No dia 5 de Dezembro de 1917, depois de 7 anos de caos
político-social, Sidónio Pais comandava um golpe militar que poria fim à
República Velha. Alçados no poder, nenhuma das promessas dos
implantadores foram realizadas, pelo contrário: viveu-se o maior
ambiente de instabilidade política e social de sempre no País. Eles
foram as repressões ao operariado, as perseguições à igreja, as
sangrentas divisões entre grupos republicanos rivais cujas lutas pelo
poder levaram inclusive a assassinatos como do chefe da revolução do 5
de Outubro, Machado dos Santos e de um dos seus ideólogos, Carlos da
Maia. Instantaneamente à golpada que resultou na proclamação da
República e com a instalação do Governo Provisório, surgiram tensões
entre os republicanos. Primeiro, desencadeou-se uma dialéctica entre os
chamados provisórios e o grupo do directório e destacam-se do núcleo
dominante, tanto os republicanos do Porto, como o grupo de amigos de
Machado Santos. Com efeito o governo provisório significava uma aliança
de Afonso Costa, Bernardino Machado e os jovens turcos e Afonso Costa
não reconhecia direitos a ninguém que não pertencesse a esse miolo,
e que granjeava a cooperação do presidente. Um sintoma de
distanciamento dos republicanos do Porto manifestou-se quando Basílio
Teles recusou tomar posse como ministro. Sucedem-se as tensões entre
os provisórios e o directório do partido. Com efeito, o governo
provisório era obrigado a reunir semanalmente com o directório e a junta
consultiva do partido republicano, a efectiva trindade governativa da
república. Desta trindade se distanciou Machado Santos, assumindo-se
como da oposição desde a primeira hora e exigindo o saneamento de altos
funcionários das repartições. É apoiado pelos oficiais da marinha que
participaram no 5 de Outubro, como Ladislau Parreira, nomeado comandante
do quartel de marinheiros de Alcântara, José Carlos da Maia, Sousa
Dias, João Stockler, Mendes Cabeçadas e Tito de Morais. Todos os membros
deste grupo se intitulavam então como os verdadeiros revolucionários.
Surge também um conflito entre os provisórios e o grupo dos republicanos
históricos do Porto, ligados ao 31 de Janeiro de 1891 que exigiam a
imediata eleição de uma assembleia constituinte, afrontando
particularmente Afonso Costa. Afonso Costa, Ministro da justiça do
governo provisório de 5 de Outubro de 1910, anuncia novo programa
político do em 29 de Agosto de 1911, anuncia o partido republicano como o
partido único da República. Alia-se no governo à família Rodrigues, com
Rodrigo a ministro e Daniel como governador civil de Lisboa, a dupla
que fomenta a formiga branca. Segundo João Chagas, a sua obra política é sempre dirigida contra alguma coisa ou contra alguém. Para Machado Santos, o líder militar da revolução: ‘o mais audaz, o mais inepto e o mais imoral de todos os tiranos.’
Ainda, pelas mãos da Iª república, 200 mil Portugueses foram
mobilizados e combateram em África e na Europa – só 55.000 bravos do
contingente do Corpo Expedicionário Português na Flandres. 7.500
soldados portugueses perderam a sua vida e 14.062 foram de alguma forma
vítimas da Iª Grande Guerra, seja como mortos, feridos ou prisioneiros.
Além destas baixas, foram imensuráveis os custos sociais e económicos
que tiveram consequências superlativas para a capacidade nacional, e, os
objectivos que levaram os responsáveis políticos da República a
empurrar os jovens para a guerra saíram gorados em toda a linha. Ao
invés da unidade nacional pretendida pelo novel regime saído do golpe
revolucionário do 5 de Outubro gerou-se ainda mais instabilidade
política que levaria à queda da República Velha.
A 28 de Março de 1916 é decretada a Censura prévia à imprensa e à
correspondência enviada para e recebida de países estrangeiros e das
colónias.
Recorde-se que nas cartas que El-Rei Dom Manuel II e a Rainha Dona
Amélia escreviam do exílio para os seus amigos e colaboradores, para os
não por em perigo, ainda que os assuntos tratados fossem os triviais,
assinavam respectivamente como Conde Ourém e a Villa-Viçosa (Marquesa).
Sucedem-se dias e noites sangrentas, Movimentos das Espadas, eleições
legislativas e governos, o último dos quais só de Afonso Costa e dos
seus democráticos e que após a Revolução da Batata,
com assaltos a mercearias consequência da carestia de alimentos, é
fortemente reprimida pelos sabres da guarda republicana e os cassetetes
da polícia. Afonso Costa decreta o Estado de Sítio e suspende as poucas
garantias democráticas que ainda existiam.
Assim nesse 5 de Outubro de 1917, o exército chefiado pelo antigo
embaixador em Berlim e professor universitário tomava as rédeas do
poder. Sidónio Pais conseguiu agregar um vasto contingente militar e com
ele ocupou a zona da Rotunda, em Lisboa. Os recontros estenderam-se até
ao dia 8 e acarretaram à queda do Governo de Afonso Costa, e do
Presidente da República, Bernardino Machado. Afonso Costa é preso no
Porto e acabaria exilado em França. O vitorioso Sidónio Pais estabeleceu
então um regime presidencialista de perfil autoritário, centrado no
culto pessoal, e que lhe granjeou por parte de Fernando Pessoa o epíteto
de Presidente-Rei! Estava instaurada a República Nova,
consulado que pela sua falta de programa político, económico e social,
apoiado apenas na ditadura e repressão, não conseguiria sobreviver ao
seu líder que, em 14 Dezembro de 1918 seria assassinado.
Fernando Pessoa, com aquela coragem própria dos homens únicos, apesar
da censura e dos perigos, nunca se deixou intimidar e nunca capitulou
em considerar que ‘o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal’, e chega, então, à conclusão:
‘O que é preciso, pois, é estabelecer uma fórmula de transição
que sirva de declive natural para a MONARQUIA FUTURA, mas esteja em
certa continuidade com o regímen actual. Essa fórmula de transição, já
tentada instintivamente por Sidónio Pais, é a república
presidencialista, que, por ser república, não perde continuidade com o
actual regímen. A tradição não se reata: reconstrói-se.’
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
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