Enquanto o sistema republicano faz depender a sua suposta ética da
institucionalização do efémero, a Monarquia valoriza a experiência, o
tempo. A república ancora-se no indivíduo, ao passo que a Monarquia se
funda na Família e na representatividade ininterrupta que as sucessivas
gerações permitem reforçar. O Rei, em boa verdade, não é sozinho. Passe o
aparente paradoxo, o Rei é a Família Real. Porque o Rei é o que é mas
também o que foi e o que há-de ser.
A Monarquia oferece diversas manifestações da valorização da sucessão
e renovação geracional. Encontramo-las também no plano nobiliárquico.
A Casa Real portuguesa, no que não constitui nenhuma originalidade
lusa, conserva títulos que são de seu uso exclusivo e que integram
aquilo que podemos considerar património imaterial dessa mesma Casa e,
nessa medida, da própria Nação. Um desses títulos é o de “Príncipe da
Beira”.
Depois de um período em que o título era usado pela filha mais velha
do Rei de Portugal, o que aconteceu de D. João IV a D. João V, ainda
durante o reinado deste último monarca, passou o respectivo titular a
ser o filho mais velho do presuntivo herdeiro da Coroa, que, por sua
vez, usava o título de Príncipe Real. Foi com esta matiz o título
atribuído pelo Magnânimo, em 1734, à Senhora D. Maria, futura Rainha D.
Maria I, na sua condição de filha mais velha e presuntiva sucessora do
Príncipe D. José, que veio a ser o Rei D. José I.
Durante a vigência da Monarquia, o último Príncipe da Beira foi
S.A.R. o Senhor D. Luís Filipe, filho primogénito do então Príncipe Real
D. Carlos, presuntivo sucessor do Rei D. Luís. Com a morte deste
monarca e com a ascensão ao trono d’El-Rei D. Carlos, passou o Senhor D.
Luís Filipe a fazer uso do título de Príncipe Real.
O Senhor D. Duarte Pio, em vida de seu Pai, o Senhor D. Duarte Nuno,
usou igualmente o título de Príncipe da Beira, como sucessor presuntivo
que era do herdeiro da Coroa Portuguesa, o Duque de Bragança, fazendo
cessar esse uso quando, no dia 24.12.1976, sucedeu ao Pai na Chefia da
Casa Real portuguesa.
De harmonia com as mais genuínas tradições portuguesas e tendo
presente a marca de renovação geracional que carrega o título de
Príncipe da Beira e a própria Instituição Real, voltou este título a ser
usado pelo primogénito dos Duques de Bragança, S.A.R. o Senhor D.
Afonso de Santa Maria, nascido no dia 25.03.1996.
Nuno Pombo
Presidente da Direcção da Real Associação de Lisboa
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