D. Pedro IV jura a Carta Constitucional
O Prof. Doutor Jorge Borges de Macedo aborda numa curta
explanação como a abstenção ou o afastamento na participação do jogo
democrático (concorrência de partido monárquico, no exemplo é focado o
legitimista, em eleições) faz parte do próprio modo de operar de um
regime que pretende excluir forças politicas que se lhe oponham.
«Quando há partidos ou um sistema desta natureza, a abstenção
política, portanto, não parece dar resultado. Em Portugal, pelo menos,
existe uma experiência muito antiga — e não sei se os responsáveis
estarão conscientes dela — de que a abstenção [participação em eleições]
não traz dividendos.»
« em 1856, logo a seguir à crise da Regeneração, o Partido Miguelista
apresentou-se às urnas e conseguiu eleger dez deputados, número
considerável para o tempo, dadas as condições em que se desenvolvera a
eleição e a influência que poderiam ter no seio das Cortes. Todavia, ao ser-lhes
exigido o juramento da Carta Constitucional, nos termos, aliás, de um
regimento inventado na altura, todos eles se recusaram a prestá-lo.
Foram então excluídos da Câmara e substituídos por outros, estes
liberais; e nunca mais os miguelistas tiveram aquela representação nas
Cortes, apesar da influência regional de que sempre desfrutaram
e que era considerável. Esta é a experiência portuguesa. Entretanto, na
Grã-Bretanha, as coisas passaram-se de outro modo: em 1714, no célebre
governo da rainha Ana, os tories foram vencidos ou, melhor dizendo, esmagados pelos whigs. Não
tinham qualquer perspectiva imediata de voltarem ao poder. Todavia,
refugiaram-se nas eleições locais, conseguiram manter o partido unido, e
cerca de vinte e cinco anos mais tarde tinham reconquistado a
possibilidade de constituir gabinete.
Quando há partidos ou um sistema desta natureza, a abstenção política,
portanto, não parece dar resultado. Em Portugal, pelo menos, existe uma
experiência muito antiga — e não sei se os responsáveis estarão
conscientes dela — de que a abstenção não traz dividendos. Agora, há que
não envolver todas as forças numa só táctica, mas criar áreas diversas
de intervenção. A distinção entre o regional e o central parece-me importante.» Jorge Borges Macedo, Conferência no Grémio Literário em 1984.
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