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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

terça-feira, 29 de novembro de 2016

FRANCISCO DE MELO E TORRES



Embaixador português em Inglaterra. Nasceu em Lisboa em 1620, tendo ali morrido a 7 de Dezembro de 1667, vítima de assassinato. 

O seu pai, D. Garcia de Melo e Torres, fora capitão e vedor da fazenda do Estado da Índia e sua mãe, D. Margarida de Castro, era filha de Henrique Correia da Silva, alcaide-mor de Terena. 

Teve uma educação jesuíta, frequentando desde os 6 ou 7 anos o colégio de Santo Antão, onde enveredou pela área da Matemática e estudou a arte da guerra, demonstrando interesse em seguir a carreira militar. 

De facto, aos 16 anos, recebeu a sua primeira comissão, como capitão de uma companhia de soldados em Setúbal, sendo pouco depois, em 1637, destacado para a alcaidaria de Tavira. 

Participou activamente no movimento dos conjurados aquando da Restauração de 1640, o que lhe valeu a nomeação, no início de 1641, como governador da praça alentejana de Olivença, que ocupa por alguns meses, num cargo de assaz importância por ser naquela região que se travava o conflito independentista com o inimigo espanhol. 

Em Junho do ano seguinte foi nomeado como Mestre de Campo do Alentejo, acompanhando a mobilização ofensiva que se preparava na fronteira alentejana e que se consubstanciou nas campanhas de 1643 e 1644, onde participou nos ataques de sucesso sobre as vilas espanholas de Valverde, Alconchel e Vila Nova del Fresco, no cerco falhado a Badajoz, e na célebre batalha do Montijo, em Maio de 1644, como comandante de um terços da infantaria. De permeio, assumiu novamente o cargo de governador de Olivença. Em meados de 1646 casou com a sua sobrinha, D. Leonor de Manrique, da qual teve três filhos: Garcia de Melo, segundo conde da Ponte, D. Madalena de Mendonça e D. Maria Violante. 

Entre 1649 e 1650, Melo e Torres substituiu temporariamente o conde de Cantanhede no governo militar de Cascais. Ali deparou-se com um contexto de alguma agitação, dada a presença dos príncipes ingleses Rupert e Maurice (príncipes dissidentes da instituída republica parlamentar inglesa e que havia deposto o seu monarca, Carlos I) na barra do Tejo e as consequentes implicações que dai adviriam, nomeadamente com a presença coerciva da armada parlamentar inglesa às portas da capital. Mais tarde, em 1651, viria a assumir de novo, por um curto espaço de tempo, o governo militar desta praça. Entre 1651 a 1656 desempenhou o cargo de general de artilharia no Alentejo. Durante este período, devido à ausência simultânea de D. João da Costa (governador das armas) e de André de Albuquerque (general de cavalaria), assumiu de forma temporária, em mais do que uma ocasião, o governo da província alentejana, na qual permanecerá até à morte de D. João IV, em 1656, altura em que retorna a Lisboa. 

Na redefinição dos postos militares, executada em Fevereiro de 1657, Melo e Torres pretendeu ocupar o cargo vago de general de cavalaria, o que não iria obter. É contudo nomeado para a embaixada a Inglaterra, iniciando assim a sua carreira na diplomacia, paralelamente ao encerrar da sua vida militar. Naquela, a experiência de guerra era considerada como relevante, o que se constata pelo facto de quase todos os diplomatas pós 1640 terem desempenhado funções militares. Por esta altura terá igualmente recebido o título de comendador. 

Parte então para Londres, em Julho de 1657, numa comitiva integrada por Francisco Sá de Meneses, como secretário, e pelo padre Ricardo Russell do colégio dos inglesinhos. Melo e Torres tinha como principais instruções procurar incluir o reino português na liga que se projectava entre Suécia, Inglaterra e França, contra a Espanha e obter o apoio inglês contra a armada holandesa que estaria hipoteticamente a preparar-se para capturar a frota portuguesa oriunda do Brasil. A 28 de Abril de 1660 celebra um acordo com o Conselho de Estado Inglês, em funções após a dissolução do parlamento, num dos episódios da Restauração da monarquia inglesa daquele ano. Deste acordo, a coroa portuguesa obtinha o auxílio de 12 mil soldados de infantaria, 2.500 cavalos e ainda o direito de comprar armas. No entanto, o recém aclamado monarca britânico recusou a sua ratificação, o que reacendeu o projecto de casamento entre Carlos II e uma infanta portuguesa (já sugerido durante a residência de António de Sousa de Macedo entre 1642-46), como forma de garantir o desejado auxílio militar inglês. Esta solução era também explorada em França, pelo conde de Soure (embaixador em Paris) junto da rainha-mãe inglesa (que ali residia), surgindo nessa altura a hipótese de realizar-se um duplo casamento, envolvendo a infanta D. Catarina e Carlos II e D. Afonso VI com Henriqueta Stuart (irmã do monarca inglês). A anterior proposta feita à França, de 2 milhões de cruzados mais Tânger, é canalizada para as negociações (secretas), sendo adicionada a praça de Bombaim e a liberdade de residência e comércio para os ingleses nos territórios portugueses, o que constituía o maior dote que algum monarca havia recebido. 

Já em Lisboa, Melo e Torres deu continuidade ao negócio do casamento, assim como pressionou a coroa a gratificá-lo com o título de conde, obtendo o condado da Ponte a 11 de Janeiro de 1661. Regressou pouco depois a Londres, na sua segunda embaixada, com o intuito de concluir o matrimónio. Durante a sua ausência na corte londrina, o embaixador espanhol e o conde de Bristol pressionaram Carlos II a abandonar o seu projectado casamento, denegrindo a imagem física e procriadora da infanta portuguesa e procurando arranjar princesas alternativas para o monarca desposar. No entanto, a influência francesa junto do rei inglês foi decisiva, pois o seu apoio ao enlace com D. Catarina era consubstanciado com promessas de auxílio financeiro e militar. 

Juntamente com o acordo de matrimónio era acertado um tratado de aliança. Este confirmava os privilégios recebidos pelos ingleses nos anteriores acordos de 1642 e 1654, recebendo o reino português como contrapartida, o auxílio militar inglês e a sua promessa em não firmar pazes com a Espanha sem atender à segurança do reino português, fundamental naquele contexto pós Pirinéus (acordo de paz entre a Espanha e a França em 1659), que deixava o reino castelhano livre para concentrar-se na luta ibérica. Esta aproximação de 1661 marcou o início do alinhamento na Grã-Bretanha como prioridade da política externa lusitana e o consequente findar do isolamento português no quadro europeu, tendo o condão de possibilitar o início das conversações de paz luso-espanholas logo em 1663, que somente concluir-se-iam em 1668. Após a conclusão e sucesso da sua segunda embaixada, Melo e Torres pediu como gratificação o título de marquês, sendo-lhe concedido a 21 de Abril de 1662 o marquesado de Sande, juntamente com a promessa de ser nomeado para o conselho de estado. Poucos dias depois, parte de novo para Londres, como embaixador extraordinário e como condutor da nova rainha inglesa. 

Nesta sua terceira embaixada, tinha como instrução, entre outras coisas, tratar do casamento de D. Afonso VI com uma princesa francesa. Desenvolveu esforços nesse sentido durante o ano de 1663, que interrompeu momentaneamente, dada a aproximação negocial entre algumas partes portuguesas e castelhanas, nas quais participou como elo de ligação com a corte inglesa, mediadora das negociações. O insucesso destas, reacendeu o projecto matrimonial francês de D. Afonso VI, no qual o agora marquês de Sande se empenhou, sem grande sucesso, em Paris durante o ano de 1664. Ali retorna em Novembro de 1665, para acertar o casamento do rei português com a mademoiselle de Aumale, celebrado por procuração a 27 de Junho de 1666 em La Rochelle. Este enlace deve ser entendido à luz do contexto internacional. Para Portugal era importante esta união devido à manutenção do conflito com a Espanha, aliado ao não reconhecimento do papado e à volatilidade da posição inglesa; para os franceses, o apoio à causa portuguesa significaria o envolvimento da Espanha por mais tempo no confronto ibérico, o que fragilizava o seu poder. 

Melo e Torres foi incumbido de acompanhar a nova rainha, Maria Francisca Isabel de Sabóia, na sua viagem até ao reino, a que chegou em Agosto de 1666, no ponto final da carreira diplomática de Sande. 

Nos últimos dois anos da sua vida, Melo e Torres (que fora comendador de Santa Maria de Montemor-o-Novo, S. Martinho de Frexedas, Santiago de Grilho, S. Salvador de Fornelos e S. Miguel de Fornos, da Ordem de Cristo) desempenhou um papel activo nas negociações de paz com a Espanha e no estabelecimento de uma liga com a França, firmada a 31 de Março de 1667, que serviu de forma de pressão às reivindicações de paz espanholas. 

Após o afastamento do conde de Castelo Melhor do governo do reino, Melo e Torres terá sido um dos mentores da convocação de cortes, encarada na altura como a melhor solução face à situação que se experimentava na altura e que conduziu mais tarde, em Novembro de 1667, à ocupação do paço pelo infante D. Pedro. Este episódio iria significar uma mudança no rumo seguido pela coroa, que não seria, contudo, presenciada por Francisco de Melo e Torres. Este seria assassinado pouco depois, por razões incertas, sendo que o motivo oficialmente comunicado, veiculava ter sido por engano. 

Como homem de cultura abrangente, escreveu ao longo da sua vida várias e abrangentes obras, das quais se destacam: Astronomia Moderna (1637); Introdução Geográfica (1638); Negociações, oito tomos referentes às suas embaixadas. 

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