Rei D. Carlos foi também pintor e cientista
Rei D. Carlos foi também pintor e cientista

D. Carlos deixou um legado importante. Os seus trabalhos podem ser vistos no Museu do Mar, em Cascais.

D. Carlos, penúltimo rei português, que foi assassinado a 1 de Fevereiro de 1908, no Terreiro do Paço, em Lisboa, e que teve, entre outros, os cognomes "Oceanógrafo" e "O Martirizado", foi um oceanógrafo e um pintor de sucesso. O mar e a natureza foram os seus temas de interesse.

O monarca revelou estes dotes em idade precoce. Apaixonado pelo mar, tema que, aliás, já fascinava o seu pai, o Rei D. Luís, uma das pessoas que o influenciou foi Júlio Verne, o celebre escritor francês. Em 1876, o autor fez uma paragem estratégica em Lisboa numa viagem marítima que fazia pelo mundo. Embora a sua permanência na capital portuguesa tenha sido de curta duração, ainda marcou presença no Paço Real da Ajuda. Ali, D. Carlos e Júlio Verne conversaram durante algum tempo (presumindo-se que entre os assuntos discutidos possam ter falado sobre o mar e pintura).

Sabe-se que o livro "As Vinte Mil Léguas Submarinas" teve um grande impacto em D. Carlos, despertando o interesse pelos Oceanos. D. Carlos deixou alguns contributos relevantes para a oceanografia mundial. Em Portugal foi mesmo o fundador desta ciência. De forma a conhecer as condições marítimas da costa portuguesa e a contribuir para a evolução da pesca, fez várias expedições durante 11 anos (1896 a 1907 ) a bordo dos iates Amélia I, II, III ( nome atribuído em homenagem à sua esposa).

Durante estas viagens, D. Carlos recolheu várias espécies de animais (como por exemplo, as estampas coloridas de aves) e analisou-as naquele que pode ser considerado o primeiro laboratório nacional de Oceanografia. É também de realçar que, assinando como "Carlos Fernando", fez admiráveis pinturas a aguarela e pastel. As aves eram as principais referências, embora também existam referências à flora (um trabalho muito importante não só para perceber que o Rei tinha um impressionante talento para a arte, mas também para ter conhecimento especialmente de espécies animais que não chegaram aos nossos dias, e que, sem estes registos, provavelmente ficavam esquecidas no tempo).

Algumas pinturas do rei português receberam prémios internacionais de instituições, como a Sociedade Zoológica de Londres, Sociedade Oceanográfica do Golfo de Biscaia, ou o Museu da História Natural de Paris. Com o seu falecimento, as suas obras (que integram ainda um vasto número de documentos, bibliografia e instrumentos) já conheceram algumas "casas". A primeira foi a Liga Naval Portuguesa, que acolheu as obras logo em 1908. Em 1935, foram transferidas para o Aquário Vasco da Gama (instituição que deve a sua existência à forte intervenção de D. Carlos) e finalmente fixaram-se no Museu do Mar de Cascais, onde se encontram desde 2001 (ano em que foi inaugurado aquele espaço).