É uma Irmandade com mais de 500 anos de história, que quer
continuar a promover o culto à Virgem Santíssima. A Real Irmandade de
Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião está situada na Mouraria, em
Lisboa, e quer angariar mais irmãos para manter vivo este culto.
Promover
o culto à Virgem Santíssima! Esta é a essência da Real Irmandade de
Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião, que no passado fim-de-semana
organizou as tradicionais festividades em louvor de Nossa Senhora da
Saúde, que decorreram na cidade de Lisboa. “Somos uma associação de
fiéis, que tem como obrigação e responsabilidade primária o culto à
Virgem Santíssima, através de Nossa Senhora da Saúde e do mártir São
Sebastião. Esta é a essência da Irmandade e a maior parte das acções que
desenvolvemos têm como finalidade conseguir este desiderato”, salienta
ao Jornal VOZ DA VERDADE o provedor da Irmandade, tenente-general
António Marques Abrantes dos Santos.
Provedor da Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião desde Março de 2007, foi em
1962 que o então jovem militar Abrantes dos Santos contactou pela
primeira vez com esta associação de fiéis. “Sou artilheiro [militar que
serve na artilharia] e, de alguma forma, todos os artilheiros estão
ligados a esta Irmandade. Na nossa vida militar, na Academia Militar,
automaticamente somos logo inscritos como irmãos! Originalmente, foram
os artilheiros da Corte que fundaram a Irmandade de São Sebastião, uma
vez que só uns anos mais tarde é que esta se juntou com a então chamada
Associação de Nossa Senhora da Saúde”.
A verdade é que essa
inscrição como irmão não garante desde logo uma ligação com a Irmandade.
Os laços do militar Abrantes do Santos com a Real Irmandade seriam
estreitados já neste novo milénio. “Em 1962, fiquei irmão mas nunca mais
liguei à Irmandade. Os laços só se estreitaram mais tarde, era eu
general e era também director honorário da Arma de Artilharia. Foi nesta
qualidade, como representante de todos os artilheiros, que em 2006
participei na Missa de São Sebastião, a 20 de Janeiro, e na Missa de
Santa Bárbara, em 4 de Dezembro. Recordo-me que o provedor de então
ficou surpreendido com a minha vocação religiosa e com a minha ligação à
Igreja!”. Foi, por isso, com naturalidade que surgiu o convite para o
tenente-general António Marques Abrantes dos Santos se tornar provedor
da Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião, cargo
que desempenha há mais de cinco anos.
Celebrações e caridade
Esta é uma Irmandade cheia
de história. Foi fundada em 1505 e conta já com 507 anos de vida! Ao
longo do ano, são diversas as actividades e celebrações que a Irmandade
organiza, além das tradicionais festividades em louvor de Nossa Senhora
da Saúde. “Temos Missas obrigatórias em determinadas datas,
especialmente Missas em louvor de Santo António, por ser padroeiro de
Lisboa, mas também São Sebastião, Santa Bárbara e Senhora da Saúde”.
A vocação da Irmandade
passa ainda pelo cuidado do outro. “Desde cedo que a Irmandade tem outra
atribuição e que, nos dias de hoje, cada vez mais se impõe: a acção
sócio-caritativa. Já tivemos o Lar de Cegos de Nossa Senhora da Saúde,
fundado em 1896, mas actualmente distribuímos os bens do Banco Alimentar
Contra a Fome. Nas terceiras terças-feiras de cada mês fazemos a
distribuição às pessoas mais carenciadas da zona da Mouraria, com os
géneros do Banco Alimentar e também com outros que adquirimos com os
nossos recursos”, conta o provedor da Irmandade, salientando que “em
épocas especiais, como o Natal e a Páscoa, esta ajuda é reforçada com a
entrega de cabazes”.
Angariar irmãos para manter o culto
Neste seu 2º mandato como
provedor, o general Abrantes dos Santos tem tido também uma preocupação
em especial: a angariação de novos membros para a Irmandade. “Na Real
Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião temos procurado
angariar mais irmãos para a Irmandade, de forma a permitir que a
Irmandade não acabe! Porque, sem haver irmãos não há Irmandade, e sem
haver Irmandade não há culto à Virgem Santíssima”.
Antigamente, apenas eram
admitidos homens nesta Real Irmandade. Hoje, essa é uma realidade
ultrapassada e qualquer pessoa pode aderir. Contudo, há uma condição que
se mantém. “Neste momento, somos cerca de 500 irmãos! Admitimos pessoas
de todos os sexos e, curiosamente, temos praticamente o mesmo número de
senhoras e de homens. O único requisito para pertencer à Irmandade é
ser baptizado e católico praticante”, assegura o provedor.
