“É assim que, por mais que espíritos
desorientados tenham querido obliterar as tradições d’honra do Exército,
a profissão entre todas, nobre, foi, é, há - de ser sempre, a militar…”
Mouzinho de Albuquerque
Caso não tivéssemos presenciado, teríamos percebido pelo silêncio da
Comunicação Social, de que as cerimónias comemorativas do aniversário,
em título, tinham corrido bem.
Mas fomos a algumas das muitas iniciativas levadas a cabo, com as quais a
Direcção do Colégio e a Associação dos ex-alunos fazem gala em
comemorar o evento.
De facto no passado dia 8 de Março (apesar do aniversário ser a 3)
entendi ir vivificar o corpo e retemperar o espírito: fui visitar outro
país que ainda existe dentro do meu país.
Um “país” que não passa a vida a fazer greves; que não exige direitos,
sem os deveres correspondentes; que não se dilacera partidariamente numa
“guerra civil” permanente; onde as recomendações da Comissão Nacional
da Educação ainda não se aplicam; onde não existem “direitas” nem
“esquerdas”, onde a corrupção não impera, etc., e onde se trabalha
naturalmente, tentando fazer melhor amanhã do que hoje.
Apesar - é de realçar - dos disparates ministeriais avulsos,
acompanhados da aparente demissão de algumas chefias militares,
relativamente à defesa institucional dos Colégios Militares, cujo
exemplo mais grave tem a ver com o criminoso encerramento do centenário
Instituto de Odivelas.
Chefias militares que se olvidaram de que são os descendentes e herdeiros dos antigos Condestáveis da Nação.
A estas cerimónias, sobretudo ao desfile do Batalhão Colegial, na
Avenida da Liberdade e à Missa, em S. Domingos, deveria assistir todo o Parlamento.
Só lhes fazia bem lobrigarem o garbo imperturbável daquele “Corpo de
Alunos”, desfilando avenida da Liberdade abaixo – eles que são um
garante da nossa liberdade, presente e futura; a camaradagem esfuziante
dos ex-alunos, saudosos dos tempos passados; o entusiasmo das famílias e
amigos e à alegria de todos - até os turistas que passam ganham um
bónus extra, ficando de olhos esbugalhados a olharem para o que se
passa!
Seguramente que a maioria dos nossos deputados não entenderia muito do
que, por graça de Deus, lhes seria dado ver, mas estou certo que não se
lhes negaria a caridade das explicações necessárias.
Talvez ganhassem uma nova postura quando regressassem ao Parlamento…
Verificariam que a cerimónia começou a horas, que o cerimonial é
tradicionalmente mantido segundo das regras da ordenança, e também
vislumbrariam aqui e ali, cidadãos que apanhados no meio dos eventos,
não se sabem comportar perante uma formatura militar nem respeitam os
símbolos nacionais, neste caso a bandeira e o hino, não mantendo uma
atitude respeitosa em face deles.
Ora respeitar os símbolos nacionais é dever de todos, onde não se aplica
o livre alvedrio e que deve estar sujeito a sanções adequadas. Um
âmbito que devia constituir especial interesse para a agora chamada
“Casa da Democracia”.
E é o Estandarte Nacional com a divisa camoniana “Esta é a ditosa Pátria
minha amada”, à guarda do Colégio Militar – por sinal um dos mais
condecorados do país – que rompe a marcha aos ombros do aluno
nº198/2007, José Pedro Ribeiro Gomes, a quem foi confiada essa Honra.
Honra extensiva a todos os Alferes Porta-Estandarte, das Forças Armadas
Portuguesas e que representam a “reencarnação” actual de Duarte de
Almeida, “o decepado”, porta - bandeira na Batalha de Toro, em 1 de
Março de 1476, que golpeado sucessivamente, lutou heroicamente, para
evitar que o sagrado símbolo lhe fosse sacado ou derrubado.
Desde então que, aos sucessores na função, lhes é relembrado este exemplo. Assim deve continuar a suceder.
Exemplo que, aos deputados da Nação, que supostamente representam o povo português, deve merecer, também, ponderada meditação.
É certo que o alinhamento das diferentes companhias de alunos não foi
perfeito, quiçá milimétrico, como nas paradas orientais. Mas tem que se
ter em conta que não estamos a falar de profissionais, nem tão pouco
aqueles marcham em fileiras abertas com frente de seis…
Concedo que não conseguia ver refletida a minha cara no lustro de todos
os sapatos dos uniformes, mas levo isso à conta da cada vez mais
diminuta verba distribuída às FA, o que já se deve refletir na falta de
escovas e na graxa; mas já me preocupa o ter vislumbrado alguma ferrugem
em muitas baionetas. Afinal nós nunca sabemos quando vamos precisar
delas!
Enfim, e numa palavra, continua a ser a unidade militar que melhor
desfila em Portugal (bom, a Academia Militar, no meu tempo, fazia-lhes
concorrência…)!
Encerra a formatura a “Escolta” a cavalo, em galope curto – o clímax do evento.
Salienta-se que esta “Escolta”, juntamente com a “Reprise” de Mafra, o
ensino de equitação na Academia Militar e o Ex - Regimento de Cavalaria
(recuso-me a soletrar o novo nome que lhe deram), da GNR, são o que
resta de todas as tradições equestres do Exército Português…
Muitas mentes questionam-se se lidar com armas é próprio para menores.
Poderia responder simplesmente que, sendo o Colégio Militar, uma unidade
militar, não faria sentido algum que o uso de armamento estivesse
afastado do seu quotidiano; mas não quero deixar de defender que tal
“convívio” só lhes faz bem, pois desde novos aprendem a usar e a
respeitar uma arma, tendo o enquadramento, a disciplina e a instrução
adequada para tal.
Por último, aprendem a utilizar as armas no sentido do Bem, pois as armas não são em si, boas ou más: a mão que as manuseia é que o pode ser!
O batalhão destroça no Largo de São Domingos e, enquanto os
acompanhantes se quedam em algazarra, confraternização, gritos de
“zacatrás” e alguma ginjinha, as cerimónias prosseguem na nunca
reconstruída, mas lotada, Igreja de S. Domingos, onde casaram reis e de
onde se contempla Lisboa desde há sete séculos.
Presidiu o novo Bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Manuel
Linda, a quem saúdo, nesta primeira aparição pública que presenciei e em
que esteve feliz, por abordar na sua homilia temas importantes de forma
equilibrada. Também, por seguramente ter tido uma agradável surpresa
com o que, por mercê do Senhor, lhe foi dado presenciar.
A missa acaba por ser uma mistura de cerimónia religiosa, de acção de
graças, adornada de todo o cerimonial militar correspondente, à mistura
com um toque distintivo da matriz cultural da grande família colegial.
De tudo resultando o encontro de gerações, a renovação com a perenidade; a plenitude da alma, a unidade telúrica de um todo.
O Colégio Militar – os colégios militares – são pois Instituições
verdadeiramente nacionais, que formam portugueses, nos diferentes níveis
do seu ser.
São seiva da Nação e, se não estiver enganado, poderemos vê-los sempre
na linha da frente, ou na derradeira linha da Defesa e desenvolvimento
do País.
Não é pois de estranhar, que os queiram deitar abaixo…
Parabéns por mais um aniversário. E contem muitos, pois enquanto existirem Portugal vai ter alguma dificuldade em desaparecer.
Ten. Cor. João Brandão Ferreira
Fonte: O Adamastor
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