O Culto do Espírito Santo foi introduzido em Portugal pela mão da
“Rainha Santa”, Isabel de Aragão, esposa de Dom Dinis e através das suas
relações com o místico aragonês Arnaldo de Vilanova e com as correntes
menos ortodoxas do franciscanismo. É o mesmo rei português, Dom Dinis,
que incentivava o culto do Espírito Santo, que recusa cumprir as ordens
do Papa, verdadeiro lacaio do rei
francês Filipe o Belo e rejeitando estabelecer uma perseguição e
destruição sistemática da ordem templária. Este grito de revolta contra
uma hegemonia castradora e imperialista das então super-potências papal e
francesa, marcou decisivamente a independência portuguesa e criou as
raízes para uma afirmação nacional que seria o fundamento para os
Descobrimentos e para a Expansão com o papel dominante na Europa que
Portugal haveria de ocupar entre 1500 e 1525, sempre sobre a batuta da
Ordem de Cristo, forma transmutada da extinta Ordem Templária.
O apoio de Dom Dinis ao Culto do Espírito Santo nunca poderia ter
frutificado como frutificou se não se desenvolvesse em terreno fértil… A
população portuguesa mantinha ainda vivas as tradições pré-romanas de
igualdade e fraternidade potenciadas por este Culto paraclético. O
próprio “substrato de inquietação religiosa” que Paulo Borges reconhece
na heresia lusitana e galega do Priscialinismo e que se exprimiria
plenamente no Cancioneiro Galaico-Português e nas várias obras do Ciclo
da Graal editadas entre nós durante o Renascimento e os Descobrimentos
são expressões desse mesmo sentimento onde se desenvolveu o Culto do
Espírito Santo. Este sentimento apelava à reunião do Homem com a
Natureza, e diminuia o peso de uma “religião organizada”, tão romana e
canónica, quanto informal e espontânea era a religiosidade profunda do
português medievo. Este era o mesmo português que nos municípios assumia
a liderança local, à propriedade comunitária e à instauração de uma
rede de “repúblicas municipais” que floresceram particulamente bem
durante o reinado de Dom Dinis.
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