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Jornal Contacto de Luxemburgo, de 19 de Junho de 2012
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O
Herdeiro da Coroa Portuguesa afirma-se disponível para orientar os
destinos de Portugal. Em entrevista exclusiva ao CONTACTO, Dom Duarte
Pio de Bragança acusa os republicanos de desperdiçarem os dinheiros do
país e defende que a Nação com mais de 900 anos volte a ter um Rei no
seu comando.
Dom Duarte enaltece também a comunidade portuguesa residente no Luxemburgo, que considera a melhor embaixadora de Portugal.
Como vê as relações entre Portugal e o Luxemburgo?
-
O senhor embaixador Paul Schmit está a fazer um trabalho muito bom. O
Grão-Duque Henri também tem feito um grande trabalho, e os emigrantes
são os melhores embaixadores de Portugal. Todos os luxemburgueses,
começando pelos meus primos [o Grão-Duque Henri e os irmãos], admiram
imenso a comunidade portuguesa.
De que modo essas relações podem ser melhoradas?
-
Creio que as relações e a cooperação ainda podem ser aprofundadas.
Penso, por exemplo, no trabalho que o Luxemburgo faz em vários países
lusófonos, nomeadamente em Cabo Verde, onde, possivelmente, uma
cooperação com Portugal também poderia ser útil.
Há também razões históricas a unir os dois países…
-
Sim, mas há um aspecto de que o senhor embaixador me tem falado, e a
Grã-Duquesa Maria Teresa também, que é o facto de os portugueses no
Luxemburgo ignorarem bastante a história tanto de Portugal como do
próprio Luxemburgo, e que se devia trabalhar mais nesse sentido.
A história do Luxemburgo agora lançada em Portugal, em língua portuguesa, é um bom contributo contra essa dificuldade...
É
uma iniciativa muito boa. Recentemente foi também publicada uma banda
desenhada luxemburguesa e portuguesa sobre a história. Foi bastante
interessante.
Portugal não entrou na II Guerra Mundial, mas teve um papel muito importante no acolhimento de famílias reais europeias...
- Exactamente,
não só acolheu a Grã-Duquesa Charlotte, em 1940, como muitas outras
famílias reais europeias, príncipes ingleses, franceses, muitos outros.
Também centenas de milhares de refugiados, nomeadamente os mais
perseguidos, como eram os judeus, conseguiram vir para cá com os vistos e
passaportes passados pelo cônsul Aristides Sousa Mendes. Ele conseguiu
fabricar documentos de viagens no próprio consulado e foi por isso que
acabou despedido do seu cargo de diplomata. O que fez não foi legal, mas
foi muito generoso e muito correcto do ponto de vista humanitário.
Esse humanismo português foi importante para aprofundar laços com o Luxemburgo?
-
Portugal sempre recebeu refugiados de todo o mundo com grande abertura.
Durante a II Guerra Mundial, o facto de sermos neutros permitiu que
muita gente se salvasse a partir de Portugal. Acho que podemos
aproveitar mais essa situação do ponto de vista de relações públicas do
nosso país.
Como caracteriza a comunidade portuguesa?
-
Os próprios luxemburgueses gostam muito. Claro que há sempre problemas
culturais quando há uma comunidade imigrante muito grande instalada num
país. Uma coisa que achei graça: vai-se às aldeias luxemburguesas e
vêem-se as casas com relvado à frente e depois, de vez em quando, vê-se
uma casa com couves em vez de relva. Já se sabe que é dos nossos. O
homem que vem do campo entende que a erva não serve para nada. O terreno
é para ter legumes. Os luxemburgueses achariam mais bonito se tivesse
umas flores...
Sente a existência de choques culturais?
-
Os choques culturais sempre podem acontecer. Acho que o esforço dos
portugueses tem sido muito grande para se integrarem dentro da cultura
do país que os recebe.
Parece que regressámos aos anos 60. Os portugueses voltam a deixar o país. Isso entristece-o?
-
Por um lado é triste. Estamos a perder gente nova, competente, capaz, e
que tem de sair por causa do desemprego. Temos de nos queixar não das
consequências, mas das causas...
Que causas apontaria?
-
O país andou a desperdiçar os seus recursos com luxos de país rico, e a
gastar muito mais do que produzia. Qualquer dona de casa sabe que isso
iria acabar mal. Agora estamos a pagar pelo que nos últimos anos foi
desperdiçado. Estive há pouco tempo na porcaria, no monstro do Museu dos
Coches, em frente do palácio de Belém, em Lisboa. Quanto aquilo não
custa e para quê? Tantos monstros que foram feitos em Portugal nos
últimos anos, completamente supérfluos, desnecessários, ou mesmo
errados, mesmo maus, feios… Agora, por exemplo, o último estudo feito
sobre as Parcerias Público Privadas revela que o lucro dos investimentos
nessas parcerias é de 16 % por ano. Assim não há viabilidade económica
possível...
Agora, os que saem do país já não usam mala de cartão...
-
Mas, tal como os anteriores, podem contribuir para a recuperação de
Portugal. O problema é que os anteriores não foram nada ajudados depois
nos seus investimentos em Portugal. Fizeram muitos investimentos não
reprodutivos – casas, muitas vezes fora do contexto das suas aldeias,
muitas não vão ser usadas porque os filhos já não vão para lá viver. Se
tivessem sido encorajados e ajudados a criar empresas e a produzir
riqueza em Portugal, teria sido muito melhor para o país e muito melhor
para eles. Uma das grandes falhas do regime republicano é que não se
preocupa com o futuro. Preocupa-se com os próximos três ou quatro anos,
com as próximas eleições... O futuro não lhes interessa.
A Monarquia tem um conceito de tempo completamente diferente...
-
Exactamente, e isso é que faz muita falta. A República Portuguesa tem
falta de um Rei, com sentido de futuro e de passado, e que faça lembrar
que o país não começou há poucos anos atrás, mas que tem mais de 900
anos. Temos que respeitar o passado para que o futuro nos respeite.
Se o povo português o chamasse para orientar os destinos do país, estaria disponível?
-
Eu sempre estive à disposição de Portugal, ajudando no que pude, e
continuarei a fazê-lo. Se me pedirem para assumir um cargo político,
também o farei.
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