Glamurama
recebeu um convite inesperado: entrevistar a família real de Portugal,
que depois de passar por Tailândia, Camboja, Bali e Timor Leste, estava
até esse fim de semana no Rio de Janeiro, completando um mês de viagens.
Vieram para o casamento da princesa Amélia de Orleães e Bragança com o
escocês Alexander James Spearman, realizado no último dia 16 na Igreja
de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, e se hospedaram no Pestana, em
Copacabana. É que o hotel recebeu um selo real de qualidade: “By
appointment, entende? Meu marido reconhece que a rede Pestana representa
bem Portugal”, nos explica a duquesa de Bragança, dona Isabel, mulher
de Duarte Pio de Bragança, que seria o rei de Portugal, caso a monarquia
voltasse. Ele não veio ao Brasil. Nosso encontro – totalmente informal,
na própria suite que ocuparam – foi apenas com a duquesa e seus três
filhos, os príncipes Dom Afonso, 18 anos, o herdeiro, Dona Maria
Francisca, 17, e Dom Dinis, de 14, que nunca tinham sido entrevistados
antes, de acordo com a mãe. Ela, aliás, foi criada em São Paulo, dos 9
aos 24 anos: seus pais – que se dividiam entre Portugal e Angola
- decidiram vir para o Brasil em 1974 “por conta da revolução”. Ah, dona
Isabel foi pedida em casamento em Ilha Bela, sabia?
Por marketing, por lógica e pelo lado emocional
”Se a monarquia voltasse, seria muito bom para o país. Cada vez que
muda o presidente, tem que começar de novo as relações com o mundo
inteiro. Quando você tem um rei, um príncipe, ele vai crescendo e
conhecendo as pessoas. Se pensar em marketing… Você sabe quem são todos
os Reis da Europa, mas não quem é o presidente da Alemanha”, exagera a
duquesa. ”Duvido que saiba. Ninguém sabe. E é o país mais forte da
Europa. Além disso, o povo se vê na família, uma família que está aí
para o que der e vier e não vai embora, enquanto o presidente fica
quatro, cinco anos e depois o outro que resolva. A monarquia é muito
melhor para o povo, sobretudo nessa época de globalização, em que
estamos perdendo um pouco da nossa cultura. A gente fica pensando em
como vamos salvar nossa cultura, já os presidentes estão mais
descansados. A nível emocional… Nunca pensei que ia casar com meu marido
e sempre fui a favor da monarquia. Até por lógica, é um sistema muito
mais importante para lançar um país no mundo. Uma vez meu marido teve
uma reacção furiosa ao entrar em uma loja e ver que não tinha nenhum
produto português. Foi a reacção de um homem apaixonado. É importante não
se deixar ficar blasé.”
“A pátria encarnada em uma família”
“A nossa situação em Portugal não e oficial, e oficiosa, o que dá bem
mais trabalho. Eu me protejo um pouquinho, mas meu marido viaja sempre
pensando em como pode promover a cultura portuguesa, criar ligações com
países de língua portuguesa.” Perguntamos se ela cria os filhos como
príncipes ou como cidadãos do mundo. “Passamos nossos valores cristãos.
Somos católicos, vamos a Fátima… E nos preocupamos em dar para eles
noções de responsabilidade. A gente não pode pensar só na tradição. A
tradição e a história ajudam a gente, mas para se lançar para o futuro,
para aprender e ser gente da nossa época. Não fiquem pensando que é só
privilégio. Pelo contrario: é muito mais obrigação. É esse espírito que a
gente tem. Eles estudam em um colégio normal, têm amigos normais. Até
andam de metro. A maioria dos príncipes é assim. Tem essa ideia de fora
de que estão em uma redoma, por alguns exemplos que existem. Mas a
maioria são pessoas normais, que trabalham. E somos uma referência, a
pátria encarnada em uma família. As pessoas lá me perguntam como
estão os ‘nossos meninos’. Não são meus, são de todos.”
Para quem gosta de escândalo…
“Para quem gosta de escândalo, nossa família é um pouquinho sem sal.
Eles saem, se divertem, mas por enquanto não há nada de escândalo.
Espero que não haja.” A gente quis saber se os adolescentes são alvo de
paparazzi. “Não porque sempre tivemos esse contacto muito próximo com as
pessoas. Quando eles eram pequenos, cada revista queria fazer a sua
foto. Mas eles ficavam muito cansados. Então hoje temos o nosso
fotógrafo oficial. A gente tira foto no Natal, em ocasiões especiais, e
divulga. Isso porque as pessoas gostam de seguir a família. Mas não
aparecemos o tempo inteiro. Não é muito saudável. E você viu aqui como
eles ficam presos na hora de tirar foto. Com o nosso fotógrafo, se
sentem mais à vontade. É mais prático.”
Se não vira ateu e republicano
Perguntamos se Dom Afonso é criado para ser rei, caso a monarquia volte.
“De certa maneira. Ele fez 18 anos. Em Timor houve uma cerimónia.
Desceram a montanha, vestiram ele todo, puseram uma roupa tradicional.
