O
Natal é um mistério que não cabe num dia nem se contem num gesto. São
muitos os dias que antecipam e continuam o Natal e muitos os gestos que o
precedem e o prolongam no tempo. Há mesmo quem sonhe com o Natal todos
os dias!
As
nossas cidades, vilas, aldeias, ruas e casas já há muito se revestem de
cores do Natal, brilham com iluminações de festa e vivem ao som de
cânticos de alegria, que nos lembram o feliz anúncio do nascimento de um
Menino Deus, nascido em Belém de Judá (Luc 2, 1-14).
Na liturgia da Igreja, o Advento
precede no tempo, ao longo de quatro semanas, o Natal e prepara-nos
espiritualmente para a celebração do nascimento do Filho de Deus. Por
seu lado, o Natal prolonga-se no tempo e conduz-nos à Epifania, ao Baptismo no Jordão e ao início da vida pública de Jesus.
O Natal não se
esgota na magia das cores, não se reduz aos sinais externos da festa,
não se circunscreve ao apressado ritmo do consumismo, não se limita à
habitual troca de prendas nem se confina aos gestos sinceros e
solidários que, por uns momentos, nos fazem membros de uma sociedade
fraterna e habitantes de um mundo de sonho.
O
Natal é dom de Deus; é milagre de vida; é escola do amor humano
aprendido no berço do amor divino; é caminho de dádiva da vida (Há mais alegria em dar-(Se);
é o mistério da encarnação do Filho de Deus, celebrado no tempo humano,
para salvação da Humanidade. O Natal é sempre acontecimento novo e
belo!
O
Natal é Jesus! É Jesus nascido na humilde manjedoura dos subúrbios da
cidade, que os nossos presépios recordam e representam. É Jesus presente
no coração de todas as cidades, no berço de todos os corações, no
regaço de todas as mães, nas Eucaristias de todas as comunidades, na
Palavra viva de Deus, Verbo eterno feito Homem (Jo 1, 14). A Igreja, que
transporta em si a Alegria do Evangelho, tem a missão de nos fazer
compreender que o Natal é Jesus: “Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, Senhor” (Luc 2, 11) .
Celebremos
assim Natal, fazendo presépio o nosso coração, alojando Jesus no
aconchego das nossas famílias e cantando a alegria do nascimento do
Filho de Deus nas nossas comunidades. Queremos prosseguir, na Igreja do
Porto, a Caminhada de Advento – Natal, multiplicando em cada dia do ano o
milagre do cabaz cheio e do cesto de partilha fraterna a transbordar,
transformados em acolhedora manjedoura onde Jesus nasça e em mesa de
irmãos onde o pão se reparta com os pobres e as Obras de Misericórdia se
cumpram com aumentado empenho neste Ano Santo da Misericórdia.
Há
no coração humano das pessoas, no ambiente abençoado das famílias, no
agir criativo das instituições e na acção pastoral das comunidades da
Igreja do Porto belos sinais de Natal e imensos gestos que a fé em
Jesus, Filho de Deus, nascido de Maria de Nazaré, nos inspira.
Lembremos
apenas três desses sinais, por entre tantos milagres que no nosso tempo
acontecem, sempre que Deus encontra homens e mulheres de boa vontade,
disponíveis para acolher os seus dons e realizar os sonhos divinos:
No
passado dia 13 de Dezembro abrimos a Porta Santa da Misericórdia na
Catedral do Porto, como nos mandou fazer o Papa Francisco, ao anunciar
ao mundo o Jubileu da Misericórdia. Antes de abrir a Porta Santa da
Catedral e passar a soleira multissecular desta entrada na Casa de Deus,
percorremos as ruas íngremes, estreitas e belas do Bairro da Sé.
Deste
percurso, acompanhados por uma multidão de gente vinda de toda a
Diocese, trouxemos as preces que ouvimos balbuciar, as lágrimas que
vimos chorar e a curiosidade feliz de crianças e turistas, que também
por ali andavam. Neste caminho da Igreja nas periferias e neste gesto de
antecipado Natal, quisemos proclamar, como nos lembra o lema do Plano
diocesano de pastoral deste ano e como reflecte a nossa Carta Pastoral: “Felizes os Misericordiosos! (Mt. 5,7).
.São,
neste tempo, na nossa Diocese, muitos os cabazes de Natal distribuídos,
muitos os apelos à generosidade respondidos, muitas as famílias
reunidas e unidas, muitas as ceias de Natal organizadas! Demos graças a
Deus por isso!
Numa
dessas Ceias, promovida e servida com este espírito na nossa Cidade,
eram mais de mil os pobres e, entre eles, muitas crianças sentadas à
mesa de Natal. Perguntamo-nos e perguntemo-nos todos: o que fazer e como
fazer para transformar estes momentos de festa e estes gestos
solidários em verdadeiro Natal, que celebre o nascimento de Jesus e
signifique o nascimento de vidas novas, diferentes e felizes para tanta
gente?
Chegaram
à nossa Diocese, no mês de Outubro, os primeiros refugiados da Síria,
agora a viver em Ovar. No passado dia 18 deste mês foi recebida pela
Santa Casa da Misericórdia de Penafiel uma família de refugiados. Outros
virão mais tarde! Este é o primeiro Natal vivido por eles entre nós.
Vai ser felizmente diferente para eles este Natal, mesmo que seja outra a
sua fé, porque encontraram casa junto de nós, abrigo na cidade e
acolhimento humano em terra de gente de paz e de bem.
Tem
de ser, graças a eles, diferente, também, para nós este mesmo Natal,
para que os nossos presépios transformem o desespero que bate à porta da
Europa em portas de esperança para o Mundo.
Somos
chamados a construir com eles um Mundo melhor e uma Humanidade comum
onde não haja violência, nem guerra, nem perseguição e onde a Europa
cristã possa ser casa, abrigo de todos os que não têm pátria, e refúgio
seguro para todos os que sonham com a liberdade e procuram a paz.
Estes sinais vividos à luz da fé em tempo de Natal dizem-nos que os milagres de Deus acontecem, também, nos nossos dias.
Um Santo e Feliz Natal!
Porto, 24 de Dezembro de 2015
+ António Francisco dos Santos, Bispo do Porto
+ António Bessa Taipa, Bispo Auxiliar do Porto
+ Pio Alves de Sousa, Bispo Auxiliar do Porto
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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
NATAL - DOM DE DEUS E MISTÉRIO DE MISERICÓRDIA
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