Nos últimos dias ribombou mais uma
tempestade de verão, desta vez tendo a tormenta origem nas infaustas
mortes de bombeiros e de um conhecido economista. De cabeça a escaldar
pelas insolações balneares, chovem os insultos recheados de ameaças
pouco veladas. Na senda do caminho capinado por Mário Soares, apela-se
abertamente à violência e nada melhor existe para a consecução da mesma,
senão a subida de patamar da intensidade dos apodos. Claro que o desfecho é imprevisível, mas tal como bastas vezes se escreveu neste blog, Portugal deveria ter em atenção factos pretéritos que nos conduziram a situações dramáticas.
A verdade é que no nosso país as
instituições não funcionam ou quando o fazem, actuam de forma tímida ou
envergonhada do próprio desempenho. Na Monarquia vizinha,
apesar de todo o tipo de campanhas de bem identificados sectores da
partidocracia e da finança, os representantes do Estado não hesitam em
colocar-se na primeira linha do dever e sem temor falam à população,
compartilham as preocupações e nos casos mais dramáticos, a dor de quem
foi atingido pelo infortúnio. A Monarquia existe, é tudo.
Os insultos dirigidos a Cavaco Silva são ilegítimos e indecentes, até porque consta que o homem agiu
de maneira a não dar brado. Uma vez mais, clamorosamente errou, não
pode actuar desta forma. Na posição em que se encontra, o Chefe do
Estado obrigatoriamente teria de participar no drama daqueles que viram
os seus familiares desaparecerem por precisamente terem cumprido o
dever. Cavaco Silva também tem os seus deveres a cumprir e entre estes
está a solidariedade e o público reconhecimento do heroísmo.
Titular de uma dispendiosíssima instituição do regime, deveria ter
presidido às cerimónias evocativas dos falecidos bombeiros, até porque
estas corporações de voluntários são a prova da abnegação de uma boa
parte da sociedade civil, sempre ostensivamente ignorada por quem não
pode nem tem autoridade moral para o fazer. Mais ainda, nesta época de
incêndios, Cavaco Silva devia colocar-se no terreno, chamando a atenção
para a necessidade da adopção de novas práticas que evitem os
cataclísmicos fogos provocados pelo criminoso desleixo, falta de
civismo, abandono territorial e péssima política de ordenamento. Embora
Soares ou Sampaio jamais se tenham dado a tais fretes, o actual
residente de Belém facilmente poderia marcar uma radical viragem.
Em todas Monarquias europeias, faça sol
ou faça chuva, sabemos onde infalivelmente estarão os representares da
Coroa. Por cá, sempre avessos a novidades ou a "insuportáveis maçadas",
os ansiosos belenenses nunca estão dispostos a aprenderem alguma coisa.
Por mais loquazes artifícios que encontrem, esta instituição está caduca. Não serve, nunca serviu.
* Graciosamente sugerimos aos assessores de Belém, a regular visita a este blog: nele existe profícua matéria acerca de como quotidiana e incansavelmente age o verdadeiro Chefe do Estado.
publicado por Nuno Castelo-Branco, em Estado Sentido
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