Depois
de no mês de Dezembro de 2013, não ter feito qualquer entrevista,
sobretudo devido às Festas de Final de ano, regressei a esta iniciativa,
no quadro do projecto que é a Plataforma de Cidadania Monárquica. A
minha convidada, deste mês de Janeiro, é a Dra. Aline Gallasch-Hall de
Beuvink, Doutorada em História, ex-Deputada da Assembleia Municipal de
Lisboa pelo Partido Popular Monárquico, Presidente da Direcção da
Associação de Defesa do Património de Lisboa e Membro da Comissão
Política Nacional do Partido Popular Monárquico e Membro da Direcção
Nacional da Causa Real.
1. Muito obrigado por ter
aceitado o meu convite, em nome da Equipa da Plataforma de Cidadania
Monárquica, para a entrevista do mês de Janeiro.
Eu é que agradeço o convite, que muito me honra. É um privilégio poder, desta forma, colaborar com o vosso projecto.
2. O regime monárquico
desperta sempre algum fascínio pelo passado, dada a vasta e importantíssima herança que nos trouxe ao presente. O quê é que lhe
fascina na Monarquia?
A Monarquia desperta-me respeito e consideração, não fascínio. O
fascínio, sinto-o pela História e por algumas obras que a Humanidade nos
legou. Daí ter tirado a licenciatura em História da Arte e ter
defendido o Mestrado e o Doutoramento na área de História.
A Monarquia é, para mim, a melhor forma que o Homem criou para cuidar
dos destinos de uma nação. Daí o meu mais profundo apreço por esta
instituição.
3. Em Portugal, há
republicanos que consideram que a actual III República é a segunda, pois
é herdeira do primeiro regime republicano saído do 5 de Outubro de
1910. Não deixará de ser curioso de verificar que a I República
Portuguesa foi buscar a “petrificação” do regime, impossibilitando a
opção monárquica, à III República Francesa. E hoje, tal como na I
República, os Portugueses não podem escolher viver em Monarquia. Qual é a
sua opinião sobre esta matéria?
Em primeiro lugar, esta é a III República, porque a Ditadura Salazarista
foi a II República, herdeira e criada em resposta à I República. Só
quem quer branquear a História e tentar “apagar” uma ditadura como uma
forma de governo republicano é que poderá dizer uma coisa dessas.
Quanto ao restante, a minha opinião é, julgo, partilhada pela maioria
dos monárquicos: o que aconteceu no dia 1 de Fevereiro de 1908 foi um
crime imperdoável e o 5 de Outubro foi outro crime, consequência do
anterior. Foi um vil golpe de Estado que (e quem sabe História de
Portugal vê isso muito bem) não foi resultado da vontade do povo. O povo
amava o seu rei. E o povo tem de ser soberano. Foi uma pequena elite
que deu esse golpe de Estado. Ora, se a República actual clama-se
defensora da democracia, mostra, com o artigo 288-b) da Constituição,
que afinal não o é. Obriga Portugal a ser uma República socialista.
Apenas isto. E a República, que falava tão mal da Monarquia, está a
cometer os mesmos erros que atribuía ao regime monárquico e que
“justificou” o seu golpe de Estado e duplo homicídio. Os Portugueses
nunca foram ouvidos nessa matéria e a República foi a acção de uma
pequena elite traidora. Só isto.
4. O Artigo 288-b) da actual
Constituição da República Portuguesa, mais do que impondo o regime
republicano, acaba de certo modo, de uma forma passiva, discriminar os
monárquicos que gostariam de levar a referendo a opção monárquica.
Concorda?
Concordo, evidentemente. Com uma agravante: temos tido 104 anos de
propaganda republicana que, à semelhança de outros regimes totalitários,
tem feito publicidade anti-monárquica e pró-republicana, deturpando a
História com o intuito de defender os seus ideais e interesses. Com
certeza que a Monarquia não tinha só vantagens, mas também não tinha só
defeitos, como a República quer fazer crer. Os Portugueses têm direito à
escolha, mas tem de ser uma escolha lúcida. Para tal, e antes de se
fazer um referendo, dever-se-á esclarecer as pessoas sobre o que é uma
Monarquia Constitucional e quais as suas vantagens em relação à
República, para que o povo Português escolha conscientemente. E,
concluindo, num país em que uma parte da população é discriminada na
própria Constituição, é um país que não permite ao seu povo ser
totalmente livre, não é?
5. Falemos do Partido Popular
Monárquico, do qual é Dirigente. Como avalia o actual momento do PPM?
Acredita que é possível nas próximas Eleições Legislativas, o PPM chegar
à Assembleia da República? Prevê-se alguma coligação?
Neste momento, o PPM está a caminho de eleições dos seus corpos
dirigentes, daí ser impossível falarmos em hipotéticas coligações. Só a
Direcção que sair do próximo Congresso Nacional (a 1 e 2 de Março) é que
poderá pronunciar-se quanto a qualquer estratégia futura do Partido.
Mas, tendo em conta o percurso que o actual Presidente do PPM, Dr. Paulo
Estêvão, tem desenvolvido, acredito que o PPM voltará a eleger
deputados para a Assembleia da República.
6. Foi Deputada Municipal em Lisboa, pelo PPM, durante 4 anos. Quais foram as causas que abraçou e as vitórias que obteve?
Primeiramente, quero salientar que foi um trabalho em parceria com o
líder do Grupo Municipal, o Engenheiro Gonçalo da Câmara Pereira. Logo,
não atingi sozinha os objectivos, foi o trabalho de uma equipa, com
diversos assessores, dos quais saliento a incansável Dra. Carmo Munõz
que, mesmo numa altura de gravidez de risco, deslocava-se para nos
ajudar.
Resumir um trabalho de 4 anos em algumas linhas não é tarefa fácil, para
além de injusta, pecando por defeito! Como terá sido visível para quem
teve interesse em acompanhar o nosso trabalho na Assembleia Municipal de
Lisboa (AML), uma das principais causas que abraçámos foi a Cultura. E
tivemos muitas vitórias. Destacarei, por exemplo, a salvaguarda da
frente ribeirinha, tendo-se evitado a construção de um silo automóvel na
zona do Arsenal da Marinha; conseguimos a atribuição de instalações
para a fundação António Quadros, a criação do Museu do Teatro Nacional
de S. Carlos, a atribuição de instalações para a Orquestra Sinfónica
Portuguesa, a criação da casa-atelier-museu Mestre Lagoa Henriques e a
criação de um Atlas Cultural da Região de Lisboa (embora a Câmara
Municipal não tenha feito absolutamente nada até agora). Também
conseguimos o espaço para a colocação do busto do poeta ucraniano Tarás
Schevtchenko que, felizmente, já está em fase de conclusão. A tentativa
de melhorar a vida dos residentes do Bairro Alto foi teoricamente
aprovada com uma moção que apresentamos embora, na prática, a Câmara não
tenha feito nada para isso, tendo essa qualidade de vida diminuído
absurdamente nessa zona. Também conseguimos a aprovação de terreno para a
construção de um novo hospital pediátrico, já que não conseguimos que
fosse mantido o Hospital Dona Estefânia.
Não esqueço, porém, algumas lutas inglórias: a defesa do feriado 1º de
Dezembro, a defesa das freguesias, o encerramento da EMEL, o
encerramento da EPUL (que acabou por acontecer, mas não da forma mais
justa, na nossa opinião), o reconhecimento dos judeus sefarditas
não-residentes em Portugal como Portugueses (embora esse reconhecimento
tenha acontecido mais tarde, na Assembleia da República, o que mostra
bem o cinismo de alguns partidos: os mesmos que foram contra a nossa
proposta na AML, votaram a favor – e até levaram a proposta a votação! –
na Assembleia da República). Entre muitas, muitas outras batalhas.
7. Este ano vamos ter em Maio,
Eleições Europeias. Naturalmente, o PPM, presumo, terá os seus
candidatos. Que ideia tem do projecto europeu?
Como membro da Comissão Política do Partido e da equipa que está a
analisar, a preparar a estratégia e o programa do actual PPM nesse
domínio, não poderei avançar com comentários nesta matéria, pois não é o
momento de torná-la pública.
8. Portugal, além de ser um
País Europeu, é também um País com vocação Atlântica. Foi o país que
fundou a Lusofonia, além de ter sido pioneiro na Globalização. Concorda
que Portugal deveria propor no seio da Comunidade de Países de Língua
Portuguesa – CPLP, uma maior integração dos países, com um mercado comum
e finalizando com uma Moeda Lusófona?
Julgo que Portugal já está a trabalhar nesse sentido. Aliás, uma das
figuras mais proeminentes, com um trabalho diplomático excepcional na
CPLP, é S.A.R., D. Duarte, o Duque de Bragança. Confio que, no futuro, o
grande projecto filosófico de Fernando Pessoa, e de todos os grandes
pensadores portugueses que defendiam o V Império, seja concretizado.
Levará o seu tempo, mas será o futuro. Portugal, como disse, foi o
grande pioneiro da Globalização, tendo duas “armas” extraordinárias para
estabelecer essa ligação: o seu talento para a aculturação e, claro, a
Língua Portuguesa. Um mercado comum e uma moeda própria farão,
naturalmente, parte desse projecto.
9. Qual é a Monarquia que idealiza para Portugal? Semelhante a algum país europeu?
Como é óbvio será uma Monarquia Constitucional, em que a vontade do
povo é soberana. Os Portugueses, pelas suas características e como povo
independente que é, terão o seu próprio modelo, autenticamente avançado e
moderno. Dessa forma, não vou fazer comparações com nenhuma monarquia
europeia, pois cada povo tem a sua própria dinâmica. E, como já afirmei,
o povo é soberano e cabe a ele escolher em cortes, não eu.
10. Quer acrescentar alguma reflexão final?
Sim, já que me dá essa oportunidade: quero dizer que, como dirigente do
PPM, tento fazer um trabalho político e construir um caminho que dê
visibilidade e projecção aos valores monárquicos, dando o meu contributo
para melhorar o país sem, contudo, conotar com o partido a figura real,
que é apartidária e universal. Todavia, como monárquica e como cidadã,
tenho uma admiração pelo trabalho que S. A. R., Dom Duarte, o Duque de
Bragança, tem feito ao longo destes anos, e que acompanho desde que
entrei para a Real Associação de Lisboa, em 1994 (com a honra de ter
tido o Senhor Dom Duarte como meu proponente). É um estadista e tem
desenvolvido um trabalho diplomático e político extraordinário, sendo
estimado e considerado fora de Portugal. É um excelente embaixador e já
se tornou uma imagem de respeitabilidade do país. Veja-se o seu enorme
trabalho na CPLP, ou junto dos emigrantes Portugueses ou, ainda, no caso
paradigmático de Timor, só para citar poucos exemplos. Também a sua
visão estratégica para o país é relevante: propostas económicas – como a
importância da agricultura ou o aproveitamento do mar – são por ele
defendidas, há mais de 30 anos, e só agora mencionadas por alguns
políticos Portugueses. Além disso, a Família Real tem sido exemplar e
mostra que está preparada para enfrentar o Futuro. Tenho muito orgulho
na nossa Família Real e confiança que, um dia, Portugal terá o trono
ocupado por quem de direito.
Que mulher bonita!
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