Cavalos consumidos pelos alemães durante o cerco de Estalinegrado
«As gerações precisam às vezes retemperar-se nas lutas da
anarquia ou nas dores da servidão; concentram-se para a explosão
calcadas sob o pé férreo da força brutal(…)surgirá como um foco de luz,
nas páginas da história, a época em que se proclamavam os direitos
individuais absolutos e imprescritíveis, embora as paixões humanas nem
sempre os respeitassem»
Logo de Manhã deparei com o artigo, Ministro Alemão sugere dar carne de cavalo aos pobres no DN com a seguinte pérola:
«”Mais de 800 milhões de pessoas morrem de fome no mundo.
Infelizmente, na Alemanha também há pessoas com dificuldades
financeiras, mesmo para se alimentarem (…) Acho que não podemos, aqui na
Alemanha, deitar fora alimentos que estão bons”, declarou Dirk Niebel,
que é membro dos liberais-democratas do FDP, partido que é parceiro de
coligação da CDU da chanceler Angela Merkel no Governo federal da
Alemanha.
Esta é a primeira vez que um ministro se manifesta sobre o
destino a dar aos produtos retirados. A sua ideia vai ao encontro de
declarações feitas por Hartwig Fischer, deputado conservador que, para
convencer os mais necessitados, fez-se fotografar num jornal a provar
uma lasanha de carne de cavalo e a dizer: “É bom! (…) Não consigo ver
diferenças em relação às outras lasanhas”, explicou.»
Confesso que a primeira memória que me surgiu foi, não a ingenuidade
de alguém comprovar a qualidade sanitária pelo sabor do repasto (há
politicos capazes de tudo, até de consumir carne que não é indicada por
razões que fogem ao paladar), não os cavalos que foram consumidos
durante as guerras liberais (quando surgia a penúria) nem os cavalos (da
cavalaria romena) que os soldados alemães comeram durante o cerco de
Estalinegrado (motivo de forte propaganda soviética pela penúria humana
que tal representava) mas sim, a resposta de Alexandre Herculano a Oliveira Martins (que admirava fortemente os germanos) quando este criticou Herculano pela sua concepção “granítica” do Estado face ao “maravilhoso
corpo de ciências filosóficas que a Alemanha construíra que são como
que a embriogenia das sociedades e suas ideias políticas, jurídicas e
religiosas (…) mostrando-se a sociedade como realmente é -um organismo
vivo”…se ainda fosse vivo ,Oliveira Martins teria assistido o resultado:
dois colapsos da Europa e o facto de que os alemães continuam a comer
cavalos para se safarem da penúria
A resposta de Alexandre Herculano (já no fim da vida) consta do Portugal Contemporâneo
e merece uma leitura pela clarividência que revela em pleno sec XIX e
pela actualidade que teria tido no sec XX e tem no sec XXI. Há uma forte
metáfora implicita quando os cavalos tornam-se comida que vai muito além
do contexto higiénico ou moral, quem passou pelos horrores da guerra em
nome de um documento que garantia as liberdades individuais conheceria
bem o seu sabor granítico:
«Meu amigo; provavelmente não tardará muito que eu vá dar um
passeio ao outro mundo sem tenção de voltar. Passado um século, é muito
possível que o liberalismo tenha desaparecido. As gerações precisam às
vezes retemperar-se nas lutas da anarquia ou nas dores da servidão;
concentram-se para a explosão calcadas sob o pé férreo da força brutal.
Deixe-me levar, para me entreter a ruminá-la pelo caminho, a convicção
de que, entalada entre duas betas negras — a tirania em nome do céu e a
tirania em nome do algarismo — surgirá como um foco de luz, nas páginas
da história, a época em que se proclamavam os direitos individuais
absolutos e imprescritíveis, embora as paixões humanas nem sempre os
respeitassem» Alexandre Herculano
Na verdade, seja carne de cavalo, porco ou vaca, a humanidade devia simplesmente deixar de consumir animais de qualquer espécie e fazer uma alimentação vegetariana como única forma de se tornar mais saudável e fazer um mundo melhor, com mais verdade e mais amor.
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