O desejo de um novo espaço
A Real Irmandade de Nossa
Senhora da Saúde e de São Sebastião tem sede na Capela de Nossa Senhora
da Saúde, no Martim Moniz, um templo do século XVI que, em termos de
espaço, já não responde a todas as necessidades da Irmandade. “Não temos
nenhum outro sítio além da igreja… estamos ‘fartos’ de pedir à Câmara e
à Junta, que têm por aí tantas casas. O nosso único pedido é que seja
um espaço na área da capela, no Martim Moniz, e ao nível do rés-do-chão,
porque muitas das pessoas que vêm buscar ajuda são idosas”, sublinha o
general Abrantes dos Santos.
Situada na área geográfica
da paróquia de Santa Justa e Santa Rufina, a Real Irmandade de Nossa
Senhora da Saúde e de São Sebastião conta com um capelão, o padre Vítor
Gonçalves, pároco da igreja de São Domingos, na Baixa. “O pároco de
Santa Justa e Santa Rufina é sempre o capelão da Irmandade e reitor da
igreja da Senhora da Saúde”, refere o provedor.
A maior procissão da cidade de Lisboa
As festividades em louvor
de Nossa Senhora da Saúde, organizadas anualmente neste mês de Maio,
ficam sempre marcadas pela procissão que percorre as ruas da cidade de
Lisboa. Começando e terminando no Martim Moniz, este acto de fé decorreu
este ano no passado Domingo, dia 6 de Maio, e juntou entre 15 a 20 mil
pessoas. “Eu considero a procissão de Nossa Senhora da Saúde a maior
procissão da cidade de Lisboa! É gratificante ver tanta gente com fé”,
garante o general Abrantes dos Santos. A adesão popular à procissão é
também uma recompensa por todo o trabalho organizativo.
“Estas festas têm uma
envergadura enorme! Pouca gente sabe que o planeamento e preparação
demoram um ano! As festividades decorrem em Maio e logo após as férias, a
partir do início de Setembro, começamos a fazer as primeiras
diligências com vista ao ano seguinte! E de facto, o que compensa o
nosso esforço é a resposta da população”, assegura o provedor da Real
Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião.
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Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião
Durante o século XVI foi
Portugal flagelado pela peste por várias vezes, sendo tão mortífera que,
segundo os cronistas da época, ficou o reino em grande parte
despovoado. Numa dessas epidemias, logo no princípio do século, a classe
militar foi particularmente atingida, pelo que os artilheiros, «vendo
sobre si tão temeroso inimigo», invocaram o auxílio do glorioso Mártir
São Sebastião, que foi soldado romano, com uma vida guerreira e heróica,
e tido como advogado contra a peste, a fome e a guerra.
A Irmandade de São Sebastião
Os artilheiros da Corte,
instalados no Castelo de São Jorge, em agradecimento por tão grande
favor de Deus, obtido pela intercessão daquele santo mártir, construíram
nesse tempo a devota Irmandade de São Sebastião e edificaram, segundo
alguns cronistas, a actual ermida, junto do postigo da Mouraria, fora da
cerca que circundava então a cidade, onde colocaram a imagem do santo.
Segundo outros historiadores, teria a capela sido edificada no ano de
1505 e doada aos artilheiros para culto de São Sebastião. O certo é que
esse culto foi sustentado durante algumas dezenas de anos apenas pelos
artilheiros, que para esse efeito sofriam nos seus vencimentos descontos
obrigatórios, mesmo os que embarcavam para serviço na Índia.
A Irmandade de Nossa Senhora da Saúde
Mais tarde, em 1569, a
«peste grande» deu a morte, só em Lisboa, a 50 ou 60 mil pessoas, numa
população de 120 mil almas, chegando a haver por dia mais de 600
enterros. A epidemia surgiu de súbito em Maio daquele ano, com uma
virulência nunca vista, dizimando pobres e ricos. Escasseavam braços
válidos para sepultar os mortos, sendo necessário libertar os presos
para se empregarem no exercício dessa obra de misericórdia.
Foi nesse regime de terror
que o povo e a nobreza de Lisboa invocaram em seu auxílio a Mãe do Céu, e
como fossem atendidos, para Lhe mostrarem a sua gratidão por tão grande
mercê, mandaram fazer uma imagem da Virgem, que foi benzida com o
apropriado título de Nossa Senhora da Saúde, expondo-a à veneração
pública na ermida do Colégio de Jesus dos Meninos Órfãos, onde se
conservou e donde saiu sempre em procissão, com a respectiva Irmandade,
até ao ano de 1662, recolhendo nessa data, depois do acto festivo, por
acordo com os artilheiros, à sua capela actual.
As duas Irmandades
reuniram-se então numa única, com o título de Real Irmandade de Nossa
Senhora da Saúde e de São Sebastião, tendo os monarcas como seus
protectores perpétuos.
Fonte: Voz da Verdade
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