda menos à direita menos, não consegue
compreender que só há verdadeira política que antes seja metapolítica.
Isto é, que seja crença, ideologia, doutrina ou valores. Porque, no
princípio, estão os princípios. Nada há de mais reaccionário do que um
pretenso modernizador que proclame a tradição como o olhar para trás,
quando só a partir das raízes pode haver progresso. Só as coisas
verdadeiramente antigas é que não são antiquadas. As outras são modas
que passam de moda.
A esquerda tem tradição. A direita tem tradição. O pretenso
meio-termo do centrão, isto é, o discurso dominante nos últimos governos
que se dizem de esquerda e que dizem de direita, não é fiel ao
essencial daquele ponto fixo do centro excêntrico a partir do qual se
pode mudar Portugal e a Europa. Basta que a tradição de esquerda se
federe com a tradição de direita num acordo regenerador e refundacional,
mesmo que se estabeleçam os campos do desacordo. Costumo chamar liberal
a essa atitude. O liberal não é o liberalóide. Detesta contrafacções e
não gosta de sucedâneos.
Estamos à beira de uma alteração radical das circunstâncias, por
causa da crise grega. Porque mesmo que não aconteça nada, continuaremos
entre o tudo e o seu nada. Com a seriedade da abolição do feriado do
Carnaval. O tal que nunca existiu, mas que simplesmente era tolerado,
quando ainda se picava o ponto e se gozava a ponte.
Os homens de acção, quando destituídos de fé, jamais acreditaram
noutra coisa que não fosse o dinamismo da acção. A frase é de Albert
Camus. Pode aplicar-se à cultura organizacional do situacionismo jota e
jeans.
A pior coisa da esquerda dominante de outrora foi gerar esta direita
que lhe convinha. E entre pilares desta ponte do tédio, lá continuamos
imbecilizados. Os canhotos e endireitas lá continuam em hemiplegia
moral, não se apercebendo que são meros fantoches dos bonzos de sempre.
É por isso que recordo uma mulher, 60 anos de trono, 16 países. Uma
rainha. Um contrato de gerações, para além dos Estados. Um problema para
quem não compreende a tradição. Nem a macropolítica. Não cabe numa
folha Excel. Nem num regulamento de manga de alpaca feito notável da
treta.
José Adelino Maltez no Forte Apache
publicado por João Távora em Real Associação de Lisboa
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