''Em Dezembro de 1930 Dom Manuel II nomeia Lugar-Tenente o
Conselheiro João de Azevedo Coutinho, que continuará no cargo quando
sobrevier a sucessão de Dom Duarte Nuno. O herói de África será o
instrumento mais ''apassivante'' de Salazar junto dos monárquicos. Um
líder bem ao estilo de Direita europeia de então perfila-se no campo
político nacional: é Francisco Rolão Preto, Chefe do nacional
-Sindicalismo, os seus ''camisas azuis'' usam a braçadeira com a Cruz
de Cristo, marcham a passo cadenciado e fazem a saudação fascista.
Salazar temia-o; como temia a Henrique Paiva Couceiro, o mítico
Comandante.
Em 2 de Julho de 1932 Dom Manuel morre em Londres logo a 6 começam os
Jornais a falar da questão dinástica. Salazar assume em 7 a
presidência do Ministério e tem coragem: funerais nacionais para El-rei
falecido. mas diz que o último Soberano morreu ''sem descendência nem
sucessor'' começo de uma ambiguidade magistral que vai durar até ao
colapso. Entretanto, com vista à sua proclamação como Rei de Direito, o
enunciado expresso a Dom Duarte Nuno pelos Corpos Directivos da Causa
Monárquica inclui a condição necessária do apoio à Ditadura... Então,
enfim, o Lugar-Tenente João de Azevedo Coutinho reconhece e proclama:
Viva Sua Majestade o Senhor Dom Duarte II! O novo rei inicia o seu
reinado de jure, ou seja, o que foi o seu sequestro até aos dias do
fim. Salazar não quererá encontrar-se com ele: situação embaraçosa...,
argumentava.
No seu Jornal ''Revolução'' Rolão Preto bate com violência no Chefe
do Governo... e este inicia a liquidação do Nacional-Sindicalismo;
peritamente. Dom Manuel II deixara um testamento inexpressivo quanto ao
futuro dos seus bens da Casa de Bragança como suporte da subsistência
do Herdeiro. Em 21 de Novembro de 1933 o Decreto nº 23240 ofende a
sucessão do vínculo ; Dom Duarte Nuno não herda a
administração que pertencera ao Primo e vê-se perante uma disposição
que, na prática, é de confisco; protesta ao Governo e ao País. O
tratamento deste assunto ao longo da vida do regime é um contínuo:
sempre a vontade - expressa o mais cortês possível - de não fazer nada
que pudesse tornar Dom Duarte Nuno, El rei Dom Duarte II,
financeiramente independente. Em Maio de 1934, inusitadas
agressões do Jornal ''o Século'' a Dom Duarte Nuno, com a Censura
inibindo estranhamente o desforço monárquico; cumplicidades inesperadas
com o Jornal levam a ''federação dos Estudantes Monárquicos
Portugueses'' a publicar um ''Rei da Desonra''.
''Protegidos'' no Estado Novo, os monárquicos?
generalização totalmente falsa: benvindos os apoiantes, consentidos, os
inóquos ou os que não incomodassem para além dum certo ponto; mas os
demais... Em 14 de Julho de 1934 Rolão preto, preso, é
posto na fronteira; proibida a residência em território nacional ''ao
D. Alberto Macedo Papança, mais conhecido por Alberto de Monsaraz'',
Salazar acaba com os ''camisas azuis''. Ele tem outras fórmulas: a
Acção Escolar Vanguarda, a Mocidade Portuguesa, a Legião Portuguesa,
tudo com gente de sua confiança, muitos monárquicos...
- Fernando Amaro Monteiro, in Salazar E O Rei (que não foi), Ed. Livros do Brasil
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