Sendo contra os
princípios funestos da Revolução Francesa, nós somos necessariamente
contra a organização económica da sociedade moderna. O Trabalho e a
Propriedade sofreram com a obra da revolução a influência duma nova
ordem de coisas, donde deriva imediatamente a crise que a todos nos toca
e que escurece o horizonte com tão cerradas interrogações. O
proletário, que nós vemos enfeudado ao cortejo dos agitadores políticos,
deve à democracia a sua situação miseranda; a desorganização
individualista da revolução aboliu os quadros corporativos em que o
Trabalho se protegia e defendia dos acasos da concorrência em que o
trabalho deixou o produtor entregue ao arbítrio da plutocracia, que é
sem dúvida a única e a verdadeira criação do espírito revolucionário.
Enganam-se os humildes se nas promessas falaciosas do erro democrático
supõem encontrar a realização das suas reivindicações justíssimas! Um
século inteiro de experiências dolorosas mostra-nos que nunca a sorte
das classes pobres pode ser tratada e minorada pelos governos saídos do
voto, que são estruturalmente governos sujeitos, por defeito de origem, à
venalidade e à corrupção.
A Propriedade e
o Trabalho, constituindo a pedra angular da Família, constituem os
alicerces inalienáveis da Nacionalidade. Cosmopolita, mais fácil de se
furtar às suas responsabilidades sociais, o Capital precisa de se
restringir aos seus defeitos de relação entre a terra e o homem. Os
desaforos do cambismo, envolvendo e universalizando a sociedade por meio
da judiaria argentária, empurram-nos fatalmente para a dissolução do
conceito supremo da Pátria. Impossibilitam por outro lado o operário de
se hierarquizar como uma energia positiva e autónoma.
As democracias resultam daqui, agora e sempre, como as formas de governo mais aptas à supremacia da alta finança. São «Le pays de cocâgne rêvê par des financiers sans scrupules»
como Georges Sorel as define. A instabilidade do poder nos governos
electivos e a sua conquista pela corrupção eleitoral torna-os por
natureza regimes abertos, como nenhuns outros, às imposições do
Plutocratismo.
António Sardinha in «Durante a Fogueira».
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