Portugal é um País quase Milenar, recortado na Península Ibérica pela
temerária espada de Reis e heróis portucalenses e que, de 1139 a 1910,
foi conhecido e reconhecido como Reino. Depois unida a coragem com o
sonho, o rectângulo Portucalense levou pela curiosidade das caravelas
esta ideia de Portugal além-mar!
A singularidade da Monarquia Portuguesa deve-se não só a esses
enormes pedaços da História do Mundo que ajudou a arquitectar, mas
também, caso único no Mundo, é um facto que, desde Dom Afonso I
Henriques, a Monarquia Portuguesa conheceu quatro Dinastias, todas elas
pertencentes à mesma Família.
Em 868 d.C., o galego Vimara Peres, vassalo do Rei de Leão, Galiza e
Astúrias reconquistou a região entre Douro e Minho, incluindo Portucale,
e fundou o primeiro Condado de Portucale, e que foi governado pelos
seus descendentes, até à derrota de Nuno II Mendes pelo rei Garcia II da
Galiza na Batalha de Pedroso, em 1071. Falecido Garcia II, em 1091, o
Rei Afonso VI de Leão e Castela retomou a unidade dos Estados Paternos.
Intensificando-se as acometidas dos Almorávidas os territórios passaram
para a administração de Raimundo de Borgonha casado com D. Urraca. O
Conde não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo – tendo perdido
Lisboa. Afonso VI decide fortalecer ainda mais a defesa militar
ocidental, dividindo em duas a zona de Raimundo, entregando a mais
exposta a Henrique da Borgonha.
O Conde D. Henrique, apoiado pela Ordem de Cluny, imiscuiu-se na
política do Reino, conquistando poder junto das Cortes. A fim de
aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique deu foral
e fundou novas povoações, entre elas a vila de Guimarães, atraindo para
ali, com várias regalias, muitos dos seus compatriotas francos.
Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, num Paço, dentro do
Castelo que ali fora edificado no século anterior. D. Henrique faleceu
em 1112, e, durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques, a
governação do condado passou para a viúva Dona Teresa que, em 1121, se
auto-intitulou «Rainha» e entrega o governo dos distritos do Porto e
Coimbra ao fidalgo galego Fernão Peres. Invariavelmente afastados, por
forasteiros, da gestão dos negócios públicos, mais os conflitos com o
Clero e a sua relação com o galego, com a quem os Portucalenses e o
próprio filho o Infante D. Afonso Henriques, revoltam-se.
Em 1125, com apenas 14 anos de idade, o efebo D. Afonso Henriques –
conforme o uso e costume dos Reis – arma-se a si próprio cavaleiro
tornando-se assim guerreiro independente.
Em 1128, trava-se a Batalha de São Mamede entre os partidários do
infante Dom Afonso e os de Peres de Trava, nobres galegos, aliados de
sua mãe, Dona Teresa. Derrotada a mãe, D. Afonso Henriques assume
integralmente os destinos do Condado Portucalense.
Com duas frentes de Batalha – uma contra Leão e Castela, outra contra
os mouros – Dom Afonso Henriques consegue uma importante vitória contra
os muçulmanos na Batalha de Ourique, em 1139, e Declara a
Independência. Nascia, assim, em 1139, o Reino de Portugal e a sua 1.ª
Dinastia, com El-Rei Dom Afonso I Henriques de Borgonha. O Reino de
Castela e Leão reconheceu no Tratado de Zamora a Independência de
Portugal e por isso ocorreu, em 5 de Outubro de 1143, a Fundação da
Nacionalidade Portuguesa. Mas, o reconhecimento definitivo da
Independência só ocorreria em 23 de Maio de 1179 com a Bula Manifestis Probatum, onde o Papa Alexandre III reconhece Dom Afonso I, então com 70 anos de idade e 51 de reinado, como Rex Portucalensis. Assim, a 1.ª Dinastia descendeu inequivocamente do 1.º Rei de Portugal.
Já a 2.ª Dinastia, a de Avis, teve como fundador Dom João I, filho
ilegítimo de Dom Pedro I – penúltimo monarca da Dinastia de Borgonha – e
de Teresa Lourenço, sendo, portanto, Dom João I meio-irmão de Dom
Fernando I, último rei da 1.º Dinastia. Em 1383, El-Rei D.
Fernando morreu sem um filho varão, que herdasse a coroa. O período de
interregno que se seguiu ficou conhecido como crise de 1383/85. A única
filha do falecido Rei D. Fernando era a infanta Dona Beatriz, casada com
o rei Don Juan I de Castela. A burguesia mostrava-se insatisfeita com a
regência da Rainha Dona Leonor Telles de Menezes e do seu favorito, o
conde Andeiro e com a ordem da sucessão, uma vez que isso significaria a
anexação de Portugal por Castela. As pessoas alvoroçaram-se em Lisboa, o
conde Andeiro foi morto e o povo pediu ao Mestre de Avis, Dom João,
filho natural de Dom Pedro I – com Teresa Lourenço -, que ficasse por
regedor e defensor do Reino.
Finalmente a 6 de Abril de 1385, Dom João, mestre da Ordem de Avis, é
aclamado Rei pelas Cortes reunidas em Coimbra, mas o rei de Castela não
desistiu do direito à Coroa de Portugal, que entendia advir-lhe do
casamento.
Resolvida a disputa que dividia o Reino de Portugal do Reino de
Castela e Leão, seguiu-se o auge da Dinastia de Avis e foi tempo da
afirmação de Portugal como Reino Independente. Iniciou-se umas das
épocas mais grandiosas da História de Portugal, a época dos
Descobrimentos, liderada por El-Rei Dom João I de Portugal e pela sua
Ínclita Geração.
Extinta a Dinastia de Avis, com a tragédia de Alcácer-Quibir, o
falecimento do Cardeal-Rei Dom Henrique e a debandada de Dom António,
Prior do Crato – provocada pelos castelhanos -, o trono de Portugal
passou para Filipe II de Espanha, I de Portugal, e que originou a 3.ª
Dinastia, a Filipina ou dos Habsburgos. Filipe I de Portugal era filho
de Dona Isabel de Portugal, irmã do Cardeal-Rei e de Dom João III, e
portanto neto do Rei Dom Manuel I de Portugal.
Mas de acordo com o hábito e costumes portugueses o poder do Rei
sempre adveio de um pacto com as Cortes – que no fundo era um Congresso
de Chefes – por isso o Rei de Portugal é Aclamado e não Coroado. Firmado
esse pacto, o Rei seria assim o primus inter pares entre os barões do reino.
No caso particular de Portugal, e sempre tal aconteceu desde o
próprio Rei Fundador Dom Afonso Henriques, o Rei é Aclamado e nunca
imposto! Ou seja, apesar do Príncipe herdeiro suceder ao Rei falecido
existe uma participação dos Pares do Reino e do Povo que ratifica essa
sucessão sendo que esse passo é o acto jurídico que verdadeiramente faz o
Novo Rei! Nos 771 anos da Monarquia Portuguesa o Rei sempre reinou por
delegação da comunidade portuguesa que reunida em Cortes o Aclamou e fez
Rei.
Então nesta sessão da Assembleia Extraordinária das Cortes convocada por Dom Afonso Henriques e que ficaram conhecidas como Cortes de Lamego
reuniu-se a nobreza, o clero, assim como procuradores dos concelhos de
todo o Condado Portucalense. Já mais duvidosa é que nessa sessão tenham
sido escritas as Actas das Cortes de Lamego que regulariam a
sucessão dinástica do Reino de Portugal, embora mesmo que apócrifas,
correspondam à vontade e às disposições legais que sempre regularam o
Direito dinástico português.
Recorde-se que extinta a Casa de Avis, o trono de Portugal passou
para Filipe II de Espanha, I de Portugal, e que originou a 3.ª Dinastia,
a Filipina ou dos Habsburgos. Filipe I de Portugal era filho de Dona
Isabel de Portugal, irmã do Cardeal-Rei e de Dom João III, e portanto
neto do Rei Dom Manuel I de Portugal.
Entende-se então, que, de acordo com a Lei que resultou das Cortes de
Lamego e o Direito Consuetudinário portugueses que, Filipe, sendo um
Príncipe estrangeiro, não tinha direito ao trono português, tanto mais
que havia, segundo estas leis do País um candidato natural e legítimo:
Dona Catarina, Duquesa de Bragança, e tal como Filipe I, neta d’ El-Rei
Dom Manuel I de Portugal. Dona Catarina contraiu matrimónio com D. João I
de Bragança e o seu primogénito D. Teodósio II, foi o 7.º Duque de
Bragança e foi pai de Dom João II de Bragança que viria a ser o Rei
Restaurador Dom João IV de Portugal.
Recorde-se que a Sereníssima Casa de Bragança teve a sua fundação em
Dom Afonso I, filho ilegítimo de Dom João I e de Inês Pires, uma mulher
solteira. Tendo sido legitimado pelo Rei que lhe concedeu o título de
conde de Barcelos, Dom Afonso contraiu matrimónio com a filha de Dom
Nuno Álvares Pereira, Dona Beatriz Pereira Alvim. Mais tarde, já na
regência do seu meio-irmão Dom Pedro, foi por este concedido a Dom
Afonso, o título de Duque de Bragança – que por ser uma Casa cujo 1.º
Duque era filho de Rei, os Duques têm numeração como os Reis. Assim a
Revolta de 1640 não viria mais do que, repor a legalidade, pois Dom João
IV era neto de Dona Catarina de Bragança e isso corresponde à letra e
espírito da Lei de Sucessão ao Trono de Portugal:
‘(…) Por morte do pai herdará o filho, depois o neto, então o
filho do neto, e finalmente os filhos dos filhos, em todos os séculos
para sempre. (…) Também as filhas do senhor Rei são de sua descendência,
e assim queremos que sucedam no Reino, e que sobre isto se façam leis”,
e os Bispos e nobres fizeram as leis nesta forma.
Se o Rei de Portugal não tiver filho varão, e tiver filha, ela
será a Rainha tanto que o Rei morrer; porem será deste modo, não casará
se não com Português nobre, e este tal se não chamará Rei, se não depois
que tiver da Rainha filho varão. E quando for nas Cortes, ou autos
públicos, o marido da Rainha irá da parte esquerda, e não porá em sua
cabeça a Coroa do Reino.
Dure esta lei para sempre, que a primeira filha do Rei nunca case
senão com português, para que o Reino não venha a estranhos, e se casar
com Príncipe estrangeiro, não herde pelo mesmo caso; porque nunca
queremos que nosso Reino saia fora das mãos dos Portugueses, que com seu
valor nos fizeram Rei sem ajuda alheia, mostrando nisto sua fortaleza, e
derramando seu sangue.’
E o tempo passou e com a revolução Liberal no século XIX surgiram,
dentro da Dinastia de Bragança, dois ramos reais: o Liberal de Dom
Pedro, Duque de Bragança e o Legitimista de Dom Miguel I.
À descendência de Dom Pedro, Duque de Bragança, dá-se o nome de
“Bragança-Saxe-Coburgo e Gotha” pelo facto dos seus reais membros
descenderem do casamento da Rainha Dona Maria II, da Casa de Bragança,
com o Príncipe Fernando de Saxe-Coburgo e Gotha, da Casa de Wettin, e,
foi este ramo que reinou em Portugal até ao derrube da Monarquia pela
revolução republicana de 5 de Outubro de 1910. O último Rei de Portugal,
Dom Manuel II, faleceu no exílio, em 1932, sem descendência.
Por tudo isto, apesar de terem existido Quatro Dinastias a reinar em
Portugal, todas representaram uma continuidade do primeiro Monarca,
El-Rei Dom Afonso I Henriques e, mesmo, fruto da política de casamentos,
muitas das Casas Reais Europeias descendem deste antepassado comum,
assim como de São Nuno de Santa Maria.
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
Sem comentários:
Enviar um comentário