«Mas a todos os que sabem que o noema é possível, a Filosofia Portuguesa saúda fraternalmente e reafirma: todo o noema é vidência ou audiência, em suma, acto da consciência dado pela Graça Divina. Não se alcança pela Vontade, mas recebe-se pelo Amor.»
João Seabra Botelho no prefácio ao livro Noemas de Filosofia Portuguesa.
A operatividade da Filosofia Portuguesa é tantas vezes contestada, como a
sua própria existência. No entanto, engana-se quem desdenhosamente
questiona a nossa tradição filosófica, remetendo-a, como que
complexadamente, para uma falsa condição de “parente pobre da
Filosofia”. Denunciando esta situação, Miguel Bruno Duarte
demonstra de que forma nomes como Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro, ou
Orlando Vitorino, representaram uma linhagem filosófica nacional,
absolutamente coadunável com as necessidades políticas e identitárias do
Portugal contemporâneo.
Recentemente publicado no Brasil, através da editora É Realizações, Noemas de Filosofia Portuguesa é
o primeiro livro de Miguel Bruno Duarte, um dos mais acérrimos
defensores da Filosofia Portuguesa da actualidade. Nesta obra,
assistimos a uma pertinente revisitação do velho problema da
Universidade em Portugal. Uma instituição que, segundo o autor, se
transformou durante o período pombalino no «maior inimigo da Cultura Lusíada»,
tornando-se num foco de infiltração de correntes estrangeiradas
contrárias à nossa tradição, tais como o iluminismo, o positivismo e o
socialismo.
Advogando a tese de Álvaro Ribeiro, segundo a qual Deus, Filosofia
Portuguesa, escola portuguesa e política portuguesa constituem
realidades que se devem interligar entre si, Miguel Bruno Duarte confia a
sua esperança no futuro nacional a Aristóteles e à tradição portuguesa.
Desse modo, abraça a Filosofia Portuguesa como uma porta para a vida e
para o espírito, invocando o aristotelismo de inspiração arábica de
Pedro Hispano, o pensamento neoescolástico conimbricense, ou os
princípios filosóficos patentes em obras como a Arte de Filosofar de Álvaro Ribeiro. Dividida em duas partes distintas – Queda Vertical e Esperança – a obra de Miguel Bruno Duarte comprova a operatividade da Filosofia Portuguesa, questionando a «cultura inculta dos poderes institucionalizados», denunciando a planificação do ensino em Portugal, nomeadamente, da Filosofia. Esse ramo do saber sem o qual «a
razão humana decai, numa primeira instância, no vício positivista para,
finalmente, sucumbir perante as destruições morais, políticas e
económicas do socialismo».
O autor, assumindo-se como um discípulo do nosso saudoso filósofo
Orlando Vitorino, mantém-se fiel a uma linha combativa, dura e
militante, incapaz de permitir qualquer concessão ao inimigo por detrás
da sua linha de fogo. Ao longo da leitura desta obra, é notório o valor
da coragem e da intransigência no espírito guerreiro do seu autor,
revelados pela forma como este não se compadece face aos adversários e
detractores da Cultura Lusíada. Detentor de uma prosa à qual os
alinhados pelo sistema apelidam de "politicamente incorrecta", ele não
cede jamais à ideologia dominante, nem a qualquer tipo de preconceitos e
estereótipos históricos, filosóficos, ou políticos, advindos daquilo a
que Orlando Vitorino chamou um dia de «cultura triunfante».
Actual e incisivo nas críticas e soluções que aponta, este livro
desvenda caminhos, propondo algumas orientações práticas para o reerguer
de Portugal, tendo por base o reencontro com a nossa tradição. Assim, a
sua leitura estabelece-se como essencial num contexto de luta contra o
pensamento materialista e o marxismo cultural.
Publicada com a ortografia brasileira, esta obra não tem ainda
distribuição no nosso país, pelo que se impõe, urgentemente, uma edição
portuguesa.
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