Foi muito bonito. Houve um pacto e o rei de lá trata os outros Reis como
primos. Então não importa essa questão de não ser mais colónia. Eles
não pertencem mais a Portugal, mas tem um afecto. O embaixador da China
até há pouco tempo quando vinha a Portugal primeiro cumprimentava meu
marido, e depois ia se apresentar. A relação milenar, ou secular, entre
Portugal e China era muito mais importante. Eles levam muito em conta
essa ligação histórica.” Tudo bem, mas Dom Afonso gosta de ter essa
função? ”Ele tem que gostar, mas a gente fala: se você não quer, tem
sempre alguém que pode tomar o lugar. Temos muito cuidado porque tanto
religião quanto monarquia a gente tem que dar em dose certa, se não vira
ateu e republicano. A gente faz devagar, mostrando que sem duvida é um
serviço, e não um privilégio. ” Comentamos que ele é o mais tímido dos
três. “Talvez… Mas é o mais observado também, o que é sempre mais
complicado.”
E as jóias da coroa?
É claro que perguntamos sobre as jóias da coroa portuguesa, glamurette!
“Usei no meu casamento um diadema que foi da última rainha de Portugal,
dona Amélia. É uma jóia muito bonita e bem guardada. Como é uma peça
histórica, nunca viajei com ela para fora de Portugal. Só usei no
casamento e em fotografias oficiais, mas nem daria para usar mais. É
muito grande. A maioria das jóias não ficou na família, nem as
propriedades. Em Portugal, existe a fundação da Casa de Bragança, e todo
mundo pensa que é nossa. Não é. Na época do ditador Salazar, ele pegou
as coisas da família e pôs na fundação. Também tem peças em museus. O
que está connosco, a gente preserva. Isso tudo passa sempre para o filho
mais velho, mas a minha sogra, dona Maria Francisca, era da família
imperial do Brasil e, quando casou, recebeu alguns presentes. Esses eu
vou passar para a minha filha, Francisca.”
Intelectual de segunda
Por fim, perguntamos o que Portugal pode aprender com o Brasil. “Os
portugueses são um povo sério, trabalhador, mas não são tão à vontade.
E o que me chocou muito quando voltei a Portugal… No Brasil, e nas
Américas, uma pessoa pode ter sua religião e ser intelectual. Não é
conflitante. Na Europa, se você fala que tem religião é considerado um
intelectual de segunda. Mas Portugal está aprendendo.”
* No final do nosso tempo com a família, conseguimos conversar um pouco com os três príncipes.
Fonte: Glamurama / Juliana Resende / Joana Dias Pereira
Dom Afonso, príncipe da Beira, o herdeiro do trono
Perguntamos como ele se sente no papel de herdeiro da coroa. “Não vou
mentir: um pouco nervoso. Penso no peso, na responsabilidade se a
monarquia voltar pra cima de mim e para o resto da família. As pessoas
ficam de olho em nós. Se nos comportamos mal, fazemos alguma coisa fora
do lugar… É um pouco demais, mas por um lado gosto de ser o mais velho
porque posso tomar conta dos meus irmãos. Por outro lado, eles não
gostam muito que eu fique em cima deles. Gostaria de fazer as mesmas
coisas que meu pai faz, conseguir o que ele consegue. O holofote é um
pouco chato porque de vez em quando gosto de ficar relaxado, descansado,
mas tenho que ter sempre o cuidado de não ser mal interpretado. Se a
monarquia voltar, por um lado, fico contente, não só por nós… Não é
sempre assim, mas dizem que em um país de república, quem tem poder e
dinheiro está contente e o povo descontente. Na monarquia, o povo esta
contente e quem está no poder estar cansado. Há mais controle… Quem
governa é para manter as pessoas contentes.” Dona Isabel interrompe para
explicar melhor o raciocínio do filho. “Tem uma metáfora… A república é
como um jogo de futebol, uma partida entre dois grupos, na qual o
árbitro foi escolhido [ou eleito] por um dos times (equipas). Na monarquia, como o
rei está por cima dos partidos, é mais isento… Isso que ele está
querendo dizer.”
Dona Maria Francisca
Comentamos que a mãe disse que espera que um dia ela use em seu
casamento o tal diadema da rainha Amélia. “Gosto imenso dessas coisas e
também acho engraçado uma jóia passar de geração em geração. Quem sabe
um dia minha filha também vai usar.” De que mais ela gosta ”imenso”? “De
música: Rolling Stones, Phoenix, indie rock. Minha única
responsabilidade hoje é ser boa aluna. É minha prioridade. Tenho a
preocupação de me comportar bem, ser responsável. E faço voluntariado.
Antes fazia no colégio. Hoje participo de jantares para angariar fundos
para instituições que recuperam toxicodependentes. E quero ir para a
África ajudar lá.” E aí foi a vez de Afonso interromper: “Você quer é ir
à praia lá.”
Dom Dinis
“Ser um terço do meu pai já seria um sucesso. Agora é mais
responsabilidade com estudos do que com festas… Podemos ter redes
sociais. Nós temos. Mas precisamos tomar cuidado com o que publicamos,
como qualquer pessoa. Não tenho propriamente um ídolo na música porque
esses artistas às vezes fazem coisas…” Que príncipe não faz? “Isso, mas
nem pessoas normais fazem. Meu ídolo é meu pai.”
Sem comentários:
Enviar um comentário