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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

terça-feira, 16 de abril de 2013

FRANCISCO: A RADIOGRAFIA DO PAPA JESUÍTA


por CARLOS CARNEIRO, SJ,
MESTRE DE NOVIÇOS DA COMPANHIA DE JESUS EM PORTUGAL

Desde a última quarta-feira (13 de Março de 2013) que a Igreja ganhou um novo Papa.

Os srs. cardeais foram "ao fim do mundo" buscar um inesperado timoneiro para liderar a barca da Igreja.

Passaram-se apenas alguns dias deste acontecimento, e já todos intuímos um novo tempo onde a proximidade e humildade do novo pontífice conviverão com a liderança e autoridade próprias do ministério de Pedro.

Muito poucos sabiam pronunciar o seu nome, menos ainda os que ousavam esperar a sua nomeação.

Ninguém tinha apostado no cardeal Jorge Bergoglio.

Assim, a Igreja acabou por dar ao mundo uma enorme lição de liberdade expressando de um modo irrefutável a inspiração divina do seu discernimento e eleição.

O cardeal Bergoglio, novo bispo de Roma, escolheu o inédito e surpreendente nome de Francisco.

O nome Francisco foi acolhido não só como a evocação do pobre de Assis mas também como o sinal de uma esperançada profecia para enfrentar os tempos diagnosticados por Bento XVI quando da sua corajosa renúncia ao Pontificado.
 
Na varanda de S. Pedro, o Papa Francisco apresentou-se e descobriram-se outras novidades importantes:

Francisco é o primeiro Papa latino-americano e não europeu desde há muitos séculos; Francisco é um Papa "frade", é um cardeal jesuíta, que paradoxalmente pertence à única ordem religiosa que por um lado faz voto de renunciar a toda e qualquer dignidade eclesiástica e por outro define-se a si própria através de um quarto voto de especial obediência ao Papa no que diz respeito às missões.

Rapidamente, os media descobriram que o Papa Francisco, no passado, antes de ser bispo e cardeal de Buenos Aires fez, enquanto jesuíta, todos estes votos "específicos" não por desrespeito mas em consequência com a identidade e missão daquilo que a própria Igreja pede e espera da Companhia de Jesus.

Como foi possível então escolher um jesuíta para Papa?

Ao ter sido escolhido pelo Papa João Paulo II para bispo auxiliar de Buenos Aires, o P. Bergoglio deixou de estar sujeito à vida e às regras da sua ordem religiosa.
 
Recorde-se que a vocação dos jesuítas dentro da Igreja não é ao governo mas à missão.

Do noviciado até ao fim da sua longa e cuidada formação, cada membro da Companhia de Jesus aprende na humildade a amar sem preferência qualquer lugar, trabalho ou missão e a procurar servir sem procurar nenhuma recompensa senão a de saber que, no que faz, faz a vontade de Deus.

Os jesuítas existem para servir e obedecer com alegria, para viver para Cristo e morrer pela Igreja.

Esta é a sua identidade e liberdade.

É também, assim o tem sido muitas vezes, ao longo dos séculos, a nossa cruz e o caminho da nossa própria santidade.

Os papas, todos os papas sem excepção tiveram na Companhia de Jesus um corpo apostólico disponível para o serviço da fé e a promoção da justiça.

E mesmo quando as fronteiras da missão para onde os papas nos enviam são tudo menos óbvias ou gozosas, em particular as fronteiras do mundo da cultura e da ciência, da paz e do progresso dos povos, da teologia e da pastoral, do serviço aos pobres e da presença nos centros de decisão, a fidelidade fala sempre mais alto e o amor à Igreja tudo cala, tudo suporta.

Das coisas sensatas que pude ler nos dias prévios ao conclave foi um artigo de opinião espanhol onde se dizia que a "conversão" que a Igreja precisava só poderia vir através de alguém que fosse especialista na vida interior, na intimidade da oração e da liberdade de não ter nenhuma pretensão de poder.

A Igreja precisava urgentemente de um papa "frade", um papa que conhecesse e valorizasse o primado da simplicidade, a audácia do anúncio de Cristo, a força e determinação espiritual para reconstruir o rosto ferido da Igreja.

Neste sentido, podemos dizer que a Igreja precisava não só de um papa sábio ou prudente mas de um papa pobre!

Só a autoridade de um papa pobre será capaz de, com engenho e arte, receber de Deus as capacidades para liderar, governar e santificar o seu povo, assim como renovar e valorizar todas as suas estruturas.

Só um papa com alma e coração de pobre será capaz de escutar o mundo, perscrutar os seus desejos, conhecer as suas dificuldades sem se deixar abater e abrir um novo horizonte de esperança.

Quando o mundo descobriu que tínhamos um Papa Francisco, comoveu-se; quando viu o Papa Francisco inclinar-se para receber a bênção, ajoelhou-se a rezar; quando viu o Papa Francisco sorrir, descansou e agradeceu o dom de uma inesperada humanidade;

Quando descobriu que o Papa Francisco era um jesuíta, pensou que teríamos mais um papa professor, à imagem de Bento XVI.

O mundo ainda não sabia que ser jesuíta hoje, tal como ser "frade" ou "freira" de qualquer ordem religiosa, significa ser livremente pobre, (por mais intelectualizada que seja a sua formação) à maneira de Cristo pobre e humilde.

Ninguém esperava um papa pobre mas o milagre chegou a Roma, da forma mais inesperada e discreta.

Foi a resposta de Deus a todas as nossas ansiedades e esperanças.

A fidelidade à pobreza de Cristo dará ao Papa Francisco o impulso e vigor para amar e governar a barca da Igreja e abri-la às medidas do coração de Deus e às exigências da fidelidade perene e criativa da Igreja.

Não sabemos se Francisco continuará a cozinhar ou a viajar de autocarro, a visitar as famílias pobres ou a surpreender os políticos com as suas convicções; não sabemos se continuará a visitar os amigos nos hospitais e a aprofundar a fé não só na teologia mas também na literatura; não sabemos se jogará alguma partida de futebol ou deixará escapar da sua boca alguma nota de Gardel; não sabemos se o veremos a tomar o seu mate ou o que fará com o seu sentido de humor; não sabemos como conciliará sua devoção por N. Senhora e os desafios das filosofias e teologias contemporâneas; não sabemos como vai conciliar o seu lado espontâneo com a toda a estrutura governamental; não sabemos como vai conciliar o seu múnus pastoral com o seu papel de Chefe do Estado; não sabemos como vai conhecer as novas cartografias humanas e as questões geopolíticas; não sabemos que caminho inventará para experimentar a solicitude e comunhão com os seus pastores e conhecer a pluralidade infindável das comunidades, grupos e movimentos;

Sabemos que o Papa Francisco tem vontade de continuar a levar ao peito a sua cruz de sempre, semelhante àquela que um dia sendo apenas um jovem noviço jesuíta recebeu das mãos do seu querido mestre e se abriu à construção permanente de uma nova fraternidade, a partir de uma relação de confiança.

Aos olhos do mundo, Francisco chegou a Roma sem currículo para ser Papa.

Foi muito provavelmente o seu despojamento e humildade o melhor cartão de visita para os srs. cardeais escolherem alguém que não tinha nem tem ambições de poder ou de importância, a não ser a ambição de poder servir em absoluto Cristo e a sua Igreja, o mundo e os mais pobres.

A um Papa com coração de pobre podemos fazer chegar todas as nossas "agendas", assim com todos os sonhos e desejos de uma Igreja sempre a caminho.

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