Parece-me inegável que a afirmação do movimento monárquico em
Portugal nos últimos anos, vem ganhando fôlego. As acções e debates
decorrentes do centenário do regicídio e da implantação da república,
uma dinâmica pragmática da Causa Real, sob a direcção duma figura
política de peso, a afirmação de outros movimentos de intervenção cívica
de tendência monárquica, o irresistível humor das bandeiras hasteadas
na Câmara Municipal de Lisboa e no alto do Parque Eduardo VII, a
simpatia, mesmo que tímida, manifestada por novas gerações de académicos
e fazedores de opinião são sinais positivos que não devemos
menosprezar. Hoje, a Lusa, as TVs e os jornais reconhecem as estruturas
da Causa Real como interlocutores preferenciais, quando pretendem
abordar o tema. Se juntarmos a tudo isto a facilidade de publicação e
disseminação de notícias e mensagens através das Redes Sociais, seremos
obrigados a reconhecer que algo mudou nos últimos anos.
E sei bem
quanto, apesar disso, estamos muito perto do ponto de partida, e de como
o tema “mudança de regime de chefia do Estado” se mantém longe da
agenda mediática. Acontece que ela se alimenta da voracidade das
disputas pela “governança” do país, dos partidos, das grandes empresas,
dos grupos profissionais ou de interesses, questões a que os
monárquicos, nessa qualidade, deviam ser alheios. E depois há a “espuma
dos dias” e a notícia espectáculo, critérios impiedosos para a
sobrevivência desta indústria. Colocarmos a nossa Causa nesses palcos
requer não só aproveitamento de oportunidades às quais devemos estar
atentos, mas principalmente exige um trabalho profissional sustentado e
respectivos meios financeiros.
Nas nossas mãos está no entanto a
determinação na firme recusa em colarmos a Causa a facções, quer
ideológicas, religiosas ou de costumes. Estou convencido que, para além
dos danos que derivam dos costumeiros rótulos estereotipados que nos
colam, os que nos fazem mais mossa são os que resultam da colagem de
diferentes planos e motivações de intervenção. Sejam questões da chicana
política, remoques históricos, convicções religiosas ou de costumes.
Acontece que, neste caso, o resultado de menos com menos dá mesmo menos,
e da amálgama desses planos sobra uma suicidária utopia e uma pretensa
pureza ideológica que nos isolam e nos projectam para o exterior como
excêntricos.
A Instituição Real moderna é, por natureza, abrangente, agregadora e
não facciosa. As disputas entre esquerda e direita, religião ou ateísmo,
socialismo ou liberalismo, têm que ser esgrimidas com todo o vigor, mas
noutras arenas, de modo a não contaminarem a Causa e o nosso Príncipe.
Perguntar-me-ão os mais desconfiados: para que serve então o Rei se este
não intervém nem revoluciona as políticas e costumes ao seu legítimo e
fundamentado gosto? Respondo que, no mínimo, serve para que numa parte
pequena mas altamente simbólica da pirâmide do poder resida uma
inspiradora e imaculada referência moral e de imparcialidade.
Personificação duma improvável realização quase milenar chamada
Portugal, a ligação transgeracional aos nossos avós comuns, que contra
ventos e marés por tantos séculos o souberam dignificar.
Para lá de qualquer agenda fantasiosa, estou convicto que aquilo que
urge é reunir tantos portugueses quanto possível na defesa e promoção da
nossa Casa Real. Acontece que se dá o extraordinário facto de, após um
século de desgraçada república, possuirmos uma incontestável Casa Real e
com geração. Esse é um património a defender com todas as nossas
energias, um significativo privilégio em relação às muitas irremediáveis
repúblicas europeias. Facto que todos nós deveríamos fazer por saber
merecer, não só com palavras mas com actos.
João Távora in Correio Real nº 8
publicado por João Távora em Real Associação de Lisboa